Não se avassala um Exército para vesti-lo como guarda pretoriana, diz Rêgo Barros

Não bailamos em terra batida

OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS*
Na semana passada, jornais noticiaram a visita ao Brasil do almirante Craig S. Faller, comandante do Comando Sul dos Estados Unidos da América. O seu objetivo era se despedir por término de missão e passagem para reserva. Os americanos dividem um mundo em áreas de interesses estratégicos, sendo esse comando conjunto aquele que abarca seus interesses na América Latina. Essas ligações têm o propósito de manter vínculos políticos, técnicos e profissionais, o que exige conhecer as Forças Armadas de todos os países com os quais mantêm relações diplomáticas.
Ao ser questionado sobre o papel das Forças Armadas quando transcende o emprego como braço bélico, o almirante afirmou que militares profissionais defendem constituições, não líderes. No mesmo diapasão, reforçou que elas devem ser apolíticas. E reconheceu firmemente essas posturas nas Forças Armadas brasileiras.
Não me surpreendeu, visto que pronunciamentos protocolares que envolvam a servidão de soldados se regem por evitar divergências, sendo a camaradagem o principal atributo das falas. Preservam com isso a serenidade da diplomacia militar. Justifica-se a declaração pelo alinhamento dos militares americanos aos pressupostos acadêmicos, formulados pelo professor Samuel Huntington, nos quais advoga o controle civil objetivo, que se configura pela subordinação do estamento militar ao poder civil, delimitando as áreas de responsabilidade e o fluxo decisório.
Nos últimos meses, a sociedade brasileira vem se deparando com preocupações anormais sobre o papel das nossas Forças Armadas e quais caminhos elas seguirão diante dos repetidos testes de institucionalidades a que são submetidas. A substituição intempestiva dos comandantes de Força, em março passado, trouxe apreensão pela inoportunidade aos olhos da sociedade. Quaisquer que tenham sido as razões, as instituições seguem no seu papel como instrumento de Estado. Servas da sociedade e subordinadas tão-somente à lei maior representada pela Constituição da República, reforçando, portanto, a percepção do almirante Craig.
As pesquisas demonstram o acerto dessas posturas. A elevada confiança da sociedade nas suas Forças Armadas foi referendada em bases estatísticas e delimitada em todo território nacional. Refiro-me a mais recente investigação do Instituto Datafolha publicada na semana passada: (http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2021/09/24/avali24968insti94782congress8472.pdf) – link em 27.09.21. E ao trabalho da Fundação Getúlio Vargas (FGV) denominado Índice de Confiança na Justiça (ICJ):(http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/30922) — link em 27/9/21.
Em ambos, ainda que tenham se valido de metodologias distintas, os militares lideram no índice de credibilidade, essa atribuída ao trabalho incansável de conquistar, por ações, o coração e a razão do povo brasileiro. Não é uma postura de moda. Por anos, em circunstâncias distintas e sob governos distintos, representamos valores caros ao povo brasileiro que se transformam em saldo positivo para momentos de desgaste de imagem. O Centro de Comunicação Social do Exército conduziu, há alguns anos, uma pesquisa ainda mais abrangente sobre a imagem da Força. Obteve dados de peso que confirmavam esse perfil e indicavam pontos de oportunidade de melhorias a serem avaliados.
Por certo, isso nos orgulha ao tempo que nos impõe mais encargos éticos e morais. Indica-nos que estamos trilhando acertadamente a avenida do bem-servir. Fortalece-nos para declinarmos de qualquer convite para bailarmos em salão de terra batida, com parceiros que pisam em nossos pés, e que depois contam vantagens pela beleza da dama a amigos de bar. A história, algumas vezes, não foi justa para conosco. Contudo, aprendemos com ela.
É de todo interessante que os meios acadêmicos, políticos e de imprensa se debrucem com mais ardor a debulhar essa imagem tão positiva, qualificando-se para compreender o legado que construímos. O amadurecimento pelos acertos e erros do passado impede que o momento político através do qual marchamos e seus agentes impulsionadores, nos levem a afrontar a estabilidade, nem mesmo o soldo indevido. Que fique claro, não se avassala um Exército profissional no intuito de vesti-lo como guarda pretoriana e dela usufruir a seiva da confiança. Não assumiremos esse papel e pugnaremos contra investidas. Elas serão sempre frustradas.
Paz e bem!
*General de Divisão R1
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

15 respostas

    1. Por que ele deveria se calar? Por acaso você é comunista, para querer calar as vozes daqueles que propagam ideias diferentes das suas?

      1. Concordo. Pode falar a porcaria que quiser desde que tenha a liberdade de falar. Se alguém concordar tem respeitar também. Não pode é querer ganhar no grito, sem comprovação científica, como as vacinas experimentais.

  1. Esse papo de teórico de ECEME , ohh !!! militar tem que ser neutro , militar não se mete em política !!! isso aí é prá quem não enfrenta fila no HCE , tem motorista, taifeiro , PNR com piscina , diárias , fecha contratos, licitações, Vai no supermercado e não tem dificuldade de encher o carrinho … Típico papo de militar medroso e carreirista …

  2. Pra não perder o costume, nem perdi meu tempo lendo essa conversa insuportável desse individuo excessivamente chato e banal, com todo respeito a sua escolha prezado Redator.
    Esse arRêgo barros é um típico carreirista ‘qema’ que se acha intelectualmente acima da média (quem serviu na ECEME e ESG sabe muito bem que não há nada de extraordinário ou excepcional nos currículos destes EE, nada).
    Infelizmente tive a infeliz experiência de em formaturas e reuniões ser obrigado ouvir tantas asneiras, conteúdos inócuos, inúteis e simplesmente, bobos e infantis.
    Disse um iluminado ‘astronauta’:
    …”Verborrágico missivista de estamento superior: pq não te calas?”…
    Perfeito!
    Esse arRêgo barros é insuportável.

    1. Estranho, você disse que não leu, mas ficou irritado a ponto de comentar várias vezes aqui nessa postagem. De qualquer forma, se você não leu e decidiu criticar mesmo sem ler, então és um preconceituoso, daqueles que rotulam todas as pessoas e, a depender do rótulo, desconsideram tudo que aquela pessoa diz ou faz.

  3. Não se perde tempo para ler um texto de Rego Barros e Santos Cruz !
    Os dois grandes decepções da tropa !
    Um se vendendo aos partidos comunistas e outro se vendendo a conglomerado que usaram e abusaram do povo ! Igual quando estavam em
    Cmdo no Exército!
    Porque não te calas Arrego!

  4. Sincera e honestamente, considerando-se que dentro de uma farda está um cidadão brasileiro comum, com todos os direitos e deveres perante às Leis em vigor e a nossa Constituição, é preciso que de uma vez por todas, acabe essa falácia de que o militar tem que estar à margem da discussão dos problemas nacionais. Ora, aonde fica o direito constitucional de livre pensamento e manifestação, previsto na Lei Maior, se o militar paga seus impostos, vota em seus representantes e cumpre com os seus deveres perante a sociedade em que vive? Porque não poder se manifestar ou se interessar pelos problemas nacionais? Na verdade, não existe o cidadão apolítico e sim o cidadão covarde e omisso.

    1. Para isso não precisa se vender meu amigo nem fazer coligação com bandidos !
      Será que para ter opinião precisa. O militar se aliar a essa gente !
      Só para sua reflexão

        1. Li todo o texto, “troca intempestiva”, bem quando tivermos as mesmas condições dos EUA, aplicaremos as receitas que dao certo por lá, parece que os políticos são bem diferentes na terra do Tio Sam é só situação e oposição, mas li todo o texto.

    2. Prezado Luiz Carlos, existem regras gerais, genéricas. A Constituição Federal, por exemplo, é uma regra geral, norteadora de todas as outras regras. Conhecer e ou manifestar interesse por assuntos diversos não significa ao membro de uma organização manifestar suas opiniões aos quatro cantos. Se há uma regra menor da qual eu não concordo, sendo militar ou civil, tenho que levar ao debate e a solução ao estamento que poderá resolver. Fora isso, se nenhuma decisão for tomada, paciência. Se possível manifeste-se por escrito e com protocolo de entrega. Um abraço!

  5. Destaco os seguintes trechos do texto do General Rêgo Barros:
    “A elevada confiança da sociedade nas suas Forças Armadas foi referendada em bases estatísticas e delimitada em todo território nacional.”
    (…)
    “Por anos, em circunstâncias distintas e sob governos distintos, representamos valores caros ao povo brasileiro que se transformam em saldo positivo para momentos de desgaste de imagem. O Centro de Comunicação Social do Exército conduziu, há alguns anos, uma pesquisa ainda mais abrangente sobre a imagem da Força. Obteve dados de peso que confirmavam esse perfil e indicavam pontos de oportunidade de melhorias a serem avaliados.”

    Comento:
    Há anos vejo os Generais alardeando com grande orgulho a boa “imagem” das FA nas pesquisas de opinião. Pergunto: essa boa imagem é um fim em si mesmo, uma espécie de patrimônio imaterial, tal como uma “marca” corporativa, para justificar as diversas ações de assistência social – não é atividade fim das FA – e só, ou é uma característica necessária para que as FA tenham a legitimidade para defenderem o efetivo CUM-PRI-MEN-TO da Constituição da República Federativa do Brasil, tanto em governos de esquerda ou governos de direita ?
    O cavalo é um animal que na história da humanidade teve como principal – as outras além são frívolas – serventia tracionar carga, transportar carga, montaria (meio de transporte) e, eventualmente, servir como alimento. Um cavalo bonito e pomposo para ser exibido em eventos e receber elogios pela sua beleza e estado de aparência não serve a nenhuma das finalidades. Creio que urge aos Generais decidirem se pretendem deixar as FA como simples cavalos de exposição ou fazê-las saírem dessa inércia de “beleza e confiança” para efetivamente fazerem a defesa da CF/88.

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