Alunos do Colégio Militar de BH denunciam treino exaustivo para receber ministro

colégio militar BH

Adolescentes relataram terem sido obrigados pelo comando da unidade a ficar mais de três horas sob o sol forte com restrição de ir ao banheiro ou tomar água. Preparação aconteceu para formatura de aniversário do colégio

LUCAS MORAIS

Cerca de vinte alunos do Colégio Militar de Belo Horizonte passaram mal durante um treinamento realizado na manhã desta quinta-feira (09) — Foto: Reprodução TV Globo

“Foram mais de três horas embaixo de um sol muito quente”. Esse é o relato de um aluno do Colégio Militar de Belo Horizonte (CMBH), na região da Pampulha, sobre o treinamento obrigatório realizado na última quinta-feira (9) – ele pediu para não ser identificado por medo de represálias. Considerada exaustiva até para os padrões da unidade militar, a atividade aconteceu por conta da formatura do aniversário de 66 anos da entidade prevista para este sábado (11), com expectativa da presença do ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto – a agenda da pasta confirma a viagem para a capital mineira.
Conforme a denúncia, o treinamento começou por volta de 7h20 e só terminou após 10h30. Durante esse período, os alunos mal puderam ir ao banheiro ou tomar água e a parada para o lanche durou menos de cinco minutos – o colégio atende crianças e adolescentes entre o sexto ano do ensino fundamental e o terceiro ano do ensino médio, com idades entre 11 e 18 anos. “O comando pediu que todos os alunos viessem ao treinamento, mesmo aqueles que não tinham aula presencial no dia. Foi muito pesado e acabou mais tarde que o previsto, sendo que muitos perderam a aula”, disse o estudante.
Por conta do cansaço, há denúncias de que dezenas de alunos precisaram de atendimento médico na unidade, principalmente os mais novos. “A fila de espera do lado de fora ficou grande, já que o local tem capacidade para 12 pessoas, e foram muito mais que isso”, contou outro estudante. Mesmo acostumado com a rotina militar do colégio, ele disse que nunca passou por um treinamento assim antes. “Nunca foram tão longos e cansativos, treinaram os mínimos detalhes. A grande maioria do pessoal ficou com muita dor, foi algo bem desgastante, ainda mais para criança e adolescente”, contou.
Em uma gravação, o comandante do colégio, coronel Régis Rodrigues Nunes, ainda teria sido grosseiro com os estudantes. “Qual a situação desses alunos aqui, e qual o motivo pelo qual eles saíram de forma? É falta de café, o que é”, relevou o áudio. Segundo um aluno, o coronel chegou a reclamar que os mais novos tinham recebido autorização para ir ao banheiro e tomar água. “Era um calor gigantesco, ficamos em pé e imóvel praticamente o tempo todo”, afirmou.

Carta encaminhada ao comando do colégio diz que houve abuso
A reportagem do jornal O TEMPO teve acesso a uma carta encaminhada ao comando da unidade sobre o treinamento. O documento alegou que não foram cumpridas as normas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente e também que os estudantes não estão acostumados com atividades que têm tal nível de exigência. “Apesar de estarem previstas no projeto pedagógico da escola militar, quando acontecem devem ser bem controladas e de pequena duração. Houve abuso”, informou.
Além disso, a carta denuncia a falta de cumprimento dos protocolos sanitários em meio à pandemia do coronavírus, como o consumo de água no próprio bebedouro, sem uma garrafinha, e o distanciamento inadequado entre os participantes do ensaio. “A verdadeira preocupação foi não fazer feio no dia 11 perante as autoridades presentes”, pontuou o texto.

‘Excesso de autoritarismo’
Os alunos afirmam ainda que há um “excesso de autoritarismo” do atual comando do CMBH, assim como a carta. “Com o passar dos anos, pararam de colocar comandos que tenham contato com os alunos. Só foram pessoas acostumadas a atua com soldados, então o comando nós vê assim, e não como estudantes. Raramente é flexível no colégio, o que deixa o ambiente mais tenso também. Não há espaço para nenhuma crítica”, declarou.
Para a estudante, assim como aconteceu no treinamento, outros momentos mostram o comportamento autoritário, como a exigência do retorno às aulas de todos os alunos sem comorbidades, no ano passado. “Um grande número de pais reclamou, e ele voltou atrás neste quesito. Tirou a obrigatoriedade, mas não foi fácil de conseguir. Tudo tem uma batalha”, finalizou.
No corpo docente, também há indignação com o atual comando. Uma professora civil que também pediu para não ser identificada disse que quem se posiciona ou emite uma opinião, é reprimido. “Estamos passando por um período complicado, onde você não pode se posicionar, ainda que educadamente, expressar o que pensa. Teve um caso de um professor que falou que a gestão é muito autoritária. Ele passou por uma sindicância e o colégio queria abrir um processo administrativo simplesmente pelo fato expressar isso”.
Segundo a professora, para os militares, é pressão é ainda maior, inclusive com assédio moral constante. “Com os civis, existe uma certa perseguição, mas ele tenta manter as aparências, pelo menos quando está de frente. Só que por trás manda abrir sindicância, averiguar. Agora os militares não, já é na cara mesmo, principalmente nessa semana que está tendo os preparativos para receber o ministro da Defesa. Vi o comandante rodando o colégio todo, exaltado, cobrando, brigando, xingando e até desfazendo de profissionais extremamente qualificados”, declarou.
Ao longo de toda a tarde, a reportagem tentou contato com a assessoria do Colégio Militar de Belo Horizonte, que não se pronunciou sobre as denúncias.

Decisão judicial já criticou ‘arroubos autoritários’ no colégio
No semestre passado, uma decisão judicial chegou a exigir a abertura de uma investigação contra o comando do CMBH por descumprir uma medida que impedia o trabalho presencial de professores civis por conta da pandemia. Os profissionais chegaram a denunciar que foram convocados para outras tarefas no colégio, o que contrariava a liminar. O juiz William Ken Aoki, da 3ª Vara Federal de Belo Horizonte, disse que o descumprimento e pediu que “tais arroubos autoritários e antipatrióticos não sejam incentivados ou permitidos em um regime democrático e constitucional”.
Ainda na decisão, o magistrado lembrou que não foi dado às Forças Armadas nenhum tipo de poder moderador pela Constituição de 1988. “A Ditadura Militar Brasileira e a condenação do Brasil no “Caso Guerrilha do Araguaia”, proferido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, nos fazem lembrar que nunca mais desejamos um Regime Autoritário em terras Brasileiras, pela Corrupção, pelas atrocidades cometidas, pelas violações inomináveis aos Direitos Humanos, e pelas inúmeras vidas inocentes de patriotas que foram ceifadas pelo Regime de Exceção”, afirmou.
Em nota, a Justiça Federal de Minas Gerais informou que a medida judicial que impediu o retorno dos professores civis está suspensa até “o trânsito em julgado da ação”.
O TEMPO/montedo.com

36 respostas

  1. Militar gosta de cortar na carne… Mas é na carne de seus subordinados… Que pede ditadura militar nas ruas… É pq não conhece as arbitrariedades que ocorrem dentro dos quartéis…

    1. Falou tudo. Esquerda quer democracia, mas se baseia no comunismo, que é ditadura. Direita quer intervenção militar, que também é ditadura. Ou seja o povo anda tão alienado que todos querem ditadura.

      1. Me lembrei do Sr que fica perto da minha casa no sinal em Fortaleza, vende flanelas, a uns oito anos o conheço, a uns dez de 07às 16 horas no calor do Ceará….obviamente faltou um pouco de cuidado e bom senso…soldado – praça ou oficial se constrói aos poucos, aqueles são crianças….estava uma vez triste com a vida e no comércio de meu tio, ajudei a desembarcar umas sacas de feijão do caminhão, o senhor a meu lado cantava um corinho evangélico feliz….finalizando agradeço a Deus ter eu, meus irmãos e meus tios terem feito CMF, alguns por transferência outros por concurso…orando pelo Brasil..

    2. Aconteceu porque os pais dos alunos não estão nem aí pro filhos, afinal estão acostumados ao governo criar os filhos. Se fosse na minha época de estudante meu pai junto com um monte de pais iriam a escola até armados, inclusive meu pai fez o diretor infartar , tempos bons, mas hoje só tem maricas.

  2. Só no Brasil que acontece essa vergonha. Lugar de aluno é no banco escolar para aprender e contribuir com o futuro do país. Ao invés disso, estão sendo obrigados a fazer formatura para ministro que ganha 100 mil por mês para não fazer nada de útil..

  3. Treinar para algo tão inútil que tem como objetivo massagear egos de generais, ora esses que são humilhados e motivos de chacotas de políticos e demais autoridades civis… Estes senhores não são nada e se satisfazem apenas dentro das FA. Tomara que um familiar deste que seja de origem civil meta um processo monstruoso no Cmt deste CM e que o mesmo venha a chegar até o mais antigo do Comando Militar de Área… Aluno de CM não é militar. Baixaria demais!

    1. Situação muito fácil de ser resolvida para aqueles pais que foram choramingar para a Globo! Vou dar uma dica, segue o fio…

      Segunda-feira vão na secretaria do CMBH e peçam a transferência do seu filho que foi muito maltradado no treinamento da formatura e, logo depois, procure uma escola pública ou privada para ter aquele tratamento Top.

      Outra dica, procure aquelas escolas que têm como referência Paulo Freire, são as melhores.

      Bouno fine settimana a tutti!

      Ah! Sou praça viu

  4. Peço desculpas a quem pensa diferente, mas aluno de colégio militar não é militar. Um garota ou garota de 11 anos de idade não tem que ficar horas sob o sol com a justificativa de que é aluno de colégio militar.

    Outra coisa errada: a Instituição trata o hospital militar como sendo um quartrl de tropa. Certa vez, um hospital militar só estava atendendo emergências num determinado dia. Adiaram todas as consultas e exames marcados para aquele dia. Motivo: formatura para recepcionar um oficial-general.

  5. Engraçado é ver as manifestações de pessoas dizendo que é “mimi” de quem não concorda com a postura do colégio e que esmera em uma simples “frouxura” dos alunos. Cabeças retrógradas!

    Ao argumento que levantam sobre: “ah! É um colégio militar… blá blá blá”. Esse pensamento, tão pouco tem mínima noção de que os pais desejam que o filho tenha uma educação, no sentido estudantil, sólida e de qualidade. Nenhum, absolutamente nenhum responsável espera que seu filho seja submetido a atividades fora do escopo educacional. Tal fato, proporciona prejuízos psicológicos na formação das crianças. Incentivada pelo próprio Diretor da escola que questiona se é falta de café.

    Senhores, vejam as escolas de formação de carreira. Porque nem lá que seria o lugar propício para essa medida isso acontece. Paremos de endeusar os oficiais generais e autoridades como se fossem referencia de algo.

    Por fim, aos que acreditam que só o aconteceu antigamente é bom, então jogue fora seu celular, escove dentes com carvão, não use máquina de lavar, pois tudo isso é coisa de fresco e macho que é macho faz fogueira com duas pedras. Obs.: Esse lance de fazer fogo com pedras só existe no teatro do exercício de campanha. Na realidade de operações o fogo é com instrumentos do século XXI.

    Texto redigido em uma máquina de escrever e enviado pelo correio.

  6. E só tem colégio militar?
    É ruim?
    Tem formatura?
    Tem disciplina?
    Quem acha ruim vá para outro onde não tem treinamento, disciplina, formatura, onde o aluno passa de ano sem saber o conteúdo.
    Tem muito jovem que quer se esforçar e ter um bom conhecimento e talvez não tenham tido chance de ingressar em um colégio militar.

  7. Os CMS estão pura paisanaria!!!A meninada q estuda nos CMs só querem profissões civis!!! Agora em 2021 dos CMs do Brasil apenas 14 foram para
    EsPCEX!! vergonha!! Os CMs perderam o rumo.

    1. É porque agora não tem mais o famoso “metade das vagas para CM e outra metade para civis”. Peguei essa época boa, por isso passei pra carreira do EB. Acabou em 2003 isso. Metade das vagas para ESA e AMAN era reservada para Militares e CM.

  8. Mas só tem uma definição: Vaidades…vaidades…vaidades disse o Eclesiastes!
    Os excessos acontecem todos os dias dentro dos Quartéis! Em certas ocasiões tínhamos que treinar formatura as 13:00hs no sol escaldante de Cuiabá! Ai volta nos dizeres do Eclesiastes!!! Tudo é vaidade..! Mas o nosso Exercito está se modernizando!

  9. Tenho visto políticos, oportunistas e preocupados com seu próprio umbigo bradar a favor das escolas militarizadas Brasil a fora. Será mesmo que o que define a disciplina é o militarismo? será mesmo que uma criança precisa ficar três horas no sol para mostrar para um general o alinhamento, a marcialidade? será que não existe disciplina sem ser militar? uma criança que não tem limites em casa, incentivados ou abandonados pelos pais, tendo uma vida social cercada de maus exemplos, vai fazer diferença ela aprender a marchar e a cantar o hino? ( não estou falando de patriotismo mas sim de necessidade), as escolas na Korea do Norte são militarizadas, na então URSS, na Alemanha de Hitler. Será mesmo necessário uma criança ficar treinando imobilidade para apender aritmética e sintaxe ? Ninguém fica surpreso, e isso é o minimo, em saber que, nos quarteis e nas escolas, na administração pública, na política, existem militares que tem poder de mando mas que são completamente ineptos? sim, uma característica humana é discernir o bom do mau; o certo do errado; o útil do inútil; o imbecil dentro da farda. O que é ser bom militar? é aceitar os abusos? tolerar o intolerável? O que é ser mau militar? não ser cego, não ser ignorante em assuntos além muros? fazendo uma rápida reflexão, guardo em minha mente a imagem daqueles militares que inteligentes, competentes e patriotas passaram por minha vida militar por 35 anos, os outros, lhe dou as costas, atravesso a rua, faço que não os vejo, os ignoro.

  10. Por isso que eu sempre fui contra milicos no governo, não tem empatia social, só recalque de ser o macho ideal, imagina ser o durão respeitado por todos. A sociedade não precisa pagar por essa criancice de mau gosto.
    Dentro do quartel até se atura porque em uma situação de guerra é útil. Falei em situação de guerra, no restante só desperdícios de material, contratempos de objetivos e abuso moral sem necessidade.
    O meio militar enaltece essa conduta, mas na sociedade civil é doente. Depois de alguns anos na caserna, se acostuma, o militar se torna um ser insensível às causas sociais, mais identificados com os radicais de direita, por isso quem se entrega e alma a esses valores são todos bolsonaristas.

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