Imagem de militares sofre impacto com episódios de compra de alimentos caros, remédio para a disfunção erétil e até prótese peniana
Fernanda Strickland
Taísa Medeiros
As Forças Armadas sempre desfrutaram de imagem positiva junto à população. Mas, desde que se associaram ao governo de Jair Bolsonaro, vêm assistindo a sua credibilidade ser questionada. Não sem razão. Além das benesses financeiras, com reajustes salariais que a maioria da população não teve, os militares têm se mostrado extremamente perdulários com o dinheiro público, sem respeito a um Orçamento extremamente restrito. Tornou-se rotina a divulgação de que a caserna tem se empanturrado de picanha, cerveja, conhaque e uísque envelhecido, e gasto com próteses penianas e Viagra. Para piorar, os fardados têm flertado com movimentos nada democráticos, como o questionamento da lisura das eleições, como se isso fosse papel dos quartéis. Mais: episódios vividos na ditadura militar continuam sendo tratados com desdém e indiferença.
Entre os integrantes das Forças Armadas que respeitam a Constituição e se constrangem com o que está acontecendo na caserna, o clima é de preocupação. “Jamais poderia imaginar que, depois de toda a reconstrução da imagem pelas quais passaram as Forças Armadas, fosse testemunhar tanta notícia desfavorável”, diz um militar de alta patente. Ele acredita, ainda, que Exército, Marinha e Aeronáutica merecem todo o respeito da população. Contudo, mantido tal quadro, “a situação tende a desandar”, acrescenta.
Para o professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em Segurança Nacional Gunther Rudzit, ainda é possível conter o estrago na forma como a sociedade vê as Forças Armadas. Por enquanto, na avaliação dele, o abalo na imagem dos quartéis junto à opinião pública é momentâneo, mas, diante do descrédito das outras instituições públicas, pode ser refeita. Ele acredita, ainda, que o que está sendo divulgado de ruim referente à caserna tem a ver com as diferentes posições nas Forças Armadas a respeito do governo Bolsonaro, o que poderá servir para um ajuste na postura futuramente.
Segundo o general Paulo Chagas, as más notícias envolvendo as Forças Armadas têm um único objetivo: tentar afetar o nível de prestígio dos militares perante a população. “A sociedade acredita e sabe que as Forças Armadas são instituições confiáveis. Tudo o que acontece de errado é punido; ninguém sai ileso de uma transgressão”, assegura.
Carne de primeira
A primeira polêmica envolvendo os militares veio à tona em fevereiro. Levantamento realizado por deputados do PSB, que pesquisaram o Painel de Preços do Ministério da Economia mostrou que 714,7 mil quilos de picanha e 80 mil unidades de cerveja foram comprados pelo Exército e pela Marinha em 2020. Houve, ainda, um desembolso de R$ 56 milhões em filé, picanha e salmão. Parlamentares protocolaram uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o que consideram “uso de recursos com ostentação e superfaturamento” pelas Forças Armadas.
Mas os militares não se limitaram a gastar dinheiro público apenas comprando alimentação de primeira categoria. As Forças Armadas aprovaram concorrências públicas para a compra de 35.320 comprimidos de Viagra — medicamento usado para tratamento de disfunção erétil. Os dados, mais uma vez, estavam disponíveis no Portal da Transparência e no painel de preços do governo federal e foram compilados pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO).
De acordo com o levantamento feito pelo parlamentar, foram oito processos de compra aprovados desde 2020 pela Marinha, Aeronáutica e Exército. No pregão, o remédio aparece listado com o nome genérico de Sildenafila, nas dosagens de 25mg e 50mg.
A justificativa do Ministério da Defesa para a compra é que o medicamento será empregado no tratamento de militares com hipertensão pulmonar arterial (HPA), o que é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A doença, porém, atinge mais as mulheres e a recomendação dos especialistas é de que a dosagem-padrão para tais casos seja de 20mg.
A terceira polêmica foi sobre a aprovação de compra de 60 próteses penianas por quase R$ 3,5 milhões. Os dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal mostram três pregões para aquisição de modelos infláveis de silicone, com comprimento entre 10 e 25 centímetros. Todos foram homologados em 2021. O pregão 036/2020 prevê a aquisição de 10 próteses, custando R$ 50.149.72 cada, para o Hospital Militar de Área de São Paulo. Outro pregão, 010/2021, é para a aquisição de 20 unidades ao custo de R$ 57.647,65 cada.
Outro golpe na imagem dos militares foi a destinação para outros fins de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) — mais de R$ 150 milhões — que deveriam ter ido para a compra de remédios para a população tratamentos dos mais simples aos mais complexos. O desvio de função consta de documento divulgado pela Comissão de Orçamento e Financiamento do Conselho Nacional de Saúde (CNS), em fevereiro deste ano. Conforme o levantamento, a Comissão Aeronáutica Brasileira (CAB), em Washington (EUA), gastou R$ 61 milhões com itens ligados ao conserto ou suprimentos de aviação.
Segundo o mesmo documento, o Centro de Aquisições Específicas do Ministério da Defesa utilizou cerca de R$ 49 milhões do Ministério da Saúde para manutenção, reparo e abastecimento de combustível para aeronaves. A CAB, aliás, torrou R$ 25 milhões com o mesmo tipo de despesa.
Para completar o desgaste na imagem de seriedade dos militares, áudios de sessões do Superior Tribunal Militar (STM), obtidos em 2017 pelo advogado Fernando Augusto Fernandes e pelo historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostraram alguns dos então ministros da Corte comentando a tortura de integrantes de organizações políticas que faziam oposição à ditadura. As gravações chocam pelo teor daquilo que revelam: uma traz um general defendendo a apuração do caso de uma uma grávida de três meses que sofreu aborto após choques elétricos na genitália; outra, um ministro denuncia uma confissão de roubo a banco, de um suspeito que estava preso à época do crime, que foi obtida a marteladas. Porém, há momentos em que alguns casos são tratados com desdém, ironia ou incredulidade.
6 mil na máquina
Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em julho do ano passado, mostra que o número de militares no governo Bolsonaro em cargos em comissão passou de 2.765 mil, em 2018, para mais de 6 mil — um aumento de 122,7%. Isso representa mais de 43% dos aproximadamente 14,5 mil postos de livre provimento no Executivo federal.
Tais números confirmam a ocupação da máquina estatal pelos militares, sob inspiração de Bolsonaro. O presidente, aliás, vem agradando os ex-colegas de Forças Armadas com uma série de benefícios que fazem do governo um bom lugar para ocupar alguma função.
Começa pelo fato de que os fardados não estão sujeitos à regra do abate-teto, o que faz com que possam acumular o soldo que recebem com o salário por exercerem algum cargo na máquina pública. Além disso, podem embolsar a remuneração que ganham por participar de conselhos de estatais. Os principais beneficiados são os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência).
Levantamento realizado em setembro do ano passado, mostra que alguns dos integrantes do governo Bolsonaro egressos da caserna podem estar fazendo jus, mensalmente, a algo em torno de R$ 260 mil. A mesma pesquisa aponta que, das 46 estatais sob controle direto da União, 16 (34,8%) são presididas por oficiais das Forças Armadas.
Outra vantagem concedida aos integrantes da caserna foi a reforma da Previdência militar. Sancionada por Bolsonaro em 17 de dezembro de 2019, tem vantagens em relação à reforma dos trabalhadores da iniciativa privada e servidores públicos.
Isso porque os integrantes das Forças Armadas receberão salário integral ao se aposentar, não terão idade mínima obrigatória e vão pagar contribuição de 10,5% — na iniciativa privada, desconto é de 7,5% a 11,68% para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com
14 respostas
Servi 30 anos nas Forças Armadas nunca comi picanha, deve ser somente para os oficiais
Óbvio que sim!
O pior é vê praças prejudicados por esses desgraçados, defendendo esse governo de generais mercenários, cleptocratas dos altos estudos da ganância e covardia.
Bolsonaro arrastou as Forças Armadas para o abismo…e isso não é novidade para mais ninguém!!!…da mesma forma, foi-se descoberto o verdadeiro caráter de muitos generais…oportunistas de plantão, saciadores do bom vinho e da picanha argentina…crápulas que envergonham a nossa farda!!!…Hoje vejo poucos generais que ainda servem de exemplo para a tropa!!!
Já sei, a culpa é do PT. O Bolsonaro não tem nada com isso.
Não sei se fui de Outro Exército ou, era ingênuo. Prefiro pensar que ingênuo.
Nem Capitão nem Ladrão, eu sou João.
Eu servi 26 anos. Comi lagosta ( doado pelo Ibama frito de apreensão) e boa comida de maneira geral. Comida mineira nem se fala ( havia um cmt que adorava )
Quem prega comer só picanha e filé não sabe o que gastronomia. Nunca saberá dar valor a um Cassole, Strogonoff, rabada, panelada, uma caldeirada de tambaqui e assim vai.
Tem coisas meio absurda que vi no exército. Certa vez vi um oficial de intendência de aman criticando o cardápio cujo prato era salmão do comandante militar de área com o presidente da fiesp
Certa vez vi na tv um capitão de mar e guerra receber Ana Maria Braga e servi pra ela, ele e a tripulação dobradinha.
Picanha é um prato que o ideal o acompanhamento e com cerveja e assada. Ideal pra d despedidas
Não existe prato honesto ou não, existe a cultura de um povo e de um exército. Gastronomia é cultura.
No rancho quando saca etapa de arroz, não saca macarrão. Agora cada um tem que conhecer seu corpo pra ditar o certo ou errado na alimentação. Diabéticos pão e macarrão é veneno puro
Sobre imagem, nada de movimentos bruscos ou grosserias. As vezes o exército é meio confuso mas é uma instituição que se aperfeiçoa desde a guerra do Paraguai
Aceitar críticas e sugestões não é errado. Fugir de confrontos pode não ser covardia e sim coragem. O bom se lembrar do pacificador e da medalha do pacificador
Enfim…
Saiu tudo errado, mas da pra entender
Bolsonaro meu malvado favorito só até 2026!
O crime compensa e os políticos de um modo geral são exemplo disso: Lula e Bolsonaro presos pelo menos até 2050!!!
Servi nas forças nas décadas de 70, 80 e 90. Na época as notícias não eram censuradas, porém eram monitoradas. A mídia, portanto, era comedida. Haviam alguns almirantes, generais e brigadeiros da velha guarda da década de 60 em final de carreira. Tinham na época a pompa e o nariz empinado oriundo do poder ressonante do histórico e saudoso Regime Militar, como diziam muitos dos antigos! Nos tempos de agora se mira facilmente o alto contraste de valores pátrios, morais e mesmo intelectuais. Praça hoje é graduado e muitos pós-graduados. Aqueles pertencentes à casta estrelada revelam-se e são revelados, pois que como foi dito, não é difícil identificar os contrastes nos tempos. Lamentável, mas não me é preocupante! O meu e de muitos outros, passou o tempo! Divirtam-nos!
É a única coisa que Bolsonaro conseguiu fazer pelas Forças Armadas: denegrir a imagem da instituição…so um cego é que não vê isso
22 anos no Exército e ainda não comi essa picanha………….
Não ganhei diárias……
Pra não dizer que não me ofereceram nada, no meio da pandemia me perguntaram se queria o kit covid (hidroxicloroquina, Ivermectina)
Como dar credibilidade a uma estagiária de mídia esquerdopata tentando criar crise de fatos que já foram desmentidos sobre o que ela publicou. É tão boa sua matéria que nem surtiu efeito ou comentários midiáticos.