Ala de militares da reserva pede a Bolsonaro mais contundência no comando das Forças Armadas

Foto: José Dias/PR

Grupo composto por 100 generais e coronéis da mesma turma do ministro da Defesa, Fernando Azevedo da Silva, defendeu posse de Alexandre Ramagem na Polícia Federal mesmo após suspensão de nomeação determinada por STF

Chico Otávio
O aviso partiu do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que classificou a possibilidade de apreensão do celular do presidente Jair Bolsonaro como uma “afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e interferência inadmissível de outro Poder” e que “poderá ter consequências imprevisíveis”.
A contundência do general em nota divulgada nesta sexta-feira (22) corresponde ao tom esperado por uma ala de militares da reserva, conhecidos como grupo “Agir”. Duas semanas atrás, três representantes desse núcleo – liderados pelo coronel Aristomendes Rosa Barroso Magno – encontraram o próprio Bolsonaro, pouco antes de seu pronunciamento em rede nacional naquela mesma noite.
Na audiência, além de solidariedade, os visitantes manifestaram ao presidente a decepção de setores da família militar pela forma moderada com que os comandantes das Forças Armadas vêm atuando na escalada da crise. Como diz o nome do grupo, composto por 100 generais e coronéis da mesma turma do ministro da Defesa, Fernando Azevedo da Silva, o que se espera é mais ação.
Instado a resumir o que entende por ação dos comandantes, Aristomendes Magno, oficial de Engenharia com 37 anos de caserna, explicou: “Cabe às Forças Armadas, como responsáveis pela manutenção das instituições, estabelecer um limites entre os poderes constituídos. Uma das atitudes seria garantir a posse do delegado Alexandre Ramagem na direção da Polícia Federal. Não entendo o posicionando até agora. O governo eleito é a representação da sociedade. Elas não podem fazer patrulhamento a favor do Governo, mas tem de defendê-lo”.
Grupos como o Agir, embora compostos por militares “de pijama”, como são chamados os oficiais da reserva ou reformados, expressam um sentimento que se espalha pela tropa, especialmente pelo jovem oficialato, para o tormento do Alto Comando do Exército, Marinha e Aeronáutica: a ideia de que, para preservar o poder delegado pela sociedade ao presidente, justifica-se jogar pesado contra Supremo Tribunal Federal (STF).
“O que os ministros do Supremo pensam que são? O presidente foi escolhido pelo povo. Não pode ser contido por decisões monocráticas. É um absurdo. Alguma postura precisa ser adotada”, queixou-se um major do Exército da ativa, que aceitou conversar em off com ÉPOCA.
Embora generais ocupem cargos do primeiro escalão do governo, incluindo a Defesa, quem tem a palavra final na chefia do Exército é o comandante, general Leal Pujol. Num raro pronunciamento público, no início da pandemia, ele disse em vídeo que as Forças Armadas estavam enfrentando “o maior desafio na nossa geração”.
Para especialistas, o forte tom do discurso, voltado especialmente para a família militar, destoou a posição do presidente, que no mesmo momento se referia ao Covid-19, em pronunciamento à nação, como gripezinha e resfriadinho.

SILÊNCIO DOS COMANDANTES
Nos quartéis, são recorrentes as críticas ao que uma corrente dos oficiais considera “excessos do Judiciário” interferindo sobre o Poder Executivo. A recente decisão do ministro Alexandre de Morais, do STF, vetando a nomeação de Ramagem na PF, por entendê-la como um ato contrário ao critério da impessoalidade no preenchimento do cargo, ampliou ainda mais as críticas. Porém, não há sinais de que o oficialato estaria disposto a avalizar uma ruptura institucional numa eventual desobediência à decisão da Corte Suprema (o que acabou não se consumindo por enquanto), apesar da pressão exercida por setores mais ferrenhos.
“Há nos quartéis certa decepção com o silêncio dos comandantes. Se apoiar na hierarquia e na disciplina é mais fácil do que defender o interesse dos seus comandados. Porém, é preciso lembrar que o presidente legitimamente eleito é o comandante-em-chefe das Forças Armadas. E ele não está sendo amparado pelos seus comandantes. Nada justifica o silêncio”, lamenta o também coronel da reserva Luiz Fernando Walther de Almeida.
Em outubro de 1987, como capitão, Walther sublevou cerca de 50 militares do então 30º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz), que desembarcam em quatro viaturas em frente à Prefeitura e à Câmara de Vereadores de Apucarana (cidade paranaense a 366 distância de Curitiba), cercaram o prédio e impediram a entrada e saída de pessoas. Acompanhado pela guarnição, o capitão invadiu o gabinete do prefeito e entregou a um assessor do Executivo Municipal carta de protesto contra os baixos salários e a deficiência do atendimento de saúde aos militares.

MILITARES NO GOVERNO LULA
O episódio ocorreu no governo Sarney. Um ano antes, Bolsonaro tornara-se conhecido do público quando escreveu um artigo para a revista VEJA no qual criticava salários de oficiais militares. Desde o fim do regime militar, em 1985, porém as crises entre civis e militares não chegaram a abalar a democracia. Uma das mais agudas afetou o governo do presidente Lula (PT), em 2014. No embate entre os dois lados saiu ganhando o comandante Francisco Albuquerque, do Exército, com a demissão do então ministro da Defesa, o diplomata José Viegas.
Viegas entrou em colisão com os comandantes das forças depois de uma declaração dada à imprensa pelo comandante da Marinha, almirante Roberto Guimarães Carvalho, comentando determinação de Viegas no sentido de que os chefes das três forças não deveriam se manifestar sobre questões relativas aos soldos. “Em primeiro lugar, não há nenhuma determinação, e sim uma orientação. Depois, quando eu precisar falar, eu falo”.
A gota d’água para a queda de Viegas foi a divulgação pelo jornal Correio Braziliense, no domingo 17 de outubro de 2004, de fotos – depois reconhecidas como falsas – do jornalista Vladimir Herzog em uma cela de prisão, antes de sua morte sob tortura. No mesmo dia, o Centro de Comunicação Social do Exército divulgou nota, segundo a qual, “as medidas tomadas pelas Forças Legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo, optaram pelo radicalismo e pela ilegalidade e tomaram a iniciativa de pegar em armas e desencadear ações criminosas”. E concluía que o Exército, “mesmo sem qualquer mudança de posicionamento e de convicções em relação ao que aconteceu naquele período histórico, considera ação pequena reavivar revanchismos ou estimular discussões estéreis sobre conjunturas passadas, que a nada conduzem”.
A presença de militares no governo Bolsonaro, diz o historiador Carlos Fico (UFRJ), tem causas evidentes, especialmente a falta de quadros do grupo político que chegou ao poder, mas também o fato de que os militares têm sido o grupo conservador ou de direita mais organizado em um país que, até recentemente, não tinha um partido político expressivo claramente de direita – eles expressam, nesse sentido, o protagonismo, no Brasil, na onda conservadora que se verifica em diversas partes. Assim, os militares seriam o “manancial”, a “fonte” natural que abastece o atual governo.

DEFESA DA FAMÍLIA BRASILEIRA
Para o major do Exército ouvido por ÉPOCA, os militares têm uma formação que os ensina a enfrentar os problemas juntos. O oficial disse que o comando tem de adotar uma postura que mostre que as Forças Armadas estão atentas: “Só não podemos nos omitir. Os militares precisam certo cuidado na hora de falar para não acharem que estamos defendendo determinado partido. Defendemos a família brasileira e o combate à corrupção. O Exército precisa estar ao lado do povo. É perceptível a diferença no trato do Judiciário quando entra a questão partidária. Há mais rigor com o Bolsonaro. ‘Debaixo de vara’ foi desnecessário. Calma aí, Supremo. A nossa postura é a de não abaixar a cabeça”.
No campo ideológico, avaliam especialistas em Defesa, o pensamento militar não mudou tanto nos últimos 50 anos. O oficialato respeita Bolsonaro porque foi o único político, entre muitos, que conseguiu interromper a hegemonia política da esquerda brasileira. Porém, a ideia de que as Forças Armadas podem atuar como poder moderador diante dos arroubos do presidente ou que devem apontar os tanques contra os outros poderes não encontra acolhida no Alto Comando. Para o generalato brasileiro, o único caminho é ficar do lado da lei, da institucionalidade, o que contraria os tradicionais apoiadores de Bolsonaro na caserna.
“Se o governo nomear o Ramagem, o que o ministro Alexandre de Moraes vai fazer? Atravessar a praça dos Três Poderes e dar um mata leão no presidente? Isso é um absurdo. Cabe, de acordo com o Artigo 142 da Constituição, manter as instituições. Se uma delas está extrapolando os seus poderes, cabe as forças armadas impedir isso. Sociedade não quer a descriminalização do aborto e nem o casamento entre as pessoas do mesmo sexo, como o STF pode mudar isso? Dar uma nova interpretação. O STF veio com eufemismo para amenizar uma medida contrária ao que a sociedade pensa”, lamenta Aristomendes Magno.

DEMISSÃO DE MORO
A decisão do ministro Celso de Mello que falou em condução coercitiva, “debaixo de vara”, para garantir os depoimentos dos ministros militares sobre os bastidores da demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro pôs ainda mais lenha na fogueira por representar uma imposição da proeminência civil sobre os militares desde o fim do regime de 64.
Até então, uma das medidas mais relevantes, no sentido de manter os militares longe da política, foi a criação do ministério da Defesa e a transformação dos antigos ministros do Exército, Marinha, Aeronáutica (e estado-Maior) em comandantes das suas respectivas forças. A partir deste momento, os oficiais ganharam um interlocutor à paisana no diálogo com o mundo político. Hoje, esse interlocutor é um general do Exército, mas isso não foi suficiente para o presidente encontrar na antiga tropa o respaldo pretendido.
Neste caso, para um apoio mais incondicional, a saída para Bolsonaro seria procurar, entre os oficiais do Alto Comando, oficiais de quatro estrelas disposto a assumir o risco, em substituição aos atuais comandantes. Seria uma exceção inédita, que abriria caminho para o perigoso aparelhamento político das Forças Armadas.
No momento em que se vê Bolsonaro a frente de caminhadas até o Supremo e protestos na porta do quartel-general do Exército, os militares se tornaram, mais uma vez, os garantes da situação, renovando diante dos olhares desconfiados dos críticos o respeito à Constituição diante do modus operandi do Bolsonaro, um político intuitivo que age por meio de provocações frequentemente “no limite”, como sustenta o historiador Carlos Fico.
ÉPOCA/montedo.com

26 respostas

  1. absurdo o uso de designacoes hierarquicas para discussoes politicas.
    Senhores, estamos proximos de uma crise institucional inflamada por esses aposentados que não representam em hipotese alguma as Ffaa

  2. Nossa, que análise “real” desse jornazista…manipularam a imagem das FA durante 30 anos. Só não ve quem não quer. Quando é pra favorecer, é uma instituição de Estado, não se mete em assuntos políticos isso e aquilo. Quando é pra desmerecer, são ditadores, torturadores, perseguiam a imprensa e isso e aquilo. Agora tomaram um revés de atitude de um gen e ja começaram o mimimi. Acabou a verba inúteis, cresçam e vão trabalhar!

  3. Bando de aproveitadores ! Querem dizer que falam pela família militar, mas sabemos que os motivos são políticos. São caras de pau demais! Quando estavam na ativa não fizeram nada, pq vislumbraram apenas a carreira, a qual colocaram no topo e esqueceram completamente a tropa em busca de seus respectivos anseios individuais.
    Agora como estão na reserva querem cantar de galo! Dá licença e tomem vergonha na cara, hipócritas!

  4. Corrigindo meu comentário:-

    Por essas e outras é que já me manifestei acerca da necessidade do responsável pelo site, acabar de uma vez por todas com comentários escondidos no anonimato. Através desse covarde subterfúgio, não só aqui mas em toda as redes sociais, a Internet passou a ser a arma dos destemidos, valentões, desaforados e pseudos donos da verdade absoluta. Vejo como direito toda e qualquer crítica ou manifestação, de preferência quando estas apresentam uma solução para o caso em questão. A observância a esse comportamento, haja vista características da formação militar, seria desejável para que os comentários fossem pautados no respeito a Instituição e a seus Comandantes. É bom lembrar que mesmo na reserva, todo militar está sujeito a sanções e também a responder perante a justiça militar por atos ou comentários pejorativos, depreciativos ou que afrontem Instituições, Forças Armadas e demais autoridades.

    1. LUIZ CARLOS no 23 de maio de 2020 a partir do 12:36 vai continuar implorando por isto e não vai conseguir nada. Outra coisa vc sabe se o comentarista é de fato militar ou da militar da reserva? Vc não passa de ser um praça baba ovo puxa saco e se for oficial perdeu o senso, pois aqui não há lugar para suas arbitrariedades fundadas em interpretações de seu achismo, onde aplica e julga!
      Faça me o favor, suma daqui!
      Por pensamentos como o seu que estamos num barco furado e que as FA estão deste jeito.
      Vai soltar mi mi mi em outro lugar.

  5. Generais e coronéis não representam os militares da reserva.
    Não confundam clube militar com apoio de militares.
    A maior parte dos militares é democrata e muitos foram prejudicados por bolsonaro.

  6. Realmente governar o Brasil com os políticos que temos…é muito difícil! A política no Brasil se tornou profissão, meio de vida, jeito de viver com inúmeras mordomias e ganhar um bom dinheiro! Não há projeto para o país…apenas projeto de se perpetuar no poder! Parece que todos querem acuar o presidente! Não concordo com muita coisa que ele fala mas este confronto está muito desigual! Enquanto isto…muita roubalheira está ocorrendo com o estado de emergência e as compras sem licitações! Bilhões de reais sendo torrados por prefeitos e governadores! Dêem uma lida no Diário do Poder…dêem uma olhadinha no Portal…tem prefeito gastando mais que o estado inteiro! E comprando de um só fornecedor! Está difícil…pior que o covid é o vírus da corrupção no Brasil! Este mata há décadas! E continuará matando se nada for feito…esperar renovação política vindo do sistema atual? É mais fácil acreditar na existência do Saci Pererê…

  7. FATO: Se acabar com o anonimato o site não terá mais tanta publicações. Militares praças, são na maioria covardes, duvida?
    Verifique no site da sociedade militar, são poucos que se manifestam lá.

    1. Amigo, talvez Vc não saiba o significado da palavra Covardia; Esta palavra significa muito no meio militar, está entre a vida e a morte, Covardia é punida com pena de morte em tempo de guerra; Covardia é algo que envergonha, humilha e mancha a vida do militar e seus descendentes, então, quando te referes aos comentaristas que não se identificam (verdadeiramente, não o 1º Sgt João Paulo II ), tens que levar em conta dois: 1º que a CF 1988 permite o anonimato e há um mediador no Blog, ninguém aqui, todos estes anos, cometeu um ato contrário a Carta Magna, sinônimo de Democracia; 2º que o militar, menos Vc, tem consciência da represália que poderá sofrer caso, um EX: seja contra a cloroquina…e isso mexe com sua vida, sua carreira, sua reputação e sua família. Caso Vc não se importe com nada destas coisas, Vc é depois de Buda, um iluminado. Quem na vida militar não sofreu o arbítrio do” Mau Militar?” aquele que tudo pode, mesmo que seja contrário aos princípios constitucionais, quem não tem um exemplo ou dois para relatar, de abuso ou até de crime; Mas Vc é o Cara…não teme nada, não se importa com nada e com ninguém, Não Sabe Nada! A tendência do Homem quando tem o poder é se apropriar do público como se privado fosse; seus filhos e filhas sempre tem mais méritos e tudo pra eles é legal, moral e ético; um Soldado se faltar com a verdade, a sansão é de prisão; no quartel, se desprezam os subservientes, são falsos, não tem moral nem dignidade; nos quarteis, a covardia é a corda,a ideia e o incentivo. Mesmo que não queiras, não aceites e não lute por eles, o Brasil é uma República e uma Democracia, apesar de tudo e de todos. Sem ressentimentos.

  8. “…mais contundência no comando das Forças Armadas.”

    – PARA!

    – QUE BANDO DE OFICIAIS DISCONECTOS COM O MUNDO REAL.
    – AGEM COMO SE ESTIVESSEM NO MUNDO FAZ DE CONTA DA “AKADIMIA’, a Disneyland DELES, OU NOS ANOS 70.

    – PARA!

    – VÃO PRODUZIR ALGO ÚTIL PELO MENOS ALGUMA VEZ NA VIDA.
    – OS 100 DESOCUPADOS.
    – QUE DESAGRADÁVEL.

  9. Eu, só sei, que são 150 milhões, contra 57 milhões (incluindo MILICIANOS), que botaram essa rica coisa no poder, podem vir, por aqui não passam.

  10. “…AGEM COMO SE ESTIVESSEM NO MUNDO FAZ DE CONTA DA “AKADIMIA’, a Disneyland DELES, OU, NOS ANOS 70.”

    – KKKKKKKKKKKK.

    – Esse site além de informativo, é bem divertido.

    – A NEVERLAND do Michael Jackson .

    – Rssssssss.

    – Conhecidos como grupo “Agir”, INACREDITÁVEL tanta imaturidade desses senhores da Guerra (de festim, é lógico).

    – Brincadeira!

  11. Não da pra entender, parece que temos um bando de melancia aqui no site, estão com saudades da Dilma e do Lula, ou são infiltrados da esquerda, Bolsonaro pode ser grosso, falar palavrões, mas prefiro ele do que um cheio de palavras bonitas e ladrão.
    Serei Bolsonaro em 22 100%%.

    1. Acorda, fomos enganados. Ele só está preocupado com as sujeiras dos filhos e da carteira dos oficiais. Esquece PT, vc parece um papagaio repetindo palavras ensinadas. Ele não é militar, é político.

  12. Estou contigo, anônimo de 24 Mai 2020, das 08:37 hs, podem vir os 57 milhões de ditadores MILICIANOS, que por aqui não passam, somos 150 MILHÕES a favor da DEMOCRACIA, e os 3 milhões, que estão em cima do muro, se quiserem se bandear pro lado deles não tem problema, que estamos esperando.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo