Ataque nuclear norte-americano contra Hiroshima e Nagasaki completa 75 anos

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Mortos carbonizados, sobreviventes deformados, peles descolando dos corpos, chuva radioativa e até preconceito contra vítimas foi o saldo do controverso ataque americano contra civis no Japão em 1945

Marcelo Menna Barreto
O dia 6 de agosto marca os 75 anos de um fato que nunca deveria ter acontecido na história da humanidade: a bomba atômica lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Três dias depois, no dia 9, os norte-americanos atacaram Nagasaki. A controvérsia sobre os ataques não é apenas a opinião dos chamados hibakusha (vítimas da bomba, em japonês). Pacifistas ao redor do mundo também marcaram e ainda marcam a sua indignação com o ato realizado pelos Estados Unidos sob a alegação de buscar o término da Segunda Guerra Mundial.
Uma versão cada vez mais controversa, muito questionada, pois ceifou a vida de mais de 200 mil civis com a soma de um segundo ataque dias depois na cidade de Nagasaki. Mais do que um ato de guerra, um teste e um recado político em um conflito que praticamente já se encaminhava para seu encerramento com a derrocada da Alemanha de Hitler.
Segundo o embaixador brasileiro aposentado Sergio Duarte, a ideia passada de um ato para terminar o conflito armado “não é bem verdade”. Ele, que foi alto representante das Nações Unidas para assuntos de desarmamento e presidente da Conferência de Exame do Tratado de não proliferação nuclear, lembra que todas as notícias que saíram à época ecoavam a versão americana e de seus aliados.
“A guerra realmente terminou praticamente três semanas depois, quando os russos invadiram a Manchuria e entraram na guerra contra o Japão. Para Duarte, foi esse o fato determinante que fez as autoridades japonesas perceberem que era inútil resistir.
O general da reserva do Exército brasileiro, Bolivar Marinho Soares de Meirelles, vai mais longe. Para ele, a Guerra Fria que muitos consideram ter se iniciado após o fim da Segunda Guerra já acontecia há tempos.
Meireles diz que, na realidade, a bomba lançadas sobre Hiroshima “foi uma covardia feita contra o povo japonês”. No entendimento do general, a ideia dos americanos era “dar uma meia trava” no progresso da então União Soviética.
“A guerra estava propriamente ganha; a União Soviética tinha enfrentado as tropas nazistas com tanto vigor que foi o primeiro exército que chegou na Alemanha”, lembra. Nesse sentido, Meireles aponta a tese do recado político. “Os americanos estavam dizendo: nós temos a bomba atômica e vocês não”, fala.
O general lembra, no entanto, que a detenção dessa tecnologia não durou muito. “Logo a União Soviética conseguiu fazer também a sua bomba nuclear e isso acabou sendo até um elemento dissuasório”, conclui.

O horror
Na véspera do terceiro mês do fim da guerra na Europa com a rendição dos nazistas, americanos e japoneses ainda continuavam em disputa no Oceano pacífico.
Hiroshima, até então poupada por bombardeios, foi escolhida para receber o primeiro ataque nuclear da história exatamente pelo tamanho de sua população, a segunda do Japão à época.
Em um cálculo frio, o número de vítimas tinha o objetivo de dimensionar o poder de destruição da nova arma que foi lançada do bombardeiro B-29 batizado de Enola Gay, nome da mãe do piloto, o coronel Paul Tibbets.
Às 8h15 da manhã, à 10 km de altura a bomba que pesava mais de 4 mil quilos e tinha dentro 64 quilos de urânio foi lançada. O artefato, em mais uma ironia americana foi chamado de Little Boy (garotinho) causou uma destruição sem precedentes.
Quase tudo em um raio de dois quilômetros do epicentro da explosão foi devastado. A estimativa oficial é que até o fim de 1945 140 mil pessoas morreram só em Hiroshima. Cerca de 60 mil mortos de Nagasaki se somaram após.

O cogumelo e a rosa
Se para uns a imagem das explosões se assemelhavam a um gigantesco cogumelo, o poeta Vinicius de Moraes viu o espectro de uma rosa “radioativa, estúpida e inválida”.
O saldo: uma pacata cidade totalmente em chamas, mortos carbonizados na hora, sobreviventes deformados a ponto de seu gênero não poder ser identificado, pessoas com as peles seguradas pelas unhas e doenças adquiridas pelo contato com a radiação, visivelmente identificada por uma chuva negra que caiu na cidade minutos após a explosão.
Não bastando isto, os hibakusha ainda sofreram um forte estigma. Eram evitados porque se temia que – pela exposição à radiação – eles seriam contagiosos. Casamentos deixaram de ocorrer também pelo medo da possibilidade da geração filhos com problemas genéticos.

Hibakushas no Brasil
Em São Paulo, desde 1984 existe a Associação Hibakusha Brasil pela Paz. Entre os objetivos da associação, a realização de ações de memória ao genocídio contra as populações de Hiroshima e Nagasaki e o combate à proliferação das armas nucleares.
No início, eram 270 os sobreviventes fundadores. Hoje, os 80 remanescentes da associação, mesmo após 75 anos dos ataques nucleares protagonizados pelos Estados Unidos ainda têm acompanhamento médico.
EXTRACLASSE/montedo.com

6 respostas

  1. Acho engraçado um General Brasileiro querer dar uma de bonzinho, não esteve nos Campos de Batalha da 2 GUERRA, não viveu os horrores praticados pelos Japoneses e Alemães Nazistas contra os povos dos países dominados, Guerra é sangue , morte e destruição, se as bombas atômicas não tivessem sido lançadas tantos os americanos como japoneses teriam uma perda estimada em mais de um milhão de homens de cada lado, portanto querer ser politicamente correto é uma grande palhaçada, quem começou a guerra foram os Alemães e Japoneses portanto foi justo terem pago um preço amargo.

    1. Para ter uma opinião ou acreditar em algo

      o ideal é ouvir os dois lados ou ambas as partes.

      No caso da guerra, muitos lados, e aqui Marcelo Menna Barreto, descreve um.

      Atrocidades de todos, passado a ser lembrado e sempre EVITAR A TERCEIRA MUNDIAL.

      decisões amargas em momentos tensos. Para o bem de todos.

      E, se, o americano amarelasse e deixasse de LANÇAR?

      poderia ter sido pior e muitos óbitos a mais para a estória toda.

      Prever algo deste patamar é lógico e surreal para a época com tendência atual.

  2. Não existe uma única resposta. O Japão já havia invadido a Mnchúria em 1935 e após o fim da Guerra na Europa, na Conferência aliada em Postdam, foi decidido pela rendição incondicional dos japoneses. Ante a possibilidade do avanço soviético sobre o Japão, que ainda hoje disputam as ilhas Curilas e com questão da derrota Russa de 1905 , que marcou a emergência do Japão como potência regional, restou aos EUA o uso da bomba, ante a impossibilidade de ataque por terra, com a Operação Downfall e previsão de 1,5 milhão de baixas, tendo em vista a não rendição japonesa, ocorrendo que em locais onde houve desembarque, as tropas não se rendiam e até civis cometiam suicídio coletivo, além de até o ano de 1955 ainda ocorrerem combates na ilha de Saipan, sem contar com militares que deporam as armas somente na década de 1970. Mesmo com o lançamento sobre Hiroshima, não houve rendição e não existia mais nenhuma bomba de urânio, tendo sido usado o plutônio na segunda bomba,não ocorrendo a rendição automática e ameaça de novo lançamento. Antes já havia ocorrido o bombardeio de Tóquio, com a Operação Meetinghouse, entre 9 e 10 de março 1945, que causosu muito mais estragos e mortes que as bombas nucleares e o mais mortal da história, superando o bombardeio de Desdren na Alemanha. Lembrando que a entrada dos EUA no conflito foi via ataque a Pearl Habor pelos japoneses, não foi uma intromissão dos japoneses no Japão e a participação americana no conflito foi, sobretudo, no Pacífico.

  3. O ataque foi terrível, mas necessário para quebrar o ímpeto e a espinha dorsal do Japão e levar o país a rendição incondicional antes da virada de mais um ano. Com certeza, se as armas atômicas não tivessem sido utilizadas, haveria uma infinidade de mortos dos dois lados. Os japoneses tinham ordem para executar todos os milhares de prisioneiros americanos ao primeiro sinal de invasão ao seu território. Milhares de civis japoneses iriam se suicidar e eram encorajados a fazer isso pelo próprio governo, e por fim, as baixas entre os militares, dos dois lados, seriam na casa dos milhões. As bombas no fim pouparam milhões de vidas. E um paradoxo, porém infelizmente bombas salvaram milhões de vidas

  4. DISSUASÃO, GARANTIA DE SOBREVIDA
    Acreditar nas boas intenções de desarmamento pelas potências nucleares é até admissível. Acontece, elas sabem, se isto ocorrer o mundo viraria uma arena global sem precedentes. É paradoxal, mas, se os americanos não tivessem apelado para esta tecnologia de ponta, as perdas em marines nas ilhas japonesas teriam sido incalculáveis.
    É fácil imaginar o destino da Europa no século passado sem uma OTAN nuclearizada: a descomunal máquina de guerra montada pela antiga URSS teria lançado seus tentáculos até o Atlântico Norte. Em verdade, a UE hoje, pela forma como se estruturou e graças aos arsenais francês e inglês, dispõe de um poder de dissuasão, impositivo pela sua projeção econômica, capaz de inibir qualquer veleidade proveniente da rediviva Rússia.
    Já russos e chineses se toleram, por quê? E como os EUA lograriam conter uma invasão pela China? Só o exército chinês, em tempo de paz, soma mais de um milhão de homens! E se a Rússia decide, nesta hora, investir sobre a UE, França e Inglaterra poderiam esperar pelos yankees? Índia e Paquistão então podem até jurar que vão reduzir suas ogivas, porém hindus e muçulmanos sempre as terão escondidas com medo do grande dragão amarelo. Sobretudo os chineses são pupilos de Sun Tzu, para que pressionar sua testa de ferro, a super armada Coréia do Norte, por uma fragilização frente ao Japão, justo a ponta de lança de Tio Sam na Ásia?
    E Israel, sobreviveria o minúsculo país sem o desenvolvimento do seu projeto desestabilizador? Com certeza aquela nesga de terra, estrangulada que está entre o Mar Mediterrâneo e o mundo árabe, já teria sido varrida do mapa por uma sequiosa horda de tuaregues ululantes a brandir o sabre de Maomé. Poderão dizer que os judeus sempre venceram sem apelar para seus artefatos, mas, e se os sarracenos conseguissem um dia virar o jogo? Existe um ditado que diz ser a artilharia a “última ratio regis”, não existindo quem duvide do que será capaz o pequeno Davi para garantir a sobrevida de sua terra prometida.
    Todavia, não se pode olvidar, a opinião pública mundial, refém de uma orquestração tendenciosa manipulada pelos “todo-poderosos”, como que sataniza a simples discussão do tema, máxime quando, a partir da era Bush, passou a sofrer insidiosa lavagem cerebral quanto à existência de um “eixo do mal”, acusado à revelia pelas mazelas e inseguranças do mundo civilizado. Acontece que o Iraque, aquele mesmo malvado inocentado pela ONU por não dispor de armas de destruição de massa, ainda assim não foi poupado pelos todo poderosos. Resultado: Coréia do Norte e Irã, que não são crédulos de carteirinha, colocaram suas barbas de molho e estão correndo atrás.
    Mas, e o Brasil, como está encarando o País estes paradigmas e tabus insofismáveis? Nos idos da tropicália já se cantava: “é preciso estar atento e forte”. O porvir da nacionalidade depende da posse dos recursos da Amazônia e do pré-sal brasileiros e, de repente, esta vai ser questionada pelos senhores da guerra. Nesta hora, só um poder de indiscutível magnitude poderá nos garantir uma paz digna de sobrevida.
    PRRPAIVA
    INF/AMAN/1969
    ARTIGO PUBLICADO NO “JORNAL DO BRASIL”

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