Militares no governo afetam reputação das Forças Armadas?

Foto: Montagem sobre foto de Leo Martins / Agência O Globo; e Alan Marques / Folhapress

EDUARDO JOSÉ BARBOSA, 64 anos, fluminense

O que faz e o que fez: general de divisão da reserva, é o atual presidente do Clube Militar. Antes, foi vice-chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa, diretor do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército e comandante do 14º Grupo de Artilharia de Campanha. Graduou-se na turma de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman)

MAYNARD SANTA ROSA, 75 anos, alagoano

O que faz e o que fez: é general de exército da reserva. Foi titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), no governo Bolsonaro. Antes, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa. É doutor em ciências militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

A participação de militares no governo gera algum desgaste à imagem das Forças Armadas?
EDUARDO JOSÉ BARBOSA A população sempre viu as Forças Armadas atuando em diversas atividades no Brasil e no mundo (sob a égide da ONU) e as mantém com altíssimo índice de confiabilidade. O fato de existirem diversos militares no governo ajuda a passar essa percepção de confiança. Além disso, os militares são nomeados para cargos de natureza civil e, portanto, sujeitos às injunções políticas do governo. A população é inteligente para não misturar as coisas.

MAYNARD SANTA ROSA Não vejo problema na participação de militares da reserva no governo. Quanto à presença de pessoal da ativa, vejo, sim, riscos que podem afetar a imagem das Forças Armadas. Não há como dissociar o ocupante de altos cargos das polêmicas inerentes às decisões políticas.

O senhor concorda com a opinião de que seria tarefa dos militares promover moderação e respeito às instituições por parte do presidente Jair Bolsonaro?
EJB As Forças Armadas se subordinam ao Estado porque elas permitem que o Estado exista. O Estado é a sociedade politicamente organizada. O que vemos hoje no Brasil é a política desorganizada porque as instituições se promiscuíram, e não vejo como causa o atual governo. Os Poderes, que deveriam, harmonicamente, permitir a implementação do programa de governo escolhido pela população nas urnas, têm preferido a oposição sistemática.

MSR Sou cético em relação à hipótese de influir no estilo pessoal do presidente. Ele tem personalidade forte e convicções sólidas. Dificilmente seria persuadido por uma opinião que lhe contrarie a maneira de ser. Por outro lado, o respeito às instituições é uma atitude arraigada de todo militar que vivenciou os costumes castrenses. Não acredito em hipótese diferente, dentre os que prestam serviço ao governo.

Ao dizer que as Forças Armadas “estão do nosso lado” e invocar interpretações sobre o artigo 142 da Constituição, o presidente Bolsonaro ultrapassa a esfera de atuação das Forças Armadas como órgão de Estado, e não de governo?
EJB Na verdade, ele disse que o povo estava ao lado dele e que as Forças Armadas estavam com o povo. As duas afirmativas isoladamente, dentro da percepção do presidente, estão 100% corretas.

MSR A dialética adotada pelo presidente é rica em apelos de toda a ordem. Neste caso, tenho o mesmo enfoque de Shakespeare: “São palavras, nada mais que palavras”.

É possível interpretar o artigo 142 como abertura para que as Forças Armadas sejam acionadas por qualquer um dos Poderes para delimitar a ação de outro Poder?
EJB Está escrito lá: “Por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Não há o que interpretar. A questão é caracterizar que a lei ou a ordem não está sendo mantida. Não cabe aqui o achismo, e uma medida dessas tem de ser respaldada por profundo estudo jurídico a ponto de convencer a comunidade internacional de que é uma medida legal e ter o respaldo da população. Seria uma medida extrema, mas legal.

MSR Não acredito que seja viável uma solução como essa. Minha visão quanto a um possível impasse institucional apoia-se na história e na psicologia social. Meu enfoque é mais arquetípico do que racional. Na iminência de um cenário de grave perturbação da ordem, em que haja perda de controle pelos Poderes instituídos, as Forças Armadas serão empregadas nos termos do espírito do artigo 142.

Os militares são, de fato, a espinha dorsal do atual governo?
EJB O governo tem excelentes profissionais em seus quadros. Os militares estão inseridos nesse contexto e, junto aos civis, estão ali para colaborar com o governo e o Brasil. Acontece que os últimos governos preferiram afastar os militares do centro do poder, talvez pelo fato de que deixar os militares por perto dificultaria em muito os mensalões, petrolões e outros métodos de corrupção. Além disso, militares no governo não veriam com bons olhos o alinhamento ideológico com países ditatoriais, marca registrada dos últimos governantes.

MSR Não concordo. Eles contribuem com seu trabalho para tocar a rotina do governo, mas nem sempre têm acesso às grandes decisões. Em minha opinião, os militares foram convocados pelo atual governo para suprir a inexistência de uma base de quadros políticos qualificados. Nos governos anteriores, concordo que havia uma prevenção ideológica contra as Forças Armadas, a impedir a presença de seu pessoal no Executivo. Não é justo que haja discriminação entre civis e militares. Esse ponto de vista é uma distorção artificial.

Por que alguns dos generais que integraram o governo acabaram sendo alvo de ataques e foram demitidos?
EJB Nem todos pensam da mesma forma sobre determinados temas ou governança. Alguma divergência de opinião, não só de generais, como aqui colocado, mas também de civis, pode gerar críticas de outros integrantes ou militantes. Considero isso normal. Quem aceitar estar no governo tem de remar junto com o presidente.

MSR No meu caso, houve incompreensão do papel institucional da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos, vinculada à Secretaria-Geral da Presidência). Não aceitei desviar o esforço de nossos quadros da destinação original.
ÉPOCA/montedo.com

21 respostas

    1. Faz o seguinte então: Quando tiver na época de ir para a reserva não vá embora, fique dentro do quartel até dia morte se gosta de estar rodeado de militares. Cada pensamento imbecil aqui!
      Esquece quartel cara, pois existe vida aqui fora e governo não é militarismo.

    2. Bom era o tempo que o governo tava lotado de gente condenada, de gente sendo investigada…não concordo com muitas coisas que esse governo faz mas uma ele está totalmente certo: tem que acabar com todo e qualquer financiamento pra qualquer tipo de mídia e de qualquer lado…ta louco..
      Vão se parciais assim la no sitio do capeta…

  1. Só criticam os militares que estão fira do governo, pois adoram uma boquinha. Onde estavam os leões quando a Pátria estava sendo surrupiada pelos comunolarápios?

  2. XÔ época- groubo já era!

    Imitou a mamãe descontrolada, ora psdb/pte/piçol/bonde da madrugada/…etc…enaltecendo os criminosos do mundo, intimidando em seus programas hedonistas, impostos elevados, estavam ali gerando lucros e proibições desnecessárias, tentando ser o quarto “pudê”, requisitavam o desejado,criando máfias, criminosos e desnecessários. Cada taxa ou imposto tirado à força , sem a nossa vontade, é imoral e opressivo.

    FORA GLOBOSTA
    FORA época! XÔ!

    Já estamos saturados de tantas saturações de fotos.

  3. 1) “O fato de existirem diversos militares no governo ajuda a passar essa percepção de confiança”
    Com a devida vênia existem muitos outros cidadãos que inspiram confiança, e não somente as Forças Armada.

    2) “Além disso, os militares são nomeados para cargos de natureza civil
    Então por qual motivo a princípio, alguns militares utilizam suas designações hierárquicas contrariando o Estatuto dos Militares.

    3) “Os Poderes, que deveriam, harmonicamente, permitir a implementação do programa de governo escolhido pela população nas urnas, têm preferido a oposição sistemática.”
    Começando pelo atual Pres. da República.

    4) ” o respeito às instituições é uma atitude arraigada de todo militar que vivenciou os costumes castrenses. Não acredito em hipótese diferente, dentre os que prestam serviço ao governo”
    Concordo, entretanto preciso discorrer que respeito e subserviência são situações distintas, deste modo é permitido ao militar da reserva discordar dos posicionamentos do governo; aos militares da ativa também é permitido isso, no tocante a ordens ilegais.

    5) “que o povo estava ao lado dele e que as Forças Armadas estavam com o povo”
    – Sobre o povo discordo pois nas últimas eleições o brasileiro votou contra um passado, mas se esqueceu do futuro, deste modo, principalmente em função do desgaste do atual governo, dizer que toda a população é Bolsonaro, é um engano.
    – No segundo aspecto, as F.A servem ao Estado, considerando a democracia semidireta vigente em nosso país, nem sempre a vontade popular pode representar o bem. Sugiro a leitura “O contrato Social” de Rousseau

    6) “Acontece que os últimos governos preferiram afastar os militares do centro do poder”
    – A questão é que militar na ativa não é e não pode ser político, quase todas as literaturas internacionais apontam isso, vide o caso recente americano.
    – O militar que quer ser político, que se prepare, se submeta ao processo eleitoral e se tiver méritos (vcs já escutaram isso) ganhará.

    7) “militares no governo não veriam com bons olhos o alinhamento ideológico com países ditatoriais”
    – É preciso definir o que seja ditadura.
    – Por exemplo, atualmente o militar pode discordar do presidente e não sofre represálias (antes de responder pesquisem)?
    – Então as F.A viraram partido político?
    – Desde o governo FCH os militares não sofriam qualquer tipo de perseguição ou represálias por serem contra o governo, e agora?

    8) “Nos governos anteriores, concordo que havia uma prevenção ideológica contra as Forças Armadas”.
    – Não acho que tenha havido prevenção ideológica, porém em função dos acontecimentos da ditadura militar, optou-se por deixar os militares restritos as suas funções constitucionais, o que foi correto.

    9) “os militares foram convocados pelo atual governo para suprir a inexistência de uma base de quadros políticos qualificados.”
    – Errado. Eles foram convidados. Convocação e mobilização são situações diferentes, veja a Lei nr 11.631/2007.

    10) “Não aceitei desviar o esforço de nossos quadros da destinação original.”
    – Correto.

    1. Bom dia a todos.

      Excelente colocação.
      Concordo plenamente.
      Vejo que há muitas distorções na interpretação dos fatos ou muitas pessoas distorcem os fatos para obterem (ou tentarem obter) legitimidade!

      1. Veja e Globo foram severamente atacados durante os governos petistas. Por publicarem as falcatruas dos petistas, os militantes chegaram a depredar os prédios das redações de Veja em São Paulo e da Rede Globo no Rio. Duvido que nessa época os bolsonaristas de hoje tinham a mesma atitude dos petistas em relação à Veja e Globo.

        Agora inverteu os pólos.

        Veja e Globo são atacados por bolsonaristas e usados como fonte de notícias dos petistas quando querem enfatizar erros do atual governo.

        Conclusão: quem faz coisas erradas não quer que sejam divulgadas. E os fanáticos não gostam de ouvir que estão cegos.

        Isso vale tanto para fanáticos petistas quanto para bolsonaristas.

  4. Pode-se notar que este MSR é um “tremendo esquerdinha”. É muito alinhado aos ideais dos vermelhinhos. Que vergonha!!! Fica numa de “nem fede e nem cheira!”

  5. Pois bem esse tal de MSR, fez uma verdadeira caças as bruxa quando foi Chefe do DGP, tirou pessoal do rio e colocava em são paulo. Transferiu somente praças que estavam muitos anos em guarnições, com esposa trabalhando, casa comprada. Sangue muito bom…..

    1. Fui transferido graças a ele em 2009, contrariado como vários colega, muitos deixando a família para trás, e na época a desculpa ou argumento para várias transferências impostas, foi que tinham muitos graduados com intenções de serem candidatos a cargos políticos.
      E ele foi fazer oq depois da reserva?

  6. Não tem nada a ver, mas essa foto do general está muito engraçada. Parece uma caricatura.

  7. Apesar de estar fora do contexto ,mas concordo com o argumento, se a justiça arbitrou não tem como ir contrário e simplesmente cumprir cessado todos recursos ,temos que acabar com essa sacanagem de ganhar no grito ,

    1. O general Santa Rosa, nessa foto, está parecendo muito com aquele personagem Barbosa (interpretado pelo Latorraca) do antigo Tv Pirata.

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