Forças Armadas registraram 40 mil militares infectados com Covid

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Cerca de 40,9 mil militares ativos das Forças Armadas foram diagnosticados com Covid-19. Desses, 64 morreram

Tácio Lorran
Cerca de 40,9 mil militares ativos das Forças Armadas foram diagnosticados com Covid-19Arte/ Metrópoles
Ao longo da carreira, o suboficial da Aeronáutica Joaquim Antônio de Lima Neto, de 49 anos, já foi diagnosticado quatro vezes com dengue e outras três com malária, mas nenhuma delas o deixou tão debilitado quanto a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
“A Covid-19 é inigualável. As dores e o mal-estar são muito maiores do que os da dengue e os da malária. A Covid é devastadora – e nem tive todos os sintomas, como falta de ar e perda de paladar. Mas senti muito mal-estar, febre e dores pelo corpo todo”, relata.
“Fiquei mal uns 10 dias, e cheguei a perder 4 kg. Nunca tive medo da morte, mas pedia muito a Deus que me aliviasse as dores. E outra coisa: a minha grande preocupação era meu filho, que tem 7 aninhos. Só na última semana, quatro amigos meus morreram de Covid”, completa o homem, que tem leucemia.
Morador de Manaus (AM), o subtenente Lima Neto foi contaminado pelo coronavírus em janeiro deste ano, em meio ao colapso do sistema de saúde da capital, que sofreu com falta de leitos de UTI e de oxigênio em decorrência da alta taxa de hospitalização.
O suboficial é um dos 40,9 mil militares ativos das Forças Armadas que foram diagnosticados com a doença, segundo dados obtidos pelo Metrópoles, com o Ministério da Defesa, via Lei de Acesso à Informação (LAI). O número foi atualizado na quinta-feira (25/5).
Isso significa que cerca de 11,3% do efetivo total (360 mil militares) da ativa das Forças Armadas contraiu o novo coronavírus. A taxa de infecção é maior, inclusive, do que a registrada entre profissionais da saúde e é o dobro do índice na população em geral.
Até sexta-feira (26/2), foram confirmados 10,4 milhões de casos de Covid-19 no país, o equivalente 4,8% da população geral. Já a taxa de infecção entre os profissionais de saúde que estão na linha de frente é de 10,3%. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 470,3 mil médicos, enfermeiros, cirurgiões, fisioterapeutas, dentre outros, contraíram a doença.
Diretor da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (SIDF), José David Urbaez avalia que os dados evidenciam que os militares pertencem a um grupo que se expõe laboriosamente e que permanece em confinamento nos quartéis, o que aumenta a transmissão por aglomeração.
“Esse grupo tem uma média de idade bem baixa pois inclui recrutas, que são jovens, o que geralmente deixa a instituição mais ‘relaxada’ ao tomar medidas contra a Covid, como o uso de EPIs e de medidas de distanciamento”, explica o infectologista.
Em março do ano passado, o Ministério da Defesa publicou uma portaria normativa com instruções e restrições para evitar a disseminação do novo coronavírus. O texto prevê o cancelamento de viagens e missões, bem como a adoção do teletrabalho para servidores do grupo de risco ou que foram contaminados com a doença.
“Dentre as medidas estão: uso obrigatório de máscaras; distanciamento social recomendado de 1,5m; uso de álcool em gel 70%; limpeza de superfícies; manutenção de vidros, portas e janelas abertas, sempre que possível; realização de campanhas de conscientização dos militares; aferição de temperatura na entrada das Unidades; acompanhamento e tratamento médico dos casos suspeitos e confirmados; entre outras”, informou a pasta.
“Militares e servidores civis são orientados e seguem as medidas de prevenção e proteção contra a ameaça representada pela Covid-19”, alegou.
Por outro lado, em janeiro deste ano, por exemplo, imagem divulgada (e depois retirada do ar) pelo próprio Exército viralizou nas redes sociais ao mostrar militares com máscaras desenhadas digitalmente. O grupo, no qual havia 22 pessoas, encontrava-se no Centro de Medicina Operativa da Marinha (CMOpM).
“O Brasil vivencia um manejo da pandemia no limite do desastroso, e não seria esperado que entre as Forças Armadas houvesse uma visão epidemiológica de alto risco”, complementa, ao ressaltar que, por outro lado, a taxa de mortes entre os militares é baixa.
De fato, apenas 64 integrantes das Forças armadas morreram por causa da Covid-19, o que indica letalidade de 0,14% dos casos, bastante inferior ao índice da população geral, que é de 2,4%, segundo informe do Ministério da Saúde.
Entre as dezenas de vácuos deixados nas Forças Armadas, há soldados, sargentos, tenentes, capitães, coronéis e um oficial-general – o general de brigada Carlos Augusto Fecury Sydrião Ferreira, morto em setembro do ano passado aos 53 anos de idade.
Em nota, as Forças Armadas alegaram que, durante a pandemia, manteve o “pleno andamento das atividades” pois a defesa do país e a segurança das fronteiras marítima, terrestre e aérea, bem como o treinamento e o preparo, “são obviamente essenciais e não podem ser interrompidas”.
“Na realidade, a atual pandemia intensificou ainda mais as ações da Marinha, do Exército e da Força Aérea. A Operação Covid-19, de combate à pandemia, envolveu diariamente mais de 34 mil militares trabalhando em todo o território nacional”, ressaltou.
A corporação disse também que pessoas com suspeita de terem sido expostas ao novo coronavírus ou com quaisquer sinais da doença, por mais leves que sejam, são direcionadas ao isolamento e recebem o tratamento adequado.
Entre os contaminados, o subtenente de Engenharia do Exército Brasileiro (EB) Daniel dos Santos Melo, de 50 anos, contraiu a doença enquanto trabalhava na Operação Acolhida, em uma obra de expansão de um novo abrigo para refugiados venezuelanos, em Paracaima (RR).
Os sintomas começaram em 9 de fevereiro. Inicialmente, o militar acreditou ser pressão alta, uma vez que é hipertenso, mas logo notou que era Covid-19, pois não sentiu o gosto do açaí que tomara.
“Comecei a sentir falta de apetite, cansaço, um pouco de febre, diarreia e vômitos. Foi quando decidi procurar o serviço médico, e imediatamente veio a ordem de evacuação, via três horas de ambulância, de Pacaraima para Boa Vista”, relembra Daniel.
Em Boa Vista, ele foi internado em um hospital de campanha, com saturação de 79%. Após a confirmação do diagnóstico, foi preciso fazer uma segunda viagem. O militar foi transferido de avião para Belém (PA), onde seguiu internado até sexta-feira (26/2).
“Foram dias em que estive atrelado ao oxigênio e a aparelhos de acompanhamento dos sinais. Mas sempre com medo, pois vi vários ‘velhinhos’ passando por diversas dificuldades durante o tratamento. Isso me abalou um pouco o psicológico”, relata o subtenente.
“Eu sou novo, toda medicação que me aplicavam surtia os efeitos desejados. Mas com os idosos, os médicos tinham de montar um verdadeiro quebra-cabeças para tratar. O que a gente vê e se assusta nos noticiários do Brasil e do mundo, eu presenciei pessoalmente. Muito triste”, complementa.
METRÓPOLES/montedo.com

12 respostas

  1. Passou da hora de brincar de super-homem , se achar que está acima de tudo e de todos ,para alguns ,existe a UTI presidencial ou ministerial ou UTIs diferenciadas para pessoas mais diferentes dos demais ,contrariando a própria constituição e o pior são os loucos que se jogam atrás das louquices arriscando e colocando a vida dos outros ,somos falíveis e não maricas .

  2. Temos que nos cuidar. Estamos aqui em casa fazendo o possível e impossível para afastar essa dolorosa doença. Porém algo que me deixa impaciente é ver o ônibus indo para QGEx lotado de militares. Ao invés de colocarem mas transporte, reduziram a frota, ocasionando uma lotação na maioria dos ônibus e van´s. Não dar para entender.

  3. Saudações, Sr Montedo. Gostaria de saber o por quê não são publicados todos os comentários como no site da sociedade militar? Cada um responde pelo seus atos, não ser se existe algo que tenha que assim.
    Grato.

  4. No EB as aglomerações continuam para satisfazer o ego de nossos chefes…. São seções cheias de militares trabalhando, inclusive com os que são mais vulneráveis por serem de grupo de risco, formaturas rolando nas OMs normalmente todos os dias, instruções rolando em salas, auditórios e outros locais fazendo cada vez mais aglomerações. Todas as atividades que tem aglomerações sendo realizadas, ou seja, TFM, TAF, marchas, acampamentos e outros

  5. Com certeza o número é bem maior se levarmos em consideração os militares assintomáticos que, por esse motivo, não fazem o teste.

  6. O número de óbitos entre os militares na reserva e muito alto. Seria interessante as SIP copilar os dados semestralmente para fins estatísticos.

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