O centro de gravidade do dispositivo

Blindados que participarão da Operação Formosa, da Marinha do Brasil, em Goiás, chegaram a Brasília | Foto: Sargento Laurentino / Marinha do Brasil

Otávio Santana do Rêgo Barros*
Desfile de carros militares para entregar um convite a Bolsonaro para operação FormosaRafaela Felicciano/Metrópoles
Posso imaginar o burburinho persistente nas salas envidraçadas dos chefes de redação em jornais da terça-feira à tarde. Os editores e seus auxiliares, em reunião nervosa, premidos pelo tempo, tentavam definir a pauta no próximo dia.
Qual seria a capa?
A votação da PEC sobre o voto impresso, a reforma eleitoral com a inserção distritão, o desfile de viaturas blindadas e motorizadas em frente ao palácio do planalto, ou talvez a revogação da lei de segurança nacional.
Cada tema, e suas implicações, defendido por jornalistas experimentados desejosos de valorizar os seus nichos. Ao fim, prevalecendo o consenso do grupo, venceu a necessidade de informar à sociedade brasileira como um todo e aos agentes políticos partidários em seus microcosmos, quais os temas mais palpitantes para formação da opinião.
Sobre o deslocamento dos veículos militares, imaginando-me um editor da coluna opinião, o evento poderia ser analisado sob dois aspectos. Não excludentes.
Há aqueles que capturaram a imagem de uma cerimônia em homenagem ao comandante em chefe das Forças Armadas, um cargo previsto na constituição, mas, para fins práticos do dia a dia, honorífico.
Há aqueles que registraram como uma demonstração de força do poder executivo, quiçá em caráter intimidatório, contra os outros poderes da república.
As duas opções, ambas constrangedoras para as Instituições e para os seus quadros, pecam pelo princípio da oportunidade.
Restou claro, independente da razão para a sua realização, que o momento não casou com as agendas das casas legislativas, em hora de plena atividade.
Estavam tratando de temas sensíveis e, por consequência, críticos para o futuro estável do povo brasileiro. Afetou, portanto, o conturbado ambiente de crise pelo qual atravessa o país.
No passado, a confiança dos chefes de poder nas Forças Armadas era claramente demonstrada com o respeito à liturgia dos cargos e com o claro entendimento da missão definida no Artigo 142 da Constituição Federal. Uma instituição de Estado, que é serva, exclusivamente, desses preceitos legais.
A postura da autoridade – como no adágio: nem tão próxima que pudesse queimar-se, nem tão afastada que sucumbisse ao frio – fortalecia o respeito pelas Forças Armadas no seio da população brasileira, além de contribuir para promover dissuasão na defesa dos interesses nacionais em cenário internacional.
Desde o amálgama das três raças em Guararapes, homens e mulheres constroem e sustentam a segurança do território brasileiro e de seus interesses geopolíticos para a consolidação de uma nação na qual, geração após geração, os sonhos se concretizam.
Portanto, cabe a essa mesma sociedade, afetada pelos reflexos dessa crise, manifestar-se vigorosamente em defesa dos nobres guerreiros do mar, da terra e do ar.
Sociedade, assuma pás e picaretas e construa trincheiras largas e profundas, que inviabilizem a ação de aventureiros desejosos de incursionar na retaguarda das linhas da ética e da moral, ou sabotar a reserva principal da hierarquia e disciplina.
Se eles alcançarem o centro de gravidade do dispositivo dessas instituições, a desconfiguração das Forças Armadas passará para a história como uma derrota de todos nós, povo brasileiro.
As vedetas desse dispositivo defensivo são vocês, cidadãos da Terra de Santa Cruz, porquanto não durmam na hora.
Paz e bem!
*General de Divisão R1
METRÓPOLES/montedo.com

8 respostas

  1. – Eita SITE…. tá difícil achar uma matéria que traga alguma notícia relevante para todos, ultimamente apenas copia e cola dos site UOL/BOL, ESTADÃO, VEJA e comentários de Generais que saíram do Governo por algum motivo (MELANCIAS).

    1. Concordo com seu comentário.
      Enquanto a discussão gira em torno de assuntos irrelevantes, tanque soltou fumaça, a miséria se alastra, a corrupção se agiganta e todos calam. Uns por ignorãncia, outros por mau caratismo.
      Por que não divulgam a PLR, Participação no Lucro e Resultado, que as ESTATAIS pagam aos seus funcionários e que geram ganhos acima de 2 milhões de reais anuais a dirigentes de empresas que dizem ser dos brasileiros?
      Gritam contra salários dos políticos e do Judiciário, mas calam quando o assunto é empresa ESTATAL.
      Tem gente até hoje falando em pensão de filha de militar, acabou há mais de 20 anos, mas se cala quando um superintendente regional da CEF ganha mais do que um Minustro do STF ou um 4 estrelas.
      A zorra salarial está instalada, não há transparência no que concerne a cargos, alguns dispensáveis, com salários de mais de 100 mil reais mensais e casos de conselheiros de empresas estatais, que se reúnem apenas alguns dias por ano, passam despercebidos do governo.
      Não entendo a ABIN ainda não ter feito um levantamento destes absurdos.
      O Comandante da FAB me conhece, mas infelizmente não tenho o contato dele. A secretária fica mais preocupada em saber se sou militar de alta patente do que a importância do assunto que tenho a tratar. E assim, blindado por este tipo de auxiliares,as autoridades ficam sem saber o que está mergulhando o Brasil na miséria e no atraso.
      84 991397139

  2. Se o General é defensor do Exército Apolítico porque está assumindo a posição política de que o Exército deve ser Apolítico?

    O Exército Apolítico simplesmente cumpre as ordens emanadas das autoridades políticas sem se manifestar. Incrível como o cidadão não vê a contradição do que defende.

    Esse aí é mais um pobre coitado lobotomizado, castrado intelectualmente por ideologias estrangeiras impostas para retirar do país as barreiras que dificultam o domínio total do país pelos grupos financeiros transnacionais e seus clubinhos ocultos.

    Que venham as novas gerações.

  3. “Sociedade, assuma pás e picaretas e construa trincheiras largas e profundas, que inviabilizem a ação de aventureiros desejosos de incursionar na retaguarda das linhas da ética e da moral, ou sabotar a reserva principal da hierarquia e disciplina.”

    O autor do texto está agora jogando a responsabilidade para o povo brasileiro?
    Então somos nós, povo brasileiro, que iremos defender as FFAA dos aventureiros do governo?

    Achei que eram as FFAA que defenderiam a Nação, e não o contrário…

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