HFA tem 16,4 mil pílulas de cloroquina e hidroxicloroquina encalhadas

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Ao menos desde abril, nenhum comprimido de cloroquina foi usado pela unidade de saúde para o tratamento de pacientes

Tácio Lorran
O Hospital das Forças Armadas (HFA) mantém em seu estoque, há meses, milhares de comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina – medicamentos que têm sido defendidos insistentemente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mesmo sem comprovação científica, como armas contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Os medicamentos deverão perder a validade no primeiro semestre do próximo ano.
Dados enviados ao Metrópoles via Lei de Acesso à Informação (LAI) em 13 de abril de 2021 mostram que havia, na ocasião, 10,5 mil unidades de cloroquina e 10,8 mil de hidroxicloroquina no HFA.
Seis meses depois, o estoque de cloroquina é exatamente o mesmo: há 10,5 mil comprimidos do medicamento no hospital. Por sua vez, o estoque de hidroxicloroquina caiu em 45%, para 5,9 mil. Esses dados são de 15 de outubro e também foram encaminhados à reportagem por meio da LAI.
Esses remédios estocados no HFA foram enviados pelo Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx), que gastou, segundo o Ministério da Defesa, cerca de R$ 1,141 milhão com a produção de cloroquina no ano passado. No total, o hospital recebeu mais de 50 mil comprimidos de cloroquina e hidroxicloroquina em 2020. Nos três anos anteriores (2017 a 2019), a unidade de saúde não recebeu ou comprou nem mesmo uma pílula dos mesmos medicamentos.


O prazo de validade do remédio é de dois anos. Segundo documentos enviados à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, a cloroquina produzida pelo laboratório do Exército vence em março de 2022 – tempo para lá de insuficiente para zerar o estoque, caso o HFA mantenha o mesmo ritmo de uso dos últimos seis meses. Ao se considerar os dois medicamentos, o hospital usou 26,5 comprimidos por dia. Até 1º de abril de 2022, caso a média de consumo seja a mesma, seriam consumidas mais 4.450 pílulas, restando, logo, quase 12 mil unidades.
O Metrópoles acessou os registros da CPI da Covid com o auxílio do Pinpoint, plataforma desenvolvida pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em parceria com o Google, que permite buscas por palavras-chaves em documentos públicos.
Responsável pelo HFA, o Ministério da Defesa tem sido procurado desde a quarta-feira da semana passada (20/10) para se manifestar sobre o achado, confirmar o prazo de validade dos medicamentos e indicar o que será feito com o material estocado. Não houve qualquer resposta até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto.
O uso de cloroquina no HFA provocou a abertura de uma investigação pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRMDF). “A prescrição de qualquer medicamento só deve ser feita em consequência de um exame clínico. O CRMDF já está apurando as denúncias. O procedimento apuratório corre em sigilo processual nos termos do Art 1° do CPEP [Conselho de Processo Ético-Profissional]”, afirmou a instituição em nota.
Em fevereiro deste ano, o Ministério da Defesa confirmou em nota enviada ao Metrópoles que os hospitais militares adotaram o tratamento precoce, mas que a prescrição é exclusiva dos médicos. “Os hospitais militares vêm adotando protocolo de tratamento precoce. A escolha da prescrição de medicamento é inerente à atividade do médico assistente e ocorre mediante o consentimento livre e esclarecido, sendo o paciente monitorado continuamente durante o tratamento”, afirmou a pasta.
Na ocasião, o órgão não especificou como funcionava o protocolo.

Zero pacientes com malária e 207 com lúpus
Após o Metrópoles recorrer da resposta enviada via LAI, que estava incompleta, o HFA informou que a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19 “se deu seguindo protocolos vigentes à época e em consonância com o Parecer n° 4/2020, do Conselho Federal de Medicina”.
Ao longo da pandemia do novo coronavírus, foram atendidos no setor de triagem respiratória do hospital 53,9 mil pacientes, sendo que 5,9 mil confirmados com a Covid. “Em relação a quais pacientes usaram os medicamentos, a informação está protegida, por sigilo médico, conforme o Código de Ética Médica”, acrescentou o HFA.
A unidade de saúde também enviou informações sobre pacientes com lúpus e malária tratados no hospital. Cloroquina e hidroxicloroquina são comumente usados para o tratamento dessas doenças – nesses casos, com eficácia comprovada pela ciência. Desde o início de 2020, o HFA cuidou de 207 pacientes com lúpus e nenhum com malária. A dosagem costuma variar, segundo médicos da área, de um a dois comprimidos por dia. No caso do lúpus, o tratamento é contínuo e pode durar anos.

Produção
No total, o Exército Brasileiro produziu 3,229 milhões de comprimidos de cloroquina em 2020. Trata-se de um aumento de 1.145% em relação à última quantidade produzida, que abasteceu dois anos. Em 2017, o LQFEx fabricou 259,4 mil pílulas.
Em junho deste ano, o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, afirmou, em documento enviado à CPI da Covid-19, que a elevada produção do remédio aconteceu devido a uma suposta “corrida mundial” em busca do medicamento. “Em 18 de março de 2020, começaram a surgir as primeiras publicações científicas internacionais que apontavam na direção do tratamento com antimaláricos, como a da Cell Discovery, provocando uma verdadeira corrida mundial em busca do difosfato de cloroquina, insumo farmacêutico ativo (IFA) para a produção de cloroquina”, escreveu.
METRÓPOLES/montedo.com

3 respostas

  1. “16,4 mil pílulas de cloroquina e hidroxicloroquina”.
    Muito pouco.
    Os minions tomam o dobro disso rapinhinho, numa ‘goladada’ só.
    E não nos esqueçamos que na China, Inglaterra e outros países tá rolando a terceira, quarta onda do vírus da GloboLixo.
    Assim, logo logo, eles já ‘metem’ tudão, rapidinho, goela abaixo .
    Os seguidores da seita são “forte”.
    Mito!

    1. “numa ‘goladada’ só.”
      Rsssssssssssssssssssssss
      Os minions piram com essas notícias.
      Vão fazer filas no HFA.
      Conheço um tipo 60 anos de idade que não se vacinou com medo de contrair HIV.
      Que beleza!
      Mito.

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