O limite da obediência

O presidente Jair Bolsonaro observa o desfile militar desta terça-feira, 10. Foto: Victor Moriyama/The
New York Times

Militares acham que uma ordem tresloucada de Bolsonaro passou a ser uma probabilidade

William Waack*
Depois do espetáculo deprimente do “desfile” militar de terça-feira ganhou corpo nos altos escalões das Forças Armadas a discussão sobre os limites de obediência ao Napoleão que transformou o Planalto num hospício. Alguns oficiais participantes desse debate (em reuniões formais e, principalmente, por grupos fechados em redes sociais) lembram o princípio consolidado na “Führungsakademie” do Exército alemão, que equivale à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército brasileiro.
É o da “Innere Führung” – traduzido livremente como “conduta moral” – desenvolvido como premissa do rearmamento da então Alemanha Ocidental nos anos 50 e da educação de todos seus líderes militares. Esse princípio estabelece que o militar é tão somente um “cidadão em uniforme”, e que deve se orientar por valores éticos e morais pertinentes a um estado democrático e de direito, e não pela obediência cega a ordens superiores (que não deixa de ser elemento essencial no funcionamento operacional de forças armadas).
Admite-se nesses círculos que o “desfile” foi uma desmoralização para as Forças Armadas e que Bolsonaro é “inassessorável” – eufemismo para “incontrolável”. Na cabeça desses oficiais superiores uma ordem tresloucada dele deixou de ser uma possibilidade e passou a ser uma probabilidade. Com tendência crescente à medida que o isolamento político e as consequentes derrotas do presidente se acumulam e a crença mística que Bolsonaro possui de si mesmo o faz pensar que está ganhando força quando o que ocorre no mundo real da política é o contrário.
No melhor dos cenários sobre os quais se conversa amplamente nos círculos de militares superiores da ativa Bolsonaro desiste das eleições e, consequentemente, a candidatura Lula se desidrata, mas essa possibilidade é tida como utópica. Na pior simulação, segundo um participante desse debate, ele vai desrespeitar alguma ordem do STF, convocará seus seguidores para algum tipo de “resistência” nas ruas, haverá conflitos, correrá sangue e então as Forças Armadas serão chamadas para algum tipo da detestada (pelos militares) operação de Garantia da Lei e da Ordem.
Nessas mesmas conversas é reiterado que qualquer tipo de afastamento de Bolsonaro da Presidência teria de ser exclusivamente pelas vias legais – ou seja, assim como se refuta a possibilidade de golpe, recusa-se a ideia de um “ultimato” de oficiais superiores descontentes (e o número é crescente) ao presidente e seu comportamento desequilibrado. Ocorre que as vias legais parecem hoje pouco factíveis, como a do impeachment. Ou de longa duração e legitimidade contestável do ponto de vista político, que é o caminho da inelegibilidade via TSE.
Resta enfrentar a desmoralização das instituições incessantemente perseguida por Bolsonaro num ambiente político polarizado, deteriorado e próximo do que os militares chamam de “bomba social”, que é o desemprego, a miséria e a inflação intoleráveis para os mais pobres. Sem que se identifique neste governo qualquer projeto ou plano de ação para realmente fazer o País crescer além de dar dinheiro para ganhar eleições, fuzila um importante oficial superior.
Os raciocínios de militares de altas patentes espelham milimetricamente o que passaram a manifestar figuras expressivas de segmentos do mundo empresarial e financeiro, para os quais Bolsonaro não é apenas ruim para os negócios. Tornou-se a expressão de olhos revirados e vociferante do Brasil tosco, bruto, retrógrado – um motivo de constrangimento e vergonha internacional, e um acinte aos princípios e valores de uma sociedade aberta e próspera. E que se empenha em bloquear, em vez de facilitar, qualquer caminho de conciliação política, debate racional e empenho em tratar dos temas realmente relevantes.
Porém, da mesma maneira que as divididas elites econômicas e políticas, também as elites militares estão divididas e sem um claro curso de ação. Sofrem, como as outras, de falta de lideranças.
*JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN
ESTADÃO/montedo.com

27 respostas

  1. Nāo faço parte da elite militar. Mas, sou eleitor. E digo:
    – Nenhum militar. Da ativa ou da reserva. Oficial (principalmente) ou Praça. Nunca mais terāo meu voto.

    1. Até o momento não sei de quem partiu a ordem para o desfile militar”entrega de convite” em Brasília e quem autorizou.

      Futuramente o congresso nacional podem aprovar uma lei ou PEC, impedindo qualquer desfile militar, manobra, passagem, estacionamento ou qualquer atividade militar das forças Armadas em Brasília, sem a devida autorização dos demais poderes.

      1. E para efeito de paridade deveriam proibir parada gay, carnaval e manifestações LGBTx. Nada mais coerente. E na hora das enchentes, chamem os traficantes para ajudar os resgates.

      2. Ninguém pode impedir instrução das Forças Armadas, faz parte do seu preparo. Não adianta querer bater de frente com Elas, as Forças Armadas. Está na essência e natureza das Forças Armadas. É muito perigoso querer desacreditá-las. Temos um exemplo do período do Governo Militar. É como uma corda esticada em demasia, que ouvimos muitas vezes. É também como apertar uma polca demasiadamente, ela poderá se romper.

    2. O Bolsonaro é inteligente. Ele teve 7 mandatos como Deputado Federal, ele dá corda para que haja manifestação da Esquerda, para que a opinião popular cada vez mais aumente a seu favor. É isso que está acontecendo. Quando a Esquerda quiser abrir os olhos já perdeu a popularidade, e aí vai dar só Bolsonaro na opinião pública brasileira como o principal líder do povo brasileiro.

    3. Estou preocupado, tive uma revelação em sonho, sou Pastor da AD, em que via milhares de militares nas ruas, e militares chineses também, e que um dizia para o outro apressar porque era urgente, que agissem.

  2. Não entendi direito. O comandante da Marinha resolve fazer um teatro com seus carros de combate para entregar um convite ao Presidente e a culpa é do Bolsonaro? Essa coisa de colocar a culpa no Bolsonaro pra qualquer coisa que aconteça já passou qualquer limite aceitável. Não voto, não tenho preferência por nenhum lado dessa corja, mas desde cedo aprendi que quando a gente quer respeito, temos que respeitar! Quem empurra toda e qualquer culpa no Presidente há de um dia receber a culpa de tudo o que não fez e aí vai entender o que quero dizer!

    1. Deixa de ser semi analfabeto, tu acha que um comandantezinho tem peito e autonomia para fazer algo sem consentimento do Presidente ? Já teve entrega de “convite” em governos anteriores ? Para um cmt de força pensar em fazer algo ele provavelmente deve consultar os outros 2 colegas, o MD e quem sabe até o Presidente… Se houve essa palhaçada foi com certeza autorizado pelo mesmo… Resumindo, o único inocente aqui é vc companheiro.

  3. É engraçado, tem horas q o “militar é o cidadão fardado”, é o PB q tem q formatar medidas econômicas, como c o congresso estive aí como ombro amigo, e outras cositas mas, Back nos poupe.

  4. Queria saber para qual público esse repórter escreve. Definitivamente perdeu a vergonha na cara. Todos os sites de economia revelam balanços das empresas com lucros, em plena guerra biológica mundial; crescimento da economia e aumento gradual do emprego e consumo, o que gera inflação devido à nossa industria sucateada com pouca produtividade. Só lembrando, até o final do governo Temer a participação do setor industrial no Brasil sobre o PIB regrediu à década de 1940.

  5. Acontece que para haver um limite na obediência do Exército é preciso que ele se manifeste politicamente para em algum momento dizer não as autoridades políticas constituídas, caso elas ultrapassem o limite em que a obediência é exigida.

    E aí, como fica o Exército Apolítico, então?

    Esquece essa bobagem de Exército Apolítico homem.

    Isso é tão somente parte da ideologia liberal do Consenso de Washington disseminado por grupos globalistas através de Fundações, Institutos, think tanks internacionais para minar a soberania dos estados nacionais tornando-os servos destas oligarquias financeiras.

    E outra, será que é difícil entender que a DEMOCRACIA NÃO É UM BEM EM SI MESMA? Pode ser um bem se está destinada a atender ao bem comum e se livre de seus erros de princípio como, por exemplo, a vontade da maioria determina o bem e a verdade.

    Veja o que previu Platão a mais de 2300 anos atrás sobre a democracia na República, livro VIII:

    “Tais discursos [democráticos] são os que prevalecem no combate [de idéias]: ao pudor eles chamam ‘idiotice’, lançando-o fora e convertendo-o em desonroso fugitivo [da Pólis]; ao autocontrole [dos apetites sensitivos, ao qual os cristãos chamarão castidade] chamam ‘falta de virilidade’, injuriando-o e desterrando-o. (…). Reintroduzem a desmesura, a anarquia, a prodigalidade e o despudor (…); elogiam-nos e chamam, eufemisticamente, de ‘cultura’ a toda sorte de desmesuras; de ‘liberalidade’ à anarquia; de ‘grandeza de espírito’ à prodigalidade; e de ‘virilidade’ à impudicícia”.

    “Num Estado democrático ouvirás, seguramente, que a liberdade é tida como a mais bela das coisas, e que, para quem é livre por natureza, este é o único Estado digno sob o qual se deva viver. (…) No entanto, o desejo insaciável de liberdade e o descuido das coisas mais importantes [típicos das sociedades democráticas] altera esse regime político e o predispõe à tirania.”

    Não é este o nosso quadro atual? Sai dessa bolha e deixa de ruminar ideologias empurradas como gado.

    1. Montedo só está publicando matérias atinentes aos militares

      Gostaria de você de criar e fantasiar matérias?
      Escreva você CAP QAO Armamentista, que não existe fome no país e que as FFAA de nosso país são as melhores do mundo, com melhor armamento e disposição de combate.

      É cada uma que aparece por aqui…

  6. É interessante a imagem do comandante da marinha, uniforme camuflado, óculos escuros, ao lado do tonto. Lacaio escolhido a dedo.

    Isso me leva a crer que não é preocupante o limite da obediência, mas o limite da subserviência.

  7. Vem sempre aqui uns QE, QAO e Sub velhos chamar a matéria de lixo.

    Bom para eles, é qualquer textão burro e negacionista da bozosfera.

    Vão evoluir, bando de minion viuvinhas de ditadura!

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