Erros levaram à crise entre TSE e Forças Armadas; militares afastam teoria de golpe

O Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, participa da solenidade militar em comemoração ao nono aniversário de criação do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) do Ministério da Defesa (José Cruz/Agência Brasil)

Engajamento das Forças Armadas no processo do pleito de outubro provoca receio de ameaças golpistas. Mas integrantes da cúpula militar, ouvidos pelo Correio, reiteram o papel constitucional da caserna

Raphael Felice
Vinicius Doria

A presença cada vez mais constante de chefes militares na agenda política e em embates públicos com o Supremo Tribunal Federal (STF) e com a Justiça Eleitoral — alimentando teorias conspiratórias de alinhamento com o discurso bolsonarista — levanta dúvidas não só da classe política e de observadores acadêmicos. Dentro das Forças Armadas há, também, preocupação com o envolvimento militar na cartilha ideológica do presidente Jair Bolsonaro (PL).
O tema já não é mais tratado como outra “guerra de narrativas”, mas preocupação real em relação ao papel dos militares neste momento de profunda divisão do país, a poucos meses das eleições gerais. Assim como em 2002, o receio de uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por parte de setores mais conservadores da sociedade, joga mais gasolina na fogueira da caserna. Esse cenário seria propício para a tese de que Bolsonaro estaria articulando um “golpe” contra as instituições democráticas. Mas, entre oficiais de alto escalão ouvidos pelo Correio, o assunto é rechaçado internamente.
“Quem vencer as eleições assume. É assim e será assim”, disse uma dessas fontes. Segundo ela, “a vida segue em sua normalidade nas Forças, não há alteração de rotina, missões são cumpridas normalmente”. O problema está mais na relação política entre os Poderes do que em uma suposta mobilização golpista — “alimentada pelas redes sociais e pela imprensa” —, apesar das preferências eleitorais dos militares, hoje majoritariamente favoráveis à reeleição de Bolsonaro, segundo a percepção dos oficiais.
A presença de militares em cargos de governo e, em particular, nos palanques que Bolsonaro frequenta incomoda o oficialato da ativa. Mas a orientação interna, nos comandos, é não nutrir polêmicas.
Da parte do governo, declarações de que não há ameaça golpista costumam vir acompanhadas da ressalva de que a oposição “não pode esticar a corda”. Foi o que disse o então chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, em 2020; e Bolsonaro e o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), general Luiz Carlos Gomes de Mattos, no ano passado.

Erros
Sinais de desequilíbrio na relação entre Poderes não faltam. Assim como não falta quem aponte erros dos chefes do Judiciário e do Legislativo que ajudam a cevar teorias golpistas. A volta do debate sobre a segurança das urnas eletrônicas na comissão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que avalia a lisura dos equipamentos, por exemplo, é vista como um desvio da “missão original” dada ao Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber), criado em 2020, que conta com representantes das três instituições militares.
O papel das Forças Armadas nas eleições, até agora, limitava-se ao auxílio logístico do transporte das urnas eletrônicas para localidades distantes e à segurança de municípios por forças federais autorizadas pelo TSE. Analistas que acompanham a história dos militares na política brasileira consideram um erro do então presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, ter chamado integrantes das Forças para compor a comissão.
“Os militares foram convidados a participar dessa comissão. Esse convite foi algo absurdo por parte do TSE. Desde quando as Forças Armadas participam desse tipo de coisa a partir da redemocratização? Se há alguma suspeição, deveriam chamar observadores internacionais”, disse a doutora em história e professora da UnB Georgete Medleg Rodrigues. “Houve uma inversão total de perspectiva. O Judiciário foi se rendendo à pressão (de chamar as Forças a participar da comissão). Nunca foi preciso isso desde a redemocratização.”
O general Paulo Chagas (Podemos-DF), ex-aliado de Bolsonaro e crítico do Judiciário, corroborou a visão da especialista. “O que aconteceu, no fim das contas, é que o Tribunal Eleitoral, não sei a exata intenção, convidou as Forças Armadas. Não foi o presidente que deu ordem para as Forças intervirem por conta da urna”, destacou. “Tenho absoluta certeza de que as forças entraram nessa seara sem nenhuma influência política, por mais que o presidente queira passar isso para a sociedade. Vejo companheiros comentando que as Forças foram envolvidas em um processo político-eleitoral por conta do discurso do presidente”, complementou o militar.

Derrapagem
O cenário atual mostra que saiu pela culatra o tiro de Barroso — um dos grandes alvos de críticas e ataques de bolsonaristas e do próprio chefe do Executivo. O então ministro da Defesa, Walter Braga Netto, indicou o chefe de segurança cibernética do Exército, o general Heber Portella. Bastidores apontam que o ministro do Poder Judiciário esperava a indicação de um integrante da Marinha, também especialista na área.
Em vez de consolidar a imagem de segurança do sistema do TSE, a presença dos militares ajudou a turbinar a pauta bolsonarista em favor do voto impresso, pois os integrantes das Forças apresentaram uma lista de mais de 80 perguntas sobre a possibilidade de violação das urnas, que foram autorizadas pela Corte a serem divulgadas.
O movimento reacionário também avançou para a arena política, com o anúncio feito por Bolsonaro de que o partido dele, o PL, vai contratar uma empresa independente para auditar as urnas.
Barroso também foi criticado por dar combustível para a crise na relação com os militares ao dizer, em um ambiente acadêmico, que as Forças Armadas estão sendo orientadas para “atacar e desacreditar o processo eleitoral brasileiro”. A reação foi imediata e partiu de um general do Exército tido como moderado, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira, que assinou nota considerando as declarações do magistrado uma “ofensa grave”.
Uma declaração de Lula, que lidera as intenções de voto para a sucessão de Bolsonaro, também ajudou a aumentar a irritação da ala fardada. O ex-presidente afirmou que, se eleito, vai retirar os militares de mais de oito mil cargos comissionados da administração federal.
Na avaliação do professor de ciência política Valdir Pucci, há integrantes das Forças Armadas que apoiariam uma eventual tentativa de golpe, entretanto, o conjunto da caserna “entende qual é sua função”.
“O que a gente pode dizer é que, sim, existem elementos, pessoas dentro das Forças Armadas que não teriam o mínimo problema em apoiar um movimento antidemocrático, golpista. Entretanto, o conjunto das Forças Armadas entende qual é o seu papel e qual é a sua função”, frisou Pucci. “Ou seja, se houvesse uma tentativa de golpe, seria uma aventura frustrada, que não teria sucesso dentro da realidade política atual do Brasil.”
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

14 respostas

  1. Todos os generais que temos hoje no EB são frouxos e medrosos. Só gritam e cantam de galo dentro dos quartéis, pois fora dele até uma barata os botam para correr.

  2. Essa bizarrice e aberração de “golpe” é só massagear o ego e insanidade do eleitorado bolsopata.
    Deixar claro para toda sociedade que o TSE não dirimiu todos os milhares de questões levantadas pelo Exército (trazer parcela “não minion” a sua persuasão).
    E, assim, desacreditar a lisura das eleições, a segurança digital do sistema, e, em caso de derrota, utilizar destes questionamentos sem todos os esclarecimentos contra o TSE.
    Estão fechados em tumular as eleições e armados de Pistolas calibre ‘142’ para que de forma alguma aceitarem outro resultado que não seja a reeleição do ‘mito’.
    Derrota nas urnas = manipulação na sala secreta do TSE.
    Sobreavisos e Prontidões à vista!
    Quem em sã consciência, anos atrás, poderia imaginar as FA envolvidas em bizarrices, aberrações e atolado até o pescoço em políticas-partidárias eleitoreiras.
    Respondo NINGUÉM.

      1. Foi exatamente isso que o Presidente quis dizer quando falou de INSS e ninguém entendeu ou não quiseram entender: _Vocês querem ir para o INSS?

  3. “Quem vencer as eleições assume. É assim e será assim”!
    Obvio que assumirá, seja Guilherme Boulos, o Boca de Sabão, o ex-presidiário, o Ten Cel Daciolo, eu, o Cap Montedo, qualquer um, até o vendedor de mate na praia.
    Não há absolutamente qualquer chance da sociedade em geral, poderes Judiciário e Legislativo, Organismos internacionais, União Europeia, CIA, FBI, a NASA, os marcianos comunistas de Marte, subjugar-se as preferências das Forças Armadas por candidato ‘A’ ou ‘B’.
    Bolsonaro não passa de um frouxo e está no maior cagaço de parar na cadeia com seu clã aloprado.
    Esse autoritarismo tupiniquim bananeiro é reflexo do pavor que o aflige dos cinco processos, inquéritos que responde no STF, e sua prole pode esperar que o Xandão virá com sangue nos olhos pra se vingar de todos ataques que sofreu.
    O que esses fanáticos seguidores da seita ultradireita do falso ‘meçias’ não entende, por mais que não queiram, é que aqui não é a Nicarágua, Bolívia…
    Ou, a Venezuela, onde um coronel Pqdt amanheceu sem saco e resolveu ser presidente vitalício.
    Essa gente tosca, de qualidade medíocre, rasteira, rasa e meã será varrida do cenário Nacional. 🙏
    Para o bem da Nação, e, principalmente, para o bem das Forças Armadas.
    Brasil.
    p.s.:
    Como alertou o Redator deste rico Blog, ‘essa mancha nas FA será eterna’!
    E como.

    1. Para o bem das Forças Armadas. no 7 de maio de 2022 a partir do 16:06
      faço das suas as minhas palavras, todas essas ameaçadinhas é CAGAÇO de ser preso pelo Xandão

    2. Tipos que nem vc, que ninguém dá mais bola, já foram varridos do mapa. Só lhes resta pedir esmolas de quem é produtivo. Se as FFAA não puderem dar sustentação contra o inimigo interno então pode fechar as portas porque só consome recursos. Depois não vem chorar que o papai ladrão não pagou tua pensão.

  4. Bolsonaristas dizem ver perseguição em erro da CNN Brasil.

    Hélio Lopes disse em seu perfil no Twitter que “talvez” a CNN Brasil tenha “desconfiado do presidente” por sua viagem a Guiana na 6ª feira (06.mai.2022). Horas depois, o deputado ironizou a justificativa da emissora. “Essa CNN é um lixo de emissora, desculpa não é um lixo, eu errei”, afirmou Hélio Lopes.

  5. A origem da urna eletrônica foi decorrente de fraude na contagem de voto impresso em eleição nós anos 90.

    Mas que bom que as FA tão no processo. Agora poderá investigar a compra de votos e santinhos na eleições. Prender nem se fala.

    As FA sempre teve um papel nas eleições no Brasil. ( Papel de besta)

    As FA vao fiscalizar a aplicação das emendas e a cobrança de comissões pra caixa 2 e compra de voto.

    As FA fiscalizando o pleito de eleições nesse Brasil nunca viu nada de errado e sempre atuou na mão amiga.

    Ser conivente com fraude antes de voto acredito ser o pior crime. Agora como auditar urna eletrônica se o voto é secreto. Ahh..o fiscal do partido vem com escrutínio de votos comprados naquela seção.

    Em qualquer interior desse Brasil e 200 pau um voto.

    1. O golpe que os generais queriam, já foi dado em 2019, a Lei 13.954. Esses covardes queriam engordar seus bolsos e já conseguiram. Golpe para q? Pq? Teto do funcionalismo, mordomias já conhecidas por todos. Acha que vão se comprometer pelos ideais ditatoriais da família do falso Meçias 1:71. Generais já tem o que queriam e vão deixar Bolsonaro sozinho na hora que o bicho pegar e diga-se de passagem eles estão certos. Não há respeito entre leões e homens.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo