Bolsonaro acena ao baixo escalão

crédito: Marcos Correa/PR - 20/4/21

Para analistas, a não punição de Pazuello é parte de um xadrez jogado pelo presidente para eventual aventura autoritária sem a participação da cúpula das Forças Armadas. Porém, há dúvidas se algo assim tem espaço para dar certo e, sobretudo, se terá respaldo

A decisão do comando do Exército em não punir o general Eduardo Pazuello, que, na última semana, foi acolhido em outro cargo no Palácio do Planalto, gerou reação imediata de diferentes frentes políticas no Brasil. O sentimento que restou foi de alerta e receio devido ao claro sinal de interferência política do presidente Jair Bolsonaro. A decisão do general Paulo Sergio Nogueira, de não punir o ex-ministro da Saúde pela infração disciplina por participar de um ato político, vem pouco depois de tornar-se comandante da Arma, em substituição a Edson Pujol — demitido com os comandantes da Marinha e da Aeronautica, além do então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva.
Analistas apontam que, para promover as seguidas intervenções na caserna, Bolsonaro se escora no “baixo escalão” militar, uma característica que manteve dos tempos em que chegou a tenente — a patente de capitão foi obtida depois que passou à reserva —, oficial subalterno na gradação do Exército. Para o sócio da Hold Assessoria Legislativa, André César, o chefe do Executivo está criando uma mobilização nas baixas patentes “porque elas falam a língua dele”.
“O presidente está jogando, montando um quebra-cabeça, peça por peça, para fazer uma projeção que pode ser uma prévia de uma ação mais efetiva e mais dramática. Bolsonaro saiu da retórica para a ação. E essa ação pode se dar em cima dos bolsonaristas raiz, da Polícia Militar e do baixo escalão dos militares”, alerta.
Diretor do Instituto Luiz Gama, constitucionalista e doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo, Camilo Onoda Caldas tem uma visão semelhante. Ele destaca que Bolsonaro vem testando os limites das instituições e o desafio ao comandante do Exército foi mais um. “Nenhum episódio de ruptura institucional acontece a partir de um ato isolado. É sempre uma soma de pequenos atos que podem culminar em um grande evento. O regime autoritário não se institui do dia para a noite. Ele testa as instituições. Já tivemos outras experiências no governo Bolsonaro e essa, claramente, é mais uma”, observou.
A decisão do comandante do Exército, para o jurista, mostrou uma corporação disposta a tolerar ações políticas de seus agentes. “Imagine se fosse em um ato do Lula? As Forças Armadas proíbem ato político. Basta pensar: se fosse Lula e um general. Alguém ia dizer que não tem caráter político? As Forças Armadas já estão dizendo que são mais tolerantes com um grupo do que com o outro”, aponta.

Bloco forte
Professor de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo Patto Sá Motta afirma que a decisão do comandante “acende um alerta e gera uma preocupação sobre qual postura o Exército vai tomar no cenário eleitoral”. “Talvez o que o Bolsonaro queira não seja garantir o alinhamento de todos, mas garantir um bloco forte ao lado dele. Talvez, nas contas que faça, isso seja suficiente”, diz. O professor ressalta que o mais importante é observar quem estaria disposto a “dar um golpe” a favor do presidente.
“Essa é a pergunta real. A decisão de não punir a indisciplina é muito ruim, porque indica a tolerância à anarquia e um aval para tomar medidas golpistas a favor do Bolsonaro”, afirma. Segundo ele, entretanto, o “cálculo do golpista não é só dar o golpe, mas ter força para governar”. Nesse caso, sem o apoio da maior parcela população, do empresariado e da grande imprensa, a situação se complicaria, caso invista numa tentativa sem sustentação de dentro ou de fora do país.
Analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis não vê risco de ruptura da ordem democrática com o apoio do Exército. “Duvido que o Exército tome partido a favor do presidente. Do ponto de vista geopolítico, isso é fechar o Brasil. Quem vai querer, num contexto que não é de guerra fria, num contexto internacional, se liquidar junto com Bolsonaro?”, questiona.
A decisão do general Paulo Sérgio Nogueira, para Melillo, gera o desgaste da democracia, do Exército e do presidente. “Ninguém sai disso por cima. É ilusão achar que Bolsonaro saiu por cima desse episódio. Ele saiu com muitos problemas para resolver”, avalia. Para o analista, ao atropelar a disciplina militar para submeter aos seus objetivos, o presidente dá um salto no escuro “que vai ter volta do Exército enquanto instituição”.

Relação estreita com PMs
No último dia 2, durante cerimônia de formatura do curso de aperfeiçoamento de oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel William Delano Marques de Araújo, que comanda a academia, encerrou seu discurso dizendo: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Em seguida, o coronel Márcio Cavalcante de Vasconcelos, comandante-geral da PM-DF, concluiu sua fala da seguinte forma: “Deus os abençoe, muita sorte, sucesso. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. As frases remetem ao lema da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, que, aliás, participou do evento.
Desde que assumiu, o presidente é frequentemente visto em cerimônias das polícias militares, tanto nos eventos de formação de oficiais quanto no de soldados. Para o professor Rodrigo Patto Sá Motta, professor de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a imagem que se projeta é a de que Bolsonaro comanda o Exército passando por cima dos regulamentos. Algo que, segundo ele, tem peso nas PMs, forças auxiliares à Arma terrestre.
“Muita gente tinha expectativa de que o Exército seria mais institucional, uma força da República, serviria de anteparo ao bolsonarismo nas polícias. Mas isso não se confirma. A sensação que fica é a de que uma aventura golpista, que, porventura, venha de policiais, pode não ter anteparo das Forças Armadas. Podem se omitir, lavar as mãos”, avalia.
Eleito com o apoio dos militares, inclusive dos policiais, e das categorias da área da Segurança Pública, é preciso observar de perto o movimento dessas corporações, conforme alerta o analista André César, da Hold Assessoria Legislativa. Ele lembra do episódio recente envolvendo a repressão de policiais militares a um ato contra o presidente, em Recife — o governador Paulo Câmara demitiu o comandante da PM de Pernambuco, coronel Vanildo Maranhão, e até hoje não está esclarecido quem deu a ordem para a tropa de choque investir contra os manifestantes. Outro episódio foi o da prisão do professor Arquidones Bites, dirigente do PT de Goiás, que recebeu ordem de prisão por causa da faixa contra Bolsonaro estampada no seu carro — os policiais o detiveram “com base na Lei de Segurança Nacional”.
No começo do governo, o presidente também apoiou um levante de policias militares no Ceará, no qual o senador Cid Gomes (PDT-CE) foi ferido a bala depois de tentar desfazer um piquete no 3º BPM, em Sobral. (ST e LC)

“Muita gente tinha expectativa de que o Exército seria mais institucional, serviria de anteparo ao bolsonarismo nas polícias”
Rodrigo Patto Sá Motta, professor da UFMG

CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

25 respostas

  1. A insatisfação na Tropa com os baixos salários e a reestruturação que os penalizou e ajudou de Major para cima é grande dos praças, pensionistas e aposentados e se a esquerda aproveitar isso para puxar eles para seu lado e atacar Bolsonaro é culpa do próprio Bolsonaro que não escutou os praças e fugiu de reunião não cumprindo as promessas de campanha acabando com a MP do mau e congelando os soldos dos militares, pelo menos equipara a PMDF para não ficarem bem abaixo de suas Forças Auxiliares.

    1. Verde Oliva,
      Pega leve com críticas as decisões do Exército e do Messias.
      Senão o ‘guerreiro’ logo virá mastigar e cuspir abelhas africanas pra cima de você.
      guerreiro,
      “Esse vai ser um dos primeiros a pedir o penico com fala fina e lágrimas nos olhos.”

  2. Quem seriam os anal istas, especial istas, jornal istas, jur istas, terror istas. todos estes istas são verdadeiros?
    Creio que mais equilibr istas, sempre em cima do muro.

  3. Aqui na Vila Militar no Rio de Janeiro é todo mundo Bolsonaro …

    ( menos os QE pois queriam sair Sub , e tirando também os Subtenentes da reserva que ficaram com raiva pois não fizeram o Altos Estudos e não levarão os 73% de aumento , esses aí que citei são Lula roxos ) , tem também por todo o Brasil os oficiais melancias como um que passou por aqui mas são poucos …

  4. Tantas palavras para não dizer nada. Cid Gomes ferido a bala? Seria o Juquinha? Porca miséria esses analistas. Não é à toa que estamos em 157º lugar em educação. Ciência? Nem aparecemos no ranking. Governadores, Prefeitos, Juízes e STF descumprindo a Constituição Federal, reescrevendo-a a centenas de mãos esquerdolóides, e o Bolsonaro é que quer dar golpe.

  5. “Bolsonaro acena ao baixo escalão.”
    Segundo minha fonte no Alto Escalão das FFAA, um sargento QE, motorista de generais em Brasília à quase 30 anos.
    O tal ‘acena ao baixo escalão’ será através de um reajuste de ‘171’% aos estamentos mais inferiores em 2022, ano das eleições.
    Obrigado,
    Braga Neto, Heleno, Ramos e Bolsonaro.
    Mito 2022.

  6. O ano de 2022 já se avizinha com sua proximidade ,acredito que esse aceno se transforme no cumprimento do acordo feito e até agora sem solução do antigo pl1645 e hoje Lei 13954 ,foram empenhadas palavras das autoridades mais bem colocadas no cenário nacional e com poder de resolução que por falta de vontade politica ou mesmo ego de alguns colocaram seus subordinados mais abaixo de suas necessidades básicas .Espero que esse aceno venha no sentido de corrigir e resgatar a palavra dada e não cumprida , como também esse aceno pode sinalizar para uma aproximação ou até mesmo uma despedida para os que ficaram para trás .

    1. Espero pela materialização de pelo menos alguma melhoria remuneratória para os graduados em 2022, visto que a esquerda maldita já está aproveitando para assediar e atacar as fraquezas e mazelas em que passam TODOS dos praças das 3 Forças.

  7. Como me citaram “ o guerreiro “ . Vos digo:

    1. Ainda que não seja mais jovem perdi força com a idade . Eu fui testado no combate. conheço minhas limitações.

    2. Sei usar a astúcia na execução letal do inimigo;

    3. Já passei por duas situações de vida e morte devido as consequências das morbidades.

    Basta isso. Sr bisonho o que apresentas. Pergunto estás preparado para o que se descortina. Reflita e responda para si.

    1. Formatura e faxina não se tratam de ações de combate. Comeu cebola e vem arrotar caviar. Situação de vida e morte eu passo todo dia, indo trabalhar de moto, cada cruzamento é uma loteria. Situação de vida ou morte passam todos os brasileiros que querem e precisam trabalhar, mas não foram vacinados porque especialistas em saúde, como “zero dois”, foram contra a vacina. Eu apenas dou risada de pessoas assim.

  8. O articulista se diz historiador e diz que o Bolsonaro só foi promovido a capitão ao passar para a reserva, segundo esse historiador o presidente da república, em verdade é um tenente. Esse “historiador” poderia explicar como é que esse dito tenente cursou a EsAO e conclui essa etapa acadêmica em 1987? A matrícula e frequência em cursos de aperfeiçoamento de oficiais é privativo de capitães. É por essas e outras que levará décadas para superar o efeito “Paulo Freire”.

  9. Sim, o Presidente da República é Capitão do exército, transferido para a reserva proporcional ao tempo de serviço, por ter sido eleito para um cargo político.

  10. CRISE NO EXÉRCITO BRASILEIRO

    Com uma política dura com o posicionamento dos seus integrantes em redes sociais, usando o regulamento disciplinar para amordaçar e tentar calar, o Exército Brasileiro sem consultar os Adjuntos de Comando ou a classe dos Sargentos, resolveu brincar com a carreira dos graduados, tema muito debatido dentro dos muros da caserna devido a defasagem de pessoal, a falta de perspectiva e motivação, atrelada a dedicação exclusiva, incansáveis horas de trabalho e não reconhecimento pela Força com a Carreira dos Sargentos, virou indignação coletiva com a Portaria EME Nº 383 de 7 de maio de 2021 publicada no Boletim do Exército Nº19 de 14 de maio de 2021, a qual muda o tempo de permanência nas graduações desses militares.

    Atualmente, a graduação de 3º Sargento é a que requer mais tempo de dedicação, pois como é o início da carreira, assuntos como instrução, serviço, missões de apoio e administrativas se acumulam, antes da referida portaria o tempo médio para promoção era de 8 anos, considerado bastante alto, agora com a nova portaria mudam para 10 anos.

    As promoções subsequentes também, foram alteradas, todas com aumento de tempo na graduação, o que não agradou a classe dos Sargentos de Carreira do Exército, pois não houve nenhuma consulta com os Adjuntos de Comando, cargo criado para ser divulgador da Ética e dos Valores Militares, ser fortalecedor dos padrões do Comportamento Militar, ser o facilitador da comunicação entre o Comando e as praças, ser divulgador da missão e da visão da Unidade e dos conceitos do Comando, assessorar o Comando em assuntos disciplinares, de instrução, do bem-estar, incluindo o da Família Militar, e em outros que envolvam as praças.

    O silêncio do Adjunto de Comando do Exército, deixou os outros Adjuntos de Comandos atônitos perante os questionamentos da tropa nas diversas organizações militares do Brasil.

    Viu-se nessa manipulação dos interstícios, o descaso com o cargo de Adjunto de Comando, assim como o descaso com os Sargentos do Exército Brasileiro.

    Conhecidos por serem o “ Elo de ligação entre o Comando e a tropa”, os Sargentos são parte integrante e fundamental da estrutura organizacional da Força Terrestre, sobre o sargento recai grande responsabilidade pela manutenção da solidez do Exército Brasileiro.

    Fundamental na cadeia de comando, o sargento coopera para o cumprimento oportuno das decisões tomadas. É modelo de chefe para os cabos e soldados, tendo com estes uma estreita relação de confiança.

    O sargento é um gestor da capacitação técnica e tática dos subordinados. É responsável também pelo bem estar e moral da tropa que comanda, pelo material sob sua responsabilidade, pela aplicação da doutrina, pelo entusiasmo dos subordinados.
    Cabe ao 3° sargento desempenhar o primeiro comando nas diversas funções da Arma a que pertence: grupo de combate, na Infantaria; seção de viatura blindada, na Cavalaria; peça, na Artilharia; centro de mensagem, nas Comunicações; e assim por diante. Também, como 3° sargento, cabe-lhe o exercício das funções de furriel – calculando etapas de alimentação da tropa – e auxiliar do subtenente (realizando trâmites burocráticos do pagamento de pessoal). Desempenha ainda funções diversas como auxiliar de treinamento físico, sargento de tiro, entre outras.
    A ascensão funcional
    Como 2° sargento, trabalha como auxiliar de informações e auxiliar de operações, cooperando para o sucesso da busca e coleta de informações e da manobra da unidade. Além disso, é também auxiliar de administração, peça fundamental para o bom andamento dos trabalhos de estado-maior.
    Instrutor de Tiro-de-Guerra
    O sargento, ao exercer a função de instrutor de Tiro-de-Guerra, recebe as atribuições de gerir as atividades de pessoal, logística, operações e comunicação social. Representa a Força no seio da sociedade local. Coordena formaturas em datas cívicas, convive com autoridades civis, forma o reservista, administra recursos e meios, faz-se porta-voz do Exército para a população.
    Monitor em estabelecimento de ensino
    O sargento também é peça fundamental na estrutura de escolas e centros de instrução como monitor de cursos. Aprende e aplica metodologia de ensino, demonstra técnicas de combate, contribui para o bom trabalho do instrutor. Nos colégios militares, atua como inspetor de ensino e transmite lições que vão ser muito úteis aos alunos que venham a optar por seguir a carreira das Armas.
    Nós o vemos no Centro de Instrução de Guerra na Selva, no Centro de Instrução Pára-quedista, na Escola de Comunicações, na Escola de Material Bélico, no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva; em qualquer parte onde os recursos humanos do Exército estejam sendo especializados.
    Nas forças de paz, aditâncias e cursos no exterior
    Sargentos, normalmente habilitados em idiomas estrangeiros, ajudam a projetar a imagem positiva do Exército e do Brasil no exterior. Muitos deles, como 1° sargentos, são auxiliares de adidos militares nas embaixadas brasileiras em várias partes do mundo. Participam da vida diplomática, conhecem outras culturas, difundem a Força no estrangeiro e trazem, quando retornam, idéias que captam das instituições militares de nações amigas.
    Os sargentos também recebem especialização no exterior. Muitos vão às escolas dos exércitos amigos para aprender técnicas de que a Força necessita em sua permanente evolução, trazendo ensinamentos importantes em diversas áreas de interesse do Exército.
    O sargento tem participado ativamente de missões de paz, integrando tropas brasileiras que atuam sob a égide das Nações Unidas.
    Com suas promoções garantidas por Lei, os Oficiais brincam com a carreira dos Sargentos editando portarias que alteram o tempo de permanência nas graduações, dificultando ainda mais o acesso ao Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO) criado pelo Decreto nº 84.333, de 20 de dezembro de 1979, aos Sargentos possuidores do Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais (CHQAO) curso este de Altos Estudos Categoria I.
    Resta esperar que os representantes do povo no campo político, sejam a voz destes Sargentos, calados pelos pilares do Exército e amordaçados por seus superiores que farreiam em cargos no governo, não se importando com sua tropa.
    Não se pune General, pois lobo não come lobo, já se for praça que seja esquartejado em praça pública!

  11. Em 2022, Bolsonaro Presidente e Lula Vice. O Brasil vai juntar o que temos de melhor. Duas mentes brilhantes unidas em pról de um Brasil melhor. Vamos adotar esta idéia.

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