Covid-19: os números não mentem jamais

covid19 mapa mundi

Qual a situação mais grave, a do Brasil, com 77 mortos por cada cem mil habitantes, ou a da Bélgica, com 792?

Pedro Luiz Rodrigues
Quando somos alcançados pelo noticiário da imprensa – local ou estrangeira – ficamos tomados de calafrios, com a impressão de que o Brasil já se tornou o mais novo grande epicentro da pandemia do Covid-19, e que o que aqui acontece não encontra paralelo em parte alguma do mundo.
Repugna-me o pensamento, mas parte da mídia pareceu regozijar-se ao anunciar, como o fez neste final de semana, que o número de contagiados no Brasil alcançara – e em alguns casos superara – os dos mais devastados países europeus.
Resolvi checar os números, e de fato não mentem os noticiaristas e comentaristas quando se referem aos dados brutos desse ranking nefasto, que se coloca como uma competição sensacionalista de horror.
Mas obviamente a realidade será melhor descrita -em particular quando se pretende transmitir a magnitude de um problema por intermédio de um ‘ranking’ mais honesto e menos sensacionalista – quando se recorre à proporcionalidade.
Não pretendo insinuar que não seja lamentável o que ocorre no País, nem minimizar seus efeitos em termos de sofrimento das vítimas do Covid-19 e de seus familiares. Mas não gosto de ver o Brasil ser chutado pelo que considero verdades imperfeitas (haja eufemismo para que não diga manipulação de dados!), como as que têm abundado nas notícias e análises sobre os efeitos do coronavírus.
Somos um país continental, com 210 milhões de habitantes, e ocupamos, nos trópicos, uma área superior a de toda a Europa, não devemos nos esquecer disso. Nossa população equivale à da Alemanha, França e Itália somadas. Se temos tantas pessoas contaminadas quanto em qualquer um desses países – que têm PIBs robustos e sistemas de saúde alegadamente mais eficientes – diria que não estamos tão mal assim.
Na verdade, acho que em certa medida as profecias apocalípticas sobre o futuro do Covid-19 no Brasil, decorrem do fato de contarmos com um Presidente da República que exibe comportamento errático, que se manifesta muito mais do que seria razoável, e que parece firmemente decidido a indispor-se com a Nação.
Principalmente no noticiário no exterior, não há referência ao fato de o Brasil ser uma federação, nem há muita menção às políticas sanitárias eficazes há tempos foram postas em ação por governadores e prefeitos que, assim como a população de modo geral, não dão excessiva consideração ao que pensa ou fala Sua Excelência.
Mas cheguemos aos números. Perguntemo-nos, para começar, sobre uma situação de contraste inequívoco: qual a situação mais grave, a de um Brasil com 16 mil mortos pela Covid-19, ou a Bélgica, com nove mil? Se fosse razoável julgar o impacto de uma pandemia pelos números brutos, obviamente os dedos indicadores se voltariam contra o Brasil. Acontece que a efetiva análise deve levar em conta o que acontece em termos relativos. Refaz-se a pergunta: qual a situação mais grave, a do Brasil, com 77 mortos por cada cem mil habitantes, ou a da Bélgica, com 792?
Se formos medir pela régua da proporcionalidade, ficaremos atônitos em descobrir que um dos lugares mais perigosos do mundo em termos de contágio e fatalidades é a Sereníssima República de San Marino, uma república de sonhos, encravada em território italiano: lá, o número de óbitos foi de 41, mas em termos relativos, assustadores 1.213 por cem mil habitantes. Isso, num dos lugares de mais alta renda per-capita do mundo.
Repito que nada há a comemorar em estatísticas deste tipo, mas seria razoável que os jornalistas, daqui e de lá fora, se dessem à pachorra de examinar os dados relativos quando fossem fazer suas matérias, e, principalmente, suas análises. Não gostar do Bolsonaro é uma coisa, compreensível, mas omitir informação para prejudicar o Brasil é outra coisa, lamentável.
Na verdade, o exame, mesmo que superficial, dessas estatísticas, traz algumas constatações interessantes. Uma delas é a de que o Covid-19, embora originada da China, transformou-se num desastre sanitário quase exclusivo dos países mais ricos do Hemisfério Norte ocidental. Vejamos, para efeitos de registro e melhor balizamento de nossas análises, a situação de alguns desses países mais vitimados pelo Covid-19, em termos de fatalidades por cem mil habitantes: San Marino (1213), Bélgica (792), Andorra (662), Espanha (592), Itália (528), Reino Unido (521), França (420) Suécia (361), Holanda (330), Irlanda (318), Estados Unidos (278), Suiça (221), Canadá (156), Portugal (118,5), Mônaco (106), Dinamarca (94).
Em impactante contraste, temos os países da África subsáarica – países pobres, em geral com sistemas de saúde deficientes – mas que foram poupados (esperamos que definitivamente) doe consequências mais graves pelo malévolo vírus. Trata-se de fenômeno que deve ser considerado pelos cientistas que estudam a morbidade do Covid-19,. Vejamos, a título de exemplo o grau de mortalidade, por cem mil habitantes de alguns desses países: Madagascar (0,0), Angola, Burundi e Etiópia (0,1), Benim e Maláui (0,2),Zimbábue (0,3), Tanzânia, Gana e Botsuana (0,4), Nigéria (1,0), Costa do Marfim e Quênia (1,1), Bangladesh (2,0), Sudão (2,5), África do Sul (4,6), Cabo Verde (5,5) e São Tomé e Príncipe (34,3).
Universo no qual há também certa uniformidade baixa no número de contágios e óbitos é o da Ásia Central e Sudeste Asiático, representando a China um caso extraordinário: as medidas de controle da expansão da epidemia tornaram possível que apenas 3,3 pessoas por cem mil habitantes fosse vitimada pelo novo coronavírus em território chinês.
Os desempenhos dos demais países das duas regiões foram igualmente excepcionais, o que se pode atribuiro não apenas às medidas preventivas que adotaram tempestivamente, quanto aos hábitos sociais locais. Vejamos: Mianmar e Nepal (0,1), Taiwan (0,3), Sri Lanka e Uzbequistão (0,4), Hong-Kong (0,5), Tailândia (0,8), Índia (2,2), Malásia (3,6), Singapura (3,9), Indonésia (4,3), Coréia do Sul (5,1), Japão (5,9) e Filipinas (7,7).
Quanto aos países do Norte da África e Oriente Médio, os resultados de fatalidades foram os seguintes, do início da pandemia até o dia 17 de maio de 2020: Síria (0,2), Líbia e Palestina (0,4), Jordânia (0,9), Quirguistão (2,1), Líbano (3,8), Paquistão (4,3), Omã (4,8), Marrocos (5,3), Catar (5,4), Egito (6,4), Bahrein (7,6), Arábia Saudita (9,3) Argélia (13,0), Emirados Árabes ( 22,8), Kuwait (27,1), Israel (30,6) Turquia (50,3), Iran (85).
Na América do Sul, a situação é a seguinte: Venezuela (0,3), Paraguai (1,6). Suriname (1,7), Guiana Francesa (3,4), Uruguai (5,7) Argentina (8,4), Colombia (11,6), Guiana (12,8), Bolívia (14,9), Chile (24,0), Brasil (77,0), Peru (82,8), Equador (160,1).
*Jornalista e diplomata aposentado. Foi diretor de Imagem da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), diretor de assuntos internacionais da presidência do Senado, e Secretário de Relações Internacionais do Governo do Distrito Federal.
Fontes: Data Sources: WHO, CDC, ECDC, NHC, DXY, JHU, RCP | Population: World Bank , compilados peloRPC Coronavirus Tracker. Dados consultados em 18 de maio de 2020 pela manhã.
DIÁRIO DO PODER/montedo.com

14 respostas

  1. O problema que temos uma esquerda covarde, onde prefere denegrir a imagem do País, temos problema com a pandemia temos, mas o pior estado e SP, onde se encontra numa situação delicada, mas infelizmente o seu governante esta mas preocupado na sua eleição, o povo que se exploda, ontem o vídeo do Lula ladrão, falando do coronavírus a imprensa soltou uma notinha, se fosse o PRES. Bolsonaro, ficaria semana, além de ladrão e um idiota semi analfabeto, falando MERDA, acorda Brasil.

  2. Vê-se a diferença entre informar e opinar. Raramente somos apresentados a textos que informam no noticiário, como esse, com dados e imparcialidade, cabendo ao leitor suas conclusões. Não é o momento de relaxar nas medidas sanitárias, mas é preciso sair da inércia cômoda do teclado e postagens em redes sociais, e ir a campo. O país precisa retornar. Perdemos a chance de entrar nessa pandemia unidos como nação, não podemos perder a oportunidade de reconstruír-mos daqui em diante.

  3. Essa notícia é uma desinformação. Não temos como comparar o Brasil com a Europa ainda, a curva de contágio no Brasil ainda está subindo e parece está longe do pico, enquanto, países Europeus já atingiram o pico de contágio, a curva está em declínio e voltam a normalidade. É uma desinformação, portanto, querer dizer que aqui está morrendo menos gente propocionalmente, pois ainda não estamos vendo a diminuição do número de casos e nem atingimos o pico, ao constrário, a cada dia o número de casos aumenta, logo, os óbitos tendem a subir. Além disso, a Pandemia está concentrada em 5 ou 6 Estados, se espalhando rapidamente pelo interior e outros Estados, logo a tendencia é aumentar ainda mais… Só podemos fazer essa comparação quando a curva do Brasil começar a descer, mas como está em ampla ascendencia não temos como comparar proporcionalmente a nada.

    1. No meu ponto de vista foi um dos melhores artigos que li sobre esse assunto.

      O autor expôs de forma imparcial a real situação no mundo em números, não há o que contestar.

      Infelizmente a mídia esquerdista não está preocupada com esclarecer, mas sim desinformar e tocar o horror na população.

      A situação é grave e todos devemos nos cuidar e cuidar dos outros! Oremos por todos🙏

    2. Exatamente meu amigo. E nem se menciona testagem e subnotificação. O artigo é, no mínimo, mais um desserviço.

      E ainda temos companheiros que, até mesmo num posto como esse, conseguem citar “a covarde esquerda”. Lamentável.

      Inventar inimigos sempre foi arma dos incompetentes.

    3. A epidemia é grave mas o pior é a corrupção, generalizada, que está se instalando com o estado de emergência e as compras sem licitações. Sei que você, Thiago, ainda é muito inocente, ou não, para vir defender a “esquerda” e atacar a “direita” como se no Brasil tais espectros ideológicos se diferenciem, em alguma coisa, no trato com o dinheiro público! Gostam é de poder e de tudo de bom que vem com ele! Dê uma olhada no Portal…se estiver com preguiça…dê uma olhada no Diário do Poder…uma capital nordestina, dirigida por um partido de “esquerda” gastou, sem licitações, 95 vezes mais que Manaus, 40 vezes mais que Belém, 38 vezes mais que São Luís! E a rica São Paulo gastou 42% do que esta capital torrou no combate à epidemia! Esta capital, famosa pelo seu carnaval, gastou três vezes mais que o Rio de Janeiro que possui uma população quatro vezes maior! E aqui é um dos lugares com mais casos e mortes! Faltam EPIs para o pessoal da saúde, não tem UTIs, e foram inaugurados hospitais precários com muito menos leitos que a propaganda oficial! Sabe quanto o governo, aqui, paga para um enfermeiro com jornada de 40 horas? 1900 reais brutos! Um técnico em radiologia recebe 1148 reais! E arriscam o pescoço no combate ao coronavírus! E o governo estadual, também de esquerda, paga salários do mesmo nível! Não venha fazer defesa de esquerda e atacar direita! É tudo farinha do mesmo saco! Pensar em renovação política, no Brasil, com o sistema político que temos, é o mesmo que querer que células cancerosas resolvam, espontaneamente, livrar o paciente do câncer! O Brasil é um país doente! Vejo, ao longo dos anos, os mais hediondos corruptos defenderem a democracia! Claro! Defendem com unhas e dentes seus estilos de vida de sultões otomanos! Carrões, seguranças, legiões de assessores bem pagos e não concursados, cartões corporativos, passagens aéreas aos montes e jatos da FAB à disposição, viagens e hotéis de luxo, imensas verbas de gabinete, muuuuuita mordomia! Você sabia que todo ex-presidente, incluindo condenados ou que sofreram impedimento, contam com carros oficiais, seguranças e assessores até o fim de suas vidas? Procure se informar! Dê uma olhada nos gastos de nossos políticos! Olhe o portal de vez em quando…não defenda bandeiras sem conhecer um pouco o sistema…você vai se desiludir rapidamente…a não ser que esteja ganhando uns trocados para defender o diabo no site…

  4. Excelente comentário Thiago, a matéria é tendenciosa e tentou lacrar para meia dúzia de desinformados ávidos por palavras favoráveis as idéias do ocupante do planalto.

    1. Os números mentem, sim. Será que somos tão pontuais como os Europeus na apresentação dos números? Será que lá a subnotificação ocorre na mesma escala que a nossa? E mesmo que as respostas fossem afirmativas, na Bélgica o padrão adotado foi de relatar como COVID inclusive os mortos com suspeita de COVID, pra que o sistema de saúde pudesse trabalhar o mais próximo da realidade. Mas quem quiser pode continuar se iludindo com os Cabrinis, vendendo em rede nacional que somos o 2° melhor do mundo no controle da pandemia, só atrás da Coreia do Sul. Ah, tá…

  5. Portal da Transparência

    Central de Informações do Registro Civil – CRC Nacional

    Painel COVID Registral

    O gráfico apresenta registros de óbitos por doenças respiratórias, em todo o Brasil, nos anos de 2019 e 2020.

    As estatísticas aqui apresentadas se baseiam nas Declarações de Óbito (DO) registradas nos Cartórios do País relacionadas à COVID-19, sendo apresentada apenas uma causa para cada óbito.

    https://transparencia.registrocivil.org.br/registral-covid

  6. De acordo com publicação da Universidade de Utah, o coronavírus pode causar conjuntivite em casos raros e não parece ser o único sintoma de Covid-19, sendo acompanhada de febre, tosse e falta de ar. Mas cinco pacientes da Itália parecem contrariar essa informação.

    Esse pode ser o único sintoma de Covid-19 em alguns pacientes

    Por Liliane Jochelavicius, em 20.05.2020

    https://hypescience.com/cinco-pacientes-apresentam-conjuntivite-como-unico-sintoma-de-covid-19/

  7. Enquanto tiver dinheiro público pra torrar sem licitação, a curva sempre estará em ascensão, o pico da pandemia sempre ficará pro mês seguinte e por aí vai. Quando se trata de dinheiro senhores, não se esqueçam que estamos no Br e dos políticos e imprensa que por aqui habitam.

  8. A Bélgica contabiliza TODAS as mortes suspeitas, em hospitais ou não, como sendo relacionadas com O COVID-19, foi uma estratégia pensada para não subestimar a doença, como ocorreu em outros países e ter uma visão expansiva da doença. Se a cidade de São Paulo, com população parecida com a Bélgica, soma-se os casos testados com os suspeitos, teria em 21 de maio, teria 196.481 casos. A bélgica tem 56.511 em 22 de maio. Com a contagem expansiva, se conseguiu reduzir o contágio. Se o mesmo contabilidade fosse usada no Brasil, os números seriam bem maiores. E cá para nós, são 20 mil seres humanos mortos no Brasil …

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