A espada suspensa

A ESPADA DE DÂMOCLES

Marco Aurélio Vieira*
Dâmocles, conselheiro e amigo de Dionísio, tirano de Siracusa, na Sicília, no século IV a.C., vivia alardeando o poder e a boa vida do seu rei. Dionísio propôs então ao estimado conselheiro trocar de lugar com ele e desfrutar da vida de rei por um dia. Dâmocles aceitou o convite e foi levado ao palácio, onde lhe foram oferecidos vinho, música, mulheres… Porém, ao confessar a Dionísio sentir-se o homem mais feliz do mundo, ele percebeu exatamente acima de sua cabeça, no teto do salão, uma espada sustentada pelo cabo por um fio de rabo de cavalo, cuja outra ponta havia sido amarrada ao seu corpo. Um movimento impensado fatalmente romperia esse fio, provocando sua morte. Dâmocles compreendeu que Dionísio havia lhe preparado uma lição sobre o poder e de como, além dos confortos e regalias, qualquer movimento do detentor do poder está associado a grandes responsabilidades, muitas delas fatais.
Recentemente, no Brasil, assistimos a veementes manifestações nas redes sociais e nas ruas, com insistentes provocações aos militares, acusando as Forças Armadas de omissas diante dos atos supostamente inconstitucionais dos ministros do STF. Têm sido comuns cartazes incitando a “volta à ditadura”, e lives de diferentes espécimes de valentes de plantão, chamando os oficiais generais de “covardes”, desqualificando alguns militares mais próximos do Executivo como “parasitas inúteis”, além de constantes incitações à indisciplina junto aos mais jovens, oficiais e praças.
As Forças Armadas têm hoje cerca de 80% de confiança da população. Essa credibilidade se deve ao trabalho diuturno dos militares no Brasil profundo, atendendo às populações nas calamidades, realizando obras de infraestrutura sem desvios de recursos públicos, acolhendo refugiados nas fronteiras, ou prestando apoio aos governos estaduais nas crises de segurança pública. Contudo, uma grande parcela dessa mesma sociedade ainda desconhece não só as missões constitucionais das Forças Armadas, mas também o seu papel no contexto histórico e político.
Assim, têm sido recorrentes as cobranças para que as Forças Armadas se desviem de suas missões constitucionais e adotem posturas militaristas, ou usem da força para pressionar os poderes a cumprir suas destinações previstas. Sim, as Forças Armadas, por diversas vezes na História, intervieram nos regimes políticos vigentes no país com pronunciamentos, sedições e revoluções. Entretanto, tais intervenções, mesmo com apoio popular, na maioria das vezes causaram sérias e indesejadas consequências políticas e sociais, inclusive para a imagem das Forças, com sangue derramado e ressentimentos até hoje não superados. Esquecem os indignados de ocasião que o presidente, assim como todos os representantes do povo, foi eleito em eleições livres e está atuando dentro dos marcos da Constituição. Desconsideram o fato de que os militares hoje “no governo” são da reserva, não comandam tropa, não têm qualquer vínculo ou subordinação direta com os chefes militares, e estão locados em cargos técnicos ou de confiança.
Nossas instituições amadureceram, nosso sistema de governo se aperfeiçoou nas últimas décadas, a duras penas. Nossa representatividade política é real, testada nas urnas e baseada mal ou bem nos desempenhos dos representantes democraticamente eleitos, com maciça participação popular. Poucos países no mundo têm as liberdades e a organização política funcionando nessas condições e nesse grau de confiança popular.
Qualquer abalo nos alicerces desse edifício arduamente construído ao longo de quase dois séculos — uma intervenção militar, por exemplo — seguramente seria um inconsequente retrocesso no rumo das velhas práticas políticas, e um risco incalculável para todas as nossas conquistas democráticas.
As Forças Armadas não são um aparelho controlador dos poderes da Nação, nem uma milícia partidária, e têm ponderado essa espada suspensa diariamente. Quem freia um poder é outro poder, disse Montesquieu. Mas descompromissados “conselheiros” brasileiros continuam insistindo no uso do poder das Forças Armadas como antídoto contra as vulnerabilidades da própria democracia. “Eu os identifico a todos. São os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias ao poder militar”, disse o marechal Castelo Branco. Desprezar o peso da espada, ou a resistência do fio que a suporta, é hipocrisia e irresponsabilidade; incitar granadeiros é temerário.
*General do Exército, foi comandante da Brigada de Operações Especiais e da Brigada de Infantaria Paraquedista
O Globo/montedo.com

25 respostas

  1. Repita comigo;
    – Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
    Para de romantismo político.

    1. Esse art 142 da CF, deveria ser modificado, quando foi redigido em 1988, as forças armadas possuíam os ministros militares, como os ministros fazem parte do poder Executivo, portanto poderiam ter iniciativa de manter a lei e a ordem.

      Atualmente as forças armadas são comandadas pelo ministro da defesa, portanto os comandantes militares não são ministros, logo não podem por iniciativa própria manter a lei e a ordem, apenas o ministro da defesa possui essa atribuição.

      CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

      Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado.

  2. Desconheço nenhum “Dâmocles” com coragem moral para substituir o Bolsonaro de forma honesta, sem pagar a mídia e demais sanguessugas do poder. Não aguentaria um dia da pressão na cadeira que nosso presidente honesto suporta. Tem que ser verdadeiro para ter o apoio popular.

    1. Infelizmente não posso dizer o mesmo. Como pago pensão com base no salário mínimo sempre que é aumentado meu salário é reduzido. Com a Reestruturação acabei por não ter aumento de salario e com o aumento de descontos da previdência tive nova redução de salário. Também em virtude de quase quatro anos do referido governo não tive aumento de salario e a inflação dos quatro anos reduziu mais ainda meu salário. Pergunto como poderia votar novamente em quem praticamente me reduz o salário? Seria mais quatro anos de redução de salário e eu estaria sendo novamente prejudicado por mais redução salário. Vamos raciocinar melhor quando formos votar. Lula nunca mais. Podemos escolher outro menos nocivo à nós. Pense melhor antes de votar.

    2. Estou com redução de salario da seguinte forma: Pago pensão co base no salário mínimo. Não tive nenhum aumento de salario. Aumento de desconto na previdência.
      Quatro anos de inflação. Com ésse governo estou minguando meu salário. Se ele for presidente novamente estou fadado a pobreza. Devemos analisar bem antes de votar.

        1. Não sou eleitor dessa gente que está nesse governo medíocre.
          Porém tenho a impressão que na questão remuneratória é:
          – “ruim com ele, pior sem ele”.
          Caso o ‘mito’ dos petistas de direita não se relega.
          Qualquer um que assuma esse buraco gigantesco nos cofres da União.
          Devido à crise econômica mundial através da pandemia e, por hora. invasão russa, podendo levar a gasolina a patamares estratosféricos, ou seja, dependendo do humor do aliado internacional de Bolsonaro, o carniceiro Putinaro.
          Pode esquecer, não haverá qualquer reajuste pelo menos no primeiro ano do novo governo.
          Alegarão que pela reeleição o ‘mito’ quebrou o país (Fundo eleitoral e Bolsas ‘mil’ assistenciais).
          Sem falar que irão alegar que os militares foram os únicos federais que obtiveram “aumento” durante a pandemia.
          Através da Lei 13.964 – Reestruturação da carreira ‘deles’.
          E elegendo-se a escória petralha, hummm…
          Podem esquecer, o revanchismo moral e salarial será abissal, gigantesco.
          Mais uma pra conta do Centrão militar e Jair ‘171’.
          Barro Negão!
          Sangra.

  3. A inércia se deve a manutençãode regalias e benesses à alta casta, “devemos ter em mente, ou melhor, os Generais devem ter em mente que as FA não são uma marca, um “brand” precificado tal qual ocorre numa empresa cujo valor deve ser mantido a qualquer custo.

    De que adiante ficar almejando uma aceitação, “marca boa no mercado”, ao preço da inação ou omissão do papel político – fiel da balança do desequilíbrio entre os três poderes da república – que as FA possuem. Sim as FA são instituições políticas permanentes, seus membros não são políticos de carreira no sentido estrito, não é mister das FA, mas elas como um todo possuem um peso político dentro do cenário nacional.

    E tal peso político deve sim servir ao povo no intuito de, atendendo aos anseios deste, ocupar os espaços que antes eram ocupados por bandidos travestidos de políticos, ou impedir que bandidos travestidos de políticos e magistrados promovam o desequilíbrio entre os poderes da república.

    Não é papel das FA fortalecer a sua marca no mercado (aceitação pela opinião pública) através de vacinação, distribuição de de cestas básicas, construindo pontes, pavimentando estradas ou promovendo atendimento médico, pois são ações que bem ou mal podem e devem ser realizadas pelas instituições civis públicas ou privas (incluindo as fliantrópicas). Às FA cabem manterem-se sem com a aparência – ao menos isso – de força bélica, manter a espada sempre sendo afiada bem na frente dos inimigos internos para que estes não ousem querer ver a espada ser desembainhada.”

  4. Guerra da Ucrânia:
    As medidas de segurança extremas para proteger Putin.
    Todos os passos do presidente russo são observados de perto por centenas de guarda-costas que o acompanham 24 horas por dia.

    Sua comida é preparada às escondidas e tudo o que ele bebe deve ser previamente checado por seus assessores mais próximos.

    Ex-oficial da KGB, o serviço de segurança da União Soviética, Putin conhece muito bem as ameaças que existem ao seu redor, especialmente em tempos de guerra.

    O mandatário lidera a invasão russa à Ucrânia, e isso representa alguns riscos adicionais para sua segurança.
    https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60855699

  5. A Rússia reduz suas ambições militares, mas a guerra na Ucrânia está longe de terminar.

    O anúncio de sexta-feira de que as forças de Putin estavam limitando as operações ao Donbas e sua missão estava quase completa é apenas uma mudança de ênfase.

    Um mês depois que o presidente russo Vladimir Putin afirmou que a Ucrânia deveria ser libertada do erro histórico de sua independência, o Ministério da Defesa russo anunciou que os objetivos de guerra da Rússia estavam limitados à região de Donbass e estavam em fase de conclusão.
    https://www.theguardian.com/world/2022/mar/26/russia-scales-back-its-military-ambitions-but-the-war-in-ukraine-is-far-from-over

  6. A Rússia poderia usar armas químicas na Ucrânia e como o Ocidente responderia?
    Como poderia ser a resposta de Joe Biden e da Otan?

    Joe Biden foi perguntado duas vezes em uma entrevista coletiva na quinta-feira se a Otan responderia com uma ação militar caso a Rússia usasse armas químicas na Ucrânia, um medo levantado repetidamente nas últimas semanas pelos EUA, Reino Unido e outros.

    https://www.theguardian.com/world/2022/mar/26/could-russia-use-chemical-weapons-in-ukraine-and-how-would-west-respond

  7. Rússia reafirma direito de usar armas nucleares na Ucrânia.

    O político sênior Dmitry Medvedev diz que a doutrina nuclear de Moscou não exige que o Estado inimigo use essas armas primeiro.
    O Kremlin levantou novamente o espectro do uso de armas nucleares na guerra com a Ucrânia , enquanto as forças russas lutavam para manter uma cidade-chave no sul do país.
    Dmitry Medvedev, ex-presidente russo que é vice-presidente do conselho de segurança do país, disse que Moscou poderia atacar um inimigo que usasse apenas armas convencionais, enquanto o ministro da Defesa de Vladimir Putin afirmou que a “prontidão” nuclear era uma prioridade.
    https://www.theguardian.com/world/2022/mar/26/russia-reasserts-right-to-use-nuclear-weapons-in-ukraine-putin

  8. Chegando à conclusão de que os “Anônimos” são os acionistas majoritários desse web jornal….correndo o sério risco de serem os proprietários e o Ricardo Montendo um fake deles mesmos.

    Essa palhaçada nos comentários tira a seriedade desse jornal. lamentável.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo