“Que golpe é esse? Não consigo entender”, diz novo comandante da Marinha

Desde os 10 anos de idade no ambiente da Marinha, Garnier disse que a mudança na Defesa foi surpresa. Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

O QUE O NOVO COMANDANTE DA MARINHA PENSA DA CONJUNTURA POLÍTICA
Para o almirante Almir Garnier Santos, as falas do presidente são para sua base eleitoral e não incomodam as Forças Armadas

Tânia Monteiro
O almirante Almir Garnier Santos, de 60 anos, recebeu ÉPOCA em seu amplo gabinete no segundo do andar do bloco N, na Esplanada dos Ministérios, para sua primeira entrevista depois de assumir o cargo de comandante da Marinha. Na nova mesa de trabalho, Garnier, como é chamado, colocou três porta-retratos. No primeiro, ele está com a esposa, Selma. No segundo, sua mãe, Sulayr, aparece abraçada ao presidente Jair Bolsonaro na sua cerimônia de posse, no começo de abril. Na terceira foto estão seu filho, nora e neta.
Garnier começou sua vida na Marinha aos 10 anos, quando entrou na Escola Industrial da Marinha, no Rio de Janeiro, onde nasceu. Já com bastante experiência no mar, aos 31 anos fez mestrado em pesquisa operacional e análise de sistemas na Naval Postgraduate School (NPS), nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, desenvolveu projetos de otimização de recursos, de emprego de Poder Naval, de jogos para treinamento de Guerra Naval e de implantação de sistemas de tecnologia da informação e comunicações.
Garnier disse ter ficado surpreso com as demissões de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa e dos três comandantes das Forças Armadas no final do março, mas reconheceu que elas foram legítimas, por serem da competência legal do presidente da República. Leia a seguir trechos da entrevista.

O senhor se surpreendeu com a demissão do ministro Azevedo e Silva e dos comandantes? Foi um trauma? Foi uma surpresa, mas não foi um trauma. É um processo normal de mudança. As mudanças ocorrem em função de um contexto.
Ficaram feridas? Conosco não.
E no Exército e na Aeronáutica? Não tenho como avaliar isso, porque cada Força tem o seu jeito.
Como ficou a relação do presidente com os militares depois desse episódio, que muitos descrevem como trauma? Estive com o presidente no Planalto na cerimônia de cumprimento aos oficiais-generais recém-promovidos. Estávamos todos lá. Os que deixaram o cargo e os que iam assumir. Somos todos homens maduros. Já vivemos muitas adversidades na vida. Houve surpresa? Houve. Mas eu não percebi, neste contexto, nada de especial.
O presidente disse, em meados de abril, que aguarda a sinalização do povo para tomar providências. Esse tipo de fala mais provocativa incomoda a Marinha? De jeito nenhum. O que incomoda a Marinha é ter pouco orçamento, ter pouco navio, não ter mais oportunidade de apoiar a população brasileira.
Esses arroubos do presidente não causam desconforto? Não são conosco. Ele fala com a população como um todo. Ele tem uma grande base eleitoral. Como cidadão, vejo os números de pesquisa apresentados. Dois anos de mandato é um momento crítico para todo presidente. Temos uma pandemia. E, ainda assim, ele tem uma grande base que o acompanha nas redes sociais, que o recebe nos locais a que ele vai. Então, ele fala para o eleitorado dele, com as bases dele.
Em muitas das falas parece que ele quer mostrar que está respaldado pelas Forças Armadas para o que quiser fazer, não? O presidente fala com base na sua autoridade legal e constitucional. Ele ordena e as Forças Armadas cumprem dentro da legalidade constitucional, dentro das quatro linhas da Constituição. Essas outras considerações e ilações, eu não acho que elas estejam ligadas a este contexto.
O senhor encerrou seu discurso de posse dizendo “viva a minha, a sua, a nossa Marinha do Brasil!“. O presidente usou, mais de uma vez, a expressão “meu Exército” e foi muito criticado por isso. Eu adoraria que todos os brasileiros se referissem à minha Marinha. É isso que nós somos. A Marinha não é do Garnier. Não é de ninguém. Ela é de todos nós. Eu não vejo nada demais. Vejo como uma coisa positiva, de cidadania, de patriotismo, civismo. É bom que o povo se sinta assim. Mas, ao mesmo tempo, tem outro fator, já que você mencionou a fala do presidente. O presidente teve uma vida no Exército, talvez menor do que teve na política. Mas, é meio natural ele falar “o meu Exército”.
Não é uma fala antidemocrática dizer que vai pegar o Exército ou as Forças Armadas para fazer o que quiser? Ele disse o contrário. Disse que o “meu Exército” não ia fazer. Mas, ainda assim, esse tipo de expressão é patriótica, de apoderamento patriótico da Força.
Os novos comandantes vieram para ser alinhados ao presidente? Todos os comandantes são alinhados ao presidente porque são hierarquicamente subordinados ao comandante supremo. Serei subordinado ao comandante supremo, de acordo com as leis brasileiras, como todos os que me antecederam.
Quando Bolsonaro fala que aguarda sinalização do povo para agir, muita gente pensa que vai ter golpe. Isso é um risco?(Garnier ri, assim como os demais presentes na sala) O presidente foi eleito democraticamente. Que golpe é esse? Não consigo entender. Mas, também, não é meu papel entender. Meu papel é fazer o que venho fazendo aqui, reunindo com os demais membros do almirantado, planejar as próximas ações da Marinha, continuar o grande trabalho que o almirante Ilques (Barbosa) vinha fazendo.
As Forças Armadas vão pagar um preço por tantos militares participarem desse governo? As Forças Armadas são as instituições mais bem avaliadas por todas as pesquisas que vi até hoje, por uma razão muito simples: nós cuidamos do povo. Essa questão me parece que fica apenas sendo discutida em alguns grupos, em algumas camadas estratificadas da sociedade, onde há a clara e nítida intenção de debates políticos, talvez ideológicos. Mas, quando a poeira baixar, a sociedade continuará vendo as Forças Armadas como o que elas são. Elas são a garantia da soberania da nação. Elas são a proteção das riquezas e o cuidado do povo. A Marinha exerce uma série de ações cívico-sociais. O Exército e a Aeronáutica também. E isso é o que realmente fica. O resto é espuma de chope.
A CPI da Covid, que foi ampliada, pode ser uma espuma de chope? Não tenho bagagem para tratar desse assunto. Contudo, uma coisa é certa: compete ao parlamento fiscalizar o Executivo. Vejo que é uma oportunidade de o governo apresentar o excelente trabalho que vem sendo feito.
A CPI da Covid pode levar a um impeachment? Nem de longe. Não há nada que eu, como cidadão, veja dessa questão. Mas não sou a pessoa qualificada para avaliar isso. Não tenho essa bagagem. Tenho 950 dias de mar e zero de Congresso Nacional.
A frota da Marinha está obsoleta? Não. Existem meios navais com idade bem avançada. E nós gostaríamos de ter meios mais novos, com certeza. Para isso estamos construindo submarinos e iniciamos recentemente um programa de construção de fragatas. Estamos construindo navios-patrulha, compramos helicópteros. Agora, se você perguntar se gostaria de ter muitos mais navios, aeronaves e carros de combate de Fuzileiros Navais, é claro que gostaria. Muitas vezes se veem as Forças Armadas somente como gasto. Somos investimento. Cada real colocado na indústria de defesa, você multiplica. Nós somos tecnologia. Só o domínio do enriquecimento do urânio para fornecer material paras nossas usinas de geração nucleoelétrica, por exemplo, sem precisar comprar de ninguém, já é um grande ganho.
ÉPOCA/montedo.com

18 respostas

    1. PODER NAVAL, DIMENSÃO PARA A TAREFA BÁSICA DE DISSUADIR
      ARTIGO PUBLICADO NA “REVISTA SOCIEDADE MILITAR”
      Poder (do Latim POTERE) é a capacidade de deliberar arbitrariamente, agir, mandar e também, dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, o império. Poder tem também uma relação direta com capacidade de se realizar algo, aquilo que se “pode” ou que se tem o “poder” de realizar ou fazer (Fonte Wikipédia). Por sua vez, o Poder Naval compreende os meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais; as infraestruturas de apoio; e as estruturas de comando e controle, de logística e administrativa. As forças e os meios de apoio não orgânicos da Marinha do Brasil, quando vinculados ao cumprimento da missão da Instituição Armada e submetidos a algum tipo de orientação, comando ou controle de autoridade naval, serão considerados integrantes deste poder armado.
      Uma das tarefas básicas do Poder Naval é “contribuir para a dissuasão”. A Dissuasão por sua vez constitui a atitude estratégica que, por intermédio de meios de qualquer natureza, inclusive militares, tem por finalidade desaconselhar ou desviar adversários reais ou potenciais, de possíveis ou presumíveis propósitos bélicos. Caracteriza-se pela manutenção de um Poder Naval moderno, balanceado e equilibrado, capaz de contribuir para desencorajar qualquer agressão militar. Assim, conforme um dos objetivos da Estratégia Nacional de Defesa/END, o País deve dissuadir a concentração de forças hostis nos limites das Águas Jurisdicionais Brasileiras/AJB. Uma Marinha bem equipada, adestrada, treinada e preparada, capaz de vigiar as “AJB”, inspira respeito e torna ações hostis e agressões menos prováveis. O potencial para dissuadir é concretizado, principalmente, pela existência de um Poder Naval que inspire credibilidade quanto ao seu emprego por atos de presença ou demonstrações de força, quando e onde for oportuno. Esta Tarefa Básica do Poder Naval é desenvolvida desde o tempo de paz (Fonte Doutrina Básica da Marinha/DBM). Se o é, há que se evidenciar este desenvolvimento!
      Tendo como escopo estes conceitos doutrinários básicos, as considerações a seguir serão tecidas, em particular e principalmente, focando o diferencial que, num confronto entre belonaves, decide em última instância, qual seja, o da real potência de fogo dos meios que serão empregados, direta e eminentemente, na batalha naval. Isto posto, deve se colocar na balança: quais as forças navais que são capazes de nos ameaçar; qual a extensão marítima vital que devemos garantir para manutenção de uma soberania plena; qual o potencial atual do armamento de nossos escoltas e submarinos para se lograr esta garantia. A primeira pergunta conduz a uma resposta clara, indiscutível e insofismável, não são as flotilhas latino-americanas que devem nos preocupar, mas, sim, com certeza as grandes potências navais, aquelas encasteladas de forma permanente no CS/ONU; a segunda, salta aos nossos olhos, a vasta extensão da Amazônia Azul, comparável à Verde em termos de recursos exploráveis; a terceira é aquela onde reside o grande “x” da questão posto que, nosso poder naval, atual e visualizado para daqui a dez anos, não contribui em nada, absolutamente nada, para efeito de uma dissuasão extrarregional. Simplesmente, nossas escoltas e submarinos, além de muito poucos, não estão e não vão ser armados com poder de fogo capaz de impor temor aos notórios “grandes bucaneiros navais”. Quantidade de navios mal armados não somam, poucas belonaves bem armadas é o que realmente acrescenta, um dia o alto comando naval vai se convencer desta “realidade nua e crua”. Esperamos que não seja tarde demais.
      Que seja dito, as quatro corvetas previstas pelo “Projeto Tamandaré”, serão dotadas, ao que tudo indica, com míssil de alcance até 180 km, muito aquém do irrisório AVM-300 km, atualmente desenvolvido pela AVIBRÁS. Em contrapartida, os congêneres das poderosas armadas alienígenas alcançam, no mínimo, os 1000 km. Em verdade, com todas as honras e sinais de respeito, mas parece que o alto comando naval gosta de se enganar, valorizando um projeto sem nenhum significado em termos de dissuasão extrarregional, esta que, sem sombra de dúvida, viabiliza a missão principal de nossa Marinha de Guerra, qual seja a “defesa da Pátria”. Afinal de contas não é preciso ser nenhum luminar para se ter em conta que as fragatas, dos nossos inimigos em potencial, não vão se aproximar para se colocarem ao alcance de nossos fogos “juninos”, isto quando podem bater nossas corvetas de distâncias bem mais seguras. Sim, é preciso bradar pelo “óbvio e ululante”, antes que nossos marinheiros sejam tragados pelos “mares bravios”. Que não se duvide, armar nossas sete fragatas e três corvetas “veteranas”, com vetores alados de cruzeiro, seria muito mais vantajoso em termos defensivos dissuasórios do que construir quatro corvetas novas “desdentadas”. Em verdade, não dispor de um alcance de 1500/2500 km, já singrando o mar alto, em termos de significado letal, só encoraja o inimigo, este que deveria ser alvejado a partir dos 2850, justamente a distância que medeia entre a Ponta Seixas/PB e o continente africano.
      Paulo Ricardo da Rocha Paiva
      Coronel de infantaria e Estado-Maior

  1. O que não faço pra me manter num cargo de destaque, qualquer coisa.
    E não estou nem aí pra que vocês pensam (estamentos das FFAA, imprensa e sociedade brasileira).
    Vou bajular tanto, que logo conseguirei uma vaga na Petrobras, Furnas…
    E, vocês … que se danem.
    Esse é o mundo real seu otár…!

  2. ta virando chapa branca.
    Todo dia vem um general falar aqui.
    Esses caras estão onde sempre quiseram, ou seja, estão no poder, na petrobras, na vice presidencia, etc etc.
    Por essas e por outras que sempre fingem que cuidam de seus subordinados.

  3. Bravo, nosso comandante! Respostas sem blá blá blá e sem sofismas. E a imprensa como sempre fazendo “perguntas-pegadinhas”, mas o comandante está vacinado contra essas pegadinhas capciosas. Como se díz na giria: é cobra criada!

  4. Obrigado Sr Almirante pelas respostas lúcidas, equilibradas e sábias….o mar pode estar tempestuoso mas a tropa confia na capacidade do Comandante. Orando pelo Brasil da Bandeira de ordem e progresso.

  5. Realmente todos os dias tem um general ou um coronel com com ECEME deixando aqui o seu recado… E sem censura… Resta saber quando o ilustre Montedo igualmente e democraticamente publicará na íntegra as nossas observações/ comentários… Pois eu mesmo tenho nesse blog minha opinião silenciada/ censurada frequentemente… Lamentável… Fica aqui público o meu protesto… A verdade precisa ser dita… Doa a quem doer… Que o senhor dos exércitos nos proteja…

    1. De novo! Sub R1 Raiz,

      Pergunto, novamente, que diabos o companheiro digita em seus comentários, porque eu vivo ‘metendo o pau’ na condução deste governo na condução da Pandemia.

      Bati direto na ‘expertise logística’ do general Pazuello, ex-ministro da Saúde.

      Meti o cassete na Lei de Reestruturação da Carreira ‘deles’.

      Mas que diabos de …”verdade precisa ser dita… Doa a quem doer… Que o senhor dos exércitos nos proteja”…

      Sobre qual assunto altamente “censurado”, entre aspas, o Subtenente Raiz trata.

      Que troço esquisito.

      Detono sem dó os terraplanistas, negacionistas, bolsonaristas, bolsominions e etc.

      Fiz criticas duras aos arRego Barros, bananas de pijamas, o Maria Fofocas, na condução do general Heleno na condução do uso do GSI e advogados do filho do Messias, o senador investigado no esquema das rachadinhas.

      ECEME? Como assim? Aqui todos os ‘estamentos’ militares tem seus comentários postados, até o “QAO” descompromissado tem seus insanos e indecifráveis comentários publicados.

      Bem, se é da Força Terrestre, realmente nunca tivemos motivo pra qualquer crítica. O Exército é uma Instituição perfeita, alguns homens que agem por vezes não republicanas e antiéticas.

      E então, que assunto é este seu mistério e recado.

      Abs.

  6. inteligencia a serviço da Marinha….conheci o Almirante Guarnier voltado dos Estados Unidos ainda jovem capitão, excelente pessoa, profissional e dedicado….Infelizmente a politicagem, e nao a politica, causa grandes estragos ao pais e aos cidadaos. Corrupção, interesses economicos nada favorecem ao crescimento do Brasil…Que o almirante Guarnier possa fazer seu trabalho da melho forma possivel
    Se houver espaço na sua agenda que o Sr olhe pelos veteranos e pensionistas e tente proporcionar melhores condiçoes de sobrevivencia a esta classe abandonada por todos

  7. Nítida diferença entre um Oficial da Marinha/FAB comparado ao EB, estes, dependem de sargento pra tudo. A faculdade de ciências militares da AMAE só serve para ensinar que sempre terá um praça que safará a onça deles. E a paisanaria pedem intervenção militar, não sabendo eles que se depender dos nossos oficiais, estaremos em apuros

  8. cândido

    adjetivo
    1. de grande alvura; muito branco.

    2. FIGURADO (SENTIDO)•FIGURADAMENTE
    que apresenta pureza, inocência; que denota candura.

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