Agressões no Batalhão Presidencial: capitão é denunciado 3 anos após caso vir à tona

Sem máscara, soldados da guarda presidencial fazem proteção simbólica do Planalto
Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Jovem passou por uma sessão de espancamento em fevereiro de 2019. Capitão não participou das agressões, mas teria prevaricado

Tácio Lorran
O Ministério Público Militar (MPM) denunciou um capitão do Exército e três ex-soldados devido a uma sessão de espancamento praticada contra um colega de farda no Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) em fevereiro de 2019.
O jovem Gabriel Reis foi jogado em um colchão e agredido com golpes de coturno, coldre de facão e tábua pelos militares.
O capitão Huxlley Jorge Medeiros Leal foi denunciado por prevaricação e inutilização de material probante. Já os ex-soldados Antônio José Gomes Machado, Ezequiel Ribeiro Alves e Francisco Eudismar da Silva Maraço vão responder por lesão corporal leve.
O MPM também pediu R$ 12 mil a título de reparação mínima dos danos morais. A denúncia foi recebida no último dia 19 pela Justiça Militar. O caso corre em sigilo.
As agressões foram reveladas pelo Metrópoles em março de 2019. Outros dois colegas de Gabriel Reis também contaram a rotina de abusos, que chegou a ser filmada em mais de uma ocasião.

Confira:


No BGP, existe uma regra não escrita de que os militares lotados na unidade devem apanhar para “engrossar o couro”. As sessões de espancamento praticadas por soldados contra colegas de mesma patente ocorriam pelos motivos mais fúteis e serviam como castigo diante de um mínimo desvio disciplinar.
Na ocasião, o ex-soldado Gabriel Reis processou a União e pediu do Estado indenização de R$ 500 mil. O caso ainda não foi julgado pela Justiça Federal.
A rotina de humilhações dentro da companhia provocou, além dos hematomas e ferimentos, sofrimento psicológico em Gabriel. Ele foi dispensado do serviço militar. Sem dinheiro, o jovem buscou consultas gratuitas com psicólogos no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas enfrentou dificuldade para ser atendido.
Ao Metrópoles a advogada Blenda do Nascimento contou que o jovem tentou refazer a vida dele após os episódios, mas segue desempregado.
“O Gabriel tinha muitos ataques de pânico no começo. Chegou a ser perseguido uma vez em Taguatinga. Então, tinha muito receio de sair de casa. Mas sinto que o tempo o ajudou. Além disso, com essa denúncia, o fato de ele sentir que possivelmente essas pessoas podem ter uma punição traz alívio para ele”, afirma a advogada do ex-soldado.

“Grande sofrimento”
Na denúncia, o MPM narra que as agressões causaram “grande sofrimento” ao jovem.
Gabriel estava mexendo no celular quando ouviu seu nome aos gritos, seguido de dizeres para “pegá-lo”. “Como havia sido alvo de agressões praticadas nos dias anteriores, o ofendido sabia o que estava por vir quando ouviu que iam ‘pegá-lo’, de modo que tentou correr para fora do alojamento, mas foi segurado pelos braços e pela região da cintura”, diz o Ministério Público.
Os colegas de farda carregaram Gabriel pelos braços e pelas pernas e colocaram o rosto dele contra um colchão jogado no chão.
Três soldados do Exército estão denunciando superiores do Batalhão da Guarda Presidencial por serem coniventes com castigos aplicados por soldados contra colegas da mesma patente.Hugo Barreto/Metrópoles
Três soldados do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) foram vítimas de agressão por parte dos colegas e denunciam os abusosHugo Barreto/Metrópoles
Temendo retaliações, eles decidiram denunciar o caso após deixarem as Forças ArmadasHugo Barreto/Metrópoles
Três soldados do Exército estão denunciando superiores do Batalhão da Guarda Presidencial por serem coniventes com castigos aplicados por soldados contra colegas da mesma patente.Hugo Barreto/Metrópoles
“Uma vez imobilizado o ofendido, iniciaram-se as agressões, vindas de diversos soldados, os quais não puderam ser identificados por Gabriel Reis em razão da posição em que foi mantido pelos ex-soldados ora denunciados”, diz trecho do documento.
“Tais agressões consistiram em golpes nas nádegas, nas coxas e nas costas, aplicados com as mãos e com a utilização de coturno, de coldre de facão e de uma tábua alcunhada de ‘cautela’, na qual havia a inscrição dos nomes de outros militares que com ela também foram agredidos. As agressões duraram cerca de três a quatro minutos”, acrescenta.
O comandante da companhia do BGP, capitão Huxlley, foi avisado sobre as agressões, mas optou por manter o alegado crime encoberto.
“O ofendido apresentou o relatório médico ao capitão Huxlley, o qual tomou o documento das mãos do Sd Gabriel Reis e o rasgou, dizendo que não poderia deixá-lo sair dali com aquele relatório, que era ‘para deixar quieto’, porque ‘isso poderia dar muita merda’, e mandou o ofendido ‘colocar o paisano’, ‘esfriar a cabeça’ e ir embora para casa. Tal situação evidencia seu intuito em manter o fato encoberto, evitando a responsabilização dos agressores”, explica a denúncia.
O capitão ainda teria reunido os militares envolvidos nas agressões e dito que a situação estava resolvida, além de exaltar a conduta deles, segundo o MPM.

Outro lado
Procurado na tarde dessa quarta-feira (3/8) para se manifestar sobre o caso, o Exército disse: “Informo que a Administração Militar tomou conhecimento dos fatos e adotou os procedimentos previstos. O caso encontra-se na Justiça Militar da União”.
O advogado Alexandre de Melo Carvalho afirmou que em nenhum momento o capitão Huxlley foi partícipe, tampouco conivente.
“O soldado que se diz vítima levou pra ele [capitão Huxlley] a situação, mas não desta forma. Ele [Gabriel Reis] não disse que foi espancado, nem nada. Ele só falou que sofria chacota, bullying. Mas o capitão Huxlley levou isso para os seus superiores e informou ao soldado que iria instaurar a sindicância contra os soldados”, alegou a defesa do capitão, em conversa com o Metrópoles.
METRÓPOLES/montedo.com

23 respostas

  1. Imagina quando vir à tona a notícia do capitão que ameaçou pessoalmente chutar a colega de Saúde e espancar o subão Engenheiro?

    1. As forças armadas não é lugar para brincadeiras, principalmente com armamento.

      Deveriam acabar com o serviço militar obrigatório e recrutar pessoas com qualificação profissional e mais responsabilidade.

  2. …”capitão Huxlley, o qual tomou o documento das mãos do Sd Gabriel Reis e o rasgou”…
    Esse é o padrão dessa “nova geração”:
    – fraca, omissa, covarde e sem vocação à carreira das Armas.
    Pensar que esse sujeito é de Infantaria é uma desonra.
    Capitão Huxlley, coronel Ricardo Sant’ana, pançuello…, essa é parcela do atual padrão verde-oliva vigente.
    Tá feia a coisa, cadeia neles.

    1. Por isso eu defendo que nos primeiros dias de qualquer carreira deveriam passar 30 dias em sobrevivência na selva. Quem ficar ficou para não falar mais em besteiras de cadeia prá esse ou praquele.

  3. Nesse caso, em específico, é exemplo de que a negligência não compõe o tipo culposo e sim doloso, por quê? Tinha o dever de evitar o resultado, bem como de agir contra os autores imediatos (comissivo por omissão), por ser o oficial responsável.

    1. O dever é LEGAL irmao.
      Nao existe dever legal de ser onipresente e impedir qualquer resultado criminoso que ocorra numa OM.
      Viaja nao.
      Nao tem lei ou regulamento que torne um superior penalmente responsável pelo ato de seu subordinado. As agressoes se deram no alojamento, o capitao nao tem o dever de estar no alojamento vendo a disciplina, e se tivesse, nao estaria no banheiro, onde poderia ocorrer.

      Nem omissao existe ai.
      Existe a omissao em nao apurar, que é uma forma de condescendência.

      1. Bem, eu opinião e respeito, apesar de nós encontrar respaldo na legislação, nos livros de doutrina e nos precedentes. Boa sorte!

    2. PKGD só vomitório. Nunca passou em corredor polonês, nem bivaque, nem sobrevivência. Qualquer um vê que foi uma brincadeira, um batismo. Tá certo que em alguns casos há excessos, geralmente promovidos por superiores idiotas. Mas isso daí foi uma brincadeira.

      1. Pois bem, em algumas brincadeiras, até puerperis, aconteceram muitas tragédias. Pessoa morrendo sufocada por conta de manta, pessoa morrendo por desidratação por conta daquela corrida no sol escaldante sem ingestão de liquido, aquela flexão de braço que leva a um ataque cardíaco, aquele “Figth” que o cara se desequilibra e bate a cabeça no chão. Brincadeira sabia e jogar um baralho, sinuca, videogame e outros. Muitos foram ou serão presos por essas brincadeiras ditas infantis ou batismo.

          1. Parceiro! Vá encher e denegrir as pessoas em outro lugar. Já está massante isso aí.

  4. Eu iria comentar que isso ocorre devido a falta de uma guerra ou conflito para ocuparmos a cabeça com o q realmente importa e para a nossa atividade fim, mas essa é uma cultura do militarismo, não tem jeito. Vc encontra ou encontrava vídeos assim no youtube de recrutas/soldados do exército americano, inglês, francês e outros exércitos, e esses estavam em plena atividade militar no oriente médio! E até mesmo nas bases desses exércitos no oriente médio eles faziam tais atos.

  5. Senhores, parem de mandar o soldado pagar 10, uma hora isso vai dar m%tda. Já fiz muita besteira, mas tem uns 10 anos que eu não brigo, grito ou esculacho ninguém. Não vale a pena!

  6. Se não pode manta, pode o quê?

    O Exército sucumbiu ao progressismo, uma pena.

    Estamos aceitando cada vez mais as coisas.

    O Exército não chegou até aqui SUCUMBINDO às agendas Exeternas não.

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