O relato de um voluntário gaúcho que pegou em armas para defender Kiev: “Vou até o fim para ajudar o povo ucraniano”

André integra pelotão de forças especiais
Arquivo pessoal / Reprodução

Porto-alegrense André Hack Bahi chegou ao país em guerra em 28 de fevereiro

Rodrigo Lopes
Comovido pelo apelo do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que buscava voluntários para defender o país contra a invasão da Rússia, o gaúcho André Hack Bahi, 43 anos, decidiu imediatamente ajudar. Desde o dia 28 de fevereiro, ele está na Ucrânia, atuando nas forças especiais em Kiev sob bombas.
Nascido em Porto Alegre e criado em Eldorado do Sul, André é formado em Enfermagem em uma universidade no Ceará, onde morou. Serviu ao Exército Brasileiro. Mas foi na capital cearense, Fortaleza, que obteve experiência em zonas conflagradas, tendo atuado na escolta armada de carros forte, inclusive em áreas de atuação do tráfico de drogas em favelas. Na cidade, deixou uma filha de dois anos, Álexyà, para lutar na Ucrânia. Ele tem outros dois filhos que moram no Rio Grande do Sul, Leonardo,14 anos, e Manuelle, oito.
De uns anos para cá, André mora em Lisboa, Portugal, onde, até a guerra, trabalhava com aplicativo de entrega de alimentos. Ele também já atuou na Legião Estrangeira da França.
— Vou até o fim para ajudar o povo ucraniano nem que isso custe minha vida — afirma.

Como você se tornou voluntário para defender a Ucrânia?
Estava morando em Portugal quando vi na internet uma reportagem na qual o presidente Volodimir Zelensky estava pedindo ajuda e que iria abrir uma legião estrangeira. No outro dia, fui para embaixada da Ucrânia em Portugal. Lá, eles falaram comigo sobre os procedimentos e fui comprar uma passagem para a Polônia. Chegando na Polônia, me mandaram para um hotel até o outro dia, quando me buscaram e me levaram até a fronteira. Na Polônia, fui muito bem tratado pelo povo, que me agradecia por ajudar o povo ucraniano. A viagem até a fronteira da Polônia com a Ucrânia, de carro, levou umas cinco horas. Quando cheguei na fronteira, a situação já era de guerra. Já havia toque de recolher por conta de bombardeios. Os militares do outro lado que me esperavam tiveram de ir embora e o pessoal me deixou em um ônibus. Eu era voluntário para ajudar a Ucrânia, e, como no ônibus todos eram ucraniano, me trataram com muita alegria. Eu me sentia um “herói”, mas, por dentro, sabia que poderia morrer. Mesmo assim, eu estava determinado e não ia desistir. Então, logo o ônibus travessou a fronteira. Do outro lado, já tinham meu nome lá. Então, ficamos em um posto de gasolina até o outro dia, quando me buscarem.
O combate é tenso, muito tiro. Os russos têm blindados e armamentos, mas nós somos bem preparados.

E como foi na base de recrutamento?
Chegando lá na base de recrutamento, eles começam a separar pessoas que têm experiência e as que não têm. Eu e os outros brasileiros nos destacamos porque tínhamos já experiência militar. Ficamos uns dias lá e já nos mandaram para as forças especiais. Na linha de frente do combate.

Como foram os combates até agora?
O combate é tenso, muito tiro. Os russos têm blindados e armamentos, mas nós somos bem preparados. Enquanto nossas baixas são de seis, as deles são de 30 ou mais. Mas eles estão toda hora bombardeando. Passamos 22 horas em combate, com bombas caindo a cerca de 500 metros ou menos de onde estávamos. Eu e meus colegas levamos rajadas de metralhadoras. Um colega meu disparou contra o blindado de um lado e eu de outro. Assim, eliminamos alguns.

Vocês têm armamento suficiente para enfrentar os russos?
Temos armamentos e equipamentos.

André, com armamento e farda na Ucrânia

Como é a questão da desinformação, das notícias falsas no meio do conflito?
Nos culpam por postar fotos, mas nunca damos localização, nunca marcamos locais. Os jornais querem mídia, aí se baseiam no que o povo fala. Já inventaram que fomos capturados e mortos. Em fake news, estão toda hora nos chamando de assassinos. Mas não viemos para matar, e, sim, para tentar trazer a paz. Não somos nós que estamos bombardeando e mantando civis, crianças etc.

Você tem família, filhos?
Deixei uma filha de dois anos em Fortaleza para estar aqui. No dia dos tiros que passaram perto e quando fiquei perto do blindado russo só veio a imagem dela na minha cabeça. Foi quando fiz uma chamada de vídeo. Tenho outros dois filhos em Eldorado do Sul. Carrego meus filhos comigo, no colete (mostra foto de chaveiros com as imagens das crianças). Mas não me arrependo em nenhum momento e vou até o fim para ajudar o povo ucraniano, nem que isso custe minha vida.

Conte mais sobre o confronto.
Ficamos no meio de um bombardeio por mais de uma hora. O combate é como filme, na verdade é igual. Só que sentimos na pele que a qualquer momento podemos morrer. Eu estava dentro de um buraco de morteiro. Dois colegas meus estavam do outro lado. Um não estava protegido. Nossa tropa neutralizou três blindados. O primeiro veio em nossa direção. O que nos deu vantagem foi que eles não nos viram. Isso nos deu o elemento surpresa. Meu colega que estava do outro lado neutralizou um dos soldados. Logo, neutralizamos os outros que estavam em cima do blindado, dando proteção para o colega que estava descoberto. Logo depois, fomos para dentro da mata, nos dando vantagens contra os outros dois blindados. Os blindados começaram a abrir fogo para todo lado. Eu estava em uma árvore quando recebi uma rajada (de disparos). E outra logo veio do meu lado direito. Olhei para os lados pra ver se meus colegas estavam vivos. E todos estavam no momento ali. Acho que nós éramos em cinco de um pelotão de 50. Os russos tinham drones, o que facilitava, para eles, a nossa localização.

Há outros brasileiros contigo?
Tem dois comigo no mesmo pelotão. Somos os únicos três brasileiros nas forças especiais.

Você consegue dormir?
Os barulhos de bombas e direto os alarmes tocam direto. Durmo, mas às vezes sonho.

Como você se comunica com os ucranianos?
A maioria fala inglês.
GZH/montedo.com

33 respostas

  1. Concluo que é um perdidinho da vida.
    Fez 3 filhos, todos pequenos, em cidades diferentes, fugiu para Portugal para ser entregador de alimentos. Fala sério, esse cara não é exemplo para ninguém.
    Os ucranianos não são bobos. Quando viram que era um mané metido a sabidão, trataram de colocá-lo logo na linha de frente.

      1. A questão não é avaliar se é herói ou não. Uma vida humana em busca de de realizar os seus ideais. Muitos homens são quietos, mortos vivos e só querem o conforto da cama quente, em casa. Outros, estão na vida para viver. E, muitas vezes, por ingenuidade, despedem-se do mundo. Além disso, existem pessoas ruins, covardes, que não têm coragem de lutar nem pelo próprio pão, mas debocham da situação do outro que, inegavelmente, coragem teve.

    1. otário é você que esta no conforto da sua casa, falando da vida alheia. vai la lutar com os russos! eles estão causando prejuizo global, por causa de orgulho e mentalidade fraca igual a sua.

  2. A grana é o combustível da vida.
    Faz a roda girar redondinha.
    Fez a opção de sobreviver arriscando a vida por grana.
    Muita gente não sabe, porém ainda há livre arbítrio de escolha de como tocamos nossas e vidas.
    Entendo seu comentário Sgt BraZil, sua geração é totalmente frouxa e sem vocação a carreira das Armas.
    Como muitos jovens russos na Ucrânia, você iria desertar pra fugir do ‘pau’.
    Sorte, fé e minha continência ao índio André Hack Bahi.
    Excelente Tchê !

  3. Rússia lança míssil hipersônico ‘imparável’ com capacidade nuclear ‘destruindo depósito de armas da Ucrânia’

  4. A guerra em termos de acordos vai terminar como começou, com independência no leste, Crimeia russa, Ucrânia na UE mas fora da OTAN. Então, todas essas mortes e sofrimento, destruição e traumas, terá sido em vão, simples uso de um governante fraco, comediante que levou a nação ucraniana a uma guerra por procuração e o resultado é, foi e será grande sofrimento, para os ucranianos e para os russos também ( a mídia coloca cenas de tanques sendo atingidos e explodindo como se ali não existisse um ser humano), famílias destroçada, uma tragédia.

    Ao aventureiro, não ficou claro se ele tem experiência ou não, tomara que fique vivo e que entenda, apesar de eu achar difícil, que ele não está lá pelo povo ucraniano, é sim pelo governo americano que fez de tudo pra que essa guerra acontecesse sem se importar com a vida dos ucranianos (descartáveis) e com incautos aventureiros que esperam ter muitas fotos e histórias para contar.

    1. A minha opinião é semelhante a sua. O comediante tratou o seu povo como se estivesse no palco. Deu no que deu e deve ser responsabilizado pelo seu povo.

  5. Bombardeio russo matou dezenas de soldados em um quartel.

    KIEV — Um bombardeio russo matou dezenas de soldados em um quartel militar em Mykolaiv, no Sul da Ucrânia, segundo relataram testemunhas a diferentes jornais internacionais neste sábado. Uma autoridade ucraniana disse ao New York Times que mais de 40 morreram, mas as operações de resgate ainda estão em andamento.

    https://oglobo.globo.com/mundo/misseis-russos-matam-dezenas-de-soldados-em-quartel-diz-ucrania-25439806?utm_source=globo.com&utm_medium=oglobo

  6. Casais ucranianos treinando para a guerra.

    À medida que a guerra atingiu as cidades da Ucrânia, uma geração que só conhecia as histórias de seus avós foi forçada a se preparar para lutar e alguns estão optando por fazê-lo com os parceiros com os quais estavam construindo uma vida normal, apenas algumas semanas atrás.

  7. Resultado do mané…..deixou tres filhos pequenos para ser criado pelas mães. Tem que ser muito imbecil para arriscar a vide, enquanto as tres filhas que ficarão sem o pai. IRRESPONSAVEL !!! e ainda tem idiota que o defende…. vão lá dar dinheiro para as familias agora bando de cretinos !!!

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