Ciro Nogueira diz que corrupção no governo é ‘virtual’ e defende aliança centrão-militares

© Reuters. Presidente Jair Bolsonaro é observado por Ciro Nogueira durante cerimônia no Palácio do Planalto 27/07/2021 REUTERS/Adriano Machado

Ministro afirma só haver ‘narrativas’ sobre desvios, que segundo turno começou e que presidente só perde ‘para ele mesmo’

Julia Chaib
Marianna Holanda
Mateus Vargas
BRASÍLIA

O ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) chamou de “corrupção virtual” as suspeitas de pedido de propina por pastores indicados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para intermediar reuniões no MEC (Ministério da Educação).
Chamado de “amortecedor” no governo, o ministro disse não acreditar que o episódio atrapalhe o discurso anticorrupção do governo. “Não houve corrupção. É uma corrupção virtual. Existem as narrativas, mas o que foi desviado lá? Não foi pago nada”, afirmou à Folha.
Ele deu a entrevista na noite de quarta (6), dois dias antes de se tornar público relatório da Polícia Federal que afirma que o ministro cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro sob a suspeita de ter recebido propina da JBS em troca de apoio para a reeleição de Dilma Rousseff (PT) em 2014.
Procurado novamente nesta sexta (8), o titular da Casa Civil não foi encontrado, mas sua assessoria chamou a conclusão da PF de “enredo fantasioso”, disse que ele será inocentado e que o episódio não tem relação com a participação dele no governo Bolsonaro, mas com “o período turbulento da criminalização da política”.
Na entrevista à Folha, Ciro Nogueira disse que o segundo turno das eleições “já começou” e que Bolsonaro só perde para ele mesmo, caso tome decisões equivocadas na área da economia.
Dirigente do PP, o chefe da Casa Civil afirmou ainda que a aliança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Geraldo Alckmin (PSB) “envelheceu a chapa”, enquanto a dobradinha de centrão e militares, que pode ser reforçada com a candidatura de Braga Netto a vice-presidente, “está dando certo para o país”.

O presidente da Câmara defendeu nesta semana rever a Lei das Estatais, diante das indicações que deram errado na Petrobras. O sr. também defende? Estamos vivendo um novo momento. Você viu essa celeuma da indicação do Adriano [Pires] e do [Rodolfo] Landim. Já pensou se tivessem essas leis de compliance na época do PT, quando eles foram para dentro da Petrobras? Essas pessoas não teriam tido acesso à Petrobras.
Então, nós temos que enaltecer e proteger [a lei], mas eu acho que nenhuma lei é imexível, que não possa ser aprimorada. Vou até conversar com o presidente [da Câmara] Arthur [Lira] para ver o que ele tem para sugerir. Acho que o Arthur, como tudo que ele apresenta, sempre tem meu aval. Se for para melhorar, o governo pode apoiar.

O presidente falou recentemente que o Milton Ribeiro [ex-ministro da Educação] deixou temporariamente o governo. Ele pode voltar? Ele é uma figura que tem todo o nosso respeito, um homem de bem, correto, sério. Como não tenho dúvida de que será inocentado, não vejo problema de ele retornar ao governo. Mas não é decisão minha, é do presidente.

Como sustentar o discurso anticorrupção com um caso desse dentro do governo? Mas não houve corrupção. É uma corrupção virtual. Existem as narrativas, mas o que foi desviado lá? Não foi pago nada. Não foi empenhado nada.

Por que é virtual? Porque não aconteceu. Vocês já esmiuçaram esse caso. Algum recurso foi desviado? Nenhum recurso foi desviado, porque não foi pago nada. É igual à questão das vacinas, é uma corrupção virtual, que não existiu.

Houve pedido de propina dos pastores, segundo relatos dos prefeitos. Mas não de alguém do governo.

Segundo a fala do próprio Milton, foi o presidente que indicou os pastores, eles levaram os prefeitos. Indicou, mas não para fazer nada de errado.

O sr. acha correto dois pastores que não tinham vínculo com o MEC participarem de reunião dentro do ministério? Não vejo nenhum problema em participar de reunião. Se existe um governo que não é tolerante com corrupção é o nosso. Às vezes, vejo muita gente aí falando, principalmente do PT: “Corrupção, corrupção”. Se for para entrar nisso, vamos botar um debate entre o Paulo Guedes e o [Antônio] Palocci para ver como está essa questão de corrupção.

Também há discussão a respeito das emendas de relator. De que forma o sr. avalia esse tipo de distribuição de verbas, que privilegia a base do governo? Você já viu um governo, desde que o mundo é mundo, não fazer isso? Você acha que no governo do PT o pessoal do PSDB fazia as indicações?

Mas o governo Bolsonaro prometia outra conduta. Não, a conduta diz respeito ao recurso ser bem executado, não ter desvio de recurso e chegar para a população. Recebemos as indicações do relator do Orçamento. O comando é todo do Congresso. Se é do governo, por que se empenhou recursos para os integrantes do PT?

O presidente teve uma melhora de intenção de votos. A que o sr. atribui a melhora? Não dá para comparar com nenhum governo [anterior], porque ninguém enfrentou uma pandemia. Mas as pessoas agora estão tomando conhecimento do que foi realizado, as falsas narrativas daquela CPI absurda que criaram.
O governo vai fazer três anos, não tem nada de corrupção. Existe um sentimento que o presidente tem direito à reeleição como os outros tiveram. O segundo governo Lula foi melhor do que o primeiro. O presidente tem direito à reeleição, e o próximo [mandato] dele vai ser muito melhor que o primeiro, porque não vamos enfrentar pandemia, guerra, seca.

O sr. fala com convicção sobre a vitória, mas Lula tem mantido o patamar de votos. Como ganhar? O maior cabo eleitoral de Bolsonaro é o Lula. O Bolsonaro de hoje é muito melhor do que o Bolsonaro de 2018. O Lula é o contrário. O Lula de hoje é muito pior do que o Lula de 2002. Tenho certeza que as pessoas não vão querer isso.

O sr. teme que Bolsonaro possa não aceitar o resultado das urnas? Ele sempre ganhou nas urnas e vai ser reeleito. Há três meses, se falava que ele podia perder pro Lula. Hoje só perde para ele mesmo. Não Bolsonaro, mas o governo como um todo. Se não tomar medidas corretas, se for fazer medidas eleitoreiras, estourar o teto de gastos. Nós já estamos nos 45 do segundo tempo, com a bola na marca do pênalti. Presidente só precisa chutar para o gol.

​O sr. faz alguma autocrítica da gestão do governo na pandemia? Morreram mais de 650 mil pessoas, o presidente estimulou o uso de medicamentos sem eficácia, desestimulou a vacinação. Eu mesmo tomei [esses medicamentos]. O mais importante é que o presidente vacinou toda a população e foi exemplo no que diz respeito a investimento na área de saúde. Tanto os empregos quanto a saúde das pessoas.

Recentemente, vimos alguns movimentos na terceira via. O que podem representar para o xadrez da reeleição? O segundo turno já começou. Como diz o presidente, é uma eleição do bem contra o mal. São dois presidentes que têm rejeição muito alta. E [vai ganhar] quem for capaz de atrair o centro, que hoje está, na quase totalidade, com o Bolsonaro.

Alckmin não pode atrair o centro? O Alckmin envelheceu a chapa. Não em idade, mas em ideias. É uma chapa de contrastes, que não atrai o eleitorado que pensa no futuro.

Uma chapa do Bolsonaro com o Braga Netto é moderna ou ela só quer manter o Exército próximo? Acho que é uma chapa do país que está dando certo. Se vier a consolidar o Braga Netto [como vice].

O que está dando certo é uma união de centrão com militares? Está dando certo o país. É o caminho, as pessoas estão aprovando isso. As instituições militares são altamente respeitadas e aprovadas.

​Apesar do aumento no valor do Bolsa Família, o presidente ainda vai mal nas pesquisas entre os mais pobres. A que o sr. atribui isso? Quadruplicamos o valor do Bolsa Família. As pessoas passaram dificuldade nesse momento de crise, [mas] vão ter a consciência de quem cuidou e foi capaz de dar o equivalente a 15 anos de Bolsa Família e auxílio neste momento.
Se fosse o PT, a gente estaria com saques nas ruas. O [Fernando] Haddad, se fosse presidente, não teria terminado o governo, porque não teria feito as reformas capazes de dar suporte a essas pessoas que precisavam. As pessoas vão tomar conhecimento disso.

O sr. chegou a convidar o Braga Netto a ir para o PP ser vice do presidente? Ele ainda não me disse que é o Braga Netto. Existe a expectativa. Sempre defendi que o presidente tivesse total liberdade de escolher uma pessoa de confiança. E o Braga Netto se adequa a esse perfil. Se ele for mesmo vice, acertou de ir para o PL. É muito ligado ao presidente, não tem identificação com o PP ou com o Republicanos. Normal é acompanhar o presidente.

O fato de muitos aliados do presidente se filiarem ao PL gerou mal-estar na base. Houve agora uma aproximação grande com o Republicanos, com a filiação do Tarcísio, Damares. Esses partidos estão consolidados em apoio ao presidente.

Por que em alguns estados o PP não apoia o presidente? O Progressistas nunca esteve tão unificado na sua história quanto nesta eleição em apoio ao presidente. Só temos problema em um ou dois estados, na Bahia e uma parte de Pernambuco, mas acho que vamos unificar.

O sr. participou de outros governos petistas. Se Bolsonaro não for reeleito, pode vir a participar de um eventual governo Lula? Não. O senador Ciro Nogueira provavelmente vai voltar para o Senado e estará na oposição. E vou defender que o PP permaneça na oposição, mas é uma definição do partido.

O sr. chegou a chamar o presidente de fascista e disse que ele mudou agora, mas ele segue defendendo a ditadura, o filho dele debocha da tortura com a jornalista Míriam Leitão. Isso representa mudança? Olha, quando eu chamei o Bolsonaro de fascista, eu chamei o deputado. O presidente tem a minha total admiração. Hoje eu tenho um orgulho muito grande de estar ao lado dele.

Ele tem falado em uma batalha que vem pela frente, bem contra o mal, em não aceitar certas coisas. O que isso quer dizer? Uma coisa que eu concordo com ele é que vai ser uma eleição do bem contra o mal. O bem, pra mim, é o auxílio emergencial, blindar as estatais. E o mal vai ser essas loucuras de se falar em retrocesso de reforma administrativa, estimular invasão do MST.

Na semana passada, ele mandou os ministros do STF calarem a boca e botarem a toga. Isso não é um ataque a uma instituição? Gosto mais de lembrar das atitudes do presidente Bolsonaro, que sempre foram de respeito às instituições, de respeito à democracia. Ele ganhou as eleições pelas urnas e as atitudes são as melhores possíveis. As pessoas falam “ah, o presidente não se vacinou”, mas ele colocou a vacina no braço de vocês. Graças a Deus, diminuímos a temperatura. Agora, às vezes, você vê juízes falando fora dos autos. Há erros de parte a parte. O fato é que hoje temos um país com instituições sólidas, democracia consolidada, e um presidente que respeita, mais do que tudo, a democracia e as instituições.


RAIO-X
Ciro Nogueira, 53 anos

​Piauiense, é formado em direito pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro. Foi eleito deputado federal pela primeira vez em 1994 e teve quatro mandatos na Câmara. Senador pela segunda vez, preside o Progressistas. É ministro da Casa Civil desde julho de 2021.
FOLHA/montedo.com

9 respostas

    1. Cabo Daciolo,
      Não sairá qualquer reajuste e nem bolsa ‘familha’ de R$ 400 (patético).
      E lembro que o nosso “aumento” diferenciado entre os círculos militares, concedido em 4 parcelas entre junho de 2020 a 2023.
      Já se encontra defasado em virtude da galopante inflação.
      E a ‘coisa’ pode ser pior, porque caso o ‘mito’ não se reeleja, o próximo governo alegará que as FA foram as únicas que tiveram reajustes durante a pandemia através da Reestruturação da carreira.
      Ou seja, para o cume da pirâmide e pequena parcela dos graduados a Lei 13.964 atendeu muito bem.
      Para outra grande parcela das Praças nem tanto, e vai piorar devido à inflação e sem qualquer possibilidade nesse governo de reajustes, e num governo petralha.
      A ‘coisa’ vai ficar pior.
      Barro!

  1. Vai ter aumento sim! E vai contemplar todos, com mesmo índice, exceto os generais que ganham o teto. Os militares recuperarão seu poder de compra e as perdas da primeira e segunda MP do mal, tudo isso em 2022, virtualmente.

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