‘Era sonho realizado’, diz primo de militar morto no primeiro dia do curso para sargento

Israel morou seis meses na Inglaterra a serviço da Marinha Foto: Reprodução / Instagram

Apaixonado pela Igreja, por música e pelo trabalho, Israel Aarão, de 28 anos, havia acabado de noivar com a namorada

Luã Marinatto
“Tudo acontece na hora exata em que deve acontecer”, diz uma das últimas postagens de Israel Aarão Marcelo da Silva Correa, de 28 anos, em uma rede social. Após quase uma década na Marinha, enfim chegara a hora de iniciar o curso para sargento, que permitiria ao cabo uma vida mais confortável, inclusive do ponto de vista financeiro. Os planos, porém, não passaram da primeira aula no Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), na Penha, Zona Norte do Rio. Na volta para casa, Israel – ou apenas Rael, como era chamado pelos amigos – foi baleado na cabeça durante uma tentativa de assalto. Ele morreu no local.
– Era um sonho realizado na vida dele, um período de alegria extrema, depois de nove anos de muita ralação. Aquele curso era o início do ápice – lamenta Wilson Leal, de 33 anos, primo de Israel e ele próprio sargento da Marinha.
As alegrias do cabo não se resumiam à trajetória profissional. Após três anos de namoro, com direito a constantes trocas de declarações públicas na internet, Israel havia acabado de ficar noivo. Embora a celebração só fosse ocorrer em 2022, o casal já havia, inclusive, começado a pagar pelo salão onde ocorreria a festa. Muito abalada, a jovem de 26 anos está “sem condições até de falar”, nas palavras de amigos.
Israel e a noiva conheceram-se em um contexto que unia duas das três principais paixões do militar, além da própria Marinha: a religião e a música. Frequentador desde a juventude da Assembleia de Deus de Marechal Hermes, Israel organizava diversos trabalhos artísticos no templo, em especial junto aos mais jovens, como a formação de bandas e de um coral. Atualmente, ele e a companheira, frequentadora da mesma igreja, faziam parte, com mais nove colegas, da banda Surrounded, onde o rapaz tocava guitarra e cantava. O primeiro clipe, gravado em 2019, teve boa repercussão no meio gospel.
– Estávamos prestes a gravar o segundo clipe, e nos apresentávamos em várias igrejas, inclusive de outras denominações. A vontade principal era evangelizar, mas já estávamos pensando em transformar a banda em algo mais amplo. Ele era marinheiro por profissão, mas a paixão era a música – conta o engenheiro Melk Ribeiro, de 30 anos, tecladista do grupo e, ao lado de Israel, idealizador do projeto.
Por profissão ou não, a relação de gratidão e amor com a Marinha era uma constante para o jovem. Nos círculos de amigos, esse era um dos assuntos preferidos, fazendo com que jargões e gírias militares acabassem sendo utilizados por todo o grupo. A serviço da corporação, Israel chegou a morar seis meses na Inglaterra, período no qual viajou por outros países, dividindo intensamente as experiências nas redes sociais, onde colegas brincavam sobre o jeito “blogueiro” do militar.
Filho único, o cabo morou a maior parte da vida com os pais na Praça Seca, Zona Oeste do Rio. Por medo dos constantes tiroteios, a família alugou o imóvel próprio e mudou-se para a vizinha Vila Valqueire, um bairro mais calmo. A violência do Rio, porém, encontrou Israel. O local onde ele acabaria baleado e morto, próximo a uma estação do BRT em Madureira, fica a apenas dez minutos da casa em que ele vivia. No banco de trás do carro, de carona, estavam dois colegas de farda.
– Ele sempre fazia isso, ajudava todo mundo. Saía do quartel perguntando para onde cada um estava indo, e se pudesse levava. O Rael era muito querido, muito brincalhão, muito carismático, querido por absolutamente todo mundo. Era um cara cheio de vida – lembra o empresário Tomás Mello, de 28 anos, amigo de infância do cabo, que na véspera foi com o cabo ao shopping comprar um tênis “muito branquinho” para ser usado nas atividades físicas do curso de sargento.
Os dois assaltantes que dispararam contra Israel e fugiram em seguida, de moto, ainda não foram identificados pela Divisão de Homicídios, que investiga o caso.
– O nosso sentimento é de perdão. Só posso desejar que larguem essa vida e encontrem Jesus, para mudar o interior. Esse caminho só leva à morte e à queda, inclusive deles mesmos – vaticina o sargento Wilson, primo de Israel.
O cabo será enterrado neste sábado, às 10h30, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. O velório começa às 6h.
O Globo/montedo.com

5 respostas

  1. Os materiais que li sobre esse caso aparentam ser, o assassinato do jovem, o “passaporte” exigido por chefes de quadrilha para ingresso de “soldados”. Os veículos que saem do centro de instrução não são invisíveis e podem, quem sabe, ser observados à distância e acompanhados até o momento da abordagem. Triste, muito triste essa situação no RJ.

  2. O Brasil se tornou um país selvagem com leis brandas para assassinos, estupradores e ladrões! Não ficam nada na cadeia e isto quando são preços? Mas o que esperar de quem legisla? De quem cria as leis? É a mesma coisa que esperar que um lobo crie leis para proteger ovelhas…

  3. Esse trajeto é um convite a morte moro em madureira e não recomendo ninguém passar entre cajueiro e serrinha marginais milicianos cracudos é o fim…

  4. Luã Marinatto

    que título não condiz com o fato. Parei de ler ao ver que foi fato FORA do curso e na RUA.

    Pêsames à toda Família e amigos.

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