Comandante do Exército diz que ‘não há interferência política’ na Força: ‘o Alto Comando está com o comandante’

Paulo Sérgio Nogueira se equilibra entre Bolsonaro, que almeja demonstrações de apoio, e o Alto Comando, que quer blindar a caserna da política e evitar desgaste para a instituição Foto: Cristiano Mariz / 11-08-2021

Equilibrando-se entre as tentativas de Bolsonaro de influenciar instituição e a expectativa de parte da cúpula dos militares, o general Paulo Sérgio Nogueira afirma ao GLOBO que ‘o Alto Comando está com o comandante’

Jussara Soares
BRASÍLIA — Desde quando assumiu o comando do Exército, em abril, o general Paulo Sérgio Nogueira se equilibra em uma linha tênue de expectativas. De um lado, o presidente Jair Bolsonaro almeja demonstrações de apoio irrestrito e influência na Força que lhe deu a patente de capitão. Do outro, integrantes do Alto Comando esperam que Nogueira blinde a caserna da política e evite um agravamento da crise de imagem da instituição. Diante disso, Nogueira negou ao GLOBO o desgaste e deixou claro:
— Não há interferência política no Exército — disse o general por telefone ao GLOBO após participar ao lado de Bolsonaro de uma cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) neste sábado — O Alto Comando está com o comandante — garantiu.
A declaração ocorre após mais uma semana de tensão. Na terça-feira, o general foi convocado para uma reunião ministerial no Palácio do Planalto. Ao fim, o primeiro escalão do governo se perfilou no alto da rampa, junto a Bolsonaro, para acompanhar um desfile de blidandos em frente à Praça dos Três Poderes. Entre eles, estava Nogueira. Militares quatro estrelas ficaram desconfortáveis em vê-lo no evento. Nem o próprio comandante parecia à vontade na cena.
Não foi a primeira situação em que Nogueira ficou no meio de interesses difusos de fardados e de Bolsonaro. Em maio, a cúpula do Exército defendia a punição do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que participou de uma manifestação no Rio ao lado do presidente, o que é proibido a militares em atividade. Bolsonaro, por sua vez, agiu para blindar o ex-ministro, que acabou ganhando um cargo Palácio do Planalto. O recado foi entendido, e Pazuello se livrou da punição. O comando do Exército ainda impôs um sigilo de cem anos sobre o processo administrativo de Pazuello.
Nogueira enfrentou outra saia justa. Em julho, o ministro da Defesa, Braga Netto, preparou uma nota oficial, assinada também pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, para rebater críticas feitas pelo presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM). O texto oficial diz que as Forças Armadas não aceitariam “ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo.” Na ocasião, Nogueira estava em viagem ao Rio Grande do Sul. O texto, apresentado a à distância, estava pronto para ser assinado.
Esses e outros episódios já foram debatidos nas reuniões de integrantes do Alto Comando, que têm se mostrado preocupados com ataques de Bolsonaro às instituições. Ao final, generais estrelados, diante do momento de tensão, reafirmaram apoio irrestrito ao comandante do Exército. O argumento é que Nogueira não pode se opor ao presidente sob risco de conflagrar uma crise no país.
Nogueira chegou ao topo do Exército quando seu antecessor, o general Edson Leal Pujol, foi demitido junto com o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica. O argumento principal é que Bolsonaro queria uma relação mais próxima com os chefes das tropas.
Descrito como afável, extrovertido e sociável, Nogueira adotou a discrição como regra. Em aparições públicas, calcula o tom das falas para não gerar conflito com o presidente e tampouco parecer que referenda eventuais posições políticas. Na estratégia de fugir de polêmicas, Nogueira deixou de usar o Twitter, um dos canais prediletos dos apoiadores de Bolsonaro. A sua última publicação ocorreu no dia 2 de abril, dois dias após ser anunciado no posto mais alto do Exército. Essa postura o diferencia dos comandantes da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior, e da Marinha, Almir Garnier dos Santos, que utilizam as redes sociais.
Nos bastidores, porém, o comandante do Exército faz questão de sinalizar que está aberto a conversar com todas as autoridades. Já recebeu o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, e esteve com os governadores Ratinho Jr (PSD), do Paraná; Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco; e Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Os dois últimos são adversários políticos de Bolsonaro. Nogueira também já se encontrou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Nessas conversas, segundo o relato de interlocutores, evitou comentários sobre o presidente ou qualquer crise no país.
A reserva do general à exposição política do Exército já era percebida por interlocutores do militar desde que ele estava à frente o Comando Militar do Norte (CMN), em Belém. A divergência se acentuou no 7 de agosto de 2020, um dia antes de o Brasil superar a marca de 100 mil mortos pela Covid-19, quando Nogueira assumiu o Departamento-Geral de Pessoal do Exército, a maior autoridade de saúde na Força. Na gestão, adotou as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo uso de máscara nos quarteis e distanciamento social. A adoção dessas medidas era contrária ao posicionamento de Bolsonaro.
Em função disso, o general não cogitava ser promovido ao comando do Exército. Até mesmo porque à frente dele estavam os generais José Luiz Freitas e Marco Antonio Amaro, atual chefe do Estado Maior, que havia sido chefe da segurança da ex-presidente Dilma Rousseff. Segundo integrantes do Planalto, Amaro foi preterido pelo passado de serviços à petista, e Freitas por não ter proximidade com Braga Netto.
Quem conhece o general mais intimamente diz que o ar reservado nas cerimônias ao lado do presidente contrasta com o perfil extrovertido que o marca desde os tempos da Aman, onde se formou em 1980. Natural de Iguatu (CE), PS, como gosta de ser chamado, é filho de um funcionário do Banco do Brasil e de uma dona de casa. Católico praticante, tem três filhos: dois majores do Exército e um engenheiro. Na academia, o jovem de 1,82m e bom preparo físico praticou atletismo e futebol. É torcedor do Ceará.
Na trajetória militar, o general foi três vezes instrutor na Aman, e em uma delas como comandante do Curso de Infantaria. Ao menos dez turmas de cadetes passaram por ele, o que faz com que Nogueira tenha relacionamento com oficiais espalhados por todo o Brasil. Na prática, é o comandante que tem as tropas nas mãos.
O Globo/montedo.com

11 respostas

  1. A palavra estar com o comandante, é uma palavra generalizada, em que sua colocação não é definida, em virtude de que a palavra Comandante se relaciona com Comandante em Chefe das Forças Armadas que é o Presidente, Comandante também se refere ao Ministro da Defesa, bem como o Comandante do Exército. Portanto a Palavra “O Alto Comando está com o Comandante” Me faz lembrar uma psicóloga em que depois de ter sido aprovado em um concurso, tive que passar por ele e normalmente uma psicóloga sempre usa uma palavra generalizada para analisar a psicologia do futuro funcionário. Ela me disse. E a paz? Como paz é uma palavra generalizada eu disse a ela, depende de que paz a Senhora está falando porque existe muitos tipos de paz, e como referencia Jesus diz em João 14.27 ” Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
    Tendo sido aprovado pela psicóloga.

  2. Veja o que disse o Ministro da Defesa. Forças Armadas estão sob autoridade do presidente”, afirma Braga Netto em cerimônia com Bolsonaro
    ago 15, 2021 Neste Site.

  3. Observando o semblante deste atual mais antigo do Exército, repito:
    Quatro unanimidades, hoje, no Exército e país:
    – em primeiríssimo lugar, ele, Jair, o messias, o asno-mor;
    – em segundo lugar, o taifeiro-mor do ‘mito’, ‘seu’ Braga Neto, o subserviente ’01’;
    – em terreiríssimo lugar, ele, o campeão de audiência, Pai Zuzu, o expert em logística; e
    – em quarto lugar, eles, os três fiéis ajudantes-de-ordens de luxo (MB, EB e FAB).
    p.s.:
    – Com ‘salariozinho’ de quase 70 mil reais é fácil travestir-se de taifeiro-mor do ‘mito’, não é mesmo senhores.
    – Faço qualquer coisa por grana, DAS, cargo no governo e poder.
    – Nada mudou, tudo TEATRO!
    – Ética e Valores Militares diariamente sabotados para o bom combate nos desafios de preservação moral e operacional das FFAA, por esses personagens burlescos desta ópera-bufa.

    1. Pegou pesado com meus Chefes sempre preocupados com os honestos anseios da Tropa.
      …”os três fiéis ajudantes-de-ordens de luxo (MB, EB e FAB)”…
      Rssssssssssssssssssss
      …”‘seu’ Braga Neto, o subserviente taifeiro-mor do asno-mor”…
      Perderam a linha com nossos ‘megas medalhosos’ Chefes.
      Excelente, atento anônimo astronauta.
      Mandou bem!

    1. E o ataque do. STF a nação rasgando o que deveria proteger? O STF não tem competência para abrir inquérito contra ao Presidente, mas sim a Câmara de Deputados…

      E o Alexandre de Morais que manda prender arbitrariamente é o que isso?

      Bora pensar onde tá o problema é a interferência política de verdade?

      1. João,
        O fiel e atento ordenança do ajudante-de-ordem de luxo do Cmt EB.
        Estamos em 20221, anos 60′ ficou no passado.

      2. Boa noite joao ! Acho que você se equivocou, pois nem STF, nem Câmara autoriza abertura de inquérito contra o presidente da república. Essa atribuição é somente da procuradoria geral da república.

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