Com Bolsonaro, Exército domina cúpula da Defesa e gera desequilíbrio inédito entre Forças

Forças-Armadas

Atual composição privilegia Força Terrestre e quebra tradição no topo da estrutura tríplice da pasta; militares com patentes de almirante ou brigadeiro ficaram de fora

Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – O governo Jair Bolsonaro alterou a composição do Ministério da Defesa, dando mais protagonismo ao Exército na cúpula do órgão, em detrimento da Marinha e da Aeronáutica. Pela primeira vez na história há um desequilíbrio no topo da estrutura tríplice da pasta, que na semana passada completou 22 anos. Nos principais cargos não há mais nenhum almirante ou brigadeiro.
Em jogo está a influência sobre o destino de verbas para o setor militar, que neste ano somaram R$ 103 bilhões, conforme dados atuais do Painel do Orçamento Federal. Com a atual composição, oficiais do Exército passaram a exercer o poder de influenciar também revisões no andamento dos projetos estratégicos das três Forças. Criada em 1999 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, numa fusão dos antigos ministérios do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, a Defesa ficou, a princípio, sob a chefia de um ministro civil. Um acordo tácito entre militares e autoridades do governo garantiu o poder não-militar na área e evitou o predomínio de uma força sobre as demais.
Essa tradição começou a ser quebrada há três anos, quando o presidente Michel Temer nomeou o general Joaquim Silva e Luna ao posto de ministro, e agora, no mandato de Bolsonaro, com a decisão de retirar representantes das forças Naval e Aérea dos postos de destaque do segundo escalão.
O atual titular da Defesa, Walter Braga Netto, ele próprio general de Exército da reserva, decidiu que os ocupantes dos dois principais cargos subordinados a ele agora vestem a farda verde-oliva. Atualmente, o secretário-geral, segundo posto na hierarquia, é o general de Brigada da reserva Sérgio José Pereira, homem de confiança do ministro. Pereira substituiu em abril o almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, nomeado por Bolsonaro como comandante-geral da Marinha. Já o posto de chefe do Estado-Maior Conjunto, outro cargo de destaque, é ocupado pelo general de Exército Laerte de Souza Santos. Ele substituiu em maio o tenente-brigadeiro do Ar Raul Botelho, da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB).
As Forças faziam um revezamento nos cargos de segundo escalão – uma tradição que ainda vale para outros postos, como a chefia da Escola Superior de Guerra (ESG), atualmente a cargo da Aeronáutica. Nos bastidores da pasta, a decisão de Braga Netto provocou insatisfações entre oficiais superiores da Marinha e da Aeronáutica. As duas Forças têm apenas integrantes em cargos de terceiro escalão e assessorias ao ministro.

‘Desconforto’
Braga Netto quebrou o equilíbrio fino entre as três Forças Armadas no ministério ao assumir o cargo em 31 de março. Ele entrou como homem de confiança do presidente para intervir na crise política que resultou na inédita demissão de toda a antiga cúpula militar. O pivô da insatisfação de Bolsonaro teria sido justamente o antigo Comando do Exército, sua força de origem, de quem cobrava demonstrações de apoio.
“Nunca aconteceu isso antes. É evidente que gera desconforto na correta relação de equilíbrio entre as Forças”, afirma o ex-ministro da Defesa e ex-deputado Aldo Rebelo. “A preocupação sempre existiu para evitar que uma Força prevalecesse sobre as outras nas demandas por recursos para custeio e para projetos estratégicos.”
A Defesa passou por algumas alterações para impor o controle civil sobre militares e moderar disputas, ao longo da história recente. Entre elas, a criação no governo Luiz Inácio Lula da Silva do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, em 2010, quando se instituiu também documentos como a Política de Defesa Nacional, a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional.

Estrutura
A pasta possui, desde 2013, três cargos-chave: ministro de Estado, secretário-geral e chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Essas são as posições de maior prestígio e poder político na direção da Defesa. O último a ser criado foi o de secretário-geral, no governo Dilma Rousseff, como tentativa de dar maior representação civil ao ministério e balancear a influência militar do chefe do Estado-Maior Conjunto, sempre um oficial-general no topo de carreira, da ativa ou da reserva.
A Secretaria-Geral da Defesa centraliza a discussão sobre os recursos e coordena as demais secretarias da pasta: de Orçamento e Organização Institucional, de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto; de Produtos de Defesa; Programa Calha Norte; Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia. Já o Estado-Maior Conjunto coordena as chefias de Assuntos Estratégicos; de Operações Conjuntas; e de Logística e Mobilizações.
Se comparada a funções de outros ministérios, o secretário-geral é uma espécie de secretário executivo, o segundo na linha de importância. A única diferença é que, na ausência do ministro da Defesa, por lei o cargo de ministro deve ser exercido por um dos três comandantes das Forças Armadas.
Até a gestão do ex-ministro Fernando Azevedo e Silva, general de Exército da reserva, nunca uma só Força dominou todos os três cargos como agora.
Desde o fim do governo Temer, revezavam-se nesses cargos um almirante e um brigadeiro, dando representatividade às Forças Naval e Aérea, já que a cabeça do ministério havia sido devolvida a um militar após 19 anos.

Queixas
Ao Estadão, um almirante da ativa familiarizado com os bastidores da Defesa disse, sob anonimato para não violar o Estatuto Militar, que a falta de representação é sim motivo de queixas e foi a principal mudança promovida por Braga Netto. Ele argumenta que o domínio do Exército não é saudável e rompeu com uma tradição de revezamento nos cargos e com a busca por paridade.
No fim do governo Temer, quando o ministro era o atual presidente da Petrobrás, general de Exército da reserva Joaquim Silva e Luna, os cargos também eram repartidos: o chefe do Estado-Maior era o almirante de Esquadra Ademir Sobrinho, enquanto o secretário-geral era o tenente brigadeiro do Ar Carlos Augusto Amaral Oliveira.
Último ministro civil, Raul Jungmann manteve como secretário-geral o próprio Silva e Luna, e Sobrinho como Estado-Maior Conjunto. Antes dele, os ex-ministros do governo Dilma Rousseff Aldo Rebelo e Jaques Wagner só alteraram o secretário-geral. O general de Exército José Carlos de Nardi permaneceu durante todo o período como chefe do Estado-Maior Conjunto.
Em 2015, Aldo Rebelo nomeou Silva e Luna seu secretário-geral, em substituição à última civil a passar pelo cargo, a enfermeira Eva Maria Dal Chiavon, assessora de Jaques Wagner no Senado. Antes dela, o cargo foi exercido pelo advogado Ari Matos Cardoso, quando de sua criação pelo ex-ministro Celso Amorim, em 2013.
Procurado, o ministro da Defesa não havia se manifestado até a conclusão desta edição.

Para lembrar
Em março, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foram demitidos em conjunto, em uma situação inédita na história do País, o que gerou uma crise na relação entre Forças Armadas e o Planalto. A reunião que selou a mudança na cúpula militar foi comandada pelo general Braga Netto, que havia assumido o posto de ministro da Defesa no lugar do também general da reserva Fernando Azevedo e Silva.
A ordem para todas essas mudanças partiu do presidente Jair Bolsonaro, que dispensou Azevedo e Silva sob o argumento de que precisava da tropa alinhada com o governo. Foram nomeados como novos comandantes das Forças Armadas o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Exército), o almirante Almir Garnier (Marinha) e brigadeiro Carlos de Almeida Batista Jr. (Aeronáutica).
Ao escolher os novos comandantes, Bolsonaro não respeitou o critério da antiguidade no Exército e na Marinha, mas o princípio foi obedecido na Aeronáutica. Em uma tentativa de apaziguar os ânimos, o presidente apostou em uma solução intermediária e avalizou a seleção de nomes apresentada por Braga Netto.
ESTADÃO/montedo.com

19 respostas

  1. Tudo passará, é apenas uma questão de tempo. Tudo o que está acontecendo ficará somente na lembrança, nada segura o tempo. Porém as ações e omissões, estas sim, estão sendo minuciosamente investigadas e o futuro cobrará dos incautos um preço a altura das consequências dos seus atos. O que estão semeando, fatalmente irão ceifar.

    1. Olha o padrão do segundo escalão das esquerdas “a enfermeira Eva Maria Dal Chiavon”. Dá para levar a serio um governo desse nivel.

  2. Resumindo: As Forças “auxiliares” do poderoso Exército Brasileiro que são atualmente a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira , além das Polícias Militares ( estas últimas com inúmeros representantes no Congresso e Senado ) estão a serviço de forma incondicional a defender os interesses primordiais do nosso querido Exercito Brasileiro ! Novos tempos…quem diria!?!? MB e FAB subordinados ao EB!

  3. Natural, o EB tem maior efetivo que a Marinha e a FAB juntos.

    O nome disso é proporção MONTEDO. Essa disciplina nós temos lá na escolinha da titia Teteca.

    Caso alguém não lembre do que significa proporção, só pegar o livro do filho, DESDE QUE O FILHO TENHA MENOS DE 10 ANOS DE IDADE.

    ACOOOOOOORDA MONTEDO, O SR. ESTÁ SENDO LOBOTOMIZADO. NOSSO INIMIGO É OUTRO.

  4. Isso tudo de nada interessa se a mais de 30 anos desde 1990 não tem generais e nem almirantes para acartar o salário da tropa que recebe bem abaixo de algumas PM, é soldado ganhando mais que sargento e por ai vai com muita evasão, se nunca resolveram a questão salarial que antes de 90 era boa tudo o mais que fazem ou fizerem não importa, só o Bolso cumprir as promessas de campanha acabando com a MP do mau e voltar o status de antes de 1990.

  5. Os pilares das FFAA já foram abalados desde o início do governo Bostonaro… A Marinha do Brasil que teoricamente seria a Força mais antiga… Foi esquecida pelo governo… Na verdade são os incompetentes generais do EB… que hoje infelizmente dirigem os destinos desse país… Por isso… Nunca estivemos tão mal… Quando pensávamos que o PT era o fundo do poço… Vem Bolsonaro e seus generais nos mostrar que tudo pode ser muito pior… Só nos resta fazer arminha até 2022… quem sabe não caiu o preço dos combustíveis… da carne…do gás… etc…

  6. Excelente notícia!
    Quem sabe agora os praças da FAB e MB conseguem isonomia com a carreira do EB, pois se depender dos brigadeiros e almirante nós estamos ferrados!!!
    Os praças do EB até podem reclamar, mas estão anos luz melhores que seus demais pares!!!

  7. Pode ser o mais forte .mas pela amostragem de alguns dos que estão no governo ,está faltando qualidade e como a tropa é reflexo de seus comandantes acho que tenhamos que fazer novas escolhas .

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