E daí que os generais estão preocupados?

quatro estrelas

Robson Augusto*
General falou isso, general falou aquilo. Todos os dias publica-se na grande mídia alguma nota falando de generais ou dos militares em geral. Nessa terça-feira – 5 de maio de 2020 – apareceu mais uma nota. Ela diz que “Generais expuseram descontentamento claro com decisões do Judiciário que interferiram no governo Bolsonaro”.
Sim, generais, médicos, engenheiros, policiais… Muita gente expressa descontentamento todos os dias.
Essa semana novamente recebi ligações de jornalistas querendo saber o que os militares pensam.
Trato todos com educação, sei que buscam a informação para suprir a demanda, que existe.
Como militar o que percebo é que a sociedade brasileira padece de uma espécie de fetiche por militares, querem saber nossa opinião sobre tudo e todos. Querem a nossa ajuda para resolver todos os tipos de problemas.
Infantilizada é a nossa sociedade, lamentável isso!
Nós temos nossa função delimitada na Constituição Federal de 1988 e dentro de nossas atribuições não está opinar sobre tudo, sobre todos e muito menos solucionar os problemas políticos da sociedade.
Se o governo Bolsonaro cair nós continuaremos do mesmo jeito, assim como continuamos quando Dilma Rousseff caiu, quando Collor caiu. Cada um desses tinha um viés político diferente, e nossa função foi cumprida, fomos fieis em nossas missões até o último instante.
Isso não significa que não somos patriotas, na verdade significa que somos patriotas a ponto de colocar nossas convicções particulares de lado para como um grande corpo respeitarmos fielmente a Constituição e as decisões legais geradas pelas instituições.
Essa coisa de intervenção militar dentro de nossos ambientes restritos é tratada como piada. Em público respondemos a isso de forma política, mas a vontade é dizer algo como: “deixem de se comportar como idiotas, vocês querem que os militares resolvam todas as crises, está na hora de crescer, amadurecer politicamente” ou “olhem para as grandes nações, qual delas é ou foi comandada por militares nos últimos 10 ou 20 anos, essa coisa já passou”.
Um dia desses palestrei em um evento. Quando saí um paisano olhou pra mim e gritou “Selva” e fez algo que ele deve achar que foi uma continência.
Respondi com um “Olá, tudo bem com o senhor?”
Ele estava fantasiado de militar, com coturnos e tudo! Que coisa esquisita! A que ponto chegamos!
Sobre a tal intervenção. Quem seria louco de ingressar em uma empreitada desse tipo? Em cinco anos todos nós estaríamos sentados em cadeiras de tribunais sendo julgados como criminosos, como os vilões da história. E de fato seríamos com justiça condenados por atirar o país no caos. Não pode-se novamente retroceder o Brasil no que diz respeito a maturação política de nossa sociedade.
Temos que resolver nossos problemas de forma pacífica e política, enfrentar crises faz parte do processo de amadurecimento de pessoas e de sociedades, não há soluções instantâneas e fáceis.
Esqueçam de nós e tentem resolver os problemas do país. Não percam seu tempo achando que militares vão fechar STF e Congresso Nacional, isso não vai acontecer, assim como não tiramos Dilma quando muita gente pediu. Se houvéssemos feito isso não haveria a possibilidade de elegerem um presidente de direita, que tanto queriam.
Fazemos a nossa parte e vocês fazem a de vocês.
*Suboficial da Marinha (RRm) Editor da Revista Sociedade Militar

23 respostas

    1. Montedo seguindo a escolinha cretina de noticiar sem notícia do ANTAgonista, fofoquinha que se preze. O tempo só demonstra que de montedo esse virou mais um montado.

      ELES VIVEM NOS DORMIMOS.

    2. “Querem nossa ajuda pra resolver todo tipo de problema” kkkkkkkkkkk. Imagina a quantidade de problema que não existiria se os militares não existissem?!

    3. Concordo plenamente com as sábias palavras do Nobre SO. Uma maneira democrática, republicana e inteligente é aprender a escolher melhor seus representantes políticos nas eleições. E, tb, cobrar destes, após eleitos, honestidade e transparência com os recursos públicos (nossos impostos). As mídias sociais são ferramentas fundamentais nessa demanda.

  1. “…respeitarmos fielmente a Constituição e as decisões legais geradas pelas instituições.”
    _

    Resta claro que seguiremos para onde pender as leis?
    ___

    “Fazemos a nossa parte e vocês fazem a de vocês.”
    _
    Se fala como cidadão, é semelhante a dizer: _meu pirão, primeiro.
    Se fala como militar: _nos esqueçam.

  2. Se as forças armadas fizerem a intervenção militar o que acontece depois? Para quem passará o governo? Se as forças armadas não seguirem a lei e a ordem, quem fará uma nova intervenção? Quanto tempo uma intervenção deve durar? Quem decide que lei ou ordem deve ser violada para executar uma intervenção militar?

  3. O problema, eu repito, é que o comando deveria se preocupar com o impacto de generais reformados, alguns ha mais de 20 anos, falando e utilizando do seu posto para dar maior dimensão à fala. Isso deveria ser considerado pois para a sociedade como um todo é um general falando. Violação clara de um dever de ética militar, conforme art. 28, XVIII – abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas:

    Nada é feito e nossa grande instituição fica à mercê de opiniões isoladas, nem sempre sensatas, mas que parecem dizer o sentimento da instituição.

    Algo deveria ser feito pelo Comando. O regulamento é claro nesse sentido

    1. Nesses casos, como seria com os blogs de ex militares? E os que fazem comentários usando suas patetes? E os candidatos a cargos públicos? E os professores universitários? Quem poderia dar ou não dar opinião em assuntos civis ou militares? Militar não se mete em assunto civil e civil não se mete em assunto militar?

      1. Nao, é só seguir o regulamento. Não é uma instituição legalista?
        É só ser JOAO DE TAL, e não General Joao de Tal.

        Enfim, é a lei. Ela pode ser seguida ou não. Exige uma certa disciplina intelectual.
        Lei 6880/80, art. 28, XVIII.

        Ou mudar a lei.

        Enquanto ela existir, como legalistas e corretos, acho que deve ser seguida.

        1. Exige uma certa disciplina intelectual? Seria a interpretação da Lei, como no STF, onde cada um interpreta de modo diferente? E os documentos pessoais, o que vamos apresentar na blitz? E no currículo à um cargo civil, omite-se a hierarquia?

          1. -O anônimo é só cumprir a lei.
            – É simples, vamos supor que seja um tenente da reserva que seja Deputado.
            – É simplesmente Sr. Deputado fulano de tal.
            – Se a pessoa for coronel e trabalhar em uma empresa, é Sr. tal ou Dr. tal,.
            – Se for um dentista, é só Dr. tal.
            A pessoa fica 30 , ou 35 anos na instituição , vai pra reserva e não consegue virar a página.
            Desculpe, mas nesse caso o problema não é jurídico, talvez seja psicológico.

          2. Não tem muito o que interpretar. Vou transcrever (de novo), pois acho que nao da margem para nenhuma interpretacao. Veja:

            “ abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas”

            É só isso. É so voltar a ser uma pessoa normal no mundo civil, chamada pelo nome, reservando o tratamento protocolar ao trato interno na Força. Não é tão difícil, e claro, como somos legalistas, nada mais normal que sigamos as leis.

            Vira a página, você é MUITO MAIS que uma designação hierárquica.
            Supera!

          3. “…reservando o tratamento protocolar ao trato interno na Força.”

            Mas não está inativo?

  4. Excelente texto.
    Na minha opinião, existem duas situações hoje no Brasil sobre NÓS militares: A primeira é daqueles que veem os militares como a solução para tudo que acontece ou deixa de acontecer no Brasil; e a segunda são aqueles que tem preconceito contra os militares, causados principalmente pelo que aconteceu a partir de 1964, Isto é, seria como um preconceito, por exemplo, com as mulheres, (machismo, misoginia ou sexismo), com os homens (misandria), os judeus (antissemitismo), os deficientes físicos, a faixa etária, a aparência (estereótipos), o peso (gordofobia), homofobia (LGBT) dentre outros. Poderias acrescentar nas leis também o crime de militarfobia.
    Depois de mais de 35 anos, com a credibilidade alcançada (conforme pesquisas de opinião) seria uma tremenda burrice entrar em uma barca furada de intervenção militar.

    1. Vc confunde opinião contrária com crime. Daqui a pouco tudo será crime. O que aconteceu em 1964 foi e é estereotipado. Houve um gigantismo cultural demonizando o governo militar por um lado e, por outro, com a segurança pública, as politicas sociais e o desenvolvimentismo, uma confiança conquistada pelo civil na capacidade administrativa. Infelizmente, o vitimismo cultural foi mais aguerrido do que a emancipação e a responsabilização politica dos civis. O que se vê hoje não é o desejo de resolver todos os problemas mas extirpar a administração pública dos roubos faraônicos. É uma crença na autoridade ilibada dos militares.

  5. O problema dessa sociedade é um judiciario que se intromete em tudo, não resolve nada e faz ativismo político claro. O que deveria ser o pêndulo em equilíbrio é mais um fator desagregador. Os que promovem o caos o fazem por que tem certeza da impunidade. E nao me venham dizer que é por que tem de mudar as leis, mudar esse ou aquele código. A interpretação da lei que vale pra fulano pode não ser a mesma pra beltrano etc. Tudo depende do colarinho da gravata de quem ta no banco dos réus.

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