Com desgaste na relação, governo Bolsonaro demite 1 militar de alta patente por mês

Presidente prefere quem cumpra as missões dadas com eficiência e rapidez(Foto: Carolina ANtines/PR)

Caso de Rêgo Barros, porta-voz escanteado e demitido, causou incômodo entre fardados
Alto Comando não aceita eventual volta de Pazuello à ativa no Exército

Vinicius Sassine
O governo Jair Bolsonaro tem uma demissão por mês, em média, de um militar de alta patente colocado em algum posto estratégico da administração federal.
A curta permanência desses generais, brigadeiros e almirante nas funções civis evidencia o tamanho do desgaste da relação entre Bolsonaro e a caserna, em menos de dois anos de gestão.
Levantamento da Folha identificou 16 generais do Exército, 4 brigadeiros da Aeronáutica e 1 almirante da Marinha exonerados de cargos civis no governo, já a partir do quarto mês da gestão de Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército.
A maioria desses militares está na reserva, participou da gestão em razão da proximidade ao ideário bolsonarista e acabou demitida.
O caso mais recente é o do general três estrelas Otávio do Rêgo Barros, demitido do cargo de porta-voz do presidente em 6 de outubro. A função já havia sido extinta 40 dias antes.
Em junho de 2019, quando ainda cumpria o ritual de um porta-voz da Presidência, Rêgo Barros foi excluído de uma promoção pelo Alto Comando do Exército. Ele deixou de ganhar a quarta estrela em razão do cargo exercido no Palácio do Planalto. O ex-porta-voz de Bolsonaro não saiu calado do governo. Em artigo publicado no jornal Correio Braziliense, ele fez críticas indiretas ao presidente e à gestão. O sentimento é compartilhado especialmente por generais da reserva que permanecem no governo.
Rêgo Barros se soma a outros militares que se tornaram vozes críticas a Bolsonaro depois de passarem por cargos civis. O mais falante deles é o general Santos Cruz, demitido há mais de um ano do cargo de ministro da Secretaria de Governo da Presidência.
Generais ouvidos pela Folha —do Alto Comando do Exército, da linha de frente de órgãos do governo ou do grupo de demitidos— discordam do tratamento dispensado a militares como Rêgo Barros.
Além disso, eles rejeitam o aumento da pressão de partidos políticos por cargos —leia-se centrão— e dizem tolerar afastamentos somente em casos de incompetência, o que não vem sendo o caso, afirmam.
Um caso ilustra, ao mesmo tempo, o desgaste da relação com o presidente e o incômodo com a percepção de politização das Forças Armadas.
O episódio envolve o ministro Eduardo Pazuello (Saúde), um general três estrelas que permanece na ativa mesmo ocupando o cargo no governo há mais de cinco meses, com o aval do comandante do Exército, Edson Pujol.
Generais que integram o Alto Comando do Exército consideram inaceitável uma eventual volta de Pazuello à força e ao comando de tropas. Isso foi discutido entre eles depois de o ministro ser desautorizado pelo presidente quanto à compra da vacina Coronavac, um imunizante para o novo coronavírus desenvolvido por um laboratório chinês e pelo
Instituto Butantan, do governo de São Paulo.
Generais que integram o Alto Comando do Exército consideram inaceitável uma eventual volta de Pazuello à força e ao comando de tropas. Isso foi discutido entre eles depois de o ministro ser desautorizado pelo presidente quanto à compra da vacina Coronavac, um imunizante para o novo coronavírus desenvolvido por um laboratório chinês e pelo
Instituto Butantan, do governo de São Paulo.
À frente do Ministério da Saúde, Pazuello tem atendido insistentemente a pedidos de Bolsonaro na pandemia. A desautorização sobre a vacina levantou dúvidas sobre a permanência do general no cargo, mas ele prossegue.
Em encontro com o presidente, o ministro minimizou o ocorrido. Segundo ele, na relação com o chefe do Executivo, “um manda e o outro obedece”.
Para integrantes da cúpula do Exército, é impossível um retorno de Pazuello à força, diante de um cargo tão político exercido por ele. A posição contrasta com o que o general costumava repetir, que atenderia a uma convocação do presidente e, cumprida a missão, voltaria às funções militares.
Na semana passada, quando o então candidato democrata Joe Biden consolidava seu favoritismo na disputa pela presidência nos EUA, o núcleo militar do governo se irritou com a postura do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho 03 de Bolsonaro, como mostrou a Folha.
Eduardo fez postagens pró-Donald Trump nas redes, inclusive corroborando o falso discurso de fraude nas eleições. Foi mais um episódio de atrito entre os militares e os personagens mais ideológicos que giram em torno do presidente.
Entre os que seguem em cargos civis no governo e que não estão nas funções de auxiliares diretos de Bolsonaro, a alta debandada de fardados provoca um temor de demissões repentinas.
Esses militares apontam que Rêgo Barros, por exemplo, fazia um bom trabalho no cargo de porta-voz do presidente e não deveria ter sido escanteado como foi.
O entendimento entre integrantes do Alto Comando do Exército é de que Bolsonaro fala e expõe demais as contendas do governo, como no caso da Coronavac. Isso acaba prejudicando a atuação dos militares, segundo esse entendimento.
A postura do ex-porta-voz, porém, não é uma unanimidade no Exército. A decisão de sair atirando, ainda que por meio de um texto com referências indiretas, foi mal recebida entre integrantes do Alto Comando.
Apesar do alto índice de demissões, os militares seguem com um espaço sem precedentes na administração federal, em comparação com os últimos cinco anos, como mostrou um levantamento do TCU (Tribunal de Contas da União) concluído em julho.
O número de militares da ativa e da reserva ocupando cargos civis chegava a 6.157, mais do que o dobro do registrado em 2016.
Um detalhamento dos dados feito por auditores do TCU, obtido pela Folha, mostra que 54 cargos do alto escalão do governo são ou foram ocupados em algum momento por generais, coronéis, capitães, brigadeiros e almirantes.
Isso inclui os auxiliares que despacham dentro do Palácio do Planalto, e que estão entre os principais conselheiros do presidente: general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), general Braga Netto (Casa Civil), general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Especiais da
Presidência.
Os outros militares estão distribuídos por ministérios; estatais como Itaipu Binacional e Eletrosul; autarquias como o Dnit; bancos públicos, a exemplo da Caixa; e conselhos de administração de estatais, Petrobras entre elas.

MILITARES DEMITIDOS DO GOVERNO BOLSONARO
Exército
General Rêgo Barros
Porta-voz do presidente
6.out.20
General Luiz Carlos Pereira Gomes
Presidente da EBC
29.set.20
General Guilherme Theophilo
Secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça
13.mai.20
General Décio Brasil
Secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania
27.fev.20
General Ilídio Gaspar Filho
Secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos
8.nov.19
General Lauro Luís Pires
Secretário especial adjunto da Secretaria de Assuntos Estratégicos
8.nov.19
General Santa Rosa
Secretário especial de Assuntos Estratégicos
6.nov.19
General Jamil Megid Júnior
Secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura
24.out.19
General João Carlos Corrêa
Presidente do Incra
2.out.19
General Santos Cruz
Ministro da Secretaria de Governo da Presidência
13.set.19
General Francisco Mamede
Chefe de gabinete da presidência do Inep
26.abr.19
General Marco Aurélio Vieira
Secretário especial do Esporte do Ministério da Cidadania
17.abr.19
General Floriano Peixoto *
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência
21.jun.19
General Severo Ramos
Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência
21.jun.20
General Juarez Cunha
Presidente dos Correios
19.jun.19
General Franklimberg Freitas
Presidente da Funai
13.jun.19

Aeronáutica
Brigadeiro Eduardo Camerini
Secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente
18.set.20
Brigadeiro Celestino Todesco
Chefe de gabinete do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
28.ago.20
Tenente-brigadeiro Antonio Franciscangelis Neto
Secretário de Planejamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações
29.jun.20
Tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira
Secretário-executivo do Ministério da Educação
10.abr.19

Marinha
Almirante Alexandre Araújo Mota **
Chefe da assessoria especial da Secretaria de Governo da Presidência
16.out.20
* Nomeado presidente dos Correios
** Nomeado como assessor especial na mesma secretaria
Fonte: Levantamento da Folha com base no Diário Oficial da União e Forças Armadasia
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

22 respostas

  1. Interessante Bolsonaro so ajuda os ( intelectuais ) os praças , pensionistas,e da reserva são todos esquateado. Chega 2022 pra agente escutar mais promessas de candidato.

    1. É incrível a humilhação a que alguns generais se submetem. Humilhados por um ex-militar que saiu do exército praticamente expulso em razão de atos de insubordinação. Às vezes até me questiono se há um prazer sádico por parte daquele que os humilha constantemente, como se fosse uma desforra pelo que ocorreu no passado.

  2. O alto comando do Exército é subordinado a constituição, as leis e ao presidente da República, se o general Pazuello quiser retornar a ativa tendo o direito assegurado por leis, não cabe ao alto comando do exército retirar o seu direito, agindo dessa forma eles é quem não devem permanecer na ativa ou na instituição, pois não são superiores a constituição ou as leis.

  3. A porta da rua é serventia da casa… não quer arriscar a carreira, basta dizer “obrigado, presidente, mas estou cumprindo minha missão na Força e não posso me afastar no momento. Quando passar pra Reserva, o sr me convoca. Obrigado.”
    Ficar de fofoquinha pra jornaleco comunista não é papel de militar honrado.

  4. Saem todos chateados com o presidente, mas com 73% a mais nos contracheques. Lá embaixo, os graduados só acumulam prejuizos somados da MP DO MAL / LEI DO CÃO.

  5. Chorões e porões calma aguardem ou vcs são todos mercenários a nova LRM já está na Câmara 3 sgt 6176 de soldo igual sub seus chorões traíra na minha batalha se vendem pra esquerda vcs são um bando de fraco bem mereciam estar no EB

  6. Os militares de alto posto, ao contrário dos militares do baixo estamento, se “achavam”. Se “achavam” o ultimo biscoito do pacote. O que eu quero dizer com isso? Simplesmente por acharem que o Presidente foi um Capitão, seriam por ele ( o Presidente) tratados pelos pilares Hierarquia/Disciplina constantes do RDE. Ledo engano. Na ativa não falavam nada contra o outro governo corrupto mas nesse Governo quiseram opinar. Vale a pena lembrar: O Cap Rfm é o PRESIDENTE DO BRASIL. Caso esqueçam o nome do PRESIDENTE, vou lembrar: JAIR MESSIAS BOLSONARO. É simples assim.

  7. Nossos Militares dotados de tanta “inteligência” e “estratégia” não perceberam os planos de vingança pessoa do Capitão Reformado (praticamente banido das forças armadas) quando tivesse o Poder! Quem se junta aos porcos, saí sujo de lama!! Os Militares Brasileiros, terão muito trabalho para recuperar suas imagens e voltar a perceberem que têm um papel importante na democracia, mas, definitivamente, não como membros de governos, ainda mais governos tresloucados.

  8. Jornal esquerdista…não sabe nada da caserna! Militares cumprem ordens! Se o presidente mandar o general de volta para o quartel não existe esta historinha do alto comando não aceitar a ordem do presidente…isto se chama insubordinação…

  9. Estavam chateados ganhando pouco ,mas agora não ,deram uma rasteira nos graduados empurrando-lhes a conta ,ganharam seus 73% e algum cargo no governo ,mas agora chegou a hora de sair .

  10. A maioria dos que foi chutado sao bem velinhos ja, alguns na reserva tem 20 ou mais anos, o exercito nao esta nem ai pra o que ocorre com eles e ngm mais se lembra deles, trabalhei na sip por 8 anos e posso afirmar que o exército é permanente, deu o tempo já nao apita nada, não deviam nem usar os postos nessas atividades pois o e1 proíbe, são somente aposentados e o exército é impessoal e maior que eles todos

  11. E essa demora em felicitar o presidente eleito do país que Getúlio enviou a FEB para treinamento e operações na 2ª Guerra, pode isso Arnaldo?

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