Como os militares brasileiros reagem à guerra na Ucrânia

UCRÂNIA NA EUROPA

Generais descartam envolvimento direto do Brasil, embora defendam condenação da Rússia pela invasão do território vizinho

HUMBERTO TREZZI
A invasão da Ucrânia acabou por render muito assunto nas reuniões de integrantes do Alto Comando do Exército, em Brasília, nesta quinta-feira (24). Todos condenam a ocupação patrocinada pela Rússia.
Nem um dos generais, no entanto, se atreve a defender publicamente envolvimento direto do Brasil no caso. Muito menos envio de tropas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Apenas apoio a sanções diplomáticas.
Pode parecer estranho ao leitor a cogitação de que brasileiros apoiassem militarmente a Otan, já que não são ligados a essa organização, nem estão no Atlântico Norte. Mas não é raro que países de fora dessa entidade a apoiem, inclusive com tropas.
A Austrália mandou 15 mil militares para missão da Otan no Afeganistão. O Japão, também, com unidades simbólicas de retaguarda. E até a Argentina, em 1990, participou da Guerra do Golfo em apoio à Otan: enviou o destróier Almirante Brown, as corvetas Spiro e Rosales e o navio cargueiro Bahía San Blas, além de dois helicópteros e dois aviões.
O Brasil não pretende fazer nada parecido, por mais que o presidente Jair Bolsonaro se mostre aliado ideológico dos Estados Unidos, que clama por parceiros na defesa da Ucrânia. O vice-presidente, Hamilton Mourão, até defende que a força seja usada para conter o avanço da Rússia, mas não se refere a tropas brasileiras, que fique bem claro.
— As nações europeias e os EUA devem ir além de meras sanções econômicas — resumiu Mourão, a este colunista.
Este colunista falou ao todo com quatro generais, um da ativa e três da reserva, mas que mantém contato constante com os quartéis. Nem um deles cogitou sequer por um instante envio de tropas brasileiras.
O general da ativa resume o sentimento no Alto Comando: a ocupação do território ucraniano por tropas russas é uma clara violação das leis internacionais, que não acontecia há décadas. Eles acham que Putin pretende minar o governo ucraniano e tentar que seja substituído por alguém mais maleável do ponto de vista russo. À parte, ocupará militarmente os territórios pró-russos. A condenação brasileira será apenas verbal.
O general da reserva Sérgio Etchegoyen, que foi chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Michel Temer e esteve algumas vezes na Rússia, faz análises que os generais da ativa não podem fazer (por força dos seus regulamentos). Ele admite que a Rússia parte de alguns argumentos históricos para sua ação, o que não significa que sejam legitimáveis nos tempos atuais.
Lembra que por séculos a Ucrânia foi russa, o lado leste do país tem grande parte da população de origem e língua russas e um russo preside a Rússia, o que tem mais significado ainda (no tempo em que a Rússia era União Soviética, ela foi presidida por ucranianos como Kruschev e georgianos, como Stálin).
Etchegoyen atribuiu ao Ocidente um “um monumental erro estratégico”, ao não acolher a Rússia para seu reerguimento econômico, após o fim da União Soviética. Ela foi vista como ameaça, não como aliada. E assim se comporta agora.
— Os russos poderiam ser barreira natural dos ocidentais à China, mas ante a indiferença ocidental, reforçaram sua aliança com os chineses.
O general aponta dois fatores que ajudam Putin nessa sua aventura militar. Um deles, estrutural: ele não dá satisfação à imprensa, aos tribunais, o que facilita ações militares. O outro fator é conjuntural: a fraqueza das lideranças ocidentais, que repetem Neville Chamberlain (chanceler britânico que imaginou que acordos impediriam Hitler de avançar sobre a Europa).
— Líderes fracos tornam os tempos difíceis. A Europa depende militarmente da Otan, que é comandada e financiada pelos EUA. O Ocidente não tem muito interesse e apetite em reagir. Até porque Putin ameaçou, subliminarmente, com armas nucleares, ao advertir “Quem reagir sofrerá consequências jamais vistas” — analisa Etchegoyen.
O general acredita que os russos, alegando defender integridade das duas repúblicas pró-russas da Ucrânia, vão ocupá-las e farão bombardeios de alvos específicos na parte do território ucraniano que lhes é hostil. Até consolidar sua superioridade política e militar ou até que caia o presidente.
E o Brasil?
—Vai condenar o ato, até porque é da nossa tradição e está previsto na nossa Constituição. Mas não vai aderir a qualquer iniciativa da Otan. O presidente Bolsonaro estava na Rússia semana passada, não faria aliança com os inimigos dela agora — interpreta Etchegoyen.
Análise similar faz o também general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, que viveu na Rússia por dois anos (onde foi adido militar da embaixada brasileira) e visitou diversas vezes a Ucrânia. Na época, Vladimir Putin já era presidente. Ele considera absurda a invasão, custosa em termos de sofrimento e vítimas, mas descarta envolvimento militar brasileiro. Nem mesmo ante o alinhamento ideológico do presidente Bolsonaro com os EUA.
— Bolsonaro era alinhado a um candidato a presidente, Donald Trump, algo em si absurdo do ponto de vista diplomático. Mas o Brasil é um país de tradição pacifista, jamais se envolverá nisso. Condenará, claro.
Santos Cruz acredita que a invasão é consequência de erros políticos, inclusive do Ocidente. Entre eles, o aceno para que a Ucrânia integrasse a União Europeia e a Otan.
— Antes desses convites era melhor sondar o ambiente. Faltou conhecimento histórico e geopolítico. Até porque a Ucrânia tem a Rússia como vizinha, que a enxerga como área de influência sua — resume o general.
GZH/montedo.com

9 respostas

    1. o Generais Etchegoyen e Santos Cruz fazem uma análise muito mais profunda sobre o conflito, enquanto que o General Mourão, faz uma análise rasa e nem poderia fazê-la pois não é papel do VP vir a público com sua opinião confundindo assim com o posicionamento oficial do governo brasileiro, seja lá qual for. Ou não tem conhecimento de suas atribuições, ou, quer uma propaganda política grátis.

      1. deixe de ser babão, melhor, deixe de ser Boca de sabão
        Mourão, o cordeirinho Peruão
        Etchegoyen, Lexotan, Girão, Peternelli
        banana de pijamas, arRego barros, Vitor hugo
        Cabo da PM pazuello, capacho netto, R$$$ Élcio franco
        tudão RASO
        E o seu ‘mito’, impublicável

  1. O alto-comando esta atento eles sao especialistas em guerras ja lutaram vários combates e ganhou varias medalha vamos confiar a guerra nao chegará na nossa tenda pois nossos chefes estão atentos a tudo principalmente a covardia com a lei do mal

    1. Nossos generais todos leram o livro A Arte da Guerra, e sabem tudo sobre estratégia militar. Parece-me também que leram A Revolução dos Bichos e sabem tudo política. Frankenstein, e sabem tudo sobre medicina…

  2. Presidente da Ucrania diz que ela foi abandonada! Já há notícia da total imobilização da força aérea ucraniana! entre outras manchetes.

    Temos que tirar um ensinamento desta tragédia no leste: primeiro que ela era anunciada e um gato doméstico não pode enfrentar um tigre sozinho, nem com outros gatos; segundo é que não se elege um palhaço, um comediante para dirigir um país e não há consequências. Estou igual ao Biden, rezando pelo povo ucraniano.

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