É o homem que lustra o cargo

O ex-porta-voz do governo Rêgo Barros Foto: Daniel Marenco / O GLOBO

”Neste artigo, a relação civil-militar é ponderada, tendo por base o livro O Soldado e o Estado, do professor Samuel P. Huntington (1927 — 2008)”

Otávio Santana do Rêgo Barros
Articulistas têm opinado sobre o emprego de militares em apoio à governança do país. Alguns, baseados em estudos qualificados, outros, apenas, em visões pessoais. O tema toca as Forças Armadas, sobretudo, após a conclusão do ciclo de governos militares em 1985. Conduzidas por firme liderança, elas se recolheram aos quartéis e buscaram, na introspecção, o enriquecimento profissional.
Esta maturação as levou à decisão de oferecer, além de sua missão primacial de defesa da pátria — o braço forte —, o apoio à sociedade tão carente de desenvolvimento social — mão amiga.Como consequência, sua credibilidade ascendeu a patamares elevados e consistentes, confirmados por pesquisas, nas quais se demonstram um genuíno sentimento de afeição e respeito que a sociedade brasileira detinha e detém pelos soldados de branco, de verde e de azul.
O assunto é atual, instigante e merece análise. Neste artigo, a relação civil-militar é ponderada, tendo por base o livro O Soldado e o Estado, do professor Samuel P. Huntington (1927 — 2008). Defende o autor: “Instituições militares que só refletem valores sociais (mão amiga) podem ser incapazes de desempenhar com eficiência sua função específica (braço forte). Por outro lado, poderá ser impossível conter, dentro da sociedade, instituições militares moldadas exclusivamente por imperativos funcionais”. Que se busque o equilíbrio.
Lista as missões do “corpo de oficiais” atribuindo-lhe: a função representativa, na qual postula as reivindicações da segurança militar; a função consultiva, para ponderar as implicações das opções do Estado; e a função executiva, ao pôr em andamento as deliberações do Estado relativas à defesa nacional. Não há, portanto, inserção do estamento militar na linha decisória da política. E não deve haver mesmo. É entendimento natural aos atuais profissionais da arte da guerra.
Seu estudo ilumina a necessidade de a sociedade sentir-se protegida para valorizar suas Forças Armadas e põe holofote na dificuldade de parte do público, em especial “as elites”, em conferir igual prestígio entre os oficiais e os profissionais civis. Segundo o professor, um censurável posicionamento, porquanto a formação do militar contemporâneo toma-lhe mais de 1/3 de sua vida profissional em dedicação à escolaridade formal. Uma proporção quiçá mais alta do que em qualquer outra carreira.
Não significa que os militares se tornaram almofadinhas intelectualizados. Eles aplicam o aprendizado formal em missões de garantia da lei e da ordem, em operações de Forças de Paz, em operações subsidiárias e, sobretudo, na expectativa de defesa da pátria. Menciona que a reputação do corpo de oficiais junto à opinião pública constitui elemento capital em determinar a sua influência militar. Logo, Forças Armadas precisam mirar-se firmemente no espelho que reflete a sociedade para validar suas posturas.
Estas ideias oferecem um roteiro para uma discussão sadia sobre o emprego de militares como quadro de governo e sobre a função das Forças Armadas como instituição de Estado, com servidão exclusiva à sociedade. Por ora, vamos nos fixar na primeira ideia. Se um militar é chamado a cooperar com o governo, dentro da legislação, não há impedimento em atender à requisição. O indefensável são indicações excêntricas, por apadrinhamento ou desprovidas de meritocracia e amparo técnico. Essas não cabem em nenhum contexto.
Como exemplo, após a Segunda Guerra, o governo americano conviveu com baixas em recursos humanos. Diz o professor: “Não havia fonte imediata de civis com experiência (…) os oficiais mostravam-se dispostos a trabalhar. (…) a experiência militar proporcionava-lhes certo tipo de tirocínio e formação”.
Alinhado com as orientações emanadas dos chefes militares de ontem, de hoje e de sempre destaca Huntington: “A participação de militares na política lhes enfraquece o profissionalismo (…) politicamente, o militar tem que permanecer neutro”.
Persegue-se, ainda hoje, a postura do general Gois Monteiro na década de 1930: “É a política do Exército e não a política no Exército!” E mais, é o homem que lustra o cargo e não o cargo que lustra o homem. Condutas desprovidas de sensibilidade não podem ser atribuídas à instituição. Erros de avaliação não podem ser atribuídos à instituição. Conexões entre um mau desempenho do indivíduo e sua formação institucional não são justas.
“Eu sou eu e minha circunstância” (Ortega y Gasset) é pensamento lapidar que bem casa com a consciência castrense, quando essa aprimora a ação sobre a circunstância (o meio) para bem servir à nação. Por tudo isso, instigo os que se debruçam sobre esta temática a buscar o contato com as Forças Armadas, conhecer o sistema de ensino, de promoções, de preparação, de emprego e avaliar mais de perto as lideranças que as conduzem. E depois, bem, e depois, estejam libertos para comentar, criticar ou defender.
Paz e bem!
*General, ex-porta-voz da Presidência da República
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

16 respostas

  1. …”e avaliar mais de perto as lideranças que as conduzem”…

    – Fora o Comandante do Exército que respeitamos, que LIDERES militares são esses que nos conduzem seu arrego barros ?

    …”e depois, estejam libertos para comentar, criticar”…

    – Com estes inúmeros exemplos de aberrações que estes generais do primeiro escalão nos obrigam testemunharem, como “só depois de conhecer o sistema de ensino, de promoções, de preparação, de emprego” a imprensa ou qualquer um “pode” estar livre para avaliar “as lideranças” militares.

    – Seu arrego barros, enquanto você estava prestigiado pelo seu Mito não criticava ou discordava deste lastimável governo.

    – Perdeu a boquinha e escorraçado do cargo, volta e meia, aparece com essa “esborragia verbal” inútil e insuportável.

    – Soma-se a você o Pazuello, mestre em logística ‘sic’, e contumaz mentiroso.

    Cala-te! arrego barros.

  2. Conduzidas por firme liderança de quem? Das Diretas Já? Da ABI? Da OAB? Dos mesmos mídias que hoje acusam e ofendem? Dos mesmos que tinham o PCCh e Cuba como aliados?

  3. “Não há, portanto, inserção do estamento militar na linha decisória da política.!

    Isso tem que ser dito para o PCCh, Venezuela, Cuba, Coréia do Norte, Egito, Rússia e outros.

  4. O artigo é sóbrio embora com uma critica enviesada ao Presidente Bolsonaro. Todos, independente de ser militar ou civil são cidadãos. Sistemas de governo, regimes políticos, teorias econômicas e seus exemplos em todo o mundo deveriam ser ensinados para todos desde os primeiros passos escolares, adequados aos níveis de idade de aprendizado, para que cada um aprenda como o mundo funciona. Enquanto militar, aprendendo sobre tudo, seguir as regras dentro do quartel. É muito simples!

  5. Todos, repito, todos estão noticiando e criticando este governo que sempre foi contra a ciência e vacinas, como por exemplo a CoronaVac chinesa, exclusivamente por bizarrices e falta de logística e esclarecimentos sobre os procedimentos e processos deste governo sobre o combate à pandemia.

    Ninguém está criando ou inventando fatos.

    Quem disse monstruosidades como “gripesinha, todos iremos morrer um dia, e daí (quando questionado quando atingimos o maior número de mortes diárias) foi esse incapaz PRESIDENTE.

    Não foi nenhum redator de qualquer mídia da imprensa.

    Dá nojo cada dia desta administração deste governo federal.

    Um R2 mal-acabando.

  6. Ah esses homens do Exército apolítico…

    Qual a finalidade do Exército? A finalidade do Exército é a guerra.

    A guerra se desenvolve somente no campo estritamente militar? Não, a guerra se desenvolve em todos os campos da vida social, como por exemplo, na economia, no direito, na saúde, na educação, na cultura, etc, etc.

    Qual a finalidade da política? A ordenação de toda a vida social. É por isso, que os políticos legislam sobre todos os assuntos da vida social como a economia, direito, saúde, educação, cultura, etc. Ao legislarem sobre todos os campos da vida social eles estão ordenando essa mesma vida.

    Se a política age sobre todos os campos da vida social e a guerra que é a atividade fim do Exército se desenvolve em todos esses mesmos campos, então, a política é atividade fim do Exército. É exatamente por isso que Clausewitz afirma que “a guerra é a continuação da política por outros meios”. É por isso também que ao longo de toda a história da humanidade, os reis, ao mesmo tempo que eram políticos, pois, exerciam a função de mediadores dos diversos conflitos sociais, eram também chefes militares. Isso se dá porque a política e a guerra estão unidas, essencialmente são a mesma coisa.

    É exatamente, por isso, que o General Goés Monteiro citado no texto afirma em seu livro A Revolução de 30 e a Finalidade Política do Exército que “o Exército é um órgão essencialmente político”. Preciso e correto o General.

    Mas a política é algo que divide e o Exército necessita de coesão, por isso, Goés Monteiro diz, conforme citado no artigo que “deve-se fazer a política do Exército e não a política no Exército.” O Exército não deve ser apolítico, pois, isso é impossível conforme já explicado antes. O Exército deve fazer com que a sua política seja implementada.

    Contudo, é qualquer capitão, tenente, sargento que deve fazer com que a política do Exército seja implementada? Óbvio que não, pois, isso é contrário a hierarquia. Quem deve fazer essa política são os generais que comandam a Instituição. É, por isso, que o cargo de general é um cargo político.

    Quando o Exército, por meio de seus generais comandantes, se escusa de fazer com que sua política seja implementada surge o partidarismo nas suas fileiras e o motivo para isso é muito simples: O militar também é cidadão e como cidadão tem suas legítimas aspirações. Se ele não vê essas aspirações atendidas pelos seus comandantes, ele busca outros caminhos para que essas aspirações sejam atendidas e é daí que vemos essa politização nas fileiras militares. É essa recusa de fazer sua política que fez com que os QE agissem do jeito que agiram, etc, etc.

    E o general vem citar Huntington num ato bovino de servilismo ideológico, mas isso é natural da parte desse pessoal que fizeram a maior parte de suas carreiras nos anos 80 e 90. Foram lobotomizados por essas ideologias anti-militares vindas do estrangeiro.

    Por fim, o General deixa transparecer que a democracia é necessariamente boa em si mesmo, uma espécie de paraíso terreno. Não, general, a democracia é um sistema que falhou justamente porque seus princípios são errados e cito apenas um deles: A idéia de que a vontade da maioria determina o bem ou a verdade. Se a maioria decidiu algo, então esse algo é bom, correto, digno de ser feito… kkkkkk

    Quanta cegueira.

    Ainda bem que as novas gerações tem outra mentalidade.

  7. “Lustrar o Cargo”… Quantos chefes militares fazem isso?! Resta aos estamentos inferiores, desprovidos de liderança, ainda que de maneira utópica recorrer ao que a “política” oferece, uma vez que como acima foi dito: “a política ordena a vida social”.

    Dedicar-se inteiramente ao serviço da Pátria é basilar, mas a vida contemporânea do militar exige mais e entre essa exigências o zelo pela família, fato que demanda um conhecimento, acompanhamento e discussão dos assuntos sociais e políticos. Política sem partidarismo.

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