Com 200 mil mortos, Pazuello tenta (em vão) dar ordem unida à imprensa

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, durante uma cerimônia de hasteamento de bandeira em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília Adriano Machado/Reuters

Chico Alves
Colunista do UOL

No dia em que o Brasil ultrapassou a trágica marca de 200 mil mortos pela covid-19, o general da ativa Eduardo Pazuello, que ocupa o Ministério da Saúde, fez um pronunciamento em que foi mais general do que nunca. Cara fechada, cenho franzido, tom de repreensão, o chefão da pasta dirigiu-se à imprensa como um oficial que fala aos seus comandados.
Disse o que os veículos devem ou não reportar, bradou que meios de comunicação não têm atribuição de interpretar os fatos e falou em tom de ordem unida: “Deixem que o povo tire suas próprias conclusões”.
Pouco antes da reprimenda, já tinha criticado várias vezes a imprensa pela suposta parcialidade no noticiário relativo ao Ministério da Saúde. Na sua visão, a pasta está fazendo tudo certo e a ideia de que haja atraso ou confusão na compra de vacinas e insumos é falácia criada pelos jornalistas.
Entre outras coisas, o general disse que não entende a dúvida sobre se o ministério fará ou não a compra da CoronaVac, já que essa iniciativa foi anunciada em outubro.
Parece ter esquecido que a autoridade máxima do país, seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, foi quem o desmentiu.
Menos de 24 horas depois de Pazuello anunciar a intenção de comprar 46 milhões de doses, Bolsonaro disse a um de seus seguidores nas redes socais que o imunizante da Sinovac não seria comprado. Nas semanas seguintes, o presidente fez várias declarações nesse sentido.
Aí está, ministro, o motivo da dúvida.
Pazuello reclamou também do termo “fracasso” usado para definir o resultado da recente tentativa de compra de 330 milhões de seringas e agulhas, que terminou com a compra de menos de 3% dessa quantidade. Argumentou que o processo de aquisição ainda está em andamento e que municípios e estados podem suprir o fornecimento desses insumos.
Tudo muito bom. Mas em qualquer órgão público ou empresa privada uma licitação que consegue adquirir apenas 3% do produto pretendido será, sim, tachada como fracasso.
Também não se sustenta a explicação de que seringas e agulhas não foram compradas em nome da economia de recursos públicos. Se fosse mesmo o craque da logística, como foi apresentado à opinião pública, Pazuello saberia que quanto mais cedo procurasse os fabricantes, melhor teria sido o preço.
Como não o fez, teve que se submeter às implacáveis leis do mercado.
Em outro momento, o irritado ministro lamentou que a imprensa esteja informando que vários países estão à frente do Brasil na corrida pela vacinação. Em sua contabilidade, o número de 4 milhões de pessoas vacinadas no mundo, algo inferior à população do Rio de Janeiro, seria pequeno o que mostraria que a vacinação em massa não está acontecendo.
Menos de duas semanas depois do início da vacinação, ninguém imaginou que os países já tivessem perto de fazer cobertura total. Mas o fato é que várias nações já deram a largada nesse processo e o Brasil não tem ainda data estabelecida.
Estamos, portanto, atrasados.
O Pazuello que tentou recitar aos jornalistas o que devem ou não escrever é o mesmo que aceitou as ordens de Bolsonaro para liberar o uso da cloroquina contra o coronavírus, tentou esconder os números diários de casos e mortes na pandemia, atrasou a compra de remédios essenciais para intubação e deixou passar a data de validade para milhões de testes de covid-19.
A única falha que o ministro admite é a de comunicação, atividade que avalia ser muito complexa. Em meio a uma pandemia como a que vivemos, realmente é importante que as autoridades de Saúde se comuniquem bem. Não é tão difícil.
Bastaria que Pazuello mantivesse as entrevistas coletivas que seus antecessores faziam diariamente, respondendo a perguntas e tirando dúvidas.
O general, no entanto, optou por mergulhar em longos períodos de silêncio e falar aos jornalistas apenas episodicamente.
Esse contato com a imprensa é necessário para que os cidadãos saibam o que está acontecendo, entendam como se prevenir e possam se tranquilizar.
A volta desses esclarecimentos feitos pelo próprio Pazuello seria útil ao Brasil. Não um pronunciamento emburrado como o de hoje, em que o ministro fez sua catarse e saiu do recinto sem responder a nenhuma pergunta.
Talvez porque já soubesse de antemão que, apesar da cara amarrada, nenhum jornalista iria obedecer às suas ordens.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
UOL/montedo.com

32 respostas

  1. O UOL juntamente com parceiros como: G1, Globo, Folha de São Paulo, Estadão, entre outros, vem fazendo uma campanha sistemática contra o atual governo e se aproveita de qualquer fala para potencializar isso. Condeno todos os extremos que se recusam ao debate civilizado para apreciação de ideias. Temos que analisar o todo de qualquer situação e fazer uma avaliação sincera do que está acontecendo no país. Ficar o tempo todo jogando ao chão “cascas de bananas” para poder fazer comentários sobre o possível tombo, não me parece razoável. O atual governo comete erros sim, como todos os anteriores, mas vejo muito mais acertos do que erros. General Pazuello está fazendo, ao meu ver, um grande trabalho à frente do MS, assim como José Serra (economista) também o fez em sua época de ministro, mesmo não sendo especialista na área. Vamos então tentarmos ser sensatos em nossas análises, sabendo que os jornalistas do UOL não são imparciais quando se trata do atual governo.

    1. Esse pau-mandado não tem capacidade para estar à frente do Ministério. Suas explicações canhestras soam , sua subserviência patética ao “chefe” e seu fracasso nas ações de preparo do PNI são o retrato dessa administração. Foi tragicômica a postura dele na “live” de ontem do Bozo, onde este concluía que pessoas de beira de praia, que tomavam sol ,não estavam propensas à doença e que muitas coisas que ele dizia (como o caso da cloroquina) não tem comprovação mas terão no futuro. E pra fechar o Pazuello ainda receitou: boa alimentação, exercícios físicos e redução de stress para driblar a covid. Como se isso estivesse ao alcance de todos em um páís com tamanha desigualdade. É desanimador!!!!!

    2. Se existisse um governo, talvez concordasse que a imprensa faz campanha contra ele.

      Ocorre que o modus operandis no Ministério da Saúde foi o mesmo utilizado na área ambiental. E qual foi? Colocar militares para que a administração não funcione. Isso mesmo, pessoas certas colocadas em setores com o fim de gerar paralisia.

      Quanto às Forças Armadas? Bem… As instituições nada tem a ver com isso, mas a credibilidade alcançada à duras penas junto à opinião pública têm sido usada por meia dúzia de (…), que jogam o nome das instituições militares e de todos os militares na lama da história.

      1. Opinião publica deve ser vc que captura mais alienação na lama da tua alma. É visível a presença doentia de uma vida infeliz. Cada um colhe o que planta! Podes tentar um tratamento mas vai ser difícil a cura.

        1. Meu amigo…com esse teu comentário vai sair QAO direto Capitão.

          Peça reserva então e vá pra casa estudar um pouco, ta fazendo falta pra você e, você não fará falta alguma para as FA.

  2. A grande mídia não precisa de anunciantes pois vive do repasse de dinheiro de partidos políticos e até de recursos vindos de outros países. São parciais e comprados à muito tempo! Tem um jornal que não fala nada dos tucanos…cheira pó…intelectual sociólogo ladrão…privatarias…tem outro jornal que nada fala dos petralhas e assemelhados…é uma imprensa podre! Você consegue, ainda, um nível de imparcialidade no Diário do Poder ou através de alguns jornais da Europa. No Le Monde saiu a relação de mortos por milhão de habitantes no Mundo: o Brasil está em 24°lugar! Está atrás de países como a França, o Reino Unido, a Suíça, EUA, Itália, Argentina…é só acessar e ler! Mas brasileiro não lê nada! Prefere acreditar nas “verdades” ditas por apresentadores de TV…até os que se intitulam de esquerda são uma piada pronta! Quase nenhum leu “O Capital” e, se bobear, nem as 256 páginas do “Manifesto Comunista”! São infelizes que confundem um regime socialista com uma democracia social…que acreditam que os terroristas e assassinos que promoveram ações armadas, no período militar, eram paladinos da democracia…não sabem de nada! Ou são ignorantes inocentes úteis ou mal intencionados que só querem dinheiro e poder! Realmente o período militar falhou no combate à esquerda pois deveriam ter dado a esta o mesmo tratamento que os governos socialistas dão e deram aos seus opositores! Muita coisa teria sido evitada…

  3. Só porque o gen estava de “cara fechada”, sua fala não tem credibilidade. Se viesse sorrindo como o “risadinha”, tava tudo numa de boa. Jornalismo q tem a credibilidade de uma nota de 3 Reais!

    1. O ministério da saúde, ou melhor da doença, continua com a política negacionista e a empurrar o problema pra debaixo do tapete, ou seja, falta de vergonha na cara e de respeito com os cidadãos.

  4. KKKKKK O QUE ESPERAR DE UM GENERAL COM FORMAÇÃO EM LOGÍSTICA MILITAR, COMANDANDO UMA ÁREA CIENTÍFICA ???!!!!! NÃO ENTENDE DO RISCADO !!!!ESBRAVEJAR SÓ FUNCIONA NO QUARTEL !!!!

  5. Se esse é o grande especialista em logística do exército, se o Brasil se envolver em um conflito… já era! Capacidade zero de planejamento. Só politicagem da pior espécie. A que custa milhares de vidas.

  6. Esperava mais qualidade dos escolhidos para cargo público e não somente querer ganhar algum por fora dando ordem unida para paisano ,já não chegou dar chave de galão com os veteranos ,agora querem que a sociedade aceite no mesmo tom a inoperância onde mais de 200 mil brasileiros tombaram por pura vaidade e incompetência de alguns ,isso é vergonhoso querer levar no bico ao lidar com vidas alheias .

  7. – Não havia ouvido algum pronunciamento deste moço até a coletiva de ontem.

    – Me lembrou, infelizmente, discursos e atitudes de militares das décadas de 60, 70 e alguns de 80.

    – Interlocução usada como se tivesse falando com uma gente desqualificada e ignorante, muito típico de alguns militares daqueles tempos ditatórias.

    – Me lembrou algumas cenas deploráveis com recrutas recém incorporados.

    – Cada dia tenho mais essa gente se supera negativamente.

    p.s.:

    – PLANO “A” de combate a pandemia: CLOROQUINA.

    – ministro da pasta mais sensível nesse momento, “um general da ativa expert em Logística” (inacreditável).

    Ave Jair ! O Messias.

  8. Estar no foco do olho do furacão sem saber o que fazer e ainda querer falar alto sem ter razão realmente só funciona dentro de quartel ,do lado de fora as pessoas tem informações e opiniões próprias ,seria melhor pegar o boné e cair em retirada para não pagar mais sapo …

  9. O bom, mas o bom mesmo, era o Mandeta.

    Aquilo é que era ministro, sempre baseado na “siência” do fique em casa.

    Aquele mesmo que profetizou caminhões do Exército cheio de corpos.

    O atual não serve, pois não dá espetáculos para essa imprensa globalista, não é?

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