Santos Cruz: ‘O 7 de Setembro é para celebrar e não deve ser transformado em dia de conflito’

A grande massa das pessoas de bem, motivada por boas intenções, não deve servir de escudo para extremistas, irresponsáveis e inconsequentes

Carlos Alberto dos Santos Cruz*
7 de Setembro é o aniversário da Independência do Brasil. Dia especial, sempre comemorado com desfiles escolares e militares, recreação e atividades culturais exaltando a história e as cores nacionais.
Neste ano, o feriado e as cores nacionais foram sequestrados por interesses políticos.
As manifestações dentro da lei são válidas e importantes. As liberdades de expressão e de opinião são fundamentais. No entanto, não se deve confundir liberdade de opinião com liberdade de acusação e de ações irresponsáveis.
A vontade popular é bem intencionada. Os fanáticos não representam a maioria da população ordeira que se manifesta. Extremistas não representam aqueles que votaram por transformações em ambiente de paz, legalidade e prosperidade.
Não é hora de rodeios. Os riscos precisam ser avaliados e mitigados, pois a politização, o extremismo e a manipulação da opinião pública ameaçam gravemente o Brasil. Alguns “super-heróis” irresponsáveis de internet empurram pessoas de boa-fé para o radicalismo e a violência. Aqueles que estimulam ilegalidades desaparecem e ficam impunes, deixando o preço para os inocentes úteis. Os fanfarrões estimulam ações, mas não têm coragem de assumir responsabilidades e nem são os primeiros a liderar as ilegalidades propostas.
O fanatismo de pessoas e grupos sempre acaba em violência. Se não generalizada, ao menos em atos isolados. As autoridades e as pessoas de bem não podem deixar que isso aconteça. Normalmente a maioria é motivada por interesses honestos, mas os extremistas são motivados por interesses pessoais, campanha política e ideologia extremada.
Há poucos dias, em visita do presidente da Guiné-Bissau ao Brasil, a Esplanada dos Ministérios teve os postes enfeitados alternadamente, de maneira organizada, com as cores verde e amarelo do Brasil e verde, amarelo e vermelha da Guiné-Bissau. Vi pessoas indignadas, dizendo que era absurda a ousadia da “esquerda”; vi outros dizendo que era coisa “da direita”, tentando incriminar a esquerda, violando as cores verde e amarelo com a cor vermelha. Esse é um exemplo do fanatismo ignorante e inconsequente. Os extremos sempre irão se acusar mutuamente.
Populistas e oportunistas se manifestam de maneira demagógica, com discursos incentivando a violência e palavras de ordem sem objetividade, mas com aspirações teoricamente válidas – “liberdade”, “segunda independência” (de quem?), “última excelente oportunidade” (para que?), “estamos em guerra” (com quem?), ultimatos fanfarrões sem dizer para quem, incentivo para comprar armas por motivação política (total irresponsabilidade e inconsequência), Brasil à beira do abismo, teoria da conspiração, e, finalmente, a grotesca necessidade de um salvador da Pátria. Tudo isso estimula o ódio e a agressão a instituições e pessoas.
Militares (Forças Armadas, policiais e bombeiros) têm o direito de ter preferências políticas e partidárias, mas também têm responsabilidade institucional. Militares fazem parte de instituições que têm como fundamentos a disciplina e a hierarquia. São instituições armadas para defender a Pátria, as instituições, a lei e a ordem. Não é possível ser militar apenas quando interessa. Os militares têm responsabilidade institucional com o Estado brasileiro, com a Constituição, e não podem cair na armadilha de serem arrastados como instrumento de uso político individual e de grupos. Polícias e bombeiros militares são muito bem preparados e têm sua estrutura hierárquica estadual, subordinadas aos governadores e são comprometidos com a proteção das populações de seus Estados. Incentivar militares a romper suas obrigações legais e seu comportamento institucional e estimular a quebra da disciplina e da hierarquia é subversão. Sempre foi.
Casos isolados de violação da disciplina não caracterizam as instituições e precisam ser tratados pelas autoridades de acordo com a lei.
O governo não pode jogar a sua responsabilidade política para as Forças Armadas e Polícias Militares. Ele precisa é ter coragem e capacidade de assumir as suas obrigações.
A maneira mais eficiente de corrigir e evitar problemas é governar corretamente, promover a união e a paz social, estabelecer critérios, praticar a transparência ao máximo, combater a corrupção, eliminar privilégios e reduzir a desigualdade social.
A grande massa das pessoas de bem, motivada por boas intenções, não deve servir de escudo para extremistas, irresponsáveis e inconsequentes.
O 7 de Setembro é dia de celebração e não deve ser transformado em dia de conflito.
*GENERAL DA RESERVA E EX-MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO

General Santos Cruz Lézio Júnior / VEJA

/montedo.com

16 respostas

    1. Precisa descrever, citar, mencionar, elucidar, nesses 2 anos e meio de governo quais foram as manifestações violentas, quem as fez, quem as convocou.

    2. Manifesto de Sua Alteza Real
      O Príncipe Regente Constitucional e
      Defensor Perpétuo do Reino do Brasil
      Aos Povos deste Reino

      Brasileiros,

      Está acabado o tempo de enganar os homens. Os governos que ainda querem fundar o seu poder sobre a pretendida ignorância dos povos, ou sobre antigos erros e abusos, têm de ver o colosso da sua grandeza tombar da frágil base sobre que se erguera outrora. Foi, por assim o não pensarem que as Cortes de Lisboa forçaram as Províncias do Sul do Brasil a sacudir o jugo, que lhes preparavam; foi por assim pensar que eu agora já vejo reunido todo o Brasil em torno de mim; requerendo-me a defesa de seus direitos, e a manutenção da sua Liberdade e Independência. Cumpre portanto, ó Brasileiros, que eu vos diga a verdade: ouvi-me pois.

      Habitantes do Ceará, do Maranhão, do riquíssimo Pará, vós todos das belas e amenas Províncias do norte, vinde exarar e assinar o ato da nossa emancipação para figurarmos (é tempo) diretamente na grande associação política. Brasileiros em geral! Amigos, reunamo-nos; sou vosso compatriota, sou vosso Defensor; encaremos, como único prêmio de nossos suores, a honra, a glória, a prosperidade do Brasil. Marchando por esta estrada ver-me-eis sempre à vossa frente, e no lugar do maior perigo. A minha felicidade (convencei-vos) existe na vossa felicidade: é minha glória reger um povo brioso e livre. Dai-me o exemplo das vossas virtudes e da vossa união. Serei digno de vós.

      Palácio do Rio de Janeiro em primeiro de agosto de 1822.

      Príncipe Regente

      https://www.filosofiaesoterica.com/o-manifesto-da-independencia-do-brasil/

  1. Sobre a parte das cores das bandeiras, ouvi algo semelhante: certo quartel, outrora de Infantaria, pintado da cor verde, foi redesignado como unidade de Cavalaria, sendo pintado de vermelho. Certo dia, quando de serviço, um casal de idosos se aproximou do Portão das Armas e começou a falar que a esquerda comunista estava indo longe demais, pois pintar um quartel de vermelho era uma absurdo. Ainda tentei explicar, mas acabaram dizendo que eu estava sendo enganado. Segurei-me para não rir e os deixei falando sozinhos, mas infelizmente muitos são iludidos por falsos profetas de mídias sociais e gripos de Whatsapp.

    1. O presidente Jair Bolsonaro assinou há pouco uma medida provisória que visa combater “a remoção arbitrária e imotivada de contas, perfis e conteúdos por provedores de internet. Será que vão cumprir? Será que o STF e as grandes redes sociais irão respeitar?

  2. Quando mais jovem, fanático por futebol, doente pelo meu time, o Internacional, tive minha primeira grande desilusão quando um ídolo e tri campeão brasileiro invicto, saiu do inter e foi jogar no grêmio. Na época me desiludi com o futebol. Queria ter a certeza General que, um cargo na Itaipu, Petrobras ou outra qualquer, com salário muito bom, vossa excelência não mudaria de discurso ( como mudou o general Heleno), mas não a tenho.

  3. Profissão Vergonha…

    Por último, mas não menos importante, não posso deixar de registrar que tenho vergonha na cara. Explico-me. Em 2018, o atual Presidente me pediu um voto. Provavelmente a maior parte da classe militar votou nele. Eu não fui exceção. Todos os militares têm uma história mais ou menos comum e por isso há uma confiança compartilhada entre eles, uma identificação que automaticamente “baixa a guarda” e faz com que um confie tacitamente no outro, mesmo sem se conhecerem nos detalhes. Bolsonaro foi eleito em grande parte por essa aura de correção, que a classe inspira, mesmo tendo sido mais político do que militar. O que aconteceu em 2019? Como diz a música, ele “pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”. O Governo fez uma reforma da carreira militar, que foi muito boa para alguns que ainda estavam na ativa a partir de 2020 e prejudicou uma multidão de uns 80 mil, entre veteranos e pensionistas. Os militares prejudicados pelo novo ordenamento legal foram chamados de “retrovisor”, de “preguiçosos e incapazes”, “baixos estamentos” e a birrinha do governo está escalando, pois além de ter sido instaurado um inquérito para apurar atividades supostamente sindicais de associações legalmente constituídas, recentemente foi noticiado que o Exército gasta seu precioso tempo camuflado monitorando a vida do pessoal da reserva e de políticos antigovernistas. Como eu poderia ir às ruas defender um governo, carregando uma mochila cheia dessas pedras? A mim é escandalosamente incoerente (para não dizer patológico) defender quem me traiu e ainda me policia.

  4. Inversão de valores…

    Estão dizendo por aí que a manifestação de 7 de setembro seria pela liberdade de expressão e outras garantias constitucionais básicas, que pessoas estão sendo presas sob condições ilegais, etc. É óbvio que ninguém quer viver num estado autoritário, muito menos ditatorial, seja de direita ou de esquerda. Mas, se formos um pouco atentos, vamos observar que no Brasil real as necessidades do povo pobre (a maioria, ninguém se engane) há séculos permanecem as mesmas e até hoje não foram plenamente atendidas nem pela direita nem pela esquerda. O que é “básico” para o brasileiro desde sempre? O que vem antes da liberdade de expressão (que importa, sem dúvida) até mesmo na Constituição da República? A “dignidade da pessoa humana”! Há uma sutil inversão de valores nessa pauta do sete de setembro. O povo pobre está sendo preso por falar o que não deve? O povo pobre está sendo preso por atacar a democracia de papel e suas instituições coalhadas de corruptos? Não! O que o povo precisa antes de se expressar é saber o que expressar, o que não se consegue sem escolas, sem alimentação adequada, sem estabilidade econômica, sem emprego. Não seria mais coerente com a situação atual (que mudou pouco em quinhentos anos) sair às ruas (já que querem tanto se expressar) e cobrar do governo educação, emprego e saúde? Quem pode se expressar de barriga vazia? O que é mais preocupante para o povo pobre (não falo aqui de mauricinhos de twitter), se o regime político é canhoto ou se o preço do arroz subiu? Quem será defendido nessas manifestações? Uma patotinha malcriada de políticos ouriçada pela chance de se emporcalhar no poder público ou o povo desassistido e esquecido desde sempre?

  5. Por quem os sinos dobram…

    Existe o fogo, os que ardem nele, e os que apagam o fogo com gasolina. Vejo os novos militantes, políticos, jornalistas famintos, “conservadores” revolucionários (!), artistas decadentes convocando “o povo” para defender as liberdades. Mas, onde estão eles? Os jornalistas estão em Nova Iorque, em Miami, em Washington. De lá, onde o dólar vale 1 dólar, e não 6, execram a “ditadura da toga”, mas não reclamam do preço da gasolina. Os políticos estão encravados feito carrapatos no boi estatal. Não pagam o que usam, não pagam o que comem, não sabem o que é mensalidade escolar. Instigam as pessoas a fazer algo que eles mesmos não têm direito de fazer. Tentam fabricar um movimento popular a partir de factoides potencializados pelas tecnologias atuais. E onde está o “grande” estadista responsável por tudo isso? Encastelado num palácio quadrienal, dissimulando bravatas diariamente, como quem brinca de roleta russa com a cabeça dos outros. Posando de deus tribal, diz que precisa que o povo (essa entidade sem nome e sem cérebro) peça sua poderosa intervenção e que as Forças Armadas (pobres coitados), que, segundo ele, estão ao seu lado, saberão o que fazer. Fazer o quê? Por que ele não fala?? Eu não sou moleque de recado. Não vou às ruas para “falar” por alguém a quem sobra truculência, mas falta coragem.

  6. Micro ditadura…

    Quem vai às ruas no dia 7 de setembro vai se manifestar contra uma ditadura, que estaria vindo do Poder Judiciário. Quando penso em alguns homens públicos, o que me vem à mente são aquelas quadrilhas de gângsteres dos anos vinte. Às vezes acho que estão (as três cabeças da hidra estatal) constantemente dividindo e redividindo os territórios entre eles, não só geográficos (isso já foi feito), mas principalmente territórios de influência. A ilusão básica de quem ataca a “ditadura” judiciária é achar que pode com isso ganhar um passe livre do Executivo, barganhando, comerciando ao estilo, “veja, eu lutei por você, então eu quero liberdade”. Mas isso significa o que exatamente? Que, caso o Executivo instaure uma ditadura, os que foram à passeata serão poupados pelo Governo? É uma coisa muito esquisita os devotos (já não estamos mais no nível de apoiadores!) do Presidente manifestarem-se contra a ditadura, sendo que o Governo tem mais de seis mil militares em sua administração direta. Quantos regimes de exceção foram instaurados por juízes? De qual das três cabeças tenebrosas do nosso Leviatã pode realmente brotar uma ditadura? Ditadura não é apenas fim da liberdade de expressão. Falta de diálogo também pode ser um indício de autoritarismo e um comecinho de ditadura. Então, pergunto: qual, das três cabeças, não conversa? Quem, entre elas, adotou a glasnost invertida dos “cem anos”? Ora, tudo que quer esconder ou não quer mostrar, o Governo chancela com o sigilo de cem anos. Medalhas militares dadas a políticos, processos disciplinares de generais políticos, cartões corporativos, viagens, crachás de parentes… O que é esse pano preto, senão um ditadura em ponto menor? Eu vejo isso como um mau sinal, abuso de prerrogativa, exação e isso basta para me convencer de que, se o Juiz não gosta que eu fale, o Presidente não quer que eu pergunte. A mim eles se merecem e eu não vou lutar por nenhum deles.

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