Sob Bolsonaro, militares vão de moderadores a controlados por presidente

A fritura de Ramos, no episódio com Ricardo Salles, fez surgir o receio na caserna de que Bolsonaro tente aparelhar politicamente a tropa Isac Nóbrega / PR

Depois da demissão do general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa, ingerência de mandatário sobre Forças Armadas ficou mais evidente

Daniel Carvalho
Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA – Se no início do governo Jair Bolsonaro os militares espalhados pelo primeiro escalão serviam como um anteparo para conter o radicalismo gestado no gabinete do ódio e nos braços ideológicos da gestão federal, a situação mudou dois anos depois.
Há quem perdeu a força ou até mesmo o cargo, enquanto outros militares se aproximaram do bolsonarismo e do jogo político conduzido pelo presidente. Tanto que alguns ganharam de colegas de farda um apelido: “generais do centrão”.
O movimento permitiu que as Forças Armadas passassem a sofrer uma interferência política cada vez maior —evidenciando que quem manda é Bolsonaro— a despeito da hierarquia e das regras tão caras aos militares.
O principal sinal de enfraquecimento militar até então havia sido, no fim de março, a demissão do general Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. A troca na pasta resultou na saída dos comandantes das três Forças, coroando a maior crise militar desde 1977.
Nos últimos dias, porém, a ingerência de Bolsonaro sobre os militares foi além.
Na quinta-feira (3), o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, aceitou a pressão do mandatário ao decidir livrar o general da ativa Eduardo Pazuello de qualquer punição por ter participado de um ato político ao lado do presidente.
Além disso, Pazuello ainda ganhou o cargo de secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Presidência da República. Ao levá-lo para um posto no Planalto, Bolsonaro deixou ainda mais claro que não aceitaria castigo para o ex-ministro.
Diante do desfecho produzido pelo presidente, muitos integrantes da cúpula das Forças Armadas que defendiam uma punição para Pazuello protagonizaram um contorcionismo retórico para não se opor à decisão forçada por Bolsonaro —ou evitaram se manifestar em condição de anonimato, ao contrário do que fizeram nos últimos dias.
Defensor da punição, o vice-presidente Hamilton Mourão foi passar o feriado no Rio de Janeiro e, questionado pela Folha, não comentou o caso.
O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido cargo de ministro da Secretaria de Governo em junho de 2019, disse em uma rede social que não estava falando com jornalistas por vergonha.
“É uma desmoralização para todos nós. Houve um ataque frontal à disciplina e à hierarquia, princípios fundamentais à profissão militar. Mais um movimento coerente com a conduta do presidente da República e com seu projeto pessoal de poder. A cada dia ele avança mais um passo na erosão das instituições”, afirmou.
Entre congressistas, o ato do comandante do Exército foi visto como mais uma mancha na imagem da instituição e elevou o temor de que ele abra as portas para possibilidade de anarquia nos quartéis.
O cenário atual em que os militares deixaram de ser uma força moderadora e passaram a ser controlados por Bolsonaro, que já usou diversas vezes a expressão “meu Exército”, contrasta com episódios registrados no início do governo ou mesmo na campanha.
​​Quando Bolsonaro ainda era candidato, no Rio de Janeiro, o general da reserva Augusto Heleno (atual ministro da Segurança Institucional) já era conhecido como uma das mentes por trás da campanha.
Na transição em Brasília, o militar também tinha papel de destaque, quando atuava para conter os influenciadores ideológicos mais radicais do presidente, como o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
O papel também era atribuído a outros fardados que se juntaram a Bolsonaro no governo, como Santos Cruz, Azevedo e Hamilton Mourão.
Depois, ingressaram no grupo os generais Luiz Eduardo Ramos, que foi para a reserva somente quando já era ministro da Secretaria de Governo —hoje ele está na Casa Civil— e Walter Braga Netto, que migrou da Casa Civil para a Defesa quando da demissão de Azevedo.
O núcleo militar do governo, como os fardados eram conhecidos, vivia em constante cabo de guerra com o grupo apelidado de ala ideológica, formada por seguidores do escritor Olavo de Carvalho.
Em alguns episódios, os militares fizeram valer sua vontade.
Ainda em fevereiro de 2019, em meio ao aumento de tensão entre com o ditador Nicolás Maduro, os conselheiros militares conseguiram convencer Bolsonaro a escalar Mourão como chefe de uma delegação que participou de uma conferência sobre a crise venezuelana em Bogotá.
À época, Maduro havia recém-fechado a fronteira da Venezuela com o Brasil, em retaliação à autorização dada pelo governo brasileiro para que opositores venezuelanos usassem Roraima como base para envio de ajuda humanitária. A escalação de Mourão foi vista como uma tentativa de reduzir as tensões.
Em outra vitória do grupo militar, ainda no início da gestão Bolsonaro, o então ministro Santos Cruz, da Secretaria de Governo, conseguiu articular a demissão de dois aliados do chanceler Ernesto Araújo da diretoria da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
A agência vinha passando por uma série de crises desde o início do governo.
O êxito de Santos Cruz, no entanto, foi breve. Cerca de um mês depois, ele foi demitido por Bolsonaro da pasta que ocupava, após atritos com o vereador filho do presidente.
Mourão, por sua vez, foi acionado em outra ocasião para tentar servir como força moderadora e pragmática frente à agenda bolsonarista.
Diante do aumento da pressão internacional contra a agenda ambiental do governo, Bolsonaro indicou seu vice para coordenar o Conselho da Amazônia. Mourão comanda uma estrutura cada vez mais esvaziada, e Bolsonaro tem respaldado o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) em conflitos recentes com o vice.
Nas demais questões, Mourão nem sequer é consultado e já sabe que não integrará a chapa de Bolsonaro pela reeleição. Ambientado na política, pretende disputar uma cadeira no Senado pelo Rio Grande do Sul em 2022.
Outros generais do primeiro escalão, por sua vez, se aproximaram do ambiente político.
Com bem menos influência, Heleno chegou a dizer que mudou a opinião que tinha sobre o centrão. O grupo era rejeitado por Bolsonaro na campanha e hoje dá sustentação ao governo no Congresso.
Ramos aumentou sua proximidade com a política no período em que esteve à frente da Secretaria de Governo. Muito próximo a Bolsonaro, promoveu rearranjos e hoje é uma das principais vozes que defendem as ingerências de Bolsonaro nos assuntos militares.
Em fevereiro do ano passado, garantiu a saída de Onyx Lorenzoni da Casa Civil e trouxe para a posição seu amigo Braga Netto. Em março, coordenou a dança das cadeiras que trocou os titulares de seis pastas.
Já Braga Netto, ao assumir a Defesa, deixou de lado o perfil discreto que tinha e passou a discursar a militantes do presidente e a acompanhar o mandatário em passeios de moto em agendas extraoficiais.​
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

10 respostas

  1. Peguei nojo, asco e náuseas dessa gente que nem consigo emitir qualquer comentário.
    …”generais MARAJÁS do governo (66 mil reais)”…
    Austeridade zero, muita subserviência e cara de pau.
    Perderam a linha, pudor e vergonha por salários ‘tríplex’.
    Enquanto isso…ficam os Nutellas da nova geração fazendo ‘arminha’ e berrando ‘mito’.
    – Heleno, e seu mísero salário de R$ 66.000,00.
    – general ‘gordinho do bem’, R$ 16.000,00.
    – Soldo de 3º Sargento, R$ 3.825,00.
    – Soldo de 2º Sargento, R$ 4.770,00.
    “Enquanto isso… a PEC reforma administrativa está tomando forma”…
    “E noizés indiú prus INSS”.
    – O 3º Sgt aguardará dez anos pra receber menos de mil reais de aumento do soldo.
    19 anos ganhando praticamente o mesmo salário.
    – 21 anos de Serviço pra sair 1º Sargento.
    – Pagando a conta da reestruturação remuneratória ‘deles’.

    Enquanto ele terá apenas uma promoção em 10 anos.
    Militares de akadimia, três (2° tenente, 1° tenente, e capitão).
    Parabéns,
    Braga Neto, Heleno, Ramos e Bolsonaro.

    1. Acho engraçado o Sargento ter que passar em um concurso de Ensino Médio de nível federal, passar por dois anos de formação ralada, receber seu diploma de formação superior e no final ganhar menos do que a metade que um oficial temporário com formação de seis meses de meio expediente, ensino médio equivalente a quinta série do fundamental e escolhido para essa boca pelo oficial que é amigão do seu papai. Sem contar que vai ter que aguardar por dez anos por uma promoção enquanto o temporário é promovido três vezes em cinco anos. Sem falar na moradia, que terá que aguardar pelo menos dez anos para ter direito, tendo em vista que a quase totalidade dos PNR’s estão ocupados por QE’s com mais de trinta anos de serviço ou por QAO’s que se negam a morar em edifícios destinados a oficiais para não ter que pagar condomínio como ocorre aqui em SM.

    1. Jaimex, você é brasileiro?
      Que língua é essa:
      – “c ñ tiver união é voltar ao vômito sem c quer”.
      – …”Ue o”…”q c podia nós poupem.”…
      “c”, o que é ‘c’.
      Seria uma mistura de latim e grego, ou uma língua morta (suméria).

  2. É muito grande as manipulações e artimanhas das mídias eletrônicas e impressas que atuam com determinação maliciosa e inescrupulosa em apresentar os fatos da política-militar ( Exército Brasileiro ) com interpretações discrepantes dos fatos militares e administrativos ocorridos.

    Tem a Folha de São Paulo se colocado como auditora expert em assunto da administração e condução da instituição militar ( Forças Armadas ).

    Induz os incautos que as Forças Armadas virou uma “ ZONA MILITAR “ de insubordinação ,baderna ,desleixo etc…. Cada militar ,do soldado ao general , faz o que quer. Não tem mais hierarquia e disciplina. Virou um pu…….. !

    Nessa exposição das mídias . Os soldados marcham sem rumo ( Exército ) , marinheiros navegam em barcos à deriva ( Marinha ) e aeronautas fazem voos cegos ( Aeronáutica ). O Brasil está sem suas Forças Armadas . Estão sob o comando de um COMANDANTE SUPREMO insano.

    Essas mostras apresentadas ao povo ,pelas totalidades das mídias . Buscam qual objetivo: desmoralizar as forças armadas , destituir o governo constituído, criar a subversão das massas populares .

    Mais, ainda, de qual orientação ideológica estão a serviço.

    Ninguém tem a capacidade de vê o futuro e profetizar o que vai ocorrer ao Brasil.

    Só podemos tirar deduções , se essa imprensa continuar fazendo esse trabalho. Não pode ter outra dedução : O Brasil caminha para uma guerra civil. Quem viver verá.

    1. A mídia não precisa como objetivo desmoralizar as Forças Armadas.

      Os militares que estão no poder e as interferências do Presidente sobre as FFAA já estão fazendo este trabalho de desmoralização perante a população.

      Não quero nem ver quando não for mais Bolsonaro o presidente, o que os políticos farão com as FFAA…

      Vão dar o troco de uma forma nunca vista, e a população aplaudirá de pé.

      O pobre praça, esse sim vai se lascar. Vão criar dois tetos remuneratórios (um para os OF, outro para os Praças).

      Qual deles terá o teto de vidro?

  3. Queria saber qual o problema dos oficiais brasileiros.
    Ganham muito bem, diferentemente dos praças.
    Têm inúmeras regalias e mordomias; e isdo não tem nada haver com meritocracia; pois esta deveria se limitar aos salários.
    E mesmo com tudo isso vivem querendo “poder”, não conseguem viver sem sentir a dominação do outro, no caso os praças e civis.
    Já trabalhei com a PM, a PC, o CBM e a única parte do serviço público que vi isso foi no meio militar.
    Não sei o que deve ser feito, mas algo precisa mudar.
    Os oficiais brasileiros não podem continuar mais com.tais sentimentos, nutrido um eterno golpe contra o povo brasileiro.
    Estou envergonhado com essa situação.
    Percebi que as F.A são usadas contra o povo.
    Tomara que o próximo governo mude isso, reveja a formação dos militares, tire privilégios e coloque todos no seu devido lugar, e puna todos que tenham conspirando contra a saúde e a democracia.

  4. Bolsonaro e um mimado como todo oficial. Pior ainda e revoltado com a caserna e pensa que e comandante de alguma OM. Mas não passa de um fantoche um seja, um personagem criado sob uma articulação de uma organização poderosa, para derrubar a hegemonia esquerdista, assim como foi Sergio Moro.

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