Os militares voltaram de vez para o jogo da política

No curto prazo, ter as benesses de um governo Bolsonaro é bom, mas no longo prazo o importante para as FFAA é voltar a ter um papel na política // Orlando Brito/. 

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Desafio de Lula em caso de vitória é comparável ao de JK. Mas petista não tem um general Lott a seu lado

Thomas Traumann*
As Forças Armadas são as grandes vencedoras do governo Bolsonaro. Se o presidente for reeleito, os militares vão dividir o poder com o Centrão como fizeram nos últimos quatro anos, segurando mais de 6 mil cargos em comissão, ingerências nas estatais e vantagens salariais. É ilusão, no entanto, supor que eles perderão tanto assim se Lula da Silva tomar posse.
O desafio de Lula nos próximos meses é comparável ao de Getúlio Vargas, o ditador que retornou ao poder com 48% dos votos nas eleições de 1950 depois de ser deposto pelos generais, e de Tancredo Neves, o candidato que montou a mais ampla aliança política da história para encerrar a ditadura militar em 1985. Mas há um terceiro presidente que pode servir de exemplo ao Lula de 2022, Juscelino Kubitschek.
Vitorioso nas eleições de 1958 com 36% dos votos contra 30% do general Juarez Távora e 26% do governador Ademar de Barros (não havia segundo turno à época), Kubitschek teve a vitória questionada. O líder da oposição Carlos Lacerda defendeu um golpe militar para impedir a posse: “Àqueles que têm nas mãos a força de capaz de decidir a questão. Basta que ouçam a voz do seu patriotismo, e não a dos que falam em legalidade para entregar o Brasil a contraventores e criminosos do pior dos crimes, que é o de enganar o povo com o dinheiro que lhe roubam”. A conspiração tinha o apoio do presidente interino Carlos Luz e só não foi à frente porque o general Henrique Lott fez um golpe preventivo, derrubou o presidente e garantiu a posse de JK.
Lula não tem um general Lott. Seus contatos militares estão na reserva. Seus interlocutores nas casernas, os ex-ministros da Defesa Nelson Jobim e Jaques Wagner, lhe trazem relatos edulcorados sobre o clima nos quartéis. Os relatos são de que as ameaças golpistas são de uma minoria e que os militares nomeados para cargos civis apenas cumpriam uma missão.
O simples fato de Lula ter a cautela de ter enviados aos quartéis, no entanto, é a prova da vitória das Forças Armadas. No curto prazo, ter as benesses de um governo Bolsonaro é bom, mas no longo prazo o importante para as FFAA é voltar a ter um papel na política. Este protagonismo, o governo Bolsonaro devolveu às FFAA.
Na segunda-feira (23/05), o Instituto General Villas-Bôas lançou o “Projeto de Nação, o Brasil em 2035” (a íntegra pode ser lida aqui). O projeto, coordenado pelo general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-presidente da ONG Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI, departamento de repressão política durante a ditadura militar, é uma coleção de platitudes, xenofobia, premissas erradas e conclusões inconsequentes. Defende o fim da gratuidade do sistema único de saúde, a intervenção política nas universidades e ataques aos direitos das minorias. O Brasil de 2035 do projeto dos militares é pior que o de 2022.
O fato, porém, de os generais da reserva estarem colocando as suas ideias em livro comprova que eles voltaram a ter protagonismo.
De 1989 até 2016, os generais só eram lembrados pelos presidentes e governadores para tocar as operações de intervenção nos Estados, as GLOs, resolvendo problemas imediatos de segurança. Depois do histórico tuíte do ex-comandante general Eduardo Villas-Bôas admoestando o STF a prender Lula da Silva em 2018, as coisas mudaram. O próprio Villas-Bôas foi ouvido por todos os candidatos a presidente (inclusive Fernando Haddad), o Ministério da Defesa deixou de ser prerrogativa de um civil, os Ministérios das Relações Exteriores e Meio Ambiente passaram a se consultar com generais e almirantes e o próprio TSE chamou militares para opinar sobre o processo eleitoral. O documento do Instituto General Villas-Bôas inspirou a Câmara dos Deputados a retomar uma pauta de cobrança de mensalidades nas universidades públicas, uma das ideias defendidas pelos militares. Os militares voltaram a ter um papel político ativo e não vão sair do jogo. Com ou sem Bolsonaro.
*Jornalista e consultor de comunicação, é autor de “O Pior Emprego do Mundo”, sobre o trabalho dos ministros da Fazenda. Escreve sobre política e economia
Veja/montedo.com

14 respostas

  1. Depois de se lambuzar com os privilégios e benesses R $$$ do Poder, não terá mais volta.
    E caso o capitão seja reeleito, virá a Reestruturação da carreira “deles” Parte II, o super teto tríplex de 100 mil euros mensais.
    As Praças de arminha e mugindo mito em 2 de outubro.

    1. Situação aqui na guarnição do Rio de Janeiro tá assim :
      Praças indisciplinados , uniforme lixão , golpistas de expediente,odeiam TFM, , adoram um empezinho , beberrões, reclamam de tudo ,barriga saliente de chopp, não querem nada com estudo , linguajar chulo cheio de palavrões, não passaram e nem passarão no CHQAO : votarão Lula

      Praças com um nível cultural bom , com CHQAO na manga , disciplinados, trabalhadores , sempre estudando e se aperfeiçoando , habilitado em idiomas , gostam de TFM , cumprem suas missões : BOLSONARO

      1. Praças indisciplinados?….
        Isso não existe, são Praças com visão mais realista do EB, não se deixam enganar.

        Exigências de idiomas para praças e QAO? O Exército deve fornecer gratuitamente esses cursos e não o militar gastar seus recursos e tempo para satisfazer o interesse da instituição, os cargos de praças e de Oficial subalternos e intermediários não exigem conhecimentos em idiomas.

        O TAF está definido no próprio regulamento, se tirou B está excelente.

        A nação dependente de todos esses militares, se forem tão ruins da forma que deixa transparecer não poderiam permanecer no serviço público.

        O que adianta ter excelentes subordinados em que os chefes são péssimos e fracos, querem fazer do EB uma empresa particular, como se fossem donos.

    2. O milagre da multiplicação dos salários marajás em £ Euro.
      Não duvido nada, dessa gente vc pode esperar tudo quando o assunto são vantagens financeiras “deles”.

  2. forças armadas grandes vencedoras onde, cara pálida? os militares que se venderam sim, vencem.

    como pode ser vencedor quem tem macarrao com salsicha no rancho almoco E janta, de segunda a segunda?

  3. Os militares atuais não tem projeto de nação. Quem tinha projeto de nação foram os militares que fizeram 64, esses com influência do movimento tenentistas de 22, a adesão à Getúlio Vargas na revolução de 30 e o apoio durante o Estado Novo. Em 64 eles conduziram um projeto de reforma do estado, com aceleração da urbanização e industrialização. Mas tal quanto antes, irão passar o governo com uma inflação alta, desemprego e um processo de desindustrialização no país. O único projeto dos militares atuais é aumentar o próprio soldo no final do mês, e se conseguirem uma boquinha na reserva já se dão por satisfeitos. O projeto apresentado nessa semana, é em total dissonância com a realidade do país. Mais um projeto neoliberal que só e apresentado agora, após os generais terem garantido as suas benesses por longos anos.

  4. Grana, grana e grana!
    Só, e apenas isso move essa gente pela permanência no primeiro escalão do governo.
    “Eu Só Quero”:
    – Bufunfa, Grana, Tutu, Chibil, Faz-me-rir e Cascalho.
    – e, obviamente, a Reestruturação da carreira Parte 2.

  5. Ideologia dessa gente é:
    – “Euros € – Dólares US$ e Reais R$”.
    Combate a “ameaça interna de comunização” no país é:
    – “Euros € – Dólares US$ e Reais R$”.
    Grana, o vil metal.

  6. E como vai sair, DAS é um baita cabide de empregos com altos salários.
    Pode esperar que caso o capitão não se reeleja, farão uma oposição monstruosa ao governo petralha e lançar a candidatura de algum general ‘Salvador’ da pátria amada Brazil, a fim de salvar a nação da ameaça de comunização.
    Vencendo, tentarão fazer o melhor governo da história da humanidade e nunca mais largar as chaves dos Cofres da União e nomeações mil no Diário Oficial de oficiais generais da ativa e reserva.
    Como Mourão querem morrer agarrados nas fartas tetas do Estado até a morte.
    De cadete até a morte se lambuzando de privilégios e benesses até seus sepultamento.
    E não acabou não, morrendo suas esposas e filhas que nunca trabalharam desfrutarão de seus salários triplex eternamente.
    Brazil, o país dos privilégios ‘mil’ das castas de sua sociedade desigual.

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