Ministros militares arriscam reputação na defesa de Bolsonaro

generais do governo

Diogo Schelp
Colunista do UOL

Os generais que compõem o governo de Jair Bolsonaro reagiram com indignada contundência às informações, veiculadas pela imprensa, de que alinharam o discurso para reforçar a versão do presidente sobre o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, que precipitou a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro do cargo.
O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, um dos integrantes do governo que depuseram nesta terça-feira (12) aos delegados do inquérito que apura a suspeita de que Bolsonaro queria trocar o diretor da Polícia Federal para acobertar investigações sobre sua família, escreveu no Twitter: “Não alinhei minha versão com ninguém.”
O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, colocou a reputação de seus companheiros de farda nos seguintes termos, também no Twitter: “Quem alinha discurso é bandido. Homens de honra, como Augusto Heleno, Braga Netto e Ramos, falam a verdade e cumprem a missão.”
O general Walter Braga Netto é ministro da Casa Civil e o general Luiz Eduardo Ramos é ministro-chefe da Secretaria de Governo. Os dois, além de Heleno, também deram depoimentos sobre o caso nesta terça-feira. A declaração de Mourão coloca os três em uma situação de tudo ou nada. Se ficar comprovado, pela análise do vídeo da reunião ou de outras provas quem venham a surgir, que distorceram ou ocultaram a verdade dos fatos para dar veracidade à versão de Bolsonaro (de que sua preocupação era com a segurança da família, não com investigações contra seus filhos), terão a imagem de “homens de honra” abalada.
A estratégia do Palácio do Planalto, corroborada pelo que se sabe dos depoimentos dos ministros militares e pelas declarações públicas de Bolsonaro nos últimos dias, é a de alegar que Moro entendeu mal a cobrança feita pelo presidente na tal reunião ministerial. A reclamação do presidente seria geral e, na questão específica que foi interpretada como uma cobrança à PF, se dirigia na verdade ao GSI do general Heleno.
O problema dessa versão é que ela não se encaixa em outros fatos conhecidos. Um deles é a troca de mensagens de celular entre Bolsonaro e Moro, em que o presidente envia ao então ministro uma reportagem sobre as investigações da PF sobre fake news, que estariam chegando a deputados de sua base aliada (entre os quais o filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro), e comenta em seguida: “Mais um motivo para a troca.” As mensagens foram enviadas na manhã do mesmo dia da fatídica reunião ministerial.
Outro fato complicador é o de que Bolsonaro foi explícito, em outras ocasiões, em sua intenção de trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, sem apresentar para isso uma justificativa plausível. Bolsonaro diz que queria mais eficiência daquela superintendência, mas o delegado Saadi demonstrou em seu depoimento, nesta segunda-feira (11), que o índice de produtividade melhorou sob sua gestão.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alertou, nesta terça-feira, para o risco de os militares passarem “a ter gosto pelo poder”. Na Venezuela, como já descrevi aqui e aqui, esse gosto pelo poder levou à corrosão dos valores das Forças Armadas daquele país e acabou dando sustentação à ditadura chavista.
Esse risco pode ser exemplificado pela história do general venezuelano Raúl Baduel, a quem entrevistei em 2008, em Caracas. Baduel foi o responsável por reverter o golpe de estado que tirou brevemente Hugo Chávez do poder, em abril de 2002. Posteriormente, ocupou o cargo de ministro da Defesa e compôs o núcleo mais próximo do presidente venezuelano até que, em 2007, rompeu com o chefe por discordar de seus planos de concentrar poder, em desrespeito à constituição do país.
O legalismo de Baduel lhe custou caro. Ele foi preso em 2009, libertado em 2015, e novamente encarcerado em 2017. Permanece até hoje em presídio de segurança máxima, o que faz dele um dos presos políticos mais longevos do regime chavista.
A lição do caso Baduel é a seguinte: quanto mais comprometidos com os meandros e conchavos dos bastidores do poder os militares se tornam, mais eles se afastam de suas responsabilidades constitucionais — e se transformam em alvos fáceis quando tentam recuperar sua reputação.
UOL/montedo.com

20 respostas

  1. Conversa, depois de ter agraciado terrorista, ter sido esculachados por lularápio e dilmanta. Se omitem em tudo, para não manchar suas carreirinhas. Não pensam em estratégia em defesa nacional, apenas usam a Força para promoção pessoal.

  2. Não podemos falar nada!!! Colocamos eles onde estão! A geração nutela pensava que seria diferente e rasgaram a boca! Logo todos pagaremos por cada porcaria que eles estão fazendo.

  3. Quem diria…faltar com a verdade!
    Um deles aí mudou 3 vezes o depoimento…

    Reputação das Forças Armadas indo ladeira abaixo.

    Estou começando a achar que Bolsonaro é Comunista, pois se um dos objetivos dos comunistas era colocar a população contra as FFAA, este Bolsonaro está conseguindo!!!

    Parabéns, façamos arminha agora, fanáticos inúteis.

  4. Senhores como triste é ter homens se comportando como “miseráveis desprovidos de qualquer sentimento de dignidade”. Se assim fossem políticos, jornalistas, advogados etc sairiam ao primeiro sinal de imoralidade..Mas Não, continuam querendo ser os salvadores da patria

  5. Enquanto Isso:

    Congresso aprova aumento de até 25% para policiais do DF e três estados.

    Parabéns aos nossos policias.

    Ensinem as forças desarmadas como se trabalha e com se dá a valorização dos seu pessoal.

  6. Aproveita e investiga a VERGONHA das pensões vitalícias das FILHAS de militares. País da MAMATA com dinheiro sofrido do contribuinte.

  7. Sempre pensei em toda minha vida profissional estar lidando com pessoas corretas ,mas depois de cumprida minha missão descobri que não era bem assim ,não querendo generalizar ,e só percebi isso recentemente com esse antigo PL1645 e agora lei ,vivenciamos o corporativismo de alguns em defender seu lado esquecendo das responsabilidades para com todos fazendo que com isso perdêssemos a credibilidade nesses senhores ,se mostraram igual ou pior daquilo que sempre criticaram ,me envergonho em algum dia tê-los como referência .

  8. Infelizmente a base da piramide, nunca foi vista seja civil ou militar, a unica coisa que pensa e chegar no alto da piramide e descobrir onde esta o cofre, veja nesta pandemia e que mas escutamos e desvio de recurso publico, muda o governante, mas os bandidos, corruptos, continua com a chave do cofre, acorda Brasil.

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