Vinte anos de guerra foram pelo ralo em três dias no Afeganistão

Helicóptero americano sobrevoa embaixada dos EUA em Cabul
WAKIL KOHSAR / AFP

Joe Biden levará para o resto dos seus dias a culpa pelo fim trágico da guerra mais longa americana

RODRIGO LOPES
Vinte anos do esforço de guerra dos Estados Unidos foram pelo ralo em três dias no Afeganistão.
A ofensiva relâmpago da milícia do Talibã, que colocou de joelhos as forças armadas afegãs, sintetiza todos os erros americanos e de seus últimos quatro presidentes (dois republicanos e dois democratas) no país: a começar pela invasão ordenada por George W. Bush pós-11 de setembro de 2001, em seguida, Barack Obama, que não conseguiu sair do solo afegão de forma ordenada, de Donald Trump, que foi ingênuo ao confiar nos extremistas, e de Joe Biden, que acelerou a debandada das tropas sem plano de contingência.
Sem falar que os Estados Unidos caçaram por anos Osama bin Laden no Afeganistão – e ele não estava lá. Acabou sendo encontrado e morto do outro lado da fronteira, no Paquistão.
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O domingo 15 de agosto de 2021 confirma a máxima segundo a qual é fácil começar uma guerra. O difícil é terminá-la.
Desde 2001, os americanos gastaram US$ 83 bilhões em armas, equipamentos e treinamento das forças armadas afegãs. Armamentos de última geração, helicópteros, blindados, que, agora, estão caindo nas mãos dos talibãs.
Os EUA falharam em construir instituições fortes no país. O Afeganistão, atoleiro histórico de invasores, tinha desta vez um governo pró-Ocidente corrupto, cujas forças armadas eram marcadas por soldados com soldo atrasado, com deserções frequentes e muitas vezes enviados ao front sem comida ou água. O resultado: quando os barbudos do Talibã acenaram no horizonte de Cabul, os militares, deram adeus às armas. Não lutaram. Para quê? Por quem, se estavam sem dinheiro no bolso, famintos e com a convicção de que os EUA os abandonaram? Faltou confiança, algo fundamental para qualquer tropa em qualquer lugar do mundo.
Não era difícil prever o fim trágico para a guerra mais longa dos Estados Unidos. Era praticamente certo que, quando o último americano deixasse o terreno afegão, os talibãs um dia voltariam ao poder. Quando Joe Biden assumiu, em 20 de janeiro, o Pentágono lhe entregou uma previsão de que isso ocorreria em 18 meses. Na semana passada, equipes de inteligência revisaram a queda de Cabul para 90 dias. Sucumbiu em três.
A capitulação fácil deixou em choque assessores mais próximos de Biden – que, diga o que disser, inclusive culpar seu antecessor por ter confiado nos barbudos, carregará para o resto de seus dias a responsabilidade pelo fracasso americano. Logo ele, que é um dos políticos americanos mais bem preparados do ponto de vista internacional, tendo sido por anos presidente do comitê de Relações Exteriores do Senado e, como vice-presidente, enviado a apagar incêndios mundo afora por Obama.
Biden fracassou. Acelerou a retirada, confiando nos dois terços dos americanos que preferiam os EUA fora da Ásia Central. Não tinha plano. Talvez, se tivesse deixado uma pequena tropa no país teria dado a força moral que o exército afegão precisava para enfrentar o Talibã. No mínimo, não passaria a sensação de que os abandonou.
A imagem do helicóptero Chinook sobrevoando a embaixada dos Estados Unidos – supostamente transportando funcionários americanos para o aeroporto de Cabul – já está inscrita na História da infâmia militar americana, como Saigon, em 1975, e Benghazi, em 2011.
Um capítulo importante da história do século 21 se desdobrou neste domingo (15). O que virá a partir de agora, com o Talibã no poder, é previsível: uma guerra civil, um Estado falido, o retorno de grupos terroristas sob sua guarida, repressão, mulheres de burca, meninas proibidas de estudar. Até que isso cause de novo algum problema relevante para o Ocidente.
GZH/montedo.com

4 respostas

  1. Falar de abandono por parte dos americanos é uma baita de uma infâmia. Investiram bilhões naquele país, treinaram e equiparam as forças armadas afegãs e tentaram dar a eles uma mostra do que é a demicracia. Não souberam aproveitar, preferindo a corrupção, o tribalismo e a opressão imposta pelo taleban, pois garanto que sem apoio popular este grupo terrorista não teria sobrevivido. O maior erro americano, tal como ocorreu no Vietnã do Sul, foi acreditar que certos povos preferem a democracia à opressão, que certos governantes preferem seu país ao dinheiro fácil derramado pelos EUA. Talvez aprendam da próxima vez e percebam que muitos países são indignos de democracia por protegerem em excesso grupos políticos e por não conseguirem se unir em pról de uma ideia de nação.

  2. Esse anônimo, já disse tudo. a Democracia, são para poucos povos. Muitos politicos gostam de se aproveitar do povo,, Um nação não pode ser cordeiro, e aceitar tudo de politicos . A Pátria deve estar Acima de todos. e o bem do seu povo e dever e responsabilidade do seu Governo..

  3. COMENTANDO “EUA ACENAM COM PARCERIA NA OTAN, EM TROCA DO VETO A HUAWEI”
    POR REDAÇÃO FORÇAS DE DEFESA
    ARTIGO PUBLICADO NA “REVISTA SOCIEDADE M8ILITAR”
    Segundo matéria da Folha de São Paulo: o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, em visita ao Brasil, ofereceu ao governo de JMB para que o País se torne sócio global da OTAN, em troca do veto à participação de empresas chinesas no 5G brasileiro; a entrada do país no programa de cooperação dentro da aliança militar foi discutida com Sullivan e o ministro da ‘Indefesa’, General Braga Netto, na semana passada em Brasília”. Atenção! Que não se duvide, subjugar-se a “Tio Sam” nunca foi uma boa pedida. Esta cooperação, se implicar em colocar-se sob o guarda-chuva protetor do irmão Caim do Norte, será por demais nociva para uma manutenção incólume da soberania nacional, em particular e principalmente, no que concerne a autonomia do poder militar do País.
    “Na oportunidade ficou patente o interesse da política oficial de Washington contrária à presença de fornecedores considerados não confiáveis, como a Huawei e outras empresas chinesas, em redes de comunicação de quinta geração, fato que seria impeditivo do aprofundamento na cooperação de defesa e segurança”. Alerta! Que defesa e segurança são estas? Sim, porque se forem do mesmo naipe das prestadas ao Vietnã do Sul face ao VIETKONG, a Argentina na Guerra das Malvinas, aos curdos no conflito com o Estado Islâmico e. mais recentemente, ao Afeganistão contra o TALIBÃ, no final das contas, vai ser o mesmo que “trocar o nada por coisa nenhuma”. Os exemplos históricos de “roer a corda” são flagrantes e estão aí olhos vistos para ninguém desmentir, maldizendo os alinhamentos automáticos.
    A mesma fonte se reporta a que: “o acesso do Brasil ao programa da OTAN só seria possível sem a participação dos chineses no 5G brasileiro; em tese, segundo um interlocutor, a adesão do Brasil na parceria dependeria do aval de outros membros da OTAN, mas o apoio americano é considerado determinante”. Que se diga, na realidade somos, já faz algum tempo, “a bola da vez”. Será que alguma alta autoridade do atual governo, quem sabe um “alto coturno”, já percebeu o momento decisivo que se está a vivenciar para o futuro da nação brasileira? Não há como fugir da realidade, a capacidade para “dissuadir ao invés de lutar” impede que continuemos a depender das sucatas de material bélico, seja de quem quer que seja. Aliás, o que as FFAA colombianas lograram até hoje com essa “sociedade global”?
    Ainda na mesma matéria consta que: “ao acenar com a possível entrada do Brasil num projeto de cooperação da aliança, o governo Joe Biden tenta angariar o apoio da ala militar do governo de JMB nos esforços contra a presença da Huawei nas redes de 5G; a eventual ascensão do Brasil como “sócio global” da OTAN permitiria aos militares condições especiais para a compra de armamentos de países que integram a organização; que também abriria mais espaço para a capacitação de pessoal militar nas bases da aliança ao redor do mundo. SHAZAN! Chegou a hora “H” da opção! E esta se impõe que seja de absoluto descomprometimento. Mas que sócio global é esse? Será que o Ministério da “Indefesa” ainda não percebeu a manobra solerte e rasteira? O esperto “pulo do gato”? E os exercícios militares em nome da “sagrada aliança” dos todo poderosos na (ainda nossa?) grande região norte? Isto sem falar na possiblidade, mais do que certa, do rompimento do ajuste, se a “comunidade internacional” (leia-se “grandes potencias militares’) intensificar seus protestos contra o desmatamento ilegal e queima da floresta, um imbróglio ainda não solucionado e agravado pela atual governança.
    Mas o pior mesmo, o lamentável, o criminoso, é não se encomendar os vetores de respeito VDR-1500/2500 KM, sem limite da carga, a AVIBRÁS, uma providência que clama seja tomada pelo Ministério da “Indefesa”, o quanto antes, de forma a desencorajar e a neutralizar toda e qualquer pressão dominante no campo militar do poder. Apenas essa iniciativa já serviria, a exemplo da Coréia do Norte e do próprio Irã, para dispensar, fosse qual fosse, o tipo de guarda-chuva defensivo”’ oferecido por qualquer dos todo poderosos países integrantes do CS/ONU.
    Paulo Ricardo da Rocha Paiva
    Coronel de Infantaria e Estado-Maior

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