Caminhando e cantando com Bolsonaro (1992)

Em manifestação por aumento salarial para os militares,Bolsonaro chama o presidente Fernando Collor de Mello de “corrupto e imoral”, o ministro do Exército, Carlos Tinoco de “banana”, os ministros da Aeronáutica, Sócrates Monteiro e da Marinha, Mário César Flores de “incompetentes” , e o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Luiz Antônio da Rocha Veneu, de “omisso”. Brasília, DF, 27/4/1992.
André Dusek/Estadão

Mulheres de militares protestaram batendo panelas e seguindo o deputado estreante em 1992

Liz Batista – Estadão Acervo
“Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer.”
Cantando o refrão da clássica música de protesto de Geraldo Vandré e seguindo o ex-capitão e estreante deputado federal Jair Bolsonaro, uma manifestação composta majoritariamente por mulheres tomou a Esplanada dos Ministérios numa ensolarada segunda-feira de abril de 1992. Usando peças de fardas dos maridos e batendo panelas, mil e duzentas pesssoas, esposas e filhos de militares, marcharam até o Ministério do Exército e o Estado-Maior das Forças Armadas para protestar contra os baixos salários dos militares.

Esposas de militares participam de ato por melhores salários nas Forças Armadas, Brasília, DF, 27/4/1992. Como os militares são impedidos pelo Regulamento Disciplinar do Exército de se manifestarem publicamente a respeito de assuntos de natureza político-partidária, representantes de suas famílias levaram o movimento às ruas.
José Varella/Estadão

Ao contrário do restante da letra imortalizada por Vandré, nada de flores para vencer canhão. Denominada “Marcha pela Dignidade da Família Militar”, a manifestação das mulheres foi marcada pelo tom agressivo, como contou a reportagem de João Domingos e Antônio Marcello, citando uma autoridade da área de segurança. “Se a CUT ou a Força Sindical tivessem organizado a manifestação, a passeata não teria sido tão agressiva, tanto nas palavras de ordem , quanto nos cartazes ou nas falas dos oradores (…) as faixas exibiam palavras de ordem que não escondiam o tom de ameaça: ‘Disciplina nos quartéis com barriga vazia não dá’; ‘PM com fome não dá segurança’; ‘Barriga vazia não segura fuzil’”, contavam.

Esposas de militares batem panelas durante protesto por melhoria salarial para as Forças Armadas. Brasília, DF, 27/4/1992.
André Dusek/Estadão

À frente dos manifestantes, Bolsonaro, na época filiado ao PDC, Partido Democrata Cristão, usou um microfone para gritar palavras de ordem e chamar o presidente Fernando Collor de “corrupto e imoral”, o ministro do Exército Carlos Tinoco de “banana”, os ministros da Aeronáutica, Sócrates Monteiro e da Marinha, Mário César Flores de “incompetentes” , e o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Luiz Antônio da Rocha Veneu, de “omisso”. Apesar da tensão e do forte aparato da Polícia Militar, presente com Tropa de Choque e um efetivo de 350 homens e 100 mulheres, não houve incidentes.

Esposas de militares participam de manifestação que pedia melhoria salarial para as Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios em Brasília, 27/4/1992. André Dusek/Estadão

O texto também narrou o que chamou de “situações insólitas”, como a mulher de um militar segurando um cartaz com os dizeres ‘Bolsonaro é o nosso líder” e esposas dos oficiais cantando a música Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, o hino apresentado por Vandré no Festival Internacional da Canção de 1968 que incomodou os militares e resultou no exílio do compositor.
Além da pauta sobre os salários, a mobilização também encampava apoio à proposta de Bolsonaro de facilitar a compra dos imóveis funcionais ocupados pelos militares. O deputado passou meses visitando vilas militares e palestrando em clubes da corporação para organizar a manifestação. E, como os militares da ativa são impedidos pelo Regulamento Disciplinar do Exército de se manifestarem publicamente a respeito de assuntos de natureza político-partidária, representantes de suas famílias levaram o movimento às ruas.
Às vésperas da marcha, o repórter João Domingos entrevistou Bolsonaro e perguntou: “Direita, esquerda, governo, militares e outros acham que o senhor é um incendiário. O senhor quer pôr fogo no País?” Bolsonaro respondeu que o movimento não era conspirador. “Se fosse, não estaria na tribuna do Congresso. Não procurei nem tenho procurado militares da ativa para conversar. Nem dentro nem fora dos quartéis. Tenho procurado esposas de militares, que são cidadãs e não tem nada a ver com a farda do marido.” Segundo Bolsonaro, na resposta seguinte, os ataque a ele eram motivados por ‘ciumeira’ de alguns parlamentares: “Minha luta pelo servidor militar trouxe até a mim o servidor civil.”
No final da manifestação, depois de uma prolongada vaia ao ministro Tinoco, todos cantaram o Hino Nacional e, para encerrar, ovacionaram Bolsonaro por mais de um minuto.
Acervo Estadão/montedo.com

22 respostas

    1. Bolsonaro faz o fogo para o povo ir para as ruas, e na hora de defende-los da pressão do STF, ainda manda PGR apurar a vida daqueles que põe a mão no fogo por ele. Assim foi a reunião no Planalto que dizia ser secreta, no entanto entregou o vídeo para o STF, levando generais a ter que dar satisfação no STF. Do jeito que acontece, não aconselho ninguém a sair em manifestações tendo em vista que não recebe apoio nenhum de Bolsonaro. Prova disto é o que foi feito contra os militares aposentados e pensionistas que foram injustiçados por ele na PL 1645/19 – Prometeram reestudar a PL, para amenizar o prejuízo aos menos favorecidos pela sorte, e até agora não fizeram nada. Não podemos continuar sendo enganados.

  1. Bolsonaro é a última ratio regis em resgatar essa nação, por suas ideias. Ele nos deixa saudosistas em relação o bom e leal ambiente que tínhamos na caserna até o final da década de 90, que começou se esfacelar com a trairagem da mp do mal.

      1. Nos traiu. Reajuste só para os estrelados. Pra quem sempre ouviu a demanda e anseios da tropa, estava absolutamente ciente de nossas vulnerabilidades e fez o que? Nada. Criou uma comissão fajuta para rever e corrigir possíveis distorções e a mesma caiu no esquecimento. Bolsonaro, mais do mesmo. Para o pico da pirâmide tudo, para a base, só migalhas.

  2. Minha decepção e de minha família foi total, onde pedia votos durante anos para ele.
    Não entendo porque deixou os praças para trás, haja vista o apoio nas eleições quando os próprios generais o ignorava e não acreditava em sua vitória.
    Ficamos muito triste com o ocorrido em redução dos vencimentos.
    É difícil acreditar que ele assinou aquela lei manipulada pelos generais para garantir generosos adicionais para eles chegando até 73%.
    No mesma lei as pensionistas e graduados tiveram grandes perdas, isso mesmo, enquanto uns recebiam considerável reajuste camuflado com o nome de reestruturação a maioria dos praças e das pensionistas amargaram REDUÇÃO.
    Ainda da tempo de corrigir o ocorrido. As eleições se aproximam e não adianta pedirem votos nem apoio dos praças que saberão retribuir a bondade.
    PRAÇA VOTA EM PRAÇA.

  3. Jair Messias Bolsonaro sempre foi um incendiário, a única liderança que ele consegue impor é a do populismo, falar o que todos querem ouvir e organizar tumulto para buscar reivindicações, o Ex Presidente Luíz Inácio era a mesma coisa, só mudava as pautas que eram sindicais. Quando o país necessita de uma liderança para um assunto sério em que o populismo não funcionará, eles se perdem, foi o que aconteceu na crise da Covid-19, 45 mil óbitos e ainda não temos um Plano Nacional de combate a Pandemia, temos Estados tomando atitudes individuais como se fossem países independentes devido a falta de liderança Nacional. O Brasil nessa pandemia está perdido no mar sem capitão, sem bussola e sem uma luz para guiar todos até uma saída em direção a terra firme.

  4. Sou fã de BOLSONARO desde do seu inicio de sua carreira politica! Estive duas vezes em seu Gabinete em Brasilia! Sempre fi recebido com muito carinho por ele e pelos Assessores de gabinete ! Tenho fotos que comprovam isso! Eu recebia constantemente um Informativo do então Dep Cap Bolsonaro com as informações de seus serviços na Câmara Federal e ficava indignado quando lia alguma reportagem que se referia ao Cap que o impedia de adentrar nos Quartéis pelos Cmt de Unidades! Mas era a nossa única esperança ou seja a nossa tábua de salvação! Gostaria que o Presidente ouvisse o lamentar dos Praças prejudicados com essa nova Lei da Restruturação dos Militares! Sei que ele está sabendo dessa situação e em breve dará uma resposta positiva aos militares prejudicados por essa RESTRUTURAÇÃO. Bora Presidente! confiamos em Vossa Excelência e com certeza ouvirá os clamores dos Praças Reformados e Pensionistas. Boa sorte e estamos juntos!

    1. Cara, não sou pessimista mas eu acho que ele dará uma resposta positiva referente a melhores remunerações para os praças e pensionistas no último ano dele como presidente para angariar votos numa eventual reeleição. Ou… Nunca ele dará esta resposta positiva, que você está defendendo, o PR vai falar que no próximo mandato vai beneficiar os pensionistas e praças prejudicados com a LRM pois não tem dinheiro em virtude da pandemia e outras coisas que sabemos muito bem, como desculpas. Praça, não se iluda com político e não seja peça de manobra pelos oficiais e políticos! Olhe a sua volta, só oficiais, de major pra cima, referente a seus cursos (habilitação) e disponibilidade, que tiveram verdadeiramente uma boa restruturação.

  5. Poderiam amenizar as perdas concedendo os 32 % que deram aos generais para todos os militares! Já seria um bom começo. Não haveria redução salarial em nenhum posto ou graduação. Façam as contas. É algo possível! Basta boa vontade.

    1. Amigo, boa ideia.
      Outra solução também seria mudar para subsídio como é, por exemplo, nos departamentos de polícia (PF, PRF). Assim sendo, acabaria com esse grande número de adicionais, soldos e etc.
      Bastaria substituir todos esses créditos por um subsídio, da mesma forma os descontos seriam: pensão, saúde e IR.
      Pronto.
      Detalhe importante: Diminuição das desigualdades dos valores entre os postos e graduações, simplificando de maneira tudo isso e garantindo dignidade para os graduados esquecidos de sempre.

  6. O Menino Maluquinho (MM) nunca seguiu as regras.
    O MM sempre atuou como um verdadeiro sindicalista dentro do Exército.
    No Exército, os Comandantes do MM foram lenientes, ao invés de expulsá-lo rapidamente, acomodaram-se com suas atitudes extremistas.
    No meio do caminho ganhou uma enorme quantidade de seguidores, que o apoiam até hoje.
    Resumo, a democracia brasileira está nas mãos dele.
    Quer conhecê-lo como ele era visto pelos Comandantes da época, segue o link para o Dossiê Capitão Bolsonaro.
    Caso você queira apoiar o fim da democracia no Brasil, você precisa conhecer este Dossiê.
    Caso você militar, que optou em seguir a carreira militar, baseada na hierarquia e disciplina, e, caso neste momento, escolha seguir o líder MM, antes de fazê-lo, precisa ler o dossiê para ter a consciência clara e plena de quem você estabeleceu como guia, e como você será o responsável pelo que há de advir.
    Quem dá o poder ao tirano é o próprio povo, o tirano não chega ao poder sozinho. Todo tirano após galgar o poder, se agarra a ele com unhas e dentes, e, depois não é fácil retirá-lo de lá. Foi assim com Lenin/Stalin, Mussolini, Napoleão Bonaparte, Saddan Hussein, Mao-Tse Tung, Fidel Castro, Muammar Al-Cadafi, Hugo Chaves/Maduro, etc.
    Lembre-se o teu apoio ao MM pode ser previsível, as consequências serão imprevisíveis.
    Dossiê…
    https://pt.slideshare.net/aquileslins/relatrio-do-exrcito-descreve-bolsonaro-como-covarde-e-canalha

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