Atuação de militares em cargos civis no governo federal sobe 193%

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Chico Alves
Colunista do UOL

Nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de autoria de Flávia de Holanda Schmidt, divulgada ontem, informa que de 2013 a 2021 a ocupação de cargos e funções comissionadas no governo federal por militares aumentou 59%. Nesse período, a presença de pessoas oriundas das Forças Armadas em cargos e funções civis cresceu 193%. O maior aumento proporcional foi observado entre 2018 e 2019.
Além disso, ressalta a pesquisadora, a composição dos cargos ocupados se alterou, com destaque para os níveis 5 e 6, “de mais alto poder decisório, que passaram a ter percentuais mais significativos no conjunto de cargos ocupados a partir de 2019”.
No caso dos cargos de Natureza Especial, diz a pesquisa, os percentuais de militares no total de postos são bastante mais relevantes, saindo de 6,3% em 2013 para quase 16% em 2021. Entre 2013 e 2018 acontece um movimento de desconcentração de cargos, com menos egressos da caserna na área “Governo” em detrimento das demais,”especialmente nas áreas Econômica, Social e de Infraestrutura”. Flávia Schmidt, que é Técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, ressalta que essa tendência é reforçada a partir de 2019, com magnitude expressiva na área de Meio Ambiente.
Os dados indicam que 1.969 militares inativos foram contratados em 2020 por tempo determinado para atuarem no INSS. Outro grupo representativo identificado é o de 1.249 militares que ocupam cargos civis como profissionais de saúde, seguidos dos 179 militares que atuam como docentes. A soma destes três grupos representa 55,2% dos 6.157 militares identificados pelo Tribunal de Contas da União.
O levantamento conclui que o Exército foi a Força de origem da maior parte dos ocupantes dos cargos, tendo havido uma perda de participação da Força Aérea Brasileira. No caso da Marinha houve estabilidade em torno de 20%. Outro fato que chamou atenção foi a perda de importância relativa dos oficiais generais nas indicações, já que o grupo que se mostrou mais representativo foi o dos oficiais superiores (coronel, tenente-coronel e major). Além disso, tanto os oficiais intermediários ou subalternos quanto os praças também tiveram aumento moderado de participação no governo.
Pesquisador da importância das Forças Armadas na vida brasileira, o antropólogo Guilherme Lemos, da Universidade Federal de São Carlos, acredita que a substituição de militares por civis em cargos da administração pública apresenta forte relação com o espaço dedicado aos chamados “paisanos” no imaginário militar, quase sempre os identificando como ética e moralmente inferiores ao mundo fardado.
Esse movimento representa, segundo Lemos, risco de adoção de soluções autoritárias. “Não por acaso, quando militares assumem de vez a gestão do Executivo uma das primeiras medidas é justamente implantar uma democracia militarizada, que além de ser contraditória em si mesma acaba por lastrear as soluções para o Brasil a um imaginário centralizador e por vezes autoritário, próprio das instituições militares”, observou ele à coluna.
UOL/montedo.com

12 respostas

  1. Ou seja, todos querem uma boquinha no governo. Sem farda, sem tirar serviço, sem missão boca podre. Tudo isso, menos ficar no quartel. Esse é o caminho mais curto para trabalhar em cargos civis sem concursos e sem papiro.

    1. Eu preferiria se fossem os QE, QUESM e Cia. Afinal, deveriam participar desse governo também, não somente os oficiais.

  2. Essas reportagens continuam firmes com a lavagem cerebral além de perfazer a contundente performance divisionista da nossa civilização. Seus interesses são apenas na verba publica, atacando sem parar, para ver se o governo recua, como na era PT, e abre os cofres.

  3. Esse é o legado da esquerda: o nós contra eles, civis contra militares, mulheres contra homens, branco contra negros, héteros contra homossexuais, e por aí vai. Vcs acham que esse tipo de rixa na sociedade é saudável? Quanto tempo ainda temos que perder com essa bobagem e discussão inútil e infantil.

  4. A chamada Direita assim como o Esquerda faz o seu aparelhamento, militares de alta patente, pastores e empresários do ramo armamentista, além de milicianos ocupam os altos cargos, militares apadrinhados de baixa patente são os serviçais, que por um bom salário servem cafezinho e fazem, nos mesmos moldes dos quartéis, a tradicional massagem de ego a seus superiores. A diferença é que não precisam usar farda, tirar serviço e cumprir missões boca podres. Enfim, o povo brasileiro apenas trocou os vagabundos de esquerda, pelos vagabundos de direita, mas o modus operandi continua o mesmo.

  5. A nomeação de militares para cargos comissionados sempre existiu, coronel que levava carona na promoção para general era nomeado diretor da Polícia Federal e por aí vai. Com o fim do regime militar cada vez mais essas indicações foram diminuindo com o passar do tempo. A eleição do Bolsonaro ele se elege tendo como base as forças de segurança não apenas as FA. O ministério do meio ambiente foi ocupado pelos oficias da PMSP. E vários cargos e funções de cargos comissionados foram indicações de militares que de alguma forma tem ou tiveram relação com o Bolsonaro. Com algumas excessões muitas das nomeações foram de pessoas com certa competência para exercerem os cargos e funções, digo isso, pois conheci alguns dos indicados. Ao ler a reportagem, a crítica que é feita não é em relação ao nível de competência dos nomeados. A crítica é feita no processo decisório de tomadas de decisões, que é levado para a administra pública. O “eu quero” que é muito comum nas organizações militares e faz parte da “cultura militar” mas não faz parte da administração pública, onde os processos decisórios são realizados após consultas, audiências públicas, participação de conselhos, etc.

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