Pazuello sai atirando: boicote interno e pedido de políticos por ‘pixulé’

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, durante uma cerimônia de hasteamento de bandeira em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília Adriano Machado/Reuters

Em discurso de despedida, ex-ministro da Saúde conta ainda que faltavam ‘honestidade’ e ‘probidade’ na pasta quando ele assumiu

Gabriel MascarenhasEduardo Pazuello soltou o verbo em seu discurso de despedida para os servidores do Ministério da Saúde nesta quarta-feira, 24. Ao lado de seu substituto, Marcelo Queiroga, ele desabafou: afirmou que sofreu pressões de políticos interessados num “pixulé”, disse que levou para a pasta atributos militares como “probidade e honestidade” e que caiu depois de identificar um grupo de médicos do ministério disposto a boicotá-lo.
“Esse grupo tentou empurrar uma pseudo-nota técnica que nos colocaria em extrema vulnerabilidade, querendo que aquele medicamento, a partir dali, estivesse com critérios técnicos do ministério, e ele (o medicamento) não tinha”, afirmou o agora ex-ministro.
Pazuello contou ter reunido a equipe no final do mês passado para informar que sua gestão vinha sendo alvo de diferentes ofensivas. Disse também que, nessa reunião, ele previu que cairia muito em breve. Em nenhum momento, Pazuello citou os nomes dos que supostamente o aliciavam ou trabalhavam para derrubá-lo.
“Eu reuni toda minha equipe no dia 23 de fevereiro: fiz um quadrinho e mostrei todas as ações orquestradas contra o ministério. Eram 8! Falei que não tinha como nós chegarmos até o dia 20 de março. Marcelo foi consultado já no início de fevereiro”, afirmou Pazuello, citando Queiroga, ao seu lado, em silêncio.
Em seu discurso, o general disse que se recusou a atender pedidos de pessoas cujos nomes constavam numa lista enviada ao ministério por “uma liderança política”. “Ali começou a crise com a “liderança política que nós temos hoje […]”. Aí chegou no final do ano, uma carreata de gente pedindo dinheiro politicamente […]. Foi outra porrada, porque todos queriam o pixulé”, acusou o ex-ministro.
Pazuello foi além, ao justificar a razão pela qual o caixa do ministério é tão cobiçado, segundo ele. “O ministério é o foco, o aval das pressões políticas. Por quê? Por causa do dinheiro que é destinado aqui de forma discricionária […]. A operação de grana com fins políticos acontece aqui. Acabamos com 100%? Claro que não: 100% nem Jesus Cristo. Nós acabamos com muito”.
O ex-ministro disse textualmente que virtudes — segundo ele, próprias dos militares — como “honestidade” e “ética” estavam em falta no ministério quando ele assumiu. “Faltavam gestão, liderança, ética, probidade, honestidade, responsabilidade. Trouxemos esses atributos para onde, normalmente, pela própria construção política que se faz, não são atributos que vêm junto. Quais são os atributos que têm aqui: relacionamento, composição política, direcionamento de politicas não sei do quê. É um cargo político”, justificou.
“O ministério é o foco, o aval das pressões políticas. Por quê? Por causa do dinheiro que é destinado aqui de forma discricionária […]. A operação de grana com fins políticos acontece aqui. Acabamos com 100%? Claro que não: 100% nem Jesus Cristo. Nós acabamos com muito”
Em seu discurso-desabafo, Pazuello tentou ser didático e ilustrou situações com as quais, segundo ele, teve de lidar na Esplanada. “Quando você vem com atributos como esses, causa um olhar. As pessoas começam a te olhar diferente: ‘poxa, você não tem interesse?’ ‘Não’. ‘Não quer falar com a empresa tal?’ ‘Claro que não’. ‘Você não recebe empresa?’ ‘De jeito nenhum’. ‘Não vai aceitar o cara aqui fazendo lobby?’ ‘Não’. ‘Não vai favorecer o partido A, B ou C?’ ‘Claro que não’. ‘E o operador do fulano, beltrano?’ ‘Não’. Porra, vai dar merda. É assim que funciona”, afirmou.
Em dado momento, o orador desculpou-se com Queiroga e com a plateia de servidores por estar se alongando, o que, de acordo com ele, não é seu estilo. “Não posso sair daqui sem a gente compreender o movimento. O movimento é esse: fechou-se o cerco”, disse. E, de quebra, deu um conselho a Queiroga: “Atenda o SUS. Atenda os estados e municípios. Não se renda a pressões políticas”.
O ex-ministro disse que militares não possuem “conta bancária alta”, “carros caros”, “avião”. “Moramos em casas pequenas, quarto de hotel e andamos com carros de classe média”, completou.
Pazuello admitiu que, no final do ano passado, não esperava um crescimento tão avassalador da pandemia de Covid-19 em 2021. Argumentou que os pareceres técnicos a que tinha acesso apontavam para um cenário menos desolador e para a chegada de vacinas. “A perspetiva nossa no final do ano era outra […]. O cenário mais provável não aconteceu”, disse.
Ele também afirmou que a composição perfeita da pasta foi a que o antecedeu. Nela, havia o médico Nelson Teich como ministro e ele, Pazuello, numa função responsável pela gestão do ministério. Pazuello foi secretário-executivo de Teich, que ficou pouco menos de um mês no cargo.
Pazuello afirmou que não queria ter ido para o ministério e que só aceitou o convite porque Jair Bolsonaro teria-lhe incumbido de uma missão, um termo sagrado para os militares. “É claro que eu não queria vir. Quem é que já me ouviu dizer isso mil vezes? Eu estava comandando uma região militar que tinha quatro estados — Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre — e estava na preparação para fazer o combate à Covid. Precisávamos combater a Covid também na Amazônia”, lembrou.
Segundo Pazuello, ao chegar, ele não encontrou nenhuma informação deixada por antecessores: “Chegamos aqui, não tinha nada nem ninguém para nos dizer nada. Andávamos nos corredores e não havia ninguém”.
Marcelo Queiroga, que permaneceu em silêncio durante toda a explanação de Pazuello, elogiou o orador no final. Mas não só: aproveitou para dar uma cutucada no tom militaresco do general — em dado momento, Pazuello chegou a dizer que um servidor tinha “problema mental” por não ter conseguido responder a uma pergunta corretamente.
“Mesmo sem CRM, você salvou muitas vidas, meu amigo […]. Fala desse jeito de comandar a tropa (risos), mas a gente vê que é um sujeito de grande coração, e de coração eu entendo”, brincou Queiroga, que é cardiologista.

Veja abaixo vídeos com o discurso de Eduardo Pazuello:
1. “Começamos a descobrir o que era o Ministério da Saúde”

2. “Faltava gestão, liderança, ética e responsabilidade”

3. “Ih, vai dar m…”

4. “Ministério é alvo de pressões políticas”

5. “Carreata de gente pedindo dinheiro”

6. “Não passaríamos de março”

7. “Fiz o meu melhor”

8. “A história vai nos julgar”


MAQUIAVEL(Veja)/montedo.com

16 respostas

  1. O Brasil é um ENORME ESQUEMA DE CORRUPÇÃO construído e aprimorado em mais de 500 anos de história! Já na construção, do núcleo urbano, de Salvador, o mestre de obras, enviado pela Coroa Portuguesa, “meteu a mão” e ficou bem rico! Na construção do aqueduto do Largo da Carioca, no século dezoito, o roubo foi tão escancarado que quase deixou louco o governador nomeado pelo Rei de Portugal! E o “sistema” veio só se aprimorando através do tempo! A corrupção está tão entranhada no Brasil que sobrevive à todos os períodos e mudanças políticas em nossa história! Brasil Colônia, Império, República, em todos os seus momentos, a corrupção é onipresente! Claro que a este comentário virão os esquerdistas de sempre com suas zombarias ou pretensa superioridade intelectual (os corruptos da esquerda, para mim, são os mais odiosos por roubarem em nome do “povo” o que os torna, além de ladrões, hipócritas). O Brasil não tem jeito! Ao cidadão comum, como nós, cabe apenas trabalhar e pagar impostos para sustentar a vida maravilhosa de quem parasita o Estado. Antes me revoltava, ficava amargurado em ver que entrava político…saía político…e nada mudava! Hoje desisti de acreditar que teremos um país melhor…acreditar que o voto mudará este “sistema” doente? É muita inocência! E esta perdemos logo quando começamos a trabalhar e a ver como funciona os “andares de cima” da nossa sociedade! É…eu devo ter gritado Barrabás e, como punição, nasci em Pindorama! Como dizia uma certa figura histórica…um deserto de homens e de idéias…assim é o Brasil!

    1. E continuará sendo um país sem destino, somos omissos por natureza, assim não tem como evoluir, até na hora de manifestarmos nos escondemos!

      1. Dou razão à você. Experimente, sendo militar da ativa, colocar seu nome aqui…vai ver como funciona o “sistema”…não somos nada…absolutamente nada! Me manifesto aqui como anônimo…vivemos e morremos anonimamente! Por força de lei não somos cidadãos com voz para se manifestar! O “sistema” fará você pagar um preço caro! Você pode colocar seu nome se é civil…ou da reserva…ou até inventar o José Adilson, como muita gente faz neste site, mas para o militar resta manifestar sua insatisfação para que outros militares também saibam que não estão sozinhos em crer que a corrupção é abominável no Brasil! Não existe outra opção para o militar…infelizmente só nos resta este “muro das lamentações”. Se você fosse militar, de verdade e da ativa, com muitos anos de serviço, tendo presenciado, várias vezes, injustiças e o peso do “sistema”, saberia o que falo…

  2. Se esse esquema de corrupção existe como foi declarado, ele teria como militar tomar as providências judiciais no caso, abrir uma sindicância interna e ter realizado uma ocorrência policial para a investigação da polícia federal.

    Falar sem mostrar provas e não denunciar perante as autoridades competentes, isso compromete a imagem do ministério da saúde, dos seus servidores e do próprio Pazuello.

  3. Pazuello é mais um ingênuo politico. Deveria ter feito como Sérgio Moro, outro ingenuo, mapeado toda a corrupção no Ministério da Saúde, como tentou o Weintaub no Ministério da Educação.

    STF e Congresso, a mando de Temer na tentativa de segurar Alexandre de Moraes, FHC na tentativa de segurar Gilmar Mendes no STF, e Lula e Dilma para segurar seus indicados, estão juntos e unidos e convocaram todos os atores interessados para derrubar Bolsonaro, começando pelos seus Ministros. Se preparem!

    A Associação Médica Brasileira já emitiu nota se antecipando contra qualquer ação do Ministério da Saúde, mostrando claramente que vai boicotar qualquer tipo de tratamento profilático ou preventivo contra a peste chinesa.

  4. ESSE PAIS NÃO PRÓSPERA, A CORRUPÇÃO É ALARMANTE, ESSAS DESGRAÇA CHAMADO POLITICOS, ESSES VERMES VEEM E ESTÃO DE TODOS OS LADOS. SÓ UMA INTERVENÇÃO GERAL PODERIA SENAR PARTE DO PROBLEMAS, METENDO ESSES BANDIDOS NO PAU.

  5. Para quem reparou, ele só utilizou linguagem genérica sobre corrupção para se autoelogiar. Não deve ter feito qualquer denúncia a respeito, ainda, mais uma vez, usa da tal “ética militar” e continua na ativa arrastando a Instituição junto. Ele virou ministro, sendo de Intendência por que era “missão”????!!!!

  6. Perfeito!

    Tem corrupção na Saúde, lideranças políticas corruptas com lobistas querendo meter a mão no dinheiro da saúde. Ok

    Levou probidade, honestidade. Ok (minha continência!!).

    Mas, como autoridade pública (e tb como militar, general) por que não abriu sindicância? Por que não denunciou antes? Por que só agora que saiu?

    Se és honesto, probo, deveria denunciar ao MP e apurar esse “grupo de médicos”. Não quero acreditar que um general COMANDOS ficou com medo de enfrentar esse grupo de corrputos.

    Não convenceu…

    1. Em que país você vive? Estas máfias tem muito poder! Nem você abriria o bico! Fácil falar quando não está no meio da tempestade! O “sistema” é fogo meu irmão! Quem abre o bico e denuncia…costuma comer grama pela raiz! Quem tem…tem medo! Celso Daniel que o diga…

  7. Se isso foi um problema para não comprar vacina no ano passado seria fácil de se resolver ,porém só agora é falado essa dificuldade ,espero que sirva de argumento ou desculpa ,

  8. Peça perdão a Deus por te usado o nome de Jesus Cristo em vão, todos nós sabemos que o verdadeiro ministro da saúde e Bolsonaro e família.

  9. Senhores, sou aqui o cara aqui mais crítico dos generais: há muito melancias? Sim, mas basta pontuá-los e exonerá-los. Simples assim.
    Agora, eu como um general brasileiro, responsável e de caráter jamais faria qualquer intervenção militar. Sabe porquê? Porque o povo brasileiro não merece. Lembram quando fomos escorraçados em 1985? Lembra que o presidente Figueiredo saiu pela porta dos fundos e não passou a faixa presidencial para Sarney? Ele, Figueiredo, homem de caráter, responsável pela democratização, estava certíssimo.
    Se houver intervenção por parte das FFAA o tiro sairá pela culatra, porque o povo brasileiro não merece. Então para quê intervir?
    Agora, os generais, se forem inteligentes, não deixarão a esquerda adentrar dentro das Forças. Devem se preparar e preparar a tropa sobre o que está para ocorrer.
    Estamos descendo abaixo do fundo do poço. Graças aos políticos, que estão entregando o país sabem para quem. A situação é muito séria. Faltará emprego, dinheiro, alimento até salário para os militares. Pessoal, hora de se prepararem. O inferno está chegando, basta ler jornais e blogs não alinhados com a mídia.
    Abraços e fiquem com Deus.

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