Nossos Heróis estão indo embora!

Imagem: divulgação

Bagé se despede do último combatente da Força Expedicionária Brasileira

]JOÃO FRANCISCO DA SILVA – Ex-Combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB)18/06/2020
Documentário produzido em parceria entre o curso de Jornalismo da Urcamp e o 3º Batalhão Logístico (3º BLog).

Bagé (RS) – João Francisco da Silva, de 96 anos, morreu na noite de domingo (28), no Hospital da Guarnição de Bagé (HGuBa). Ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB), o 2° Tenente lutava contra um câncer de próstata. O Exército emitiu nota oficial, salientando que o último dos 33 bajeenses integrantes da FEB, na Segunda Guerra Mundial, ‘deixará saudades, por sua presença constante, nos palanques das formaturas desta Brigada de Cavalaria’.
Silva era viúvo e deixa sete filhos. O velório aconteceu na Capela do Hospital de Guarnição de Bagé (HGuBa) durante toda manhã e o sepultamento foi às 11h, no cemitério dos Azevedos, em Bagé. Também na manhã de segunda-feira, antes de seu sepultamento, o “pracinha” recebeu homenagens da comunidade e um cortejo de veículos, que acompanharam o carro que o levava para o sepultamento.
Segundo o livro “A Rainha da Fronteira – Fragmentos da História de Bagé”, de Cássio Lopes, Edgard Lopes, o”pracinha” tinha 20 anos, em 1944, quando servia no 12° Regimento de Cavalaria de Bagé, atual 3° Batalhão Logístico, e resolveu ser voluntário para integrar a FEB. “O militar viajou de trem até a cidade de Rio Grande e de lá foi de navio para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por três meses em treinamento. Ao fim da preparação, o então soldado João Francisco embarcou para a Itália, aportando em Nápoles, após 15 dias de viagem. Ele foi voluntário e falou para a família, em casa, para a mãe e irmãs, dizendo que tinha sido convocado pelo time de soldados para jogar futebol em Rio Grande e no Rio de Janeiro. No entanto, o padrasto desconfiou da história que ele contou e o seguiu até a Estação Ferroviária de Bagé e percebeu o verdadeiro destino do enteado: a Segunda Guerra Mundial. Em território inimigo quando estava em Stafoli, foi designado para vigiar uma ponte que dava acesso ao acampamento brasileiro. E foi nesse momento que percebeu a aproximação de um italiano, de bicicleta, com uma caixa suspeita no bagageiro. Então, gritou e ordenou para que o indivíduo recuasse, mas este não obedeceu e somente com um tiro abateu o italiano, que trazia na caixa uma bomba capaz de mandar soldados e barracas pelos ares. Meses após com o final da Guerra, após retornar para o Brasil com o sentimento de dever cumprido, trazendo cicatrizes na mão esquerda e no rosto, oriundas dos estilhaços da explosão de uma granada, e o orgulho de ter fincado a bandeira brasileira em solo italiano, após a Tomada de Monte Castelo, em 21 de fevereiro de 1945. Chegando a Bagé, surpreendeu a todos, pois muitos achavam que tivesse morrido. Após, desempenhou por anos várias atividades rurais e urbanas para ganhar a vida, até que o Major Murilo Budó mandou um ofício para o Presidente Costa e Silva, solicitando sua nomeação para o Hospital Militar de Bagé, no qual serviu por doze anos. No entanto, somente trinta anos após o término da Guerra, saiu sua promoção, inicialmente como primeiro sargento e, depois, durante o governo de Fernando Collor, de segundo tenente. Dos trinta e três “pracinhas” bajeenses que retornaram da Segunda Guerra Mundial, ele era o último vivo”, menciona a obra.

História Militar
Ao longo da segunda-feira (29), quando o “pracinha” foi sepultado, também se comemorava, na história, 76 anos de quando os combatentes da FEB partiam para a Segunda Guerra Mundial. Segundo reportagem da revista Aventuras da História, no ano de 1944, um trem com numerosos vagões entrava na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Soldados e oficiais que acompanham a chegada tinham a impressão de que seu avanço pelo interior do quartel jamais terminaria.
“Nesse dia, 29 de junho de 1944, milhares de homens tomarão seus lugares no interior da composição para dar início à viagem que os levará para a guerra. Um ano e meio de treinamentos e preparativos terminava ali”, retratou a publicação. Ao contrário do que muitos esperavam, diz a reportagem, o Exército brasileiro havia sido capaz de formar uma divisão para representar o País na guerra mundial contra o nazi-fascismo, que já durava quase cinco anos. Conhecida como Força Expedicionária Brasileira (FEB), a divisão havia sido subdividida em três regimentos de infantaria – o 1º do Rio de Janeiro, o 6º de Caçapava, São Paulo, e o 11º de São João del-Rei, Minas Gerais. “No total, era uma força composta por mais de 25 mil pessoas”, menciona o texto ao apontar que ‘para muitos, aquele 29 de junho representava apenas mais um exercício’. “Dos três regimentos, apenas o 6º cruzaria a cidade do Rio de Janeiro, completamente às escuras em função de um planejado blecaute, em direção ao cais. Os demais regimentos seriam levados para outros locais com o objetivo de confundir os informantes. Também por questões de segurança, o embarque deu-se somente à noite, o que fez com que o processo todo demorasse três dias”, conclui.

Destino desconhecido
Na manhã de 2 de julho, o navio norte-americano General Mann partia sem que a maioria de seus passageiros soubesse exatamente o que estava acontecendo. Muitos dos pracinhas, como eram conhecidos os soldados brasileiros, apostavam que o destino final seria o norte da África e acreditavam que jamais entrariam em combate. Durante longos 13 dias, eles entregaram-se a uma rotina que consistia em tomar um lugar na fila do refeitório, fazer exercícios de salvamento em caso de ataque e voltar para os dormitórios.
Cada compartimento do navio abrigava até 400 homens e sempre havia um oficial armado na entrada. Sua missão era trancar a porta, caso aquela seção fosse torpedeada, não importando quantos homens houvesse ali dentro. O essencial era salvar o navio e o máximo de passageiros possível.
A monotonia da viagem só foi quebrada quando o Monte Vesúvio, dominando a paisagem da Baía de Nápoles, pôde ser avistado pelos integrantes daquele que seria o primeiro dos cinco escalões da FEB. O mistério havia acabado. Os pracinhas estavam na Itália. E para combater num inferno gelado.

Honraria
Em fevereiro deste ano, em cerimônia de comemoração aos 75 anos da Tomada de Monte Castelo, batalha travada ao final da Segunda Guerra Mundial, entre as tropas aliadas e as forças do Exército Alemão, que tentavam conter o avanço no norte da Itália, João Francisco da Silva recebeu a Boina Preta (símbolo do combatente blindado).
A batalha de Monte Castelo foi travada entre novembro de 1944 e fevereiro de 1945, marcando a presença da FEB na guerra, com a tomada da elevação, que possuía grande importância tática por permitir o avanço das tropas em direção à Alemanha. O bajeense combateu nesse confronto, que teve, como saldo, 478 soldados mortos e 27 inimigos alemães aprisionados.
Jornal MINUANO/montedo.com

15 respostas

  1. Esses nossos Heróis que defenderam o Brasil e o Mundo contra o Nazi-facisco, muitos tombaram na Itália e não retornaram ao seu amado Brasil! De volta ao País foram dispersados e a maioria com problemas de saúde e mental! Conheci um vizinho meu que chorava quando contava à atuação e a História da FEB nas Operações na Itália! E após muito tempo entorno de 1980 ele foi reconhecido e recebeu tardiamente seus proventos de 2º Tenente que foi uma alegria só para a humilde família! Mas doente foi embora cedo o que nos deixou muito triste, pois foi que me contava a História pereceu! Temos pouquíssimos heróis vivos! Tudo o que o Exército e o povo Brasileiro fizer será pouco para compensar esses HERÓIS DA FEB, a nossa eterna Continência!

    1. O Brasil não valoriza os seus heróis da segunda guerra mundial.ao contrário,tira-lhes os seu benefícios, dos seus pensionistas.meu pai faleceu há mais de 3 anos e seis meses,no dia 12 de dezembro de 2016,,e nunca recebeu(a viúva),esses soldos, provinientes desse dia de dezembro.o mesmo era ex combatente, e ate agora recebeu uma banana do exército,com toda documentação pertinente pronta, publicada,autorizada,mais fala maior o desrespeito do exército para com os seus heróis.bozo nunca mais se Deus quiser.

    1. Desde daquela época, século passado, o praça era menosprezado, lutou, matou cumprimdo o seu dever, voltou e foi esquecido, só lembrado 50 anos depois no governo collor, sim, só após 50 anos foi totalmente reparado o erro.
      Nos dias de hoje não mudou muita coisa, praça é praça, cumprir sem perguntar e nem olhar feio, ” de modo desrespeitoso” ao oficial que igual aos juízes e políticos se acham uns semi deuses.
      Esse que hoje passa para o lado de Deus, sim é um herói que esquecido por anos, pelo menos agora será lembrado como um soldado, praça, promovido a oficial por merecimento, sim ele e outros verdadeiros guerreiros devem serem seguidos, não como exemplo, pois, nem Cristo a humanidade procura como exemplo,mas como um modelo a ser aprimorado.
      A família deve estar orgulhosa e, que Deus conforte a dor da perda.

      1. O que admira é que, ainda, estão se condecorando os pracinhas com a medalha da Vitória somente agora e, em muitos casos, pós-mortem.
        Agora, para políticos bandidos a distribuição é farta…
        Mas não me surpreende pois o PR foi condecorado com a pacificador com palma após 40 ANOS do evento que gerou o direito à honraria. Tudo devido à conveniência do momento.

      2. Infelizmente o que falou é verdade. Nós praças vivemos para eles. Praça não pode ter iniciativa, não pode ter carro melhor e não pode ter mais estudo que eles. Brincam com nossas vidas, como se fôssemos marionetes. Demorei para perceber isso, ainda tentei acreditar que pertencemos ao mesmo time, mas o que acontece é que os colocamos na cara do gol e são eles que marcam. Que descanse em paz o nobre guerreiro.

  2. Em pensar que fiquei indignado uma vez quando vi um senhor, ex-combatente, num setor de IPTU da Prefeitura do RJ, no bairro Campo Grande, querendo saber sobre um direito de isenção devido a sua condição e foi totalmente destratado pelo funcionário do órgão. O ex-combatente foi humilhado na frente de todo mundo. Na época, eu era um adolescente e não existia celular, não dava nem para chamar a polícia. O brasileiro só valoriza BANDIDOS, não merece nem a comida que come.

  3. Que exemplo de Patriotismo
    Grande Herói
    O depoimento é de arrepiar em quem sente algum sentimento pelo Brasil e vestiu o verde oliva.
    Descansa em paz grande combatente.
    Missão cumprida.
    Brasil acima de tudo.
    Abaixo de Deus.

  4. FEB recebam a minha melhor continência. Sempre terei orgulho de vcs defenderam nossa pátria com honra.
    Que Deus abençoe seus familiares.

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