Multinacionais de armas escalam militares brasileiros para lobby na Defesa

General Paulo Chagas ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) - @generalpaulochagas no Facebook

General aliado de Bolsonaro, coronéis e almirante atuam no governo como consultores de empresas de armas e equipamentos

Fábio Fabrini
Julio Wiziack
BRASÍLIA
– Interessadas em prospectar negócios com a ampliação do mercado brasileiro, multinacionais de armas e de equipamentos de guerra escalaram militares graduados, com influência no governo Jair Bolsonaro (sem partido), para fazer lobby comercial no Ministério da Defesa.
A estratégia se desenrola no momento em que o Brasil planeja expandir seus investimentos no setor dos atuais 1,4% (hoje, R$ 109 bilhões) para 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em longo prazo.
A diretriz para reequipar as Forças Armadas é evitar compras diretas e estimular parcerias entre empresas estrangeiras e nacionais, a fim de atrair a produção dos materiais a serem comprados para o território nacional, com transferência de tecnologia.
Com contratos na mira, representantes de empresários e de países interessados em fazer negócios batem à porta da Secretaria de Produtos de Defesa (Seprod) do ministério, que funciona como um abre-alas para essas tratativas.
Próximo de Bolsonaro, o general reformado Paulo Chagas e um grupo de outros militares fizeram reuniões neste ano com o chefe da secretaria, Marcos Degaut, e com integrantes do Estado-Maior da Aeronáutica para a companhia italiana Leonardo International.
A agenda oficial da secretaria, obtida pela Folha via Lei de Acesso à Informação, registra apenas a presença do general, na condição de consultor, em 13 de fevereiro deste ano, embora outros militares estivessem presentes, além de um executivo da empresa.
Chagas foi o candidato do bolsonarismo pelo PRP ​ao governo do Distrito Federal em 2018, mas não se elegeu.
No ano passado, foi alvo de operação da Polícia Federal no chamado inquérito das fake news, aberto pelo Supremo para apurar supostos ataques aos seus ministros pela internet.
“Tivemos uma audiência no Ministério da Defesa. O objetivo era mostrar tudo o que a Leonardo tem para oferecer. E ela tem tudo o que o Exército e a Força Aérea precisam, ou quase tudo”, disse o general à Folha.
Segundo ele, embora tenha participado da aproximação da empresa com o governo, ainda não assinou contrato com a multinacional, pois a pandemia interrompeu as negociações.
Chagas afirmou que, com um grupo de amigos, pretende abrir uma firma para representar a Leonardo. No passado, explicou, esse time defendeu os interesses de uma empresa israelense, fornecedora do Exército.
O general já juntou material sobre os produtos da companhia italiana e enviou ao escritório de projetos do Exército.
“O retorno foi quase que imediato. Eles viram vídeo, quase tudo o que eu mandei. Falaram: ‘Olha, nos interessa, sim, conhecer tudo o que a Leonardo tem, porque tudo o que ela tem faz parte do nosso portfólio, das coisas que nós queremos'”, disse.
Um dos principais objetivos das reuniões é convencer o governo a comprar da Leonardo caças M-345 e M-346.
Serviriam para combate, mas também para treinamento de pilotos, pois estão num estágio tecnológico intermediário entre os Supertucanos, usados atualmente pelo Brasil, e os Gripen, comprados da sueca Saab.
“Nessa ida a Brasília a gente tratou desse assunto. Mas existem outros bem mais delicados, como os de guerra eletrônica. Me parece que a Aeronáutica está se voltando para o uso de drones”, disse o coronel reformado da Aeronáutica Flávio Passos, do time citado por Chagas.
A Folha procurou a Leonardo, que não se manifestou.
Em outra frente, a ISDS (International Security & Defense Systems), que representa um grupo de empresas israelenses do setor, vem atuando com a ajuda do consultor Flávio Josmar Pelegio, coronel do Exército que passou à reserva em 2013.
Em 1º de agosto do ano passado, ele esteve na Secretaria de Produtos de Defesa com o presidente da companhia, Leo Gleser.
À Folha Pelegio confirmou ter vínculo comercial com a ISDS, da qual se diz consultor, mas não quis dar detalhes da reunião ou dos propósitos da empresa. A ISDS não se pronunciou.
Na ativa, o coronel comandou regimentos de cavalaria mecanizados do Exército. É considerado nas Forças um oficial bem relacionado e influente.
Na véspera da agenda na Defesa, ele e Degaut se reuniram no Palácio do Planalto com o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, cada um em um horário distinto.
Questionada sobre a pauta desses encontros, a pasta disse que foram apenas “visitas de cortesia”.
Segundo Degaut, “normalmente o ministério não trabalha com consultores”. “Mas, como vieram recomendados por empresas, atendemos. Se houver alguma coisa que possa ser apresentada para as Forças como de interesse, a conversa prossegue”, disse.
Questionado, Degaut disse que, “na maior parte dos casos”, o conhecimento técnico é o motivo de multinacionais colocarem militares à frente de seu lobby comercial na Defesa. Ele afirmou, porém, que, “em alguns casos”, conta também o acesso que eles podem ter a autoridades.
Segundo ele, não há óbice na pasta para esse tipo de atuação.
“A partir do momento em que ele está na reserva, tem total autonomia para escolher a carreira que desejar. Se quiser ser representante comercial, pode ser. Se achar que os contatos que construiu ao longo da vida dele podem ajudar em alguma coisa, pode tentar a sorte. Diz respeito à iniciativa individual”, afirmou.
Os lobbies da Leonardo e da ISDS, segundo a Defesa, ainda estão no status de propostas e não evoluíram para contratos ou parcerias.
Degaut afirmou que compras são feitas com base na realidade orçamentária, desde que o produto ou serviço esteja “dentro do planejamento estratégico” das Forças.
Diversos projetos estão sendo discutidos, entre eles uma associação entre a MBDA, produtora europeia de mísseis, e uma empresa brasileira. Foi esse o assunto de reunião entre Degaut e representantes da multinacional em 19 de novembro de 2019.
Um dos presentes era o contra-almirante Antônio Fernandes, que já deixou a ativa e agora é diretor da Simtech. A empresa confirmou à Folha que representa a MBDA no Brasil.
Ao menos três grupos estrangeiros já fecharam parcerias neste ano e estiveram no ministério antes de acertarem investimentos que, somados, chegam a R$ 1 bilhão na construção de fábricas.
A eslovena Arex, fabricante de pistolas e outros tipos de armas, assinou um memorando para firmar sociedade com a Delfire Arms (DFA). Passarão a produzir em Goiás, com incentivos fiscais do estado.
A indiana Tatra está se instalando no Paraná e a americana Springfield, no Rio Grande do Sul.
A suíça Sig Sauer deve montar operação em Minas Gerais. Para isso, teve apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Em abril, ele postou no Twitter a foto de uma reunião com representantes da Sig Sauer, prometendo ajudá-los: “Falta a garantia política de que o lobby não atochará tantas burocracias para emperrar a instalação [de uma fábrica no país]”.
O avanço de fabricantes de armas no Brasil ocorre no momento em que Bolsonaro incentiva a população as se armar, proposta apresentada pelo presidente na famosa reunião ministerial de 22 de abril. ​
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

20 respostas

      1. Nao, queria que pessoas que legalmente mantém as prerrogativas do posto mesmo da reserva honrassem a instituição a que serviram por décadas. Existe um crime chamado advocacia administrativa, patrocinar interesse privado… A princípio, so pode cometer o servidor ativo, então não seria o caso. Mas temos essa peculiaridade de manter as prerrogativas funcionais na reserva, o que basicamente nivela ao servidor ativo em nível de prestigio.

        Então, com meus quinze anos de salc, queria sim que as pessoas não se utilizassem dessas prerrogativas para conseguir assinar contratos milionários.

        E queria também que o tcu analisasse as inexigibilidades de empresas que tem representantes comerciais militares.

        Sobre che guevara… companheiro, deves ser bem “antigao”. Eu já estou na reserva e te digo, o desafio é outro, o inimigo é outro, o problema é outro. Provavelmente fostes pra reserva uns 40 anos antes de mim, mais acredite, a gurizada que quer fazer o certo e ver seu país crescer tem outros receios. Che guevara não é um deles compadre. Muda o disco. Ou pisa na om como militar, ou como representante comercial, pois o primeiro papel não admite a defesa de interesses empresariais com uso da farda. Santo Deus, como tem gente que acha isso normal?!

        Che guevara kkk

      2. Que tiro foi esse? kkk
        Que resposta q esse camarada deu em vc ein..q resposta linda…com argumentos..
        Realmente VC deve mudar o disco.

      3. Anônimo no 11 de outubro de 2020 a partir do 23:16

        Era melhor ter ficado quieto, pq depois desta resposta que tu tomou, pede licença para cagar.

      4. Pensei que o Che Guevara já estivesse morto! Ah, lembrei… ainda vive na imaginação de pseudo direitistas delirantes e esquerdista de aifone!

    1. Caros, pra se produzir tecnologia se CRIA, COPIA ou COPIA / CRIA. ASSIM ENTRADA DE TECNOLOGIA É IMPORTANTE, obviamente, mantendo as empresas nacionais vivas e EXPORTANDO DEPOIS…três experiências tenho com importaçãode equipamentos militares 1. Na Suécia, na Hagglunds, um oficial fuzileiro formado pelo IME deu-me a incubência de trazer para o Brasil um punhado de pequenos fios, cópias xerográficas de plantas elétricas, pequenos circuitos, pequenos pedaços de mangueira etc…depois de tempo, respeitosanente, perguntei o por quê? Ele me disse que o Brasil não tinha tecnologia de produção daquilo e se realmente ele estivesse certo teria que pedir um estoque maior destas peças…equipamento militar se expõe a sol, sal, chuva, impactos etc.. .O equipamento com as manutenções devidas teve uma vida útil grande….2. Alguns caminhões militares importados que cruzam o Brasil em manobras, a importação de peças é demorada, precisa de orçamento, contatos, no caso a 25 anos atrás era pior sem informática….Assim uma peça do motor do opala , uma correia, segundo o 1 SG FN Mo substitituia perfeitamente, depois desta paz até as importadas chegar…3. Esta, 1 ten engenheiro disse que podia adaptar um rádio que seguia nas costas do militar para toyota, reaproveitamento de material…obviamente qualquet traço corrupção tem que ser punida…Orando pelo Brasil…

  1. Não sei qual o espanto…todo país do mundo tem lobby! Faz parte da economia! Parte do comércio…completamente normal! O que se faz necessário é que esta atividade seja fiscalizada em defesa dos interesses do país e no combate à corrupção!

  2. Um dia os militares voltarão para os quartéis.
    E a partir desse dia, quero saber quem será responsabilizado por uma mistura incorreta de militares com política e administração pública.
    O pior é que quem também vai “pagar o pato” será justamente quem nada ganha com o atual governo, ou seja, os praças.
    Nunca pensei que no governo atual todas essas coisas fossem acontecer.
    Uma vergonha.
    Bolsonaro nunca mais.

  3. Edson no 12 de outubro de 2020 a partir do 07:50

    Vc é um excelente idiota inventor de histórias. Não sabe o que é advocacia administrativa, mistura a lei da oferta e da procura, um contato de compra e venda, oferta de produtos e serviços à quem interessar possa pressupondo vantagens indevidas. O comentarista pode ter dado baixa há 40 anos… qual o problema nisso? Vc se acha melhor do que ele no tempo? Vc sabe me dizer há quantos milênios se diz: “essa geração está perdida”?

    Com esse argumento de marginal e essa linguagem chula que vc usa acha que vai convencer a quem que vc não é um hater? Vc nem sabe o que é lobby. Além disso responde para vc mesmo nos comentários abaixo tentando se qualificar como o rei dos comentários.

    Há uma grande diferença em se comprar um produto ou serviço por lobby e ou pelas qualificações dos produtos e ou serviços oferecidos. É claro que comprar armamento não é como comprar pão. E se há interesses comerciais envolvidos? Qual é o problema? É proibido ganhar dinheiro trabalhando? É vc quem vai proibir? Vai usar um escolar para conversar sobre defesa de território?

    1. Eu nao ia responder, mas acho que vale a resposta.

      1) Sou um excelente contador de histórias mesmo. Se eu for contar as histórias que presenciei, haveria muito escândalo. Por amor à instituição guardo tudo para mim, mais não sei se vc esteve numa salc alguma vez na vida, pelo que falas, imagino que não.

      2) Não fiz esses comentarios, temos um moderador aqui, o Cap Montedo. Esses comentários demonstram como nossa sociedade evoluiu e não aceita mais algumas algumas coisas que, definitivamente, não parecem adequadas. Tirei da reportagem: “Ele afirmou, porém, que, “em alguns casos”, conta também o acesso que eles podem ter a autoridades.“

      3) Você deve achar normal, por algum motivo, só que eu sou um homem livre para pensar o que quiser, e eu acho escandaloso e potencialmente nocivo ao mercado determinada empresa ter facilidades em relação às demais. Carreiras como magistratura, diretor de agência reguladora, etc, impõem uma quarentena de saída, coisa que não existe nas FFAA, mas deveria existir com muito mais razão por mantermos as prerrogativas do posto.

      4) Li dez vezes meu comentário e não achei a linguagem chula e marginal. Para mim, chulo e marginal é ofender alguém de graça, como você que tenta me insultar.

      5) Torço que os órgãos de controle externo examinem toda contratação direta dessas empresas com uma lupa sim. Torço por um Brasil melhor, contratações impessoais e o mais isonômicas possível, como manda a lei, como mandam os preceitos éticos que nos orientam.

      6) Sei bem a diferença entre advocacia administrativa, tráfico de influência e lei da oferta e da procura (essa uma lei das ciências econômicas). Sei o bastante para reiterar o que disse, que em tese somente o servidor ativo pode ser sujeito ativo da advocacia administrativa, mas as peculiaridades da carreira deveriam nos fazer pensar diferente já que desejamos o bem da nossa instituição.

      7) Não vou explicar a ti a diferença, você parece ter lido tudo a respeito por algum motivo, um profundo conhecedor. Mais somente o caso concreto para dizer o que cada situação configura.

      8) Sobre discutir defesa nacional com escolares, pelo visto és altos estudos, detentor de todo o conhecimento da defesa. Bom, esse tema está aberto à discussão pública, o livro branco é objeto de debates, e sinceramente temos que ter humildade para reconhecer que mesmo um escolar tem a mesma experiência pratica de guerra que nós hehehehe. Acredito inclusive a que a ESG ainda forneça vagas a civis, isso sem contar as especializações de faculdades. Em países como os EUA, sim, os EUA e sua história de guerras, os debates são públicos, não são monopólio das FFAA, então talvez não tenhamos exclusividade em determinado conhecimento, nem sejamos tão especiais quanto alguns orgulhos acreditam. Tem muita gente capaz aí fora, te asseguro.

      9) Deveríamos ter uma quarentena de saída sim, principalmente por sermos uma instituição proba, reta como uma estaca, uma instituição séria que se orgulha dessa seriedade.

      10) Por tudo isso acho que meu comentário sobre che guevara é válido. Coluna Prestes, intentona, guevara, foram desafios do passado. Não representam um risco maior que os desafios atuais. Consegues perceber como são enormes? Mas com a graça de Deus, instituições cada vez mais fortes (TCU, CGU, etc), vamos vencer.

      “Ele afirmou, porém, que, “em alguns casos”, conta também o acesso que eles podem ter a autoridades.“

      Tem gente que acha normal……

  4. Ahhh e ainda tem militares graduados que babam ovo para esses velhacos embustes!!! No fim das contas generais e almirantes são cargos políticos!! Discurso de defender a nação é só para os bobinhos aquí embaixo.

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