Recruta é internado no CTI após passar mal em treinamento para paraquedista do Exército

Daniel está internado no CTI de um hospital particular em Bangu depois de ter passado mal em treinamento do Exército
Arquivo Pessoal

Pai do rapaz diz que o filho foi obrigado a pagar flexões no asfalto quente mesmo sentindo fortes dores

Waleska Borges
Rio – Aos 16 anos, Daniel Martins Ribeiro da Silva, começou a frequentar academia, lutar e correr. A rotina de exercícios físicos fazia parte de um sonho: ele queria ser paraquedista do Exército. O jovem se preparou e, finalmente, aos 18 anos, no último dia 9, se tornou soldado no Batalhão Paraquedista (BDompsa), na Vila Militar, Zona Oeste do Rio. No dia seguinte, durante um treinamento, o jovem passou mal. Os sintomas persistiram no outro dia de atividades. Familiares do jovem denunciam ao DIA que ele acabou expulso do Exército e, horas depois, o soldado foi internado em um hospital particular, em Bangu, permanecendo no Centro de Terapia (CTI) Intensiva da unidade, onde já se submeteu a hemodiálise.
“Interromperam os sonhos do meu filho. Ele está traumatizado e não é lixo para ser jogado fora. Mesmo com dor, ele foi obrigado a ficar pagando flexões, canguru, no asfalto quente e num calor de 40 graus. Enquanto isso, era coagido com palavras: ‘Quer sair?’, ‘Quer ir para o hospital?, pede para sair!'”, detalha Rafael Ribeiro da Silva, de 39, pai do jovem.
De acordo com Rafael, o capitão instrutor ordenou que o rapaz pegasse a sua farda, seus pertences e fosse embora do Exército. Daniel foi socorrido pelos pais na calçada da porta do batalhão, desorientado, e com fortes dores. Internado, foi diagnosticado com rabdomiólise (situação grave caracterizada pela destruição das fibras musculares), segundo os pais, devido ao excesso de exercício e falta de água. O rapaz está sendo submetido à hemodiálise — o procedimento chegou a ser feito a cada oito horas.
“Fui até o batalhão para conversar. Um general me atendeu. Ele disse que meu filho não fez exercícios, o que não é verdade. Eu e a mãe dele ficamos em contato com ele o tempo que estava no treinamento. Meu filho não é um caso isolado. Esse é um problema recorrente. Queremos Justiça”, desabafa Silva.
Ainda segundo o pai do rapaz, ele foi desligado do serviço militar. No entanto, ele teme que o filho fique com sequelas e pede a reintegração do jovem, até mesmo que ele venha ser reformado posteriormente. No primeiro dia que passou mal, o soldado foi consultado por um médico e recebeu anti-inflamatório e analgésico. No dia seguinte, após reclamar de dores, foi levado para uma ambulância onde recebeu uma bananada e água.
“Meu filho fez todos os exames e estava apto a fazer exercícios. Tenho dois irmãos paraquedistas, um deles já reformado, que sempre foram inspiração para o Daniel. Ele tinha ficado na reserva e entrou por causa de uma desistência. Dia 19 é o seu aniversário. Iríamos comemorar a data e a entrada dele para o Exército”, lamenta o pai, informando ainda que vai buscar ajuda de um advogado e do Ministério Público.
Daniel é o filho do meio de três irmãos, ele e outras duas filhas, com cinco e 20 anos. Animado com a possibilidade de se tornar paraquedista, segundo o pai, o rapaz já foi para o batalhão de cabeça raspada e barba feita. Ele começou o treinamento em fevereiro, conforme Rafael, se saindo bem nas provas de corrida, natação e salto de uma torre.
Procurado, o Comando Militar do Leste informou que, após ter passado mal, Daniel foi atendido e medicado pela equipe médica do quartel. Segundo o CML, ao fim do expediente, quando estava voltando para sua casa, se sentiu mal novamente e, depois de ligar para o pai, ele o levou para um hospital particular. Um procedimento administrativo foi aberto para apurar os fatos.
“O Comando Militar do Leste ressalta que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de conduta ilícita por parte de seus integrantes, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com os valores militares e/ou com a ética castrense (princípios militares)”, declarou o CML, em nota. Confira a íntegra abaixo.

Outro caso
O soldado Pedro Henrique Pereira dos Santos, 18 anos, morreu, na madrugada da última sexta-feira, após um treinamento no 1º Batalhão de Polícia do Exército (PE), na Tijuca. De acordo com a família, ele passou mal durante os exercícios físicos, teve convulsões. Ele foi socorrido para o Hospital Central do Exército (HCE), em Benfica, onde foi intubado, mas acabou não resistindo.
Pai de Pedro, o taxista Flávio Roberto dos Santos enfatizou que a saúde do filho sempre foi boa e que ele não tinha problemas. “O Pedro nunca teve nada, nada, nada. Ele sempre foi um garoto saudável, quieto, na dele. Quando ele decidiu que queria entrar para o Exército, começou a fazer exercício físico, fazia flexões, malhava. É muito triste isso”, lamentou.
Ainda segundo Flávio, antes do soldado morrer, ele chegou a perguntar para um dos médicos que atendeu seu filho o porquê do jovem estar visivelmente desidratado. “Por causa do calor eu perguntei sobre isso, se meu filho estava bebendo água, me disseram que ele teve insuficiência renal e que teria que fazer hemodiálise. O Pedro nunca teve problema nos rins. Eu perguntei se podia ser por falta de água e não me responderam”.
Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) informou que, “durante a realização de instrução de ordem unida no dia 10 de março de 2022, o soldado sentiu-se mal e foi prontamente atendido pelo médico do quartel. Em seguida, ele foi levado para o Hospital Central do Exército e, devido a complicações, veio a óbito. Foi aberto um Inquérito Policial Militar para apurar o fato ocorrido”. O CML lamentou a morte de Pedro Henrique e disse que está prestando toda a assistência necessária à família.

Nota do Comando Militar do Leste na íntegra

“A Seção de Comunicação Social do Comando Militar do Leste (CML) informa que o conscrito após ter passado mal foi atendido e medicado pela equipe médica do quartel. Ao término do expediente, quando estava retornando para sua residência, passou mal novamente e, depois do conscrito ligar para o pai, o mesmo o conduziu para um hospital particular. Foi aberto um procedimento administrativo para apurar os fatos referentes ao caso. O Comando Militar do Leste ressalta que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de conduta ilícita por parte de seus integrantes, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com os valores militares e/ou com a ética castrense.”

O Dia/montedo.com

18 respostas

  1. Sinto muito pelos militares e por ser pais, no entanto, acredito que os jovens devem ser examinados com maior profundidade antes de incorporar, um jovem não é são até passar pelos portões da Unidade depois adoece; nem na Unidade existe uma equipe de instrução tão despreparada que cometam abusos capaz de causar danos a saúde dos jovens. Os casos devem ser investigados e de posse dos resultados, tomarem as providência cabíveis. Uma lástima essa situação.

    1. Esses casos são recorrentes. Primeiro emprego e morte. Ninguém merece! Estão em falha os responsáveis pela segurança e medicina do trabalho.

  2. Sem essa bobagem de velha ou nova geração.
    Porém a conta não fecha.
    A ralação na ESA, na Tropa no século passado era muito superior aos dias de hoje.
    E não ‘rolavam’ essas “coisas”, como rabdomiólise e afins.
    Sangra Aluno!

    1. meus sentimentos para as famílias, mas é necessário ver que essa gurizada além de fraca fisica e mentalmente, ficou praticamente dois anos dentro de casa, sem esforços físicos consideráveis, todo cuidado é pouco para a equipe de instrução.

  3. O que era para ser alegria transforma-se em mágoa e tristeza. Imagino um instrutor desses entrando para uma academia e ser obrigado a fazer mil flexões em um dia sem nenhum preparo antecedente, sem hidratação, sem alimento. Lamentável, principalmente a nota do CML. Não se esqueçam que esses jovens estavam sob a tutela do Estado.

  4. Parece que retrocedemos num túnel do tempo.
    O vídeo abaixo parece uma cenas dos anos 40′.
    “Tropas aerotransportadas russas montam postos de controle”.

  5. Tremenda palhaçada de instrutores que acham que pra ser pqd tem que alcançar índices de maratonistas ralar o militar até o seu desempenho ser alcançado. Acha que os cara tem que ser super homem.ou achar porque fizeram comigo vou fazer com os outros. Que todos paguem e parem com essa babaquice achar que todo mundo tem que ser super homem.

    1. Imagine um técnico em maratonas treinando seus atletas a correr no asfalto a 40ºC descalços. Absurdo! Primeiro tem que ver a aptidão física especifica de cada atleta para depois de treinado participar das competições. Esses casos de morte por exercício excessivo, afogamentos, excesso de peso em mochilas é semelhante a jogar um faixa branca contra um faixa preta para ver quem sangra primeiro. Se fosse COMANDOS, seria outra história, Nenhuma indenização devolverá a vidas desses rapazes. Lembrem-se de suas propagandas ao chamamento para o alistamento militar!

  6. Não entendo a rabdomiolise. Pqd não é um curso de privação de água, talvez durante a atividade mas depois ele deve ter bastante tempo para se hidratar, nem que seja a noite. Talvez ele ja nao tinha o costume da hidratação, isso vem de casa, aprendendo com os pais.

    1. Tuas palavras revelam que vc não tem empatia. Deve ter sido ou é um desses instrutores que querem demonstrar autoridade mas são absolutistas, autoritários. Coloco-me no lugar do pai entregando um filho para uma formação militar que é um sonho para muitos e encontram pelo caminho instrutores e batismos que devolvem o filho morto. Pense bem antes de fazer ilações!

  7. Cara, verdade seja dita: Tudo embuste! Para ser empurrado de um avião em um salto enganchado. Como eu sei? Eu fui lá, eu vivi essa mentira. Na verdade é como o amigo acima falou: para que isso? Para depois pintar meio fio? Cortar mato? Fala sério

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