O “invasor” do posto nove

ESA vista aérea2

Causo domingueiro

Ricardo Montedo
Uma lenda nasce, geralmente, a partir de um acontecimento real, seja ele pitoresco, surreal, engraçado ou triste. Sobre esse fato que irei relatar, surgiram ao longo dos anos muitas versões, inserindo novos personagens, situando os fatos em outros locais,enfeitando a estória, de acordo com a imaginação de quem a contava.
Mas ele aconteceu sim, na escola de sargentos das armas, conhecida nacionalmente como ESA, e foi assim:
A cidade mineira de Três Corações, onde se localiza a ESA, é banhada pelo Rio Verde, que serpenteia pela topografia sinuosa e acidentada das terras do sul de Minas Gerais.
A escola foi construída em uma acentuada curva desse rio, uma espécie de “alça”, de tal forma que só existe um muro na parte fronteira do quartel e todo o vasto perímetro restante é limitado pelas águas barrentas do Verde.
Na outra margem, do lado esquerdo do muro, existe um terreno plano em meio às montanhas, hoje tomado por construções que não existiam há algumas décadas atrás. Naquela época, o local era muito usado por circos e parques que vinham à cidade, e o fato ocorreu justamente durante a temporada de um desses circos.
O aluno Jalvarez , do curso de cavalaria, cumpria no posto nove o último quarto de hora de seu derradeiro serviço de guarda ao quartel antes da formatura, marcada para dali a poucos dias.
Eram três horas da madrugada e, em meio à escuridão intensa, Jalva, como era mais conhecido, vislumbrou um enorme vulto que se aproximava, vindo da barranca do rio.
– Alto lá, identifique-se! – gritou- seguindo as normas do serviço.

A aparição, entretanto, insensível à advertência, prosseguiu em direção ao guarda.
– Alto, alto lá! – e nada.

Tremendo de medo ante o que, a estas alturas, já lhe parecia coisa de outro mundo, o bravo guardinha ainda deu dois tiros para o alto, como prevê o regulamento, mas não teve coragem de dar o terceiro tiro, que deveria ser na “assombração”.
Fez meia-volta e abandonou o posto correndo, indo dar com os costados no corpo da guarda, gritando:
– Socorro!!!! Um m …m… monstro!!!!!

Corre daqui, corre de lá, acorda-se toda a guarnição, põe-se em execução o plano de defesa, para só então se descobrir que o tal monstro era o elefante do circo, que havia cruzado o rio e invadido o quartel.
Comenta-se – e aí não posso confirmar! – que o coronel Guacacaí, comandante do corpo de alunos, alertado por telefone, recomendou expressamente ao oficial de dia:
– Ponha logo esse elefante para fora da escola, senão ele também acaba saindo sargento!

8 respostas

  1. Certa vez, ali pela segunda metade da década de 1990, um lendário e conhecido General da reserva do EB, à época comandante de um lendário batalhão de Engenharia do Rio de Janeiro, afirmou em alto e bom tom, diante da ineficácia operacional de um dos recém egressos aspirantes da AMAN, que “se uma vaca passar na porta da AMAN, sai aspirante”… E nem precisou de elefante pra isso…

    1. Lembro que faltando uma ou duas semanas pra formatura.

      Quem não passou no teste físico, Foi na Rota. Embora.

      Quem não passou no teste de recuperação. Foi Embora.

      Então, na ESA, só sai sargento os dedicados e bons.

  2. Passei a semana organizando um ônibus fretado pra passar o final de semana no Rio.
    Na sexta-feira de manhã peguei “IA” de um dia (de sexta-feira para sábado).
    Alterei o horário de saída para as 22h00.
    Respondi o pernoite (nesse dia o grupamento de impedidos da Infantaria parecia uma subunidade), atravessei o rio verde numa embarcação ‘amiga’ de um paisano, e ao entrar no ônibus, deparei-me com o Cap FALEIROS, instrutor da gloriosa Artilharia, que mandou:
    – “correndo Aluno, seu beócio, tu “tá” atrasado!”. Rssssssss
    Falleiros, passando pela rodoviária viu aquele bando de alunos na volta do ônibus questionou, “há essa hora e ainda por aqui”…
    Resultado:
    Tinha uma ou duas poltronas vagas e embarcou, com o trocado a mão me pagou a passagem.
    Hoje, rindo ao contar essa peripécia alterada, mas, ao ver aquele instrutor na primeira poltrona, quase enfartei.
    Há Há Há Há Há Há Há Há Há Há Há Há Há
    p.s.:
    Anos depois, esse Instrutor ao sair de uma festa de crianças foi parado por bandidos cariocas numa tentativa de assalto e executado.
    Meu Rio de Janeiro, terra de ninguém.

  3. Opa!
    Na ESAVIA não é bem assim não, muito pelo contrário.
    Não lembram dos massacres dos “Outubros Negros Esavianos”.
    Todo dia era uma baita expectativa pelas “novas relas” dos no purgatório.
    Um terror temporal para aqueles na corda bamba.
    No meu ano rodaram milhões, uma cena caótica.
    Você sair pra Instrução e ver o ex-Aluno fazendo as malas…
    Pesado!
    Lembro que nem todos constantes da “rela” eram desligados, era algo do tipo:
    – “melhora Aluno, senão tu vaza”! Rsssssssssss
    E os desligavam sem qualquer dó.

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