Nação e Exército

nação e exército

Otávio Santana do Rêgo Barros*
Em 1948, a Escola de Estado Maior do Exército (denominação da época) convidou o sociólogo Gilberto Freyre para participar do seu tradicional e plural ciclo de palestras.
Nessas ocasiões, as personalidades se apresentam diante de uma plateia harmoniosamente crítica, como devem ser oficiais superiores matriculados no curso de mais alto nível acadêmico do Exército Brasileiro, com o propósito de clarificar suas visões sobre diversos temas.
Gilberto Freyre era uma estrela de primeira grandeza.
O desempenho do ilustre pernambucano permitiu que a palestra com o título “Nação e Exército” (republicada recentemente pela Biblioteca do Exército) fosse por muito tempo uma referência para análise da postura do Exército Brasileiro no relacionamento com a parcela civil da sociedade.
Diversos foram os caminhos trilhados pelo professor que mereceriam destaques nestas breves linhas, mas me permito abordar dois aspectos.
O primeiro, foi a afirmação do caráter unitário na formação dos integrantes do Exército de Caxias. Comentava ele: “sem pertencer a uma classe, a um grupo, a qualquer espécie de casta, o Exército pode ser, desde que constituído, uma súmula nacional, recebendo gente de todos os quadrantes, e servindo em todos os quadrantes, e levando a cada um as normas habituais de sua vida, de seu funcionamento, de seus padrões de instituição nacional coesa.”
Freyre confirmava quão importante já se mostrava, para o bem da Nação, a constituição dos recursos humanos com um caráter abrangente do ponto de vista geográfico, cultural, econômico, social e por que não dizer racial.
Essa característica, nos mais de setenta anos desde a apresentação do autor de Casa Grande e Senzala, não foi modificada, embora a natural caminhada social que o País se promoveu exigiu acomodações para mais amalgamar o soldado verde amarelo aos ditames constitucionais que tanto prezamos.
O segundo aspecto, era a capacidade de organização das Forças Armadas em um Brasil onde tudo se mostrava desorganizado. Nesse contexto propugnava Freyre: “A responsabilidade das Forças Armadas é, no Brasil de hoje, imensa porque, no Brasil de hoje – repita-se – pouco é o que se acha organizado e muita é a desorganização.”
Não asseveraria que hoje tenhamos uma estrutura desorganizada nas instituições, organizações públicas e privadas, ou quaisquer setores da vida nacional. Ao contrário, vejo-as fortalecidas e dinâmicas. São novos tempos.
Entretanto, parte da população mantém-se cativa daquela percepção e por vezes somos chamados, pela liderança política de momento, a atuar em inúmeras atividades que nem sempre se mostram adequadas ao preparo e emprego das Forças.
Na conferência, sobre o uso indiscriminado das Forças Armadas, criticava Freyre: “Tudo por comodidade. Tudo por uma renúncia a responsabilidades, a deveres, a obrigações morais, intelectuais, educativas, cívicas que está se acentuando alarmantemente no Brasil entre homens de governo, entre legisladores, entre pais, entre mestres, entre educadores, entre sacerdotes, entre diretores de jornais, de empresas industriais e comerciais e de escolas.”
Deter tamanha confiança da população, até mesmo após o governo militar, que foi e ainda é tão escrutinado por nossa sociedade, nos impõe – Forças Armadas – severas posturas morais e profissionais. Nos impõe sermos cada vez mais reconhecidos como Instituição de Estado e como tal apolítica.
Ao concluir, destaco que Gilberto Freyre instigou a plateia naquele momento, e sua mensagem ainda instiga em nossos dias, para a necessidade de maior harmonia entre civis e militares, sem preponderância de qualquer um desses, comprometimento e responsabilidade com as coisas públicas e, por fim, o sacrifício do pessoal ao nacional, ao social, ao comum.
É bem isso que queremos, ao menos os homens e mulheres de bens. “Tolerância entre contrários e equilíbrio de antagonismos.”
Paz e bem!
*General da reserva. Foi porta-voz do presidente Jair Bolsonaro.
Blog do Noblat/montedo.com

15 respostas

    1. Caros amigos militares , o Sr Gilberto Freire, escritor, com vários prêmios internacionais, com idéias de antropologia e sociologia,formado por universidades americanas, Batista de nascimento e nordestino de Recife; balizou alguns de seus trabalhos na oposição a idéia de racismo no Brasil decorrente da contraposição pela miscigenação por todo o Brasil. O Brasil teve movimentos de entrada de negros e europeus e movimentação interna de nordestinos para a Amazônia/Sudeste e de Sulistas para o Centro-Oeste . Eu, como Nordestino, filho de mineiro, no Rio de Janeiro encontramos a miscigenação de um pais com respeito aos aspectos culturais…Assim, esta frescura de racismo que estão inventando agora caros militares e civis de bom senso tem fins de desconstrução da sociedade, separando-a para reinarem no poder. Tal frescura ideologica acabará com a educação de qualidade pública que tem sido um dos principais problemas de formação de nossos jovens. Educação é apoio aos professores em sua formação continuada, respeito por bons salários, segurança com até a presença da guarda municipal ou polícia fim extinguir a presença de desvios de alunos, volta da educa ção moral e cívica, valores da família cristã e empreenderismo.Nos concursos públicos passam os melhores, nas nossas escolas militares a capacidade é medida pelo aproveitamento do aluno seja negro, branco, de origem indígena, de origem judia, árabe ou japonesa. Os excessos no caso de racismo aplica-se o rigor da lei. Assim vamos acabar com esta idéia de racismo e fazer o que a lei manda . Outrossim devemos levar as famílias brasileiras o controle de natalidade através da vida sexual responsável com apoio de campanhas governamentais. As FFAA são fatores de integração nacional com estudo contínuo, sistema meritocrático e hirarquia e disciplina. Atualmente com minhas passagens na iniciativa privada , a produtividade é a base da manutenção do emprego e crescimento sem lero-lero…time is money.. .orando

        1. Caro agradeço a indicação de Machado de Assis….realmente é um exemplo…Deus o abençoe…negro, o maior escritor do Brasil,realismo em sua obra…em Memórias Póstuma de Brás Cubas o li no vestibular…é apenas uma estória triste….hoje, eu velho, é o caminho do homem entre sonhos e decepções. Orando

      1. Parabéns Sr Eduardo Sobreira, excelente comentário. Muitos valores perdidos no passado, de valor inestimável, para formação do caráter de nossos jovens, que serão o Brasil do amanhã, deveriam ser novamente implantados. Concordo plenamente com seu ponto de vista.

      2. Eu quero comentar o texto do general, mas antes, sinto que preciso revisitar a literatura do moderno escritor, símbolo da literatura nacional, Machado de Assis.

  1. Falta de guerra produz burocráticos brevetados como esse General.Muita teoria.,muita retórica, nenhuma vivência do Front.Pobre Exercito de Caxias.

  2. Nem perco meu tempo lendo o que este senhor escreve…quem é miltar sabe da “casta” a que ele pertence…como é mesmo o termo que ele usou? Estamentos inferiores…inferiores em quê? Conheci sargentos e subtenentes com curso de graduação, mestrado e doutorado! Conheci muitos oficiais do QCO com mestrado, doutorado e pós doutorado! O mesmo com militares oriundos do IME e EsSEx! Mas como pertence a uma casta e pertenceu, de maneira muito breve, ao atual governo, abrem espaço na grande mídia para seus longos e enfadonhos textos…dentro de pouco tempo será esquecido completamente…só lembrarão do termo que, alguém, utilizou quando se julgava no poder: Estamentos Inferiores…uma tristeza!

  3. Acho muito interessante essas palavras. Entretanto convido os companheiros a pensarmos juntos. Há uma história de uma empresa que possuía excelentes funcionários, entretanto promovia-os com alguns critérios. Porém, ocorria a admissão de inexperientes jovens para assumir funções de chefia. Com todos os direitos e prerrogativas. Contudo necessitavam, diariamente, do conhecimento daqueles experientes profissionais. Há relatos que em pouco tempo essa empresa faliu e demitiu a todos.
    Esse é o EB, onde muitos que mandam nada sabem. Porém, ganham aquilo que não merecem.
    Onde um garoto de 18 que está matriculado em qualquer curso é declarado Oficial. Ou seja, um EV que está com matrícula em um curso que não serve pra nada.
    Por último, e quando o Sgt sair da ESA com curso superior vai continuar assim.
    Que estranho o Chefe sabe menos, menos qualificado e mais bem remunerado. Estranho isso. Não ?!
    Você sabe como é. Obrigado pela atenção.

  4. Grandes homens, as ideias são praticadas? NÃO. Então vou continuar na original e bacon. Parem de perderem seu tempo, dediquem-se mais as suas famílias, ainda a tempo.

  5. Esse general aí é aquele que criou o termo “estamentos inferiores?”. É o gen blogueiro e ingrato com o Governo Bolsonaro?

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