Relator de inquéritos sensíveis a Bolsonaro, ministro tem criticado comodidade em terceirizar para ele atribuições do Executivo em relação às Forças Armadas
Laryssa Borges
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nunca admitirá em público, mas tem externado a um número cada vez maior de interlocutores contrariedade com uma suposta postura do chefe da pasta da Defesa José Múcio Monteiro de terceirizar para o Judiciário o papel de bater de frente contra militares que, por omissão, negligência ou incentivo a bolsonaristas, são apontados como peça-chave nos atos de vandalismo que tomaram conta de Brasília no dia 8 de janeiro.
Na mais recente bronca, Moraes ficou ressabiado com a sugestão de que compartilhasse com o Executivo as investigações que envolvem o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e investigado no STF por produção e divulgação de fake news. Cid havia sido indicado em maio passado para assumir a chefia do Batalhão de Ações e Comandos de Goiânia, mas seu nome encontrava forte resistência de integrantes do Supremo.
O magistrado também demonstrou incômodo com a hipótese, discutida reservadamente na sexta-feira 20, de que deveria partir dele uma espécie de atestado confirmando que Cid era, sim, alvo de um inquérito que investiga a participação de Bolsonaro e de auxiliares próximos, como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, no endosso às fake news que afirmam que as urnas eletrônicas e as eleições brasileiras não são seguras. Para Alexandre, deveria partir de Múcio, e não dele, a reunião de elementos e a decisão política de impedir que o militar ligado ao ex-presidente assumisse um cargo tão estratégico para o Exército.
Conforme revelou VEJA, na caserna há o sentimento de que o magistrado do STF representa a “senha da indignação” dos militares em relação ao Judiciário, já que Moraes conduz processos sensíveis ao ex-presidente e recentemente determinou a prisão de mais de 1.200 pessoas que se aglomeravam em acampamentos diante de quartéis generais em protesto contra supostas fraudes eleitorais. Conhecido pelo perfil conciliador, José Múcio já havia recorrido a Alexandre no final do ano passado para explicar a indicação do nome de Júlio César Arruda como comandante do Exército e se responsabilizar pela escolha do general. Arruda acabou substituído poucas semanas depois de assumir o posto exatamente por resistir a cumprir uma ordem vinda de cima: defenestrar o bolsonarista Mauro Cid da chefia do batalhão de Goiânia.
veja/montedo.com
Uma resposta
Um dos princípios que regem o judiciário é o da Inércia, porém com a inabilidade da política nos últimos anos, tudo recai como última instância no judiciário e a ele cabe decidir. Não se trata de judicializacao da política e sim inabilidade da política. Como vemos na própria reportagem, isso foi lugar comum nesses últimos anos e tem gente que ainda cai nessa de judicializacao da política e que o judiciário deu um golpe, leigos sendo massa de manobra de políticos de não tão boa índole.