Apesar de pressão do STF, militares defendem general Villas Bôas, mas criticam deputado bolsonarista preso

deputado daniel silveira

Na avaliação de generais da ativa e da reserva, críticas em vídeo tiveram mais motivação eleitoral do que de defesa das Forças

Gustavo Uribe
Vinicius Sassine
BRASÍLIA

Na opinião de integrantes da cúpula das Forças Armadas, o relato do general da reserva Eduardo Villas Bôas sobre a decisão de se posicionar às vésperas do julgamento do Supremo de 2018 sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi interpretado de maneira equivocada por ministros da corte.
Para generais tanto da ativa como da reserva, alguns deles que ocupam postos estratégicos no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a publicação feita no Twitter em abril de 2018 pelo então comandante do Exército não teve nem uma intenção conspiratória nem um aspecto ilegal.
Segundo eles, que preferiram falar em condição de anonimato, o intuito do agora general da reserva foi manifestar uma insatisfação na época com o que os militares chamam de sensação de impunidade que existia no país.
Apesar de defender Villas Bôas, o comando fardado avalia que o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) exagerou nos ataques de ódio feitos a ministros do Supremo e errou ao fazer uma apologia ao AI-5, o decreto mais radical editado pela ditadura militar no país.
Em quase 20 minutos de vídeo, Silveira fez uma defesa enfática da postura de Villas Bôas de afrontar o STF, o que foi avaliado pela cúpula militar como uma manifestação desnecessária e agressiva.
O AI-5 foi editado na noite de 13 de dezembro de 1968, no governo do general Costa e Silva. O ato levou ao fechamento do Congresso, censura, casos de tortura e assassinatos de opositores. A revogação só ocorreu em 1978.
A postura do deputado bolsonarista, de ataques de ódio a ministros do STF e de defesa de Villas Bôas, foi adotada depois de integrantes da corte criticarem o ex-comandante do Exército.
O ministro Edson Fachin havia divulgado uma nota em que disse ser “intolerável e inaceitável qualquer tipo de pressão injurídica sobre o Poder Judiciário”.
Villas Bôas, quando comandava o Exército e, ao mesmo tempo, apoiava a candidatura de Bolsonaro à Presidência, publicou um tuíte em sua conta no Twitter pressionando o STF, antes do julgamento de um habeas corpus impetrado por Lula, principal adversário de Bolsonaro naquele momento.
A medida foi negada, e Lula foi preso. Com a publicação de um livro de memórias de Villas Bôas neste mês, tornou-se público um detalhamento feito pelo ex-comandante: o tuíte foi articulado e discutido por integrantes do Alto Comando do Exército.
Ou seja: a posição do comandante foi institucional, referendada por generais que partilhavam de decisões conjuntas na cúpula do Exército.
Villas Bôas, hoje, está abrigado no Palácio do Planalto. Ele é, desde janeiro de 2019, assessor especial do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), cujo ministro é o general da reserva Augusto Heleno, outro apoiador de Bolsonaro desde a pré-campanha em 2018.
Na avaliação de militares do governo, o vídeo gravado por Silveira, que levou à prisão dele na noite de terça-feira (16), teve mais motivação eleitoral do que de defesa das Forças Armadas. Para eles, o objetivo do deputado era agradar Bolsonaro e atrair o apoio de eleitores de direita.
Militares que integram a gestão classificam a posição do parlamentar de lamentável e de uma coisa baixa.
Essa posição não se estende aos gestos de Villas Bôas. O general sempre contou com admiração de generais comandados e de generais que integravam o Alto Comando durante a gestão do militar à frente do Exército, de 2015 a 2019.
Segundo militares que atuaram com Villas Bôas, o comandante costumava repetir que o Exército se pautava na tríade legalidade, legitimidade e estabilidade. As palavras eram repetidas especialmente durante a crise política que terminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Para colegas de farda e de comando, Villas Bôas não comprometeu a legalidade, a legitimidade e a estabilidade nem durante o impeachment de Dilma nem em 2018, quando atuou para pressionar o STF e favorecer Bolsonaro.
No depoimento publicado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), Villas Bôas afirmou que a mensagem publicada por ele nas redes sociais era uma espécie de alerta ao Supremo, articulada pela cúpula do Exército.
Como mostrou a Folha, o relato de Villas Bôas envolve diretamente três ministros de Bolsonaro, pois ele afirma que discutiu o tema com sua equipe e com os integrantes do Alto-Comando do Exército, o colegiado de 15 generais de quatro estrelas, o topo da hierarquia.
O ex-comandante afirma que falou com os membros residentes em Brasília, o que coloca o hoje ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo, na discussão. Ele era então chefe do Estado-Maior, segundo posto da Força, integrate do círculo íntimo do comandante.
Outro atual ministro era Luiz Eduardo Ramos, que recebera sua quarta estrela em novembro de 2017 e fora nomeado em 28 de fevereiro para ser comandante do Sudeste, em São Paulo. Entre eles estava ainda o atual chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, que era comandante do Sudeste e interventor militar no Rio de Janeiro à época.
Como reação, Fachin condenou o episódio e disse que a corte não pode ser pressionada. Ele recebeu o apoio de outros integrantes do Judiciário, para os quais o presidente Luiz Fux deveria divulgar uma nota de protesto.
Para integrantes da cúpula militar, a reação de Fachin foi despropositada, por se tratar de um episódio de três anos atrás, e não levou em conta o sentimento na época de insatisfação popular com escândalos de corrupção.
O próprio Villas Bôas ironizou, também no Twitter, a reação tardia do ministro, o que jogou mais lenha na fogueira. O ministro Gilmar Mendes escreveu uma mensagem em sua conta no Twitter finalizada com a frase “ditadura nunca mais!”.
Apesar da postura corporativista, há militares da reserva que consideram que Villas Bôas poderia ter evitado o depoimento que originou o livro, já que se trata de um episódio superado.
Na avaliação deles, o militar trouxe de volta sem necessidade uma polêmica do passado, criando justamente o risco de ela ser mal interpretada.
Para evitar que a situação se agrave, militares defendem que o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, não se pronuncie sobre o episódio e se afaste da polêmica, postura que ele adotou até o momento.
Na tentativa de marcar o distanciamento dos militares, alguns integrantes da cúpula militar pregam que, no máximo, o ministro divulgue uma nota genérica para apenas reafirmar o apreço das Forças Armadas pela democracia.​
Mesmo sob pressão do STF, Villas Bôas ainda conta com forte simpatia na caserna, sobretudo por parte de Bolsonaro.
Nesta quarta-feira (17), o plenário do Supremo manteve por unanimidade a decisão do ministro Alexandre de Moraes de prender Silveira em flagrante. Ainda assim, o veredito precisa ser encaminhado à Câmara, que decidirá se mantém ou não a prisão.
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

16 respostas

  1. Seria estranho generais apoiarem praças… esse artigo nada conhece da caserna..Assim vamos explicar ou desenhar se nao entenderem
    Praça e a base porém não tem poder; oficiais são minoria porém tem poder: de caneta, de hierarquia, de união (formada nas escolas militares)
    Praças são as buchas de canhao; oficiais são os canhoes;
    Praças cumprem ordens (mesmo erradas), oficiais ditam as ordens
    Resumimdo: o poste ainda não faz xixi no cachorro

  2. O Brasileiro esquece do passado.
    Quem não se lembra do passado do seu país não consegue prosseguir ao futuro.

    Um depende do outro.

    Não é colocar num museu.
    Muitos trabalham anos em suas cidades e não tem tempo para conhecer a história de sua cidade no Museu.

    Por isso defendo essas intervenções das instituições no país para que a opinião pública saiba de seus passados.

  3. Este jornal…este país…nossa sociedade…nossa mídia…nossos poderes…chego à conclusão que seremos, eternamente, um país atrasado e governado por uma elite descompromissada com o desenvolvimento do Brasil! Um povo alienado, ignorante, interessado, apenas, em futebol, cerveja, put…ria, carnaval, novelas (parecem mais pornografia do que novelas), BBBs da vida…Uma parte, considerável, da população não quer estudar e nem trabalhar! Preferem ficar na aba do Estado! Uma enorme capacidade de pedir e de ficar ocioso! Transformaram parte considerável da população em seres desprovidos de vontade e determinação em conseguir progredir na vida! Principalmente a nova geração! Fui muito pobre, estudei para caramba, comecei a trabalhar muito cedo e ingressei nas forças armadas sendo, hoje, oficial superior. Nunca tive cota para nada e nenhum tipo de ajuda! O que estes governos, do final dos anos 80 para cá, fizeram com o nosso povo? Vejo gente jovem, filhos e filhas de gente que conheço, estagnados na casa dos pais! Muitos não trabalham e nem estudam! A esquerda tem uma enorme responsabilidade nisto tudo! Apoderou-se e aparelhou a mídia e o meio cultural destruindo valores…desagregando a família…desunindo e dividindo a população! Estamos fadados ao caos!

    1. Concordo com tuas palavras. Tomo a liberdade de acrescentar que a maioria dos que exercem cargo publico nunca tiveram a oportunidade de empreender, montar um comércio, construir uma industria ou negócio rural, que são a base de sustentação do Estado através dos impostos.

      Dessa forma, aprenderam, por pura educação na inveja, a criminalizar as riquezas, os lucros, auferidos pela maioria com trabalho árduo. E como muitos enriquecem através do trabalho, os setores públicos passaram a tributar exponencialmente a base produtiva, proporcionando a falência e o afastamento de muitos empreendedores de seus negócios.

      Aliados a isto, acordos internacionais de comércio e industria promoveram a concorrência desleal, em face de nossa legislação menos liberal, permitir a entrada de produtos subsidiados em seus países de origem promovendo a quebra de nossas industrias.

      E para concluir, esse mesmo setor publico, destinou a si mesmo, por menor esforço despendido, benesses nunca antes vistas nem mesmo no setor privado, com garantias de ganhos extensivos, como se vê em aposentadorias estratosféricas.

      Diante de todo esse quadro, “grandes empreendedores” em contratos com o setor público, auferiram riquezas inestimáveis, alvos de centenas de processos por corrupção, venda de sentenças, desvio de dinheiro publico, etc.

      Apesar de vivermos em uma terra abençoada por suas riquezas naturais, nosso povo é treinado a maldizer a terra em que nasceu, promovendo a depressão mental para muitos que desejam sair desse marasmo.

  4. É muita farsa desses integrantes dos poderes da república incluindo a cúpula militar. As verdades que o parlamentar ( Daniel Silveira ) falou .são reflexos das indignações de todos brasileiros que se sentem diariamente ofendidos pelas atitudes desses servidores públicos ( políticos ,magistrados ,militares etc.. ) pagos com os tributos das massas famintas; .Visto todo o desdém que esses tem pelo Brasil. As falas do parlamentar ,assim como do general é somente um aviso. Hoje abusam de uma democracia e aplicam lei que só vale para os ricos, que podem pagam o preço do processo . O que farão quando não for só a palavras de um ,mas de milhões. Vão fazer o que.

  5. Falou tudo. Generais não apoiaram praças, principalmente os sgt QE, Aposentados, reformados e pensionistas. Claro que não iriam apoiar o Deputado Federal que é um policial praça. Oficial defende Oficial. Acontece que eu nunca vi Exército sem praça. No dia do soldado os Oficiais são soldados, nas comemorações, mas na hora do salário dos praças não querem nem saber quem é o praça. Isso é acepção de pessoas, ou como dizem em relação as pessoas de origem africana, ou seja é uma discriminação. Os brasileiros mais pobres das Forças Armadas são discriminados de forma brutal em relação a remuneração. O nosso presidente foi eleito também com votos dos praças menos remunerados. Como Deus deu a Presidência para ele para que os menos favorecidos fossem atendidos, e no caso não foi, este mesmo Deus que é de uma grande massa de evangélicos que são praças Ele mesmo pode mudar o conselho das nações Sl 33.10 “O SENHOR desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos. O poder vem de Deus. Jo 19. 10,11 “Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?
    11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem. O governo anterior dos Estados Unidos perdeu as eleições por que Deus cobrou dele o que ele fez separando as crianças dos pais na fronteira com o México. Deus não aceita injustiça. O mesmo Deus que põe é o mesmo Deus que tira, caso aquele que ele coloca não venha a fazer justiça aos pequeninos.

  6. O que o Deputado falou em relação ao Supremo, como tem direito de se expressar por ter imunidade parlamentar, e a população não tem, ele apenas disse o que o povo brasileiro não pode dizer. O povo brasileiro não é ignorante. Ele entendeu bem o que o Deputado Federal quis fazer, isto é, falar o que o povo não pode falar, por não ter imunidade parlamentar.

  7. Na minha opinião, quem não apoia o Deputado Federal, não está apoiando o povo brasileiro. E tanto o Senado como a Câmara, se não apoiarem o Deputado Federal, estarão se deixando denegrir, bem como deixando de apoiar o povo brasileiro que os constituiu para ser a voz do povo no Congresso Nacional.

  8. Se eu fosse Presidente do Senado aproveitaria o momento e renovaria todo o STF em uma só tacada. Os 11 ministros exorbitaram com a prisão do Deputado e do Jornalista, deturpadores da Constituição. E o Presidente da câmara, liberar de imediato o Deputado preso e o levaria ao Conselho de Ética. O plenário resolveria de alguma forma sobre a manifestação do Deputado.

    É comum esse tipo de palavreado usado pelo deputado dentro e fora das instituições dos 3 poderes, principalmente por jornalistas pedindo a morte do presidente Bolsonaro e incitando-a por diversos meios. E quanto a essas manifestações, todos se calam, prevaricando.

  9. Muita arrogância para pouco Deputado ,as coisas não funcionam assim no grito ,ele deveria saber , ao menos que queiram atropelar as leis e atravessar o bonde ,por mais que os poderes constituídos errem ,eles ainda são a sustentação da democracia ,ou seja na liberdade que temos

  10. Penso o seguinte, toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideais de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha, ainda bem que aqui no SITE todos podem ser expressar do jeito que bem entende parabenizo o Montedo.

  11. Vilas boas quer alavancar as vendas de seu livro. Aposto que não disso ocorreu. Na época o quartel deveria estar em meio expediente, então para passar o tempo ele resolveu fazer o famoso ” Twitter “. Acredito que não tenha influenciado a decisão do corte em relação ao HC do Lula.

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