Investigação revela esquema de desvio de armas dentro do Exército

Palácio Duque de Caxias, sede do Comando Militar do Leste

Apuração dos próprios militares e do MPM revelou que centenas de armas de colecionadores — vários já falecidos — que seriam destruídas ou incorporadas às Forças Armadas foram desviadas para clubes de tiro e empresas de segurança

Rafael Soares
RIO — Em abril de 2018, parentes de Hélio Baptista Lyra, coronel já falecido, procuraram o Exército para se desfazer de três armas que haviam feito parte do acervo do oficial. Eram duas pistolas — uma delas brasonada, de propriedade das Forças Armadas — e um revólver, que foram entregues no Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) da 1ª Região Militar, no Palácio Duque de Caxias, Centro do Rio. Pela legislação brasileira, a arma brasonada deveria voltar para o arsenal do Exército e as demais seriam destruídas. As três armas, entretanto, alimentaram um esquema de desvio de armamento do Exército.
Uma investigação conjunta do Ministério Público Militar (MPM) e do Exército descobriu que centenas de armas de propriedade de colecionadores — vários já falecidos — que seriam destruídas ou incorporadas ao arsenal das Forças Armadas foram desviadas para clubes de tiro, empresas de segurança e outros colecionadores. As duas pistolas e o revólver do acervo do coronel Lyra, por exemplo, foram “requentados” e revendidos para um tenente-coronel do Exército e dois atiradores esportivos. De acordo com o MPM, armas apreendidas com criminosos cuja destruição pelo Exército havia sido determinada pela Justiça também fazem parte do esquema.
Na última sexta-feira, a investigação avançou: por ordem da Justiça Militar, 182 armas foram apreendidas em endereços relacionados a 13 pessoas — entre colecionadores, militares e civis — no Rio, no Espírito Santo e no Paraná. Desse total, 101 foram desviadas no esquema; as 81 restantes estavam em situação irregular.
Os alvos dos mandados de busca e apreensão são os receptadores das armas “requentadas” pelo esquema — entre elas, as pistolas e o revólver do coronel Hélio Lyra.
Na sede da Guardian Segurança Vigilância, na Zona Oeste do Rio, que pertence ao major da reserva da PM Álvaro Fernandes Sabino,[…] foram apreendidas 83 armas. Já na Confederação de Tiro e Caça do Brasil, no Centro do Rio, foram apreendidas peças de fuzis.
A operação foi um desdobramento da prisão, em abril do ano passado, do ex-chefe do SFPC, tenente-coronel Alexandre de Almeida. O militar, identificado como principal o responsável pelo esquema, era a mais importante autoridade do setor no controle de armas que circulam no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Foi Almeida quem recebeu as armas da família do coronel Lyra, dias antes de ser preso. Segundo o inquérito, o oficial registrava as armas no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), o cadastro das armas registradas no Exército, em nome de seus novos donos ilegalmente. Um mês após a prisão, a Justiça Militar determinou sua soltura. A investigação segue em andamento.
O Globo/montedo.com

5 respostas

  1. Por falar nisso, foi convocada uma reunião pra ontem…urgência…Já se passaram semanas da reuniao e não se fala mais nada. Estou perdendo as esperanças em uma reestruturação justa e para todos, começo a olhar para uma demanda judicial como único caminho. Infelizmente.

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