Tuíte do general Villas Bôas sobre Lula foi atenuado; atuais ministros de Bolsonaro discutiram o texto

Alto Comando do Exército visita o General Villas Bôas

Em livro, ex-comandante do Exército omite discussão sobre nota em que pressionava STF sobre habeas corpus do petista

Igor Gielow
SÃO PAULO

A famosa postagem no Twitter do então comandante do Exército antes do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha um teor bastante mais incendiário do que o publicado.
Segundo o relato feito em um depoimento publicado pela Fundação Getúlio Vargas na semana passada pelo general da reserva Eduardo Villas Bôas, que comandou o Exército de 2014 a 2019, ao menos três ministros do governo Bolsonaro e o atual chefe da Força souberam da nota.
Ela foi atenuada por ação do então ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, hoje diretor-geral de Itaipu, um episódio até aqui inédito que foi relatado à Folha por integrantes do governo Michel Temer (MDB).
No dia 2 de abril de 2018, uma segunda-feira, o comandante Eduardo Villas Bôas discutiu a ideia de admoestar o Supremo Tribunal Federal, que em dois dias iria julgar um pedido para evitar a prisão de Lula, condenado em segunda instância no caso do tríplex de Guarujá.
Silva e Luna foi alertado acerca do tuíte e ficou assustado. Acionou o general da reserva Alberto Mendes Cardoso, conhecida voz moderada que foi chefe da Casa Militar/Gabinete de Segurança Institucional do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Ambos trabalharam para retirar menções que sugerissem intenções de interferência institucional aberta contra o Supremo. Sobrou a ameaça velada, que no livro “General Villas Bôas: Conversa com o comandante”, de Celso Castro, o ex-comandante diz ter sido “um alerta”.

Procurado, Silva e Luna não comentou o episódio.
“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, dizia a primeira postagem, feita no dia 3 de abril.
“Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, completava.
No livro da FGV, o general afirma que não discutiu o tema com o ministro, embora cite erroneamente Raul Jungmann como o titular da pasta —ele havia deixado da Defesa no começo de 2018 para assumir a Segurança Pública.
Lula acabou tendo o pedido negado pelo plenário do Supremo e, no dia 7 de abril, foi preso em Curitiba. Deixou a cadeia 580 dias depois, após o STF derrubar a regra que permitia prisão a partir da condenação em segunda instância.

Lula Livre
Diferentemente do que se intui da leitura da entrevista de Villas Bôas, o temor militar da volta da esquerda ao poder personificado em Lula, o ex-presidente segue inelegível mesmo solto.
No livro, o ex-comandante repetiu o que havia dito em entrevista à Folha em novembro de 2018, dizendo não se arrepender do gesto e negando intuito de favorecimento político a Bolsonaro, um capitão reformado do Exército.
Por outro lado, descreve o processo de apoio ao hoje presidente entre os militares e a ojeriza crescente ao PT, o que elabora um quadro claro de ação política do Exército, consolidado quando diversos generais da reserva e da ativa integraram o governo em 2019.
Assim, o relato de Villas Bôas envolve diretamente três ministros de Bolsonaro, pois ele afirma que discutiu o tema com sua equipe e com os integrantes do Alto-Comando do Exército, o colegiado de 15 generais de quatro estrelas, o topo da hierarquia.
Alguns integrantes do grupo afirmaram, sob reserva, que a decisão final sobre as postagens foi de Villas Bôas e de seu grupo mais próximo, o chamado núcleo duro.
O ex-comandante afirma que falou com os membros residentes em Brasília, o que coloca o hoje ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo, na discussão. Ele era então chefe do Estado-Maior, segundo posto da Força, integrante do círculo íntimo do comandante.
O hoje ministro não quis comentar o episódio. “O conteúdo do livro cabe ao seu autor”, disse, por meio de sua assessoria.
Outro atual ministro era Luiz Eduardo Ramos, que recebera sua quarta estrela em novembro de 2017 e fora nomeado em 28 de fevereiro para ser comandante do Sudeste, em São Paulo.
Ele só assumiu o cargo em 3 de maio, então estava na condição de adido do Estado-Maior do Exército em abril, fazendo a passagem para o comando.
Hoje ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, muito próximo do presidente, o general da reserva nega ter participado. “Não fui consultado”, afirmou, por telefone.
O então comandante também disse ter enviado a nota para os generais de quatro estrelas que já comandavam áreas, no próprio dia 3, e ouviu suas sugestões.
Entre eles estavam o atual chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, que era comandante do Sudeste e interventor militar no Rio de Janeiro à época. A Folha enviou um questionamento a sua assessoria, mas não obteve resposta.
Também integrava o grupo o atual chefe da Força, Edson Leal Pujol, que era o comandante militar do Sul —ele havia substituído o hoje vice-presidente Hamilton Mourão, removido da função após criticar o governo de Dilma Rousseff (PT) em 2015.
A reportagem também não recebeu resposta do Comando do Exército sobre pedido para comentar o caso.
Pujol tem comandado um processo de separar a linha de atuação do serviço ativo dos militares do governo, após o ensaio de crise institucional que envolveu os militares e Bolsonaro no ano passado.
Ele parece cioso do dano potencial à imagem das Forças Armadas reafirmado pelo livro de Villas Bôas.
UOL/montedo.com

7 respostas

  1. Picuinha para emular a sociedade contra as FFAA. Ora, enquanto houver um presidente militar mesmo referendado pelas urnas de acordo com as regras democráticas, sempre haverá esse ranço contra os militares por parte da mídia ou de algum articulista a mando da redação de algum jornal, pois ainda não absorveram a derrota da esquerda nas urnas.
    O problema não a “tuitada” do general ou o livro por este lançado, mas o endereço da “missiva” do articulista é o Governo Bolsonaro. Pesquisem e vejam quem é o autor da matéria.

  2. Prezados amigos das FFAA, vocês conhecem a “LEI DE RETORNO”? outro, “A SEMEADURA É LIVRE, MAS A COLHEITA É OBRIGATÓRIA”. Façam uma reflexão sobre o general!!!

    1. Acho realmente que o general aliou-se a campanha bolsonarista e hj pleiteia de dissociar ou pelo menos dividir o fardo histórico ! A caserna nunca foi tão politizada dentro e fora como no último quinquênio !O EB abraçou o atual status quo de negacionistas, pseudoliberalistas e anticorrupção e sempre será lembrado por isso!Fruto disso claramente são os penduricalhos de cargos dentro do primeiro escalão pelos Generais que “assinaram” a nota

  3. Um governo que combate a corrupção, o narcotráfico, contrabando de metais preciosos, contrabando de armas, contrabando de madeira, associações criminosas que usurparam dinheiro da pandemia destinada ao salvamento do povo; combate desvios de dinheiro publico da Lei Rouanet (dos artistas ricos), negou bilhões de reais aos grandes mídias, está concluindo centenas de obras paralisadas há décadas; ser ostensivamente alvo dessas intrigas midiáticas só pode ser o reconhecimento indireto do sucesso. A quem os mídias querem defender?

  4. Pressionando ou interferindo nos outros poderes, judiciário e até com o presidente da República, parece até que existe uma formação de quadrilha atuando no país, que estão acima da constituição federal, das leis e da ordem.

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