Em crise, Exército, Marinha e Aeronáutica esperam novos comandantes

Oito dos 22 ministros de Bolsonaro são militares, a maior participação das Forças Armadas em um governo desde a redemocratização - Equipe de transição/Rafael Carvalho

Bolsonaro demite comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, que se recusaram a aceitar a politização das Forças Armadas. Presidente do Senado diz não ver riscos de ruptura institucional. Novos ocupantes dos cargos devem ser definidos nesta semana

Luiz Calcagno, Jorge Vasconcellos, Ingrid Soares, Renato Souza, Israel Medeiros
O presidente Jair Bolsonaro abriu a maior crise de um governo com as Forças Armadas nos últimos 50 anos. Depois de demitir o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o chefe do Executivo determinou que os comandantes das FAs deixassem as funções. No Exército, sai do cargo Edson Pujol; na Marinha, Ilques Barbosa; e na Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez. A expectativa é de que os novos ocupantes dos cargos sejam definidos ainda nesta semana, podendo a decisão sair hoje, após indicação do oficialato de cada uma das três instituições.
A demissão dos comandantes foi comunicada em reunião na manhã de ontem, com presença do novo ministro da Defesa, Braga Netto; do ex-ministro Fernando Azevedo; e dos comandantes das Forças. De acordo com fontes militares, a reunião foi tensa, com momentos acalorados e tapas na mesa. Todos veem o ato de Bolsonaro como uma tentativa de intervenção nas Forças Armadas.
De acordo com fontes, Braga Netto já chegou à reunião com a ordem expressa de Bolsonaro para trocar os comandos — o que poderia ocorrer imediatamente ou de maneira escalonada, com período de transição. Os militares se negaram a aceitar qualquer determinação do chefe do Planalto. A decisão foi vista como um desrespeito às FAs, que não aceitaram fazer parte de uma jogada política do Executivo, cujo principal foco seria usar as instituições contra governadores e prefeitos que adotaram medidas restritivas para conter a covid-19.
Mesmo com a saída dos comandantes, a possibilidade de politização das Forças Armadas é descartada por fontes nas instituições. “A avaliação é de que os generais devem deixar o recado claro ao governo de que nenhuma das três Forças vai apoiar ou se aventurar em medidas autoritárias e que as intenções do presidente não terão sucesso, caso ele insista. Isso jamais ocorrerá. Nenhum general de ontem, hoje e sempre permitirá isso”, disse um general, ouvido sob a condição de anonimato.
Outro oficial, do Alto Comando, afirmou que a troca do ministro da Defesa é comum, mas que efetivá-la antes do fim do mandato é visto como um ato de hostilidade e desrespeito. De qualquer forma, ele destacou que as instituições devem manter a independência. “Trocar ministro é normal. Bolsonaro tem essa prerrogativa. Ministro não tem carreira sólida”, defendeu o militar. “É difícil haver interferência nas Forças Armadas, porque, para comandar, a pessoa tem de ter uma carreira brilhante. Não é só chegar e dizer que quer. Um general de quatro estrelas comandou as instituições mais importantes.”
A apreensão é grande, no entanto, em relação aos novos nomeados, já que assumirão sob suspeita de alinhamento político com o presidente. O comando do Exército está no centro das atenções, por ser responsável pela condução de um contingente de 220 mil homens.
O mais cotado para assumir a Força é Décio Luís Schons, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia. Ele tem reunião marcada, hoje, com Braga Netto.

Reação política
O Congresso reagiu às mudanças. Enquanto alguns parlamentares viram ameaças à democracia, outros avaliaram como situações cotidianas. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse não ver riscos de ruptura institucional na demissão de Azevedo e na troca de comando das FAs. Para o parlamentar, as mudanças fazem parte das prerrogativas de Bolsonaro. Ele alertou, porém, que não se pode permitir que “fatos paralelos sirvam de cortina de fumaça” para desviar as atenções do principal problema do país no momento, a pandemia.
Pacheco disse confiar que as FAs continuam comprometidas com o respeito à Constituição e ao Estado democrático de direito. “Eu não consigo antever o que é a intenção exata do presidente. Minha visão é de que se trata de uma troca ministerial dentro dos limites da prerrogativa do presidente da República em fazer as suas substituições”, afirmou. O parlamentar falou, também, sobre um requerimento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), pedindo que Braga Netto seja convidado a dar esclarecimentos ao Senado sobre a troca dos comandos nas Forças. De acordo com ele, o requerimento será discutido na reunião do colégio de líderes, na segunda-feira.
Na avaliação da deputada Sâmia Bonfim (Psol-SP), as mudanças promovidas pelo presidente na Defesa refletem isolamento e a queda de popularidade do chefe do governo. “Bolsonaro se mostra bastante acuado diante do momento em que aumenta a rejeição ao seu governo e que ele não encontrou, nos comandos das Forças Armadas, um ponto de apoio para sua linha autoritária, golpista, mas também obscurantista de lidar com a pandemia da covid-19”, disparou.
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

25 respostas

  1. A meu juízo, o simples fato das Forças Armadas constarem na Constituição com papel definido de deveres a cumprir ( Art. 142 – … “sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos Poderes Constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. ) e seus integrantes (da ativa e da reserva) poderem eleger seus representantes. já se configura uma participação política no cenário nacional. Ou não?

    1. Jovem, nunca ouviu falar em sufrágio universal? Quer dizer que militar não é cidadão e por isso não pode votar/participar da vida política?

      Deve ser da nova geração de lobinho vinda da pátria educadora.

    2. Não. Não confunda participação política com segurança do Estado. O Estado inclui Congresso e STF, além do Executivo.
      Não somos Venezuela.

  2. Esse papo de crise, é papo pra boi dormir, enganar os trouxas e causar faniquito no país. As FFAA não faltarão ao seu dever constitucional com ou sem trocas de comandantes das TRÊS ARMAS! O problema é que os “jornalistas e jornalecos” a serviço dos quanto pior, melhor, ainda não absorveram da derrota nas urnas para candidato de direita, daí esse medo. Troca de comandantes sempre houveram e todos estão conscientes de seus deveres.

  3. Não vejo crise nenhuma nas forças armadas! Vejo crise nas ações de um judiciário, politizado, que solta bandidos e prende jornalistas por emitirem opinião! Que soltam o maior corrupto da história do Brasil! Que destroem a única operação para combater a corrupção endêmica no Brasil! Vejo crise em prefeitos e governadores fechando o comércio, falindo empresas, desempregando em massa, aumentando a pobreza e decretando inconstitucionais toques de recolher!

      1. Concordo até a primeira parte. Os governadores fecham o comércio contrariadamente pois se prejudicam politicamente, o fazem para proteger a população pois não chegaram as vacinas a tempo de evitar essa segunda onda. Não há nada inconstitucional pois é uma medida emergencial de saúde pública.

  4. Comando militares! Isto é piada, nenhum deles realmente comandou, ficaram somente a vê seus interesses. Só prejudicaram as praças e pensionistas.

  5. Seja o general Freire Gomes, Subtenente Hélio Lopes, algum QE ou QESA, Comandante do Exército.

    Seja o general Braga Netto, Subtenente Hélio Lopes, algum QE ou QESA, ministro da Defesa.

    Independentemente de quem o Braga Netto escolher para comandar a MB, EB e FAB, não encontrará um 4 estrelas com perfil ideológico próximo ao que almeja o seu ‘MITO’.

    Braga Netto articulou e foi alçado ao ministério da Defesa para fazer esse trabalho de governo, e não de Estado.

    Não conseguirá.

    O Exército, quem quer que seja seu comandante, NUNCA fará esse trabalho sujo.

    As FFAA e em especial, o Exército, JAMAIS, será de Bolsonaro….

    Pode haver simpáticos, seguidores e eleitores do mito em postos e graduações nos ‘estamentos mais inferiores’ (majores, capitães, jovens graduados), porém, no Alto Cmdo das FFAA não encontrará nenhum militar a fim de mobilizar as Forças nesta intenção ‘venezuelana’ de Poder perpétuo.

    “Mito 2022” (aquece Mourão).

    Mais um a não concluir o ‘mandato’.

    Ave Jair!

  6. O Presidente precisa ter sob o seu comando 4 cães (MD, EB, FAB e MB) – não entendam cães como sendo pejorativo, apenas uma alegoria – para tomarem conta da casa dele (poder Executivo). Pois bem… ele tinha 4 labradores que ao invés de latirem e amedrontarem aqueles que frequentemente ficam subindo no muro tentando entrar no quintal, não demonstravam agressividade alguma e, por vezes, até balançavam o rabo e brincavam com uma bolinha que os potenciais intrusos volta e meia jogavam no quintal para distraí-los. O dono da casa viu isso numa gravação de CFTV existente dentro da casa e agora resolveu substituir os guardiões da casa por outros 4 que sejam de uma raça mais aguerrida, que pelo menos imponham mais respeito e temor potencial contra aqueles que ousarem pular no quintal da casa. Não são cães para serem soltos portão a fora, mas para impedirem que intrusos adentrem ao perímetro da casa (executivo), ou mesmo também sejam utilizados para fazer uma ronda fora do perímetro da casa, excepcionalmente, caso um vizinho (legislativo e judiciário) também estejam com problema de intrusos querendo adentrar em seus territórios. Os cães devem seguir as regras estabelecidas no Plano de Defesa do grande condomínio (Constituição), mas sempre sob o comando daquele que, pelas regras do condomínio, é responsável por manter, tratar, treinar e alimentar os 4 cães.

    1. Diga logo o que o Exército deveria fazer, segundo sua visão. Ameaçar os outros Poderes? Os cães a que você se refere guardam o Estado brasileiro e seu funcionamento. Estado brasileiro inclui Executivo, Legislativo e Judiciário. Não somos Venezuela nem Miamar. O Exército não é Poder Moderador.

  7. Brig Bermudez não deixará saudades na FAB.
    Mentor do aumento dos interstícios, 07/08/09 anos para morrer suboficial!
    Os praças merecem uma reestruturação nas suas carreiras que está em descompasso com a estrutura remuneratória. Isonomia com o EB já!!!

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