Um sábado anormal

O ex-porta-voz do governo Rêgo Barros Foto: Daniel Marenco / O GLOBO

”Independentemente do vencedor, já é hora de curar as feridas e assinar a paz”

Otávio Santana do Rego Barros*
Pouco por força podemos,
Isso que é, por saber veio,
Todo mal jaz nos extremos,
O bem todo jaz no meio.
(Sá de Miranda)
Sábado é dia de tarefas domésticas compartilhadas. Como de costume, nesse último (07 de novembro de 2020), eu e minha esposa saímos para ticar a lista de afazeres e ainda aproveitarmos para cumprimentar o general Villas Bôas, meu antigo comandante e amigo, pela passagem do seu aniversário.
Mas, não era um dia normal. O mundo acompanhava, sem fôlego, a apuração eleitoral na maior democracia do mundo ocidental. Há muito, a emoção havia sobrepujado a razão em ambas as torcidas.
Todas as tendências indicavam a vitória do candidato do partido Democrata, Joe Biden, sobre o atual presidente Donald Trump, do partido Republicano.
Já em casa, diante da televisão, comecei a zapear o controle remoto correndo entre os canais, independentemente da linha editorial, nacionais e internacionais, para entender o avanço, voto a voto, em cada estado daquele país.
Complicado e fora de moda esse sistema de apuração eleitoral. Viva o Brasil! Viva as nossas urnas eletrônicas.
“Tchan, tchan, tchan! (Lembrei-me do Repórter Esso) Breaking news: Joe Biden está eleito presidente dos Estados Unidos da América.”
Independentemente do vencedor, já é hora de curar as feridas e assinar a paz.
Alguns abalos ainda serão sentidos. O presidente Trump não se considera vencido e já se pôs a engraxar as armas para uma longa batalha judicial. Desafia os princípios consuetudinários acolhidos nas apurações daquele país.
Situação inusitada e que melindra a memória dos pais fundadores da nação americana e todos, em todo o mundo, que têm como referência a sólida democracia naquele país.
É justo buscar a justiça. Os republicanos devem insistir no esclarecimento. Até mesmo pela expressiva votação do presidente Trump — mais de 70 milhões de votos. Entretanto, é necessário que haja materialidade na demanda. Ao que parece, até este momento, não há.
Que lições podemos tirar dessa visão maniqueísta que se estabeleceu na sociedade americana? E talvez em alguns sítios da política mundial.
A primeira e mais importante é reforçarmos o espírito do homem cordial, expressão do escritor Sérgio Buarque de Holanda, na obra de referência antropológica Raízes do Brasil.
A nossa sociedade, ainda que esteja submetida a discordâncias de opinião, não se revela tão antípoda. Sou otimista, não chegaremos ao confronto físico que, em alguns momentos, configurou-se naquele país irmão.
Que seja a nossa maior peleja, da sociedade, não permitir que os líderes políticos, independente da coloração partidária, nos instile o veneno da aversão ao discordante. “A sã política é filha da moral e da razão.”
A segunda, encontrar fórmulas para fortalecer as decisões individuais dos eleitores, que lhes permitam tecer poderosos escudos contra invencionices de campanha e mentiras transformadas em verdade pela repetição.
E, por fim, que os políticos entendam: se você não governa para todos, não governa para ninguém!
Ainda em Buarque de Holanda, “a experiência já tem mostrado largamente como a pura e simples substituição dos detentores do poder público é um remédio aleatório, quando não precedida e, até certo ponto, determinada por transformações complexas e verdadeiramente estruturais na vida da sociedade.”
Eis o nosso grande desafio. Transformar as estruturas.
Boa sorte povo americano.
Boa sorte presidente eleito Joe Biden. Que o senhor possa materializar o que tantas vezes proferiu em seu discurso: “Vou governar para todos os americanos, os que votaram e os que não votaram em mim.”
O mundo agradecerá o seu exemplo.
Paz e bem!
*General, ex-porta-voz da Presidência da República
CORREIO BRAZILIENSE/montedo.com

11 respostas

    1. Ainda tá ressentidinho esse General incompetente. Sossega General, bote o pijama e vá fazer fosquinha no clube Militar que isso sim é bom negócio. Fofoca e muito feio para mulher. E para homem, pior ainda rsrsrsrs

  1. …”Sábado é dia de tarefas domésticas compartilhadas
    “…
    Só conseguiu chegar até aqui.

    Tá explicado sua demissão.

    Quanta imaturidade destes moços.

    Inacreditável!

  2. Acho até bom que aconteça esses desentendimentos ,começamos ver quanta roupa suja precisa ser lavada e de quebra nos alegra em saber como uns tratam os outros com seus apelidos ,”maria fofoqueira”” banana de pijama” e por ai vai …..mostrando ,apesar da ganância, que são pessoas com o mesmo senso de humor , esquecem da postura do cargo ,mas a continha dos impostos não esquecem, sempre vem .

  3. Resolveram o problema salarial deles ,estão tranquilos ,bem que poderiam ter a preocupação em resolver os problemas deixados e não resolvidos da Lei 13954 do que ficar se expondo atrás de mais dinheiro .

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