Ministro da Defesa faz ameaça e condiciona eleições de 2022 ao voto impresso

Ministro BraganNetto

General Braga Netto usa interlocutor político para duro recado: sem ‘voto auditável’, disposição das Forças é que pleito não seja realizado

Andreza Matais e Vera Rosa, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – No último dia 8, uma quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, por meio de um importante interlocutor político. O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável. Ao dar o aviso, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
O presidente Jair Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça de Braga Netto no mesmo 8 de julho. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, naquela data, na entrada do Palácio da Alvorada.
A portas fechadas, Lira disse a um seleto grupo que via aquele momento com muita preocupação porque a situação era “gravíssima”. Diante da possibilidade de o Congresso rejeitar a proposta de emenda à Constituição que prevê o voto impresso – ainda hoje em tramitação numa Comissão Especial da Câmara –, Bolsonaro subia cada vez mais o tom.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, no dia 6 de maio, o presidente já dizia, sem apresentar provas, que o atual sistema de urna eletrônica permite fraude. “Vai ter voto impresso em 2022 e ponto final. Não vou nem falar mais nada. (…) Se não tiver voto impresso, sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”, afirmou Bolsonaro. O que não se sabia, àquela altura, é que o presidente contava com o apoio da cúpula militar para suas investidas autoritárias.
Lira considerou o recado dado por Braga Netto como uma ameaça de golpe e procurou Bolsonaro. Teve uma longa conversa com ele, no Palácio da Alvorada. De acordo com relatos obtidos pelo Estadão, o presidente da Câmara disse ao chefe do Executivo que não contasse com ele para qualquer ato de ruptura institucional. Líder do Centrão, bloco que dá sustentação ao governo no Congresso, Lira assegurou que iria com Bolsonaro até o fim, com ou sem crise política, mesmo se fosse para perder a eleição, mas não admitiria golpe.
Bolsonaro respondeu que nunca havia defendido um golpe. Afirmou, ainda, que respeitava “as quatro linhas da Constituição”, como sempre costuma dizer em público. Lira rebateu, observou que o emissário havia sido muito claro ao dar o alerta e avisou o presidente de que a Câmara não embarcaria em nada que significasse rompimento com a democracia.

Sigilo
O recado dos militares e a reação de Lira são de conhecimento de um restrito grupo da política e do Judiciário com quem o Estadão conversou nas últimas duas semanas. Pela delicadeza do tema, todos pediram para manter os relatos sob sigilo. Desde segunda-feira o Estadão vem procurando o Ministério da Defesa, mas não obteve respostas para os questionamentos.
“A conversa que eu soube é que o ministro da Defesa disse a um dirigente de partido: ‘A quem interessar, diga que, se não tiver eleição auditável, não terá eleição’. Teve um momento de muita tensão. Não foi brincadeira, não”, descreveu um dos envolvidos no assunto, sob a condição de anonimato.
Um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a par dos diálogos avaliou que o comando militar procurou repetir agora o episódio protagonizado pelo então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que, em post com 239 caracteres publicado no Twitter no dia 3 de abril de 2018, tentou constranger a Corte para que não fosse concedido um habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia do julgamento que poderia pôr o petista em liberdade, Villas Bôas escreveu nas redes sociais que o Exército brasileiro julgava compartilhar “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade” e se mantinha “atento às suas missões institucionais”. O Supremo manteve Lula preso. De volta à arena política, o petista é hoje o principal adversário de Bolsonaro para as eleições de 2022.
“Os militares estão tentando fazer uma ameaça, mas, no fundo, ninguém está com medo deles. O Arthur (Lira) passou um recado duro. Disse que é parceiro até para perder eleição, mas não para aventura, para ruptura”, confidenciou um magistrado. Para ministros do Supremo, a ameaça de golpe não passa de um blefe para tentar evitar a investigação de militares pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Comissão
Na prática, a escalada da crise política que culminou com a ameaça dos militares foi motivada por um episódio. Na última semana de junho, os ministros do Supremo Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes haviam se reunido com dirigentes de 11 partidos. As conversas reverteram a tendência de aprovação do voto impresso na Câmara.
Os encontros ocorreram após o Estadão publicar uma enquete mostrando que, ao contrário do que se imaginava, a proposta do voto impresso seria aprovada pela Comissão Especial que analisa o tema. A influência dos ministros nessa reviravolta partidária fez Bolsonaro partir para o ataque contra Barroso, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chamado por ele de “imbecil” e “idiota”.
Além disso, ao mesmo tempo em que o principal projeto de Bolsonaro para obter o segundo mandato era desmontado, a CPI da Covid enveredou por um caminho que apura o possível envolvimento de um núcleo fardado em esquemas de corrupção nas negociações para compra de vacinas pelo Ministério da Saúde. O movimento de apontar o dedo para os militares foi reforçado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), para quem as Forças Armadas têm um “lado podre”.
A resposta veio no dia 7 de julho, 24 horas antes da ameaça feita por Braga Netto. “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano”, dizia nota assinada pelo ministro e pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em repúdio a Aziz. Foi também naquele dia que Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde e ex-sargento da Aeronáutica, foi preso pela CPI. Os senadores agora querem convocar Braga Netto, após o recesso parlamentar, para explicar a nota à comissão.
Não foi à toa que Lira fez uma série de posts nas redes sociais em defesa da democracia. Sabe-se agora que foi sua forma de registrar o que havia afirmado para Bolsonaro. Foi também nesse contexto que o tema semipresidencialismo entrou de vez na agenda da Câmara. Lira conversou com o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) e pediu que ele acelerasse a coleta de assinaturas para a emenda que pode instituir o novo sistema de governo no País. Para tramitar, a proposta precisa de 171 assinaturas. Adotado em países como França e Portugal, o modelo tira poderes do presidente.

Afinidade
Braga Netto assumiu a Defesa após Bolsonaro demitir o ministro Fernando Azevedo e Silva, e toda a cúpula militar, na esteira da tentativa de politização das Forças Armadas. À saída, Azevedo disse em nota que as Forças não compartilhavam com atitudes inconstitucionais.
Foi a afinidade entre Bolsonaro e Braga Netto que levou o general para a Defesa. Antes, ele comandava a Casa Civil. Seu sucessor e padrinho de indicação, general Luiz Eduardo Ramos – hoje de saída da pasta – tem defendido publicamente o voto auditável para dar “mais transparência à eleição e fortalecer a democracia”.
O comandante da Aeronáutica também. No último dia 7, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior curtiu um post no qual um internauta pedia intervenção das Forças Armadas para aprovar esse sistema. “Comandante, obrigado pelo canal de comunicação. Precisamos do voto impresso auditável. Vocês precisam impor o voto auditável”, dizia a mensagem.
ESTADÃO/montedo.com

16 respostas

  1. Poderiam fazer um plebiscito e ver o que o povo quer… Isso, sem usar a urna eletrônica, já que ela é o centro desta discussão.

  2. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”.

    Essa declaração diz indiretamente que todos que são a favor da urna eletrônica sem o voto impresso são “bandidos”.

    Eu particularmente sou contra o voto obrigatório, principalmente não vejo nenhum político que seja tão importante para que eu vá até o local de votação para votar nele.

    De qualquer maneira a urna eletrônica é a melhor situação atual, não podemos esquecer que não existe votação popular para ministro ou vice-presidente, portanto eles não representam a vontade do povo, apenas os interesses do presidente.

    1. Retira do dite; tá ficando feio pra esse blog replicando FOFOCAS E FAKE NEWS.

      O Min da Defesa já se pronunciou s respeito. Mas o Montedo parece preferir com a fake nres no ar so pra fazer o jogo da esquerdas

  3. E aí montedo vai ficar contra o O ministro da Defesa Também. Vai partilhar a ideia dos paladinos da democracia eletrônica. Muito me orgulha ter um Min da Defesa a altura do Brasil.

    Parabéns Ministro, chega de dar tré gua a essa trupe.

  4. – Pra eleger Jair e filhos um monte de vezes a urna eletronica serviu ?

    – Teve fraude ? Quando ? Como ? Onde? Quem foi ?

    – Caso positivo, PF, ABIN, MP, parlamentares e etc, todos são omissos ?

    Se alguém puder, me ajude, mas sem resposta genérica como: “esquerda, venezuela, narrativa, o povo …”

  5. Isto é o que se pode chamar de uma tempestade num copo d’água ou de uma birra de menino jogando bola de gude.
    Desconheço problema de mais fácil solução.
    Em agosto teremos eleições de dezenas de municípios.
    Por que não testar a urna eletrônica com voto impresso nessas eleições?
    Sei que nas eleições de 2022 o número de urnas será infinitamente maior. Mas nada impede que a Justiça Eleitoral convoque todos os desembargadores, juízes e promotores a atuarem como fiscais na contagem dos votos impressos e no cotejamento do resultado apresentado pela urna eletrônica. E só divulgar o resultado após a total aferição de todos os votos. Isto não demandará mais do que 24 horas após o encerramento da votação. Basta que para cada urna seja previamente formada uma equipe de apuração com membros indicados pelos partidos políticos e sob supervisão de um juiz que no local da apuração dos votos impressos estará presente em tempo integral e contando com a garantia das forças de segurança.
    Não é que cada urna tenha a presença de um membro da justiça. Mas em cada local de apuração exista em tempo integral pelo menos um representante da justiça.
    Toda urna começará a contagem dos votos impressos, com fiscalização dos fiscais dos partidos, logo após o encerramento da votação.
    O teste pode ser feito agora em agosto.

  6. UMA REFLEXÃO DESTINADA AOS MILITARES E A SOCIEDADE EM GERAL.
    Considerando-se os regulamentos, normas e especificidades constitucionais que regem os limites, as ações e o comportamento social e político dos militares das Forças Armadas, faz-se necessário uma reflexão clara e objetiva sobre a questão, senão vejamos: Com o advento das mídias sociais, Internet e outros meios de comunicação, decididamente o mundo mudou e nesse contexto, era de se esperar que os integrantes das Forças Armadas não ficassem alheios aos efeitos dessa grande e significativa mudança. Tal fato fez com que grande parte da categoria mudasse suas visões de mundo, de Brasil e da importância da Instituição Força Armada, relativamente aos acontecimentos político-institucionais e seus reflexos, especialmente nestes últimos 20 anos. O que não pode ser ignorado, é que a formação militar, caracteriza-se por um forte sentimento patriótico, por um elevado padrão de observância aos mais nobres valores cívicos, éticos e morais inerentes ao comportamento de uma sociedade justa, fraterna e responsável. Considerando-se tudo que até aqui é exposto, fica até fácil entender o porque desse novo comportamento e engajamento político dos militares. Será que alguém em sã consciência, mesmo não sendo militar, ignora o caos institucional instalado no país, as intenções político-ideológicas dos últimos governos, o cinismo da classe política, a corrução generalizada, as estranhas e inaceitáveis decisões de alguns ministros do STF e o tendencioso comportamento de grande parte do Congresso Nacional? Por outro lado, há que se levar em conta que, dentro de uma farda existe um cidadão brasileiro com deveres e direitos inerentes a todo cidadão comum que trabalha, paga impostos, vota nos seus representantes e está sujeito às Leis em vigor. Diante destas claras e insofismáveis evidências, E VERDADES, que aqui narradas, fica a certeza de que: SOLDADO TAMBÉM É POVO !!!

  7. Meu irmão já trabalhou diversas vezes em eleições (servidor civil). Ele acha improvável fraudes, pois a urna não é ligada em rede, ela é off-line. Há um relatório que os mesários geram garantindo que a urna está zerada, há impresso outro após o fim das votações, que são (o impresso) confrontados com o conteúdo do disquete na apuração, que inclui observadores de todos os partidos. Jamais alguém conseguiu provar fraudes, que eu acho muito mais provável no voto impresso. E outra, fraude para favorecer quem? O PT? em São Paulo o PSDB governa há décadas. Para favorecer o PSDB? que dificilmente ganha no Nordeste? Pelo amor, se houvesse fraudes já tinham descoberto faz tempo. E outra, se comprovasse que houve fraude na ultima eleição, o correto era ela ser cancelada então, e ter outra.

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