Sem tropa para um golpe

Forças Armadas estão atuando no Estado com tropas em veículos e a pé, além de blindados e helicópteros (Foto: Bárbara Moira)

A ‘crise militar’ provocada por Bolsonaro é resultado de fracas lideranças civis

William Waack
Jornalista e apresentador do Jornal da CNN

Jair Bolsonaro faz de tudo para reverter duas longas tendências históricas quando se considera o papel dos militares na política brasileira. Até aqui, não conseguiu.
A primeira tendência foi a extinção dos “chefes militares”, entendidos como donos de feudos políticos. Esse processo começou com Castello Branco ainda em 1964. A segunda foi a consolidação da ideia de que os militares não são instância de “moderação” ou “tutelagem” da política e do equilíbrio entre os Poderes. Essa noção vem desde 1988.
As duas ferramentas com as quais Bolsonaro tentou abalar esses alicerces do papel das Forças Armadas foram levar a agitação partidário-eleitoral para dentro dos quartéis e a nomeação de militares para o Ministério da Defesa. A agitação política não funciona enquanto estiver mantida a hierarquia. E ela está mantida.
Quanto ao Ministério da Defesa, Bolsonaro “obteve” um grande efeito negativo, do ponto de vista de suas pretensões de arrastar os militares para uma aventura política. Ele privilegiou quadros do Exército, em detrimento da Marinha e da Aeronáutica, acirrando uma velha disputa. Sem que tivesse conseguido estabelecer comando de fato sobre tropas – e, sem tropas, não há golpe.
Mas as causas profundas dos recentes tumultos em relação ao papel dos militares têm a ver, paradoxalmente, com as lideranças políticas civis.
Recente evento com a participação de ex-ministros da Defesa e militares que estiveram no governo destacou o fato de que os civis se desinteressaram em discutir e definir o que é uma estratégia de defesa nacional – e ninguém lidera sem um projeto, afirma Raul Jungmann.
Foi uma lacuna deixada por civis que gerou interpretações sobre o artigo 142 da Constituição (obrigaria aos militares arbitrar desequilíbrio entre os Poderes), suscitando perguntas sobre o papel político das Forças Armadas, observa o general Rêgo Barros.
E na presente ofensiva bolsonarista contra o sistema eleitoral foi uma instância civil que legitimou as manifestações de militares em relação às urnas eletrônicas. A ideia do então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, de trazer os militares para um comitê de transparência foi um grave equívoco, assinala Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa e ex-presidente do STF.
Num sentido abrangente Bolsonaro não “conduz” uma revisão do papel político dos militares. Na verdade, ele expressa a desagregação institucional, a falta de rumos estabelecidos por lideranças políticas (portanto, dos partidos) e a ausência de um “projeto de Nação” desenhado por elites dirigentes em todas as esferas. Ele é só consequência.
ESTADÃO/montedo.com

6 respostas

  1. Isso virou um “módus operandis” para fugir da responsabilidade de “garantir os poderes constitucionais”, ou seja, suposta”prontidão” é fakenews,
    “ainda mais uma narrativa plantada por um jornalista que possui diálogos com altas autoridades. Será que é para deixar o comandante supremo em maus lençóis, contra uma reação necessária para evitar o golpe iminente do judiciário do luladrão?

  2. Para o rancho, para fora de sede, para missões, para cumprir o expediente, para dar o serviço, para demais atividades lícitas referente as FFAA….Hop!! Agora, para atentar contra a democracia, povo e instituições de Estado. Fora!

  3. Estadão Folha e UOL todos alinhados com CNN e Globo, tudo farinha do mesmo saco, não dá pra levar em conta nada do que saí publicado, todos 100% tendenciosos e sempre com a narrativa pronta do militares malvados contra os lutadores da liberdade da década de 60, que só queriam a liberdade deles próprios para fazerem o que quisessem com o país se perpetuando assim no poder através de um ciclo interminável de corrupção, onde todos esses que falam hj ganham muito bem pra ter lado.

  4. A nomeação de generais para o MD foi um erro? Acerto mesmo foi o comunista Raul Jungmann e o ex-togado Jobim (aquele fantasiado de militar na Amazônia)? William Wack não fala coisa com nada e RB está ressentido. Indiquem um nome que possa conduzir às mudanças necessários ou depois será chorar a venezuela derramada.

    1. A nomeação do militares para o MD foi sim um erro, que começou com o Temer. A ideia era para submeter o poder militar ao poder civil. O Brasil era o único país que tinha um ministério para cada força militar. Entao a criação do MD foi correta e foi sob pressão dos EUA e num dos acordos que o FHC fez com o FMI. O de fato MD ser civil não muda nada, uma vez que as FA são entidades permanentes e de estado, e são elas que formulam as suas políticas estratégicas e de investimento. O Bolsonaro agora quer participar da reunião de Alto comando, eu não sei se é para valorizar ou desmoralizar.

  5. Sem tropa e com meios desgastados e “fumaça do”. Vide desfile do fumacê na Praça dos três poderes, uma demonstração de fraqueza sem limites.

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