Quem é o major bolsonarista que fez política no quartel e acabou na cadeia

Major bolsonarista

Militar da ativa, João Paulo Costa Araújo desobedeceu ordens de superiores de parar com atividade partidária

Marcelo Godoy
A foto com uniforme do Exército diante de uma fila de motocicletas é a primeira imagem da conta do Instagram do major João Paulo Costa Araújo. Ela mostra a conclusão de um curso em 2018. Um ano depois, as imagens da vida militar e da família foram trocadas por vídeos e fotos político-partidários. Militar da ativa, paraquedista e guerreiro de selva, ele virou seguidor de Jair Bolsonaro.
A estreia foi em 26 de maio de 2019, na primeira mobilização para apoiar o presidente. Em sua conversão ao bolsonarismo, o major – um católico conservador – chegou até a compartilhar as ofensas à República e ao marechal Deodoro da Fonseca, publicadas pelo então ministro da Educação Abraham Weintraub.


A prova de tudo continua na internet. Ali estão as imagens de livros de Olavo de Carvalho, as fotos dele em manifestações em Brasília ao lado do blogueiro Allan Santos, a defesa da cloroquina e da ivermectina e as críticas às vacinas e à oposição. Nas redes, o major pôs em dúvida as urnas eletrônicas. E compartilhou imagem em que os ministros do STF Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes são retratados com o bigode de Adolf Hitler.
Foi ali que ele lançou o desafio aos superiores que o levou a ter a prisão preventiva decretada pela 10.ª Circunscrição Judiciária Militar por desobediência. O apoiador do presidente, que se dizia pré-candidato a deputado federal pelo PL, recusou-se a cumprir a ordem de apagar as publicações políticas de suas redes sociais. Desde então, ocupa uma cela no 25.º Batalhão de Caçadores, em Teresina.
Dois colegas disseram à reportagem reprovar seus modos, considerando-o um tanto rude. Calado e de poucos amigos, Costa Araújo é visto no Exército como pessoa complicada. É alvo de três procedimentos disciplinares e dois inquéritos. Um general disse que o major procurou confusão para ter palanque.
Costa Araújo é casado e tem uma filha e uma enteada. Nasceu em Campo Maior (Piauí), onde o pai, João Alves, participa da política local há 46 anos. Ele está no Exercito desde 2003 e pertence à Infantaria. O Estadão analisou 411 publicações do militar no YouTube, no Instagram e no Twitter. Localizou 258 bolsonaristas e partidárias.
Sua defesa pediu ao Superior Tribunal Militar a concessão de habeas corpus. Ao Estadão, seu advogado, Otoniel d’Oliveira Chagas Bisneto fez um apelo: “Faço um apelo ao presidente para que tome conhecimento do caso. Sei que ele não pode intervir, mas uma manifestação dele a favor de quem sempre o defendeu seria importante”.

Reação
A prisão dele foi pedida pelos seus superiores da 10ª Região Militar. Em 21 de março, a 10ª Região recebeu a Recomendação 2/2022 da Procuradoria Militar. O documento orientava os militares sobre atividade político-partidária, elegibilidade e crimes em razão da violação da Constituição. No dia 28, a 10ª Região determinou que a ordem fosse lida nas unidades.
Um dia depois, o 2º Batalhão de Engenharia de Construção, em Teresina, onde o major servia, promoveu, em formatura, a leitura do documento na presença dos oficiais, subtenentes e sargentos. Costa Araújo estava presente. Ouviu tudo. Mas continuou com as publicações. Só no Twitter, fez mais 25.


E desafiou os superiores a puni-lo. Ele escreveu: “Posso ser punido novamente por comemorar o dia 31 de março. Se eu for punido novamente esse ano, serei punido todos os anos até me afastar do @exercitooficial”.


Diante disso, ao decretar a prisão do acusado, o juiz Rodolfo Rosa Menezes escreveu: “Saliente-se que o indiciado ocupa o posto de Oficial Superior, o que causa um agravamento no seu comportamento, pois as suas condutas representam um enorme desrespeito à hierarquia e disciplina, quando, em verdade, deveriam representar um exemplo para a tropa”.
Para o advogado, o major está sendo usado para servir de exemplo aos militares. “Mas ele é pré-candidato e tem o direito de expor suas ideias. Criaram agora no Brasil o crime de opinião.” Para ele, não houve ofensa à cadeia hierárquica. “Acredito que o caso é parecido com o do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).”
COLABOROU ROBERT PEDROSA, ESPECIAL PARA O ESTADÃO
ESTADÃO/montedo.com

15 respostas

  1. Resumindo, mais um aprovado em concurso público, um funcionário público ‘civil’.
    Sua geração é totalmente frouxa e sem vocação a carreira das Armas.
    E pelo seu semblante e atitudes indisciplinares, é mais um fiel representante da nova geração.
    São os adultos frágeis, mimados e infantilizados, um meão.
    Delicados, praticantes de Yoga, budismo, Crossfit e meditação.
    Um autêntico “depilação é Saúde”.
    O combatente refrigerado de teclado, joystick e armas Airsoft.
    Não duram nem numa missão de instrução.
    Uma horinha de ‘EDL’ já se entregam, ‘abostam’ desavergonhadamente.
    Sem rusticidade militar e sempre com essa cara de candura.
    Esse irá se arrastar durante a carreira até “sair” coronel e ingressar na Reserva.
    Nem jeito não, essa miséria é mundial.

    1. Costa Araújo pode estar errado quanto à conduta, mas cursou os 4 anos de AMAN, fez vários EDL, SIEsp, Prova Asp Mega… Depois de formado, fez Pqdt e guerra na selva; logo, não vejo esse “frouxo” e sem rusticidade que vc aponta.
      Qual a relação que vc vê entre a conduta disciplinar dele e a maturidade das pessoas da mesma geração?
      Minha turma – a mesma do Costa Araújo (entramos no EB em 1999) – passou pelas dificuldades e provações da Academia Militar. Não foi fácil, assim como a EsSA que creio que vc fez também não foi.
      Minha turma tem uma porrada de pqdt, comandos, guerreiros de selva… Puxa, todos os cursos ficaram fáceis? Já sei! Faltou você de instrutor chefe!!!
      Pensa bem… Não misture os alhos e os bugalhos…

      1. Sugiro o senhor entrar com um HC, em substituição ao advogado do seu amigo. Suas defesas podem prosperar no juízo/tribunal. Amigo que e amigo faria isso.

      2. Jovem, complementando.
        Tudo isso aí que você fala nao diz muita coisa. Tem gente que faz crossfit e nao se gaba tanto de vaidade. Os que vieram antes de ti passaram por isso, mas bem pior.
        O que o veterano quis dizer é um fato… e na nossa época não tinha dia do uniforme, contraditório ou muito tempo para choro e ranger de dentes. Por favor, não queira se comparar a geração que o antecedeu. Você veio ao mundo por ela. Tudo está ai por conta dela, e não foi nada fácil…. Nao tinha video-game e nem teria “devido processo” numa situação dessas, era xadrez e vida que segue….

        1. Saudosa maloca. Por que militar, ativo ou inativo, sempre tem problemas com contexto temporal? Uma coisa e saudosismo a outra é misturar contexto temporal na história.

  2. A união da política e religião nunca deu certo, o mesmo acontece com a união entre a política e militarismo.

    Os servidores públicos e militares está utilizando a união para atingir os interesses particulares no meio político.

    Os interessados em seguir a carreira política deveriam perder o cargo público antes de se envolverem no meio político.

  3. Militar só quer uma coisa: sair do quartel e conseguir uma boquinha em órgãos civis do governo (via concurso público, cargo comissionado, eleição, etc). Sem missão boca podre, sem escala de serviço, sem farda, jornada de 6 horas diárias, feriados e fim de semana em casa, no shopping ou na praia. Coisas que só o serviço público civil pode oferecer.

  4. Esse discípulo do Meçias 1:71 quer seguir os passos de seu guru. Péssimo militar, já sem conceito dentro de sua turma, assim como fez Bolsonaro, busca as facilidades e mordomias da política brasileira e para isso busca entre os militares de baixa patente uma afirmação batendo de frente com seus pares e superiores, caminho idêntico do Minto. Esses oficiais que se dão mal na carreira militar sempre seguem essa linha de ação quando observam distante a expectativa de sucesso e ascensão na carreira militar, que no caso desse militar seria o generalato. Sem essa expectativa o caminho do excluído da panela militar é a nefasta política brasileira, Bolsonaro é o exemplo.

  5. Fez esses cursos todos e quando faz uma operação real de nós morro e favelas não sabe nem pra que lado corre. Fica mais perdido que cego em tiroteio já vi muito instrutor de guerra na selva na hora da instrução em organização militar da instrução pra se fazer o mais fácil na instrução pra acabar rápido. Só pra preencher o tempo. Digo instrução de cb e sds. Muito imbuche pouca ação.

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