Polícia apura se houve negligência do Exército em morte de militar de 18 anos após treinamento

O jovem morreu após corrida. — Foto: Arquivo pessoal/Reprodução

Além da investigação por parte da Polícia Civil, o Exército também apura o caso. Entre as causa da morte do jovem está uma ação do organismo caracterizada pela destruição das fibras musculares.

g1 MS
A Polícia Civil de Aquidauana (MS) informou, nesta segunda-feira (21), que também irá investigar a morte Edilsio Morais da Silva Filho, de 18 anos, que morreu após treinamento no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva. A família do jovem alega negligência por parte do Exército.
O delegado que acompanha a investigação, Jackson Vale, afirmou que deve abrir um inquérito nos próximos dias e que testemunhas serão ouvidas. O delegado informou que o corpo de Edilsio foi enterrado sem passar por necropsia, já que a polícia alega que a causa da morte já tinha sido identificada no atestado de óbito.
Do outro lado, o Comando Militar do Oeste (CMO) informou que inquérito militar já foi aberto e que o órgão investigará as circunstâncias que se deram a morte do jovem de 18 anos. Veja nota do Exército na íntegra mais abaixo.

Entenda o caso
Edilsio Morais da Silva Filho, de 18 anos, morreu, no dia 16 de fevereiro, após treinamento no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva, realizado pelo 9º Batalhão de Engenharia de Combate em Aquidauana (MS).
Oficiais do Exército que estavam no local confirmam que a morte do jovem foi após o treino. A família do jovem alega negligência por parte das forças armadas.
Em conversa com o g1, o tio da vítima, Jean Ricardo Brites de Assunção, descreveu a imagem que a família tinha de Edilsio: “um jovem sorridente em busca do sonho de ser militar do Exército”, contou.
Conforme informado pela família da vítima, o jovem entrou para o curso da reserva do Exército no dia 14 de fevereiro. Passados dois dias de treinamentos, levado à exaustão — conforme o tio da vítima—, na quarta-feira (16) Edilsio foi realizar uma corrida e, após o percurso, começou a passar mal.
O jovem teria chegado em estado grave no Hospital Regional de Aquidauana. O g1MS teve acesso ao atestado de óbito em que costa que a morte foi causada por rabdomiolise — ação do organismo caracterizada pela destruição das fibras musculares —, hepatite fulminante, arritmia cardíaca e desidratação.

Rotina de exaustão

Troca de mensagens mostra rotina relatada por jovem. — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

“Ele entrou segunda-feira saudável e feliz da vida lá no quartel, andando, para começar o curso dele e ontem morreu. Com 18 anos, na flor da idade, toda saúde possível, os exames que foram feitos no hospital da cidade atestam que a saúde dele era perfeita”, lamentou o tio da vítima.
Já no primeiro dia o jovem enfrentou a exposição ao calor, pouca água, alimentação restrita e exercícios físicos intensos, conforme relatado pela família. A rotina pesada é descrita pelo próprio Edilsio para a mãe, por troca de mensagens enviadas depois das 23 horas.
“Hoje foi doido. Teve um momento em que deram 30 segundo para ir no alongamento e voltar pra formação. Atrasei e me mandaram fazer uma redação de 50 linhas”, detalha a troca de mensagens.
Na conversa, o rapaz explica que só vai poder responder as mensagens no fim do dia, nos poucos momentos que fica no alojamento. Na madrugada do primeiro dia no internato, Edilsio não conseguiu dormir. Avisou a mãe que tinha terminado a redação, às 2h20, e uma hora depois já estava acordado para fazer a faxina obrigatória no batalhão.

O que diz a família
Para a família, a morte de Edilsio foi causada por negligência. “A morte do meu sobrinho é consequência da falta de água, da exposição ao sol e das poucas horas de descanso”, detalha o tio da vítima.
“Morreu porque começou com desidratação, creio eu que [com] uma exposição muito grande ao sol, um esforço físico muito grande, sendo privado de beber água, ou bebendo em pequenas quantidades, o que não foi suficiente para a hidratação dele. E acabou submetido a um esforço físico muito grande, não aguentou, começou a passar mal, a desidratação levou ela a um estresse muito grande da musculatura dele, teve falência dos rins, então a desidratação levou desencadeou uma série de outras sequelas no corpo dele que levaram ele a óbito”, comenta o tio.
A irmã de Edilsio, Taynara Venceslau Morais da Silva, diz que o processo de luto da família tem sido extremamente difícil. A jovem comentou sobre o treinamento e alegou que irmão sofria com a rotina de exaustão.
“Por mais que as vezes eles falem que o treinamento não estava sendo tão pesado, mas eles não conseguiam descansar. Eles não conseguiam dormir! E que corpo que aguenta? Eles tinham acabado de entrar, ele não tinha resistência física ainda, sabe?”, disse.

Nota do Exército na íntegra
“Edilsio Morais da Silva Filho estava em formação no Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva (NPOR) do 9º Batalhão de Engenharia de Combate (9 ºB E Cmb), localizado na cidade de Aquidauana, desde o dia 14 de fevereiro. No dia 16, o referido aluno começou a passar mal e foi prontamente levado ao Hospital Regional da cidade de Aquidauana, onde veio a falecer. As circunstâncias que envolveram os fatos serão apuradas em Inquérito Policial Militar já instaurado pelo 9º Batalhão de Engenharia de Combate (9 ºB E Cmb)”.
g1/montedo.com

5 respostas

  1. Nem todos são preparados para entrar nas forças armadas, assim como tem muitos instrutores neuróticos que agem com total negligência e não sabem quando limitar certos exercícios físicos, só quem está dentro dos quarteis sabe como as coisas funcionam, Rqueros, por isso que vemos muitas coisas de errado que já noticiaram aqui como recentemente afogamentos de soldados.

  2. Considerando a fala da mãe: “… a saúde dele era perfeita.”
    Temos 3 opções:
    1) alguém matou ele no TFM… daí seria homicidio ou tortura
    2) a saúde dele não era perfeita (todos temos doenças em potencial)
    3) a saúde dele piorou por algo alérgico/infecção ou reação ambiental ao ambiente do quartel

    Percebe-se que:
    1) se alguém matou… haveria testemunhas disso
    2) não foi feito bateria de exames da saúde dele e a mãe não deve ter esses exames para comprovar.
    3) caso seja verdadeiro, levaram ele para o hospital.

    É extremamente lamentável mas acredito que não seja culpa do Exército. Os militares envolvidos em instrução se preocupam muito com os subordinados. Que Deus console a família nesse momento tão dificil.

    1. Acredito que os envolvidos na instrução se preocupam muito, porém analise o caso dos soldados que se afogaram em Barueri-SP, em 2017. Que é extremamente lamentável, também concordo. Força para os familiares e que Deus os conforte!

  3. Vendo a fala desse rapaz amoroso com sua zelosa mãe, sinto uma profunda tristeza. Assim como todos, passei por isso. Não vejo sentido nisso hoje. Isso acontece, e qual o propósito? Qual combate? Que Nosso Senhor acalme a alma dessa mãe, perda irreparável. A perda de uma vida humana, ainda mais em um adestramento, é algo trágico que nos leva a repensar a nossa conduta

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