O R2!

Militares brasileiros que participaram da Primeira Guerra Mundial - Domínio Público

MUITO ALÉM DE UM QUARTEL NO RIO DE JANEIRO: A VERDADEIRA ORIGEM DO EXÉRCITO BRASILEIRO, O R2
A história dos militares está diretamente ligada com a participação do Brasil em uma das maiores guerras

RICARDO LOBATO*
Ao contrário do que se possa imaginar, a história dos oficiais da Reserva de Segunda Classe do Exército Brasileiro (R2) não começa num quartel do Rio de Janeiro, nem nas escaramuças do Exército pelo interior do Brasil. Muito menos em uma das tantas guerras de disputa fronteiriça do Prata.
A história desses militares começa em um conflito distante, do outro lado do Atlântico, numa guerra em que a participação brasileira foi praticamente inexistente. Sua história começa nas enlameadas trincheiras da “guerra para acabar com todas as guerras”, a Primeira Guerra Mundial.
Com o advento da Grande Guerra, o Exército brasileiro enviou observadores militares para acompanharem “a grande guerra moderna” europeia. Alguns participaram das Batalhas do Marne e Verdun. Entretanto, além das observações de que o Brasil estava despreparado para uma guerra em escala industrial — um dos motivos da vinda da Missão Militar Francesa em 1919 — , foi a lição de que não bastava mobilizar grandes reservas de soldados: era preciso oficiais para comandá-los.
A então Escola Militar do Realengo não seria capaz, em tempos de belicismo, de prover oficiais suficientes para o Exército. A solução encontrada para a rápida substituição de oficiais subalternos e intermediários estava no que faziam ingleses e norte-americanos: programas de formação de oficiais da reserva.
No Reino Unido, os University Officers’ Training Corps (UOTC) existem desde 1642, época da Guerra Civil Inglesa — a efeito de comparação, a Batalha de Guararapes, marco fundacional do Exército, foi em 1648. Nos EUA, os Reserve Officers Training Corps (ROTC) remontam ao ano de 1862, em plena Guerra da Secessão, apesar de terem sido formalizados só em 1915.
Ambos se mostraram um sucesso durante a Grande Guerra, sendo, diante das baixas colossais do conflito, os grandes responsáveis pela rápida capacidade de mobilização e substituição de efetivos dos países Aliados nessa guerra.
No caso brasileiro, apesar de o Exército reconhecer a formação de oficiais qualificados para a Reserva, não fosse pelos esforços do então Capitão Luiz Araújo Correia Lima, a ideia não teria saído do papel. Mesmo assim, além de o primeiro Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) ter sido inaugurado só em 1927 — ao contrário dos modelos bretão e estadunidense, em que é possível fazer carreira, alcançando o generalato — , no Brasil, o oficial podia alcançar no máximo o posto de Capitão. Hoje, apenas até Primeiro-Tenente.
As lições da Primeira Guerra e os esforços de Lima prepararam o país para a guerra seguinte. Quando Vargas declarou guerra ao Eixo, em agosto de 1942, dos 1070 Tenentes e Aspirantes que compunham a Força Expedicionária Brasileira (FEB), 433 eram R2, cerca de 40% do efetivo.
Com isso, mais CPORs e os primeiros Núcleos de Preparação de Oficiais da Reserva (NPORs) foram criados. Uma herança que persiste até hoje. Na Itália, esses oficiais se destacaram não apenas entre seus pares oriundos do Realengo, mas também entre seus superiores e com os demais militares das Forças Aliadas. Antes vistos com desconfiança pelos oficiais de carreira, os R2 são um exemplo de que, também nesse caso, a cobra fumou.
*Sociólogo e Mestre em economia pela UNB, Oficial da Reserva do Exército brasileiro e Consultor-chefe de Política e estratégia da Equibrium — Consultoria, Assessoria e Pesquisa.
**Esse texto não reflete necessariamente a opinião da Aventuras na História
Aventuras na História/montedo.com

28 respostas

  1. Pois é, bem que o EB poderia valorizar mais todos os seus quadros de temporários. É mais que provado que, quem trabalha, carrega o piano, faz a engrenagem girar, é o temporário, seja ele praça ou oficial. O de carreira, apenas cumpre o expediente e nas horas vagas faz picuínhas e choraminga nos alojamentos.

    1. Sou Cap QAO R1 e concordo contigo, pois uma grande parcela são figurantes que só sabem reclamar, esperar ordens e fingir que não vê o que tem quer ser providenciado ou corrigido.

    2. Vai ver é por isso que um subtenente com trinta anos de trabalho e de carreira digna não consegue ser promovido a oficial. O cara já chega se destacando com seu ensino médio e seis meses de formação em meio expediente. Aí não tem como concorrer mesmo…

    3. Mas já valoriza. Vc com 45 dias de formação (de banquinho) ganha igual a um Sgt de carreira q ralou dois anos de formação ou quatro anos de formação se for oficial (sem contar o tempo de estudo para passar no concurso).

  2. comentários de quem realmente não tem vivência alguma no EB, ou viverão se arrastando, como Sofista servi por 25 longos anos, no próprio comentário já é um mimimi, imagino que tipo de militar foi vc.

  3. Acho que o R2 tem seu valor ,mas falta qualidade para maioria que ficam cumprindo seu tempo de serviço para não servir como soldado , seriam mais que importante fazer uma prova de seleção e não por indicações politicas ,poderiam ser melhor aproveitados os melhores .

  4. Ao Anônimo no 7 de julho de 2020 a partir do 18:44

    Sou Sten, assim como tem o pessoal de carreira trabalhador, tem outros que não servem nem pra limpar as bundas dos cavalos dos RCGs. Assim como há políticos que tentam fazer alguma coisa, há outros que estão lá só para assaltar os cofres públicos. E assim sucessivamente. Bem vindo ao mundo dos vivos, Brasil!

  5. Maior bizu das vidas, ganhar 10 mil com 19 anos, nenhum outro emprego publico paga tao bem para um estudante matriculado na uniesquina. R2 e a melhor coisa do mundo, ganha uma estrela no ombro que cai do ceu, 8 anos ganhando como um caego de nivel superior, tudo sem fazer concurso e formado no meio expediente.
    Oriente seu filho: seja r2

  6. Comentario de quem se arrastou por 25 longos anos, imagino qie tipo de militar Sofista deve ter sido, só pelo comentário imagino, passageiro da agônia, isso que dá a pessoa entrar numa profissão sem vocação, quanto ao temporário bem menos poi favor, algumas raras exceções eram excelentes militares mas a sua grande maioria uns bostas, isso oficiais agora já os Sgt sim eram diferenciados

  7. Como oriundo de Batalhão de Engenharia de Construção, nós recebíamos vários Tenentes Temporários chamados de R/2! Todos que conheci chefiando Equipes e Seções no Batalhão, correspondiam satisfatoriamente! Realmente eram os que carregavam o piano! Os Oficiais da AMAN ficavam pouco tempo na Unidade e eram transferidos ou iam fazer Cursos em Escolas Militares etc! E os Tenentes Temporários eram que realmente trabalhavam e faziam Jus ao Oficialato! Lembro do meu Primeiro Chefe na Equipe Bandeirantes de Desmatamento na implantação da Cuiabá-Santarém, o Ten R/2 SCHAFFER, um brilhante Cmt, tinha uma grande capacidade de Cmdo! O nosso EB deveria ter 80% de Sgts e Oficiais Temporários e tenho certeza absoluta que os Serviços seriam tocados tranquilamente! Parabéns a todos os Oficiais e Sgtos Temporários chamados de R/2 nossas homenagens.

  8. O fato que o militares temporários oriundos do meio civil já possuidores de graduação de nível superior são imprescindíveis para a instituição.

    Já os militares temporários das armas precisam de “reformulação”, principalmente com a exigência de nível superior para o CPOR/NPOR, atualmente o sargento de carreira já é de nível superior.

  9. Eu me referi a Oficiais R/2 da minha época da abertura e implantação da Cuiabá-Santarém lá se vão mais de 40 anos! Eram Tenentes de Engenharia e Médicos! Eram respeitados e o Cmt do Btl lhes dava função de Ch de Equipe que a desenvolviam a contento! Hoje não sei informar pois já se foram 25 anos que fui para a Reserva! Mas essa geração dita como Nutellas, eu realmente não posso afirmar nada! Espero que pelo menos honrem o nome do nosso EB de um passado Glorioso!

  10. Sempre acompanhei esse site e hoje resolvi escrever pela primeira vez. Sou Of R/2 Inf formado pelo CPOR/SP e servi no 2.BPE por 5 anos, no final dos anos 90. Em 2019 fui na formatura dos Aspirantes e vendo o desfile com então 42 anos de idade, fiquei pensando: esse meninada de 19/20 anos irá comandar sargentos de carreira, alguns deles com décadas de experiência? Quando eu era 2o. Ten não pensava assim, mas hoje, depois da minha baixa, quase 20 anos de trabalho no meio civil e com uma nova visão de mundo, eu entendo completamente a indignação dos sargentos de carreira com esta situação. Sei que o processo de formação dos sargentos (ESA) atualmente leva 2 anos e é reconhecida como nível superior (se estiver errado me corrijam por favor), logo, é uma grande incoerência o Of R/2 ter o cargo que tem sem ter completado nem sequer o nível superior em qualquer curso de qualquer faculdade, fora que a carga horária total do CFS é muito superior a do CFOR (CPOR/NPOR). Ao mesmo tempo entendo a demanda pelos Of R/2 nas OMs, pois a AMAN não tem como “suprir” essa demanda de Cmt Pel nas centenas de OMs (durante meu tempo na ativa todos os Cmt Pel das 4 Cias eram R/2, o único Ten da AMAN comandava o PIC) logo, eu acho válido uma revisão total da formação do Of R/2, de forma a prepará-lo de uma maneira mais moderna e completa para a função de Oficial Subalterno e ao mesmo tempo permitir o tratamento justo e respeitoso com todos os Sargentos de Carreira. Creio que algo nos moldes do ROTC do Exército Americano possa ser algo bem distante da nossa atual realidade, mas para terminar queria apenas deixar aqui minha humilde opinião e também agradecer aos sargentos da ESA (e Temporários) que serviram comigo na 2ª. Cia PE, pude aprender MUITO com eles e ter lições que me são extremamente úteis até os dias de hoje.

  11. Até não ía comentar, mas não em contive. O tal do Oficial Temporário de CPOR/NPOR é mais um abacaxi, mais um pinduricalho criado com objetivo de suprir uma “possível” demanda, digo possível porque se faltam Oficiais para a escala de serviço, Cmt de Pel, etc, a solução é muito simples, apenas segure este pessoal oriundo da AMAN mais tempo no posto de Tenente, sapeca 8 anos para cada promoção, assim como fazem com as praças.
    Ah, mas aí não pode…é desmotivante…kkkk Para o terceirão cão atômico das galáxias não é desmotivante. Desta forma o Ten Zezinho ficaria 16 anos na escala de serviço e como Cmt de Pel, problema resolvido, não precisa mais formar Oficiais Temporários. Alguns saudosistas acham que todo mundo que reclama da instituição não tem “vocação”. Ts,ts,ts,ts…vocação? Vocação para ser pau mandado, para prestar a continência, para andar engomadinho e marchar? Precisa de vocação para isso?
    Para as praças de escola o Oficial Temporário só demonstra o total descomprometimento da Instituição para com a carreira das Armas.

    1. Para resolver essa demanda de oficiais em inicio de carreira ,poderiam fazer uma prova eliminatória ,com nota de corte por exclusão, e pegar os melhores, não os puxa-sacos , prepara-los com complementos de comandos , seria uma forma de valorizar o RH sem ter que fazer uma longa formação .Essa ideia de estender por mais anos o oficial em inicio de carreira é boa , temos muitos postos em final de carreira sem utilidade alguma ,é só verificar a proporção que não é adequada ,a força esta inchada no topo e falta em sua base ,sem contar o custo desses militares .

    2. O “Terceirão” tem a opção de voltar aos estudos e concorrer a algum quadro de oficialato tendo o Nível Superior, quanto ao R/2 é inevitável e existem (tanto como os oriundos da AMAN) os bons e maus Oficiais , sendo eles temporários ou não, assim como Praças também.

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